Shūjin e no Pert-em-Hru: o terror ancestral no RPG Maker

Imagem de Shūjin e no Pert-em-Hru, um jogo de terror antigo do RPG Maker que se passa na Grande Pirâmide de Gizé

Todo ano, aqui no Backlogger, eu tenho a tradição de publicar um texto especial no Dia das Bruxas. Para 2025 eu preparei um contando uma breve história dos jogos de terror do RPG Maker com alguns títulos que eu conhecia. Modéstia à parte, acho que esse é um dos melhores textos que publiquei neste ano, então recomendo a leitura quando tiverem um tempinho. O importante é que trouxe essa informação porque lá eu falei rapidamente sobre um jogo japonês que tinha descoberto há pouco tempo antes de iniciar o artigo: Shūjin e no Pert-em-Hru (The Book of the Dead for the Prisoners).

Existe um forte nicho de jogos de terror feitos no RPG Maker que vem se construindo há décadas e que deu origem há vários clássicos dessa comunidade. Contudo, Shūjin e no Pert-em-Hru me parece que acabou sendo um pouco apagado por ser um dos exemplos mais antigos, lançado de maneira independente em 1998. Ele surgiu na esteira de CORPSE-PARTY, o pioneiro do gênero de terror no RPG Maker, tanto que Makoto Yaotani – o desenvolvedor de Shūjin e no Pert-em-Hru – o cita como sua principal influência.

Por motivos óbvios eu não vou saber informar se o jogo teve algum grande impacto para os jogos de RPG Maker da sua época. CORPSE-PARTY dá para afirmar isso pois o jogo se expandiu em uma franquia multimídia com direito a sequência, remakes, mangás, OVAs e filmes. Shūjin e no Pert-em-Hru, por outro lado, eu só sei dizer que ganhou um concurso promovido pela ASCII e que teve um remake anunciado quase 15 anos atrás e provavelmente está preso num development hell. Portanto decidi usar esse pouco espaço que tenho aqui para dar uma moral para esse clássico obscuro do RPG Maker.


Um aviso rápido: quem tiver curiosidade em testar o Shūjin e no Pert-em-Hru, eu encontrei uma versão em inglês na Romhacking. O jogo foi desenvolvido no antigo (que na época não era antigo) RPG Tsukūru Dante 98, mas não precisam se preocupar com a compatibilidade. O arquivo da Romhacking vem com um emulador que você nem precisa configurar. Baixou, abriu, jogou.


A história começa com um grupo de arqueólogos formado pelo Professor Tsuchida, seu assistente Kōji Kuroe e um escavador na Grande Pirâmide de Gizé. O professor acredita que em algum lugar no fundo da pirâmide se encontra a tumba perdida do faraó Khufu (em português, Quéops). Depois de explodir uma passagem, o grupo encontra uma câmara secreta que leva a uma porta. Ao tentar abri-la, o escavador é decapitado por um fio metálico. Com medo que existam mais armadilhas mortais, o Professor Tsuchida atrai um grupo de turistas sob o pretexto de uma excursão pela pirâmide para que eles sirvam de escudo humano. Dentre os turistas está o jovem Ayuto Asaki, designado pelo professor para ir à frente do grupo, assumindo então o papel de protagonista.

Além de ser um jogo curto, Shūjin e no Pert-em-Hru é bem linear. Ele se divide em áreas que não se estendem por mais de três ou quatro mapas, sempre movendo o grupo e a trama para frente. São ao todo 11 personagens e até que o jogo consegue fazer uma boa caracterização para a maior parte deles. Não algo muito profundo, só o bastante para você se importar com eles (nem todos). O Professor Tsuchida, Kōji e o Ayuto são os que recebem mais atenção ao longo do jogo, enquanto os demais personagens viram foco em momentos específicos que logo eu explico.

Ao contrário de CORPSE-PARTY que é essencialmente um jogo de aventura, Shūjin e no Pert-em-Hru não abandona por completo o lado de RPG. Existem batalhas, tanto scriptadas quanto por encontros aleatórios, e o Ayuto passa de nível. O combate é o padrão dos primeiros jogos de Dragon Quest, que serviu de molde para o RPG Maker, e você pode levar um dos personagens com você para ajudar nessas lutas. Os companheiros do Ayuto aprendem novas habilidades conforme evoluem, porém ele próprio não. Então a jogabilidade não tem nada de muito muito sofisticada… à primeira vista.

Em vez de aprender golpes, Ayuto ganha certos comandos como empurrar, puxar, agachar, pegar, etc; que servem para resolver os puzzles do jogo. São coisas simples como empurrar um monólito para servir de ponte ou arrancar um toco de madeira que bloqueia a passagem. Acontece que esses são os puzzles “secundários”, o verdadeiro desafio de Shūjin e no Pert-em-Hru é fazer que todos os personagens cheguem vivos no final.

Por se passar no Egito, o jogo puxa muitos elementos da mitologia egípcia e também as lendas que se criaram sobre as pirâmides. Isso não faz parte apenas da narrativa e atmosfera Shūjin e no Pert-em-Hru, como também sua jogabilidade. Acontece que todo o grupo tem que passar pelo julgamento do faraó Khufu, que resolve punir seus pecados não importando quão pequenos eles sejam. Então em cada área um dos personagens é foco dessa maldição e cabe ao jogador descobrir como pode mantê-los vivos. São nesses momentos que a história tira um tempo para caracterizar um pouco mais o respectivo personagem e depois ele volta a ser elenco de apoio. Caso você não consiga salvá-los… bom, joguem e descubram por si só!

Não tem muito mais o que se aprofundar em Shūjin e no Pert-em-Hru sem estragar o mistério da trama, então agora irei me limitar a fazer um apanhado geral. Gostei bastante do jogo e ele está entre os meus favoritos desse nicho do terror no RPG Maker. Detesto a frase “era bom para época” porque acho isso de uma grande condescendência com a arte, então Shūjin e no Pert-em-Hru é um bom jogo de terror e ponto. É só você não ser um acomodado que não consegue engajar com uma linguagem diferente do survival horror pautado por Resident Evil.

Mas sim, tem que se levar em consideração algumas limitações do RPG Tsukūru Dante 98. Eu argumentaria que o jogo consegue trabalhar muito bem dentro deste escopo, inclusive na direção artística. Os battlesets em particular são bem impressionantes e gostei do uso de imagens para compor algumas cenas e identificar cada personagem durante os diálogos. Seria legal poder passar um pouco mais de tempo nesse universo e não ter uma exploração tão guiada pela trama, contudo com o tempo a gente entende que o RPG Maker é mais sobre o que dá para fazer do que o que a gente gostaria de fazer. Enfim, deem uma chance pra Shūjin e no Pert-em-Hru!


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