Nos anos 70, o prolífico mangaka Go Nagai deu sua contribuição para o já estabelecido gênero dos mechas com seu mangá: Mazinger Z. Inspirado por obras como Tetsujin 28-go, de Mitsuteru Yokoyama, e Astro Boy, de Osamu Tezuka, Go Nagai ajudou a propagar o que hoje conhecemos como super robot. Para os padrões de hoje, Mazinger Z teve um curto período de publicação. Ele iniciou em outubro de 1972 e terminou com 5 volumes em setembro de 1974. Contudo, o seu nome persistiria por anos a fio com sequências, adaptações e linhas de brinquedo que perduram até hoje.
E recentemente eu li esse clássico.
![Quadro do mangá original publicado em 1972](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/mazingermanga.jpg)
Já mencionei aqui que estou num processo de me tornar um fã de Gundam. Esse é um gênero, o famigerado real robot, é bem diferente do que Go Nagai ajudou a popularizar na sua época. Hoje eu ando explorando-o através das séries mais antigas de Mobile Suit Gundam. No meio dessa aventura eu acabei tendo vontade de sair um pouco desse real robot e dar uma olhada no outro lado. E foi assim que fui parar no clássico Mazinger Z cujo nome eu já tinha ouvido várias vezes. Admito que o original não clicou comigo e explicarei isso no próximo tópico. Porém, futucando na internet para saber mais sobre o mangá e o seu legado, eu me deparei com a seguinte abertura:
Claramente não parecia uma produção setentista. A energia da música tema me fez relembrar o clássico moderno Tengen Toppa Gurren Lagann, que até então era um dos poucos títulos de mechas que eu tive o extremo prazer de assistir. Logo fiquei mais curioso. E assim fiquei sabendo da existência desse animê de 2009 chamado Mazinger Edition Z: The Impact!
Uma nota rápida: daqui para frente eu vou me referir ao desenho pelo seu nome da linha de brinquedos, Shin Mazinger Impact Z. Apenas porque eu gosto mais desse título.
![Novo design do Mazinger Z da adaptação de 2009, Mazinger Edition Z: The Impact!](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Mazinger-Z-1024x576.jpg)
![Novo design do Mazinger Z da adaptação de 2009, Mazinger Edition Z: The Impact!](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Mazinger-Z-1024x576.jpg)
Para leigos como eu era até umas semanas atrás, essa é uma reimaginação do mangá original de Go Nagai. Essa adaptação incorpora elementos de outras obras dele, sobretudo um mangá de 1998 chamado… Z Mazinger. No caso, este mangá é outra reimaginação de Mazinger Z (Jesus, que confusão!) que utiliza alguns temas da mitologia grega na sua história. Como eu não consegui encontrar uma versão em inglês de Z Mazinger para ler – e confesso que não investi muito tempo procurando – não sei afirmar exatamente quais elementos fazem parte desse mangá e quais são originais a Shin Mazinger Impact Z. Contudo, dentro dessa ignorância, me darei a liberdade de dizer que ele faz um bom trabalho adaptando essa versão.
Baixado e assistido durante o meu recesso de dezembro, Shin Mazinger Impact Z se tornou um dos animês cuja experiência mais me divertiu nos últimos anos. Ele não chega a ter a mesma emoção que Gurren Lagann me entregou. Até porque esse é um nível quase que impossível de se alcançar! Entretanto, ele chegou bem perto e eu me via gritando ROCKETO PANCH!!! a todo momento junto com o protagonista.
Tanta diversão é digna de um texto próprio, ainda mais que ultimamente eu tenho sido mais otaku do que gamer. Então, sem mais delongas, bora pro texto.
REESTRUTURANDO UM CLÁSSICO
![Mazinger ao lado de Zeus na adaptação de 2009](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-hen-episode-18.mp4_snapshot_20.35.277-1024x576.jpg)
![Mazinger ao lado de Zeus na adaptação de 2009](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-hen-episode-18.mp4_snapshot_20.35.277-1024x576.jpg)
Vou ser sincero com vocês, eu entendo e reconheço que Mazinger Z é um clássico. Porém entender e gostar são duas coisas diferentes. Eu não acho ele um bom mangá! E não acho nem que é um caso de “pra época era bom” porque eu não acredito que qualidade, qualidade verdadeira, diminui com a passagem do tempo. Frescura, por outro lado, costuma aumentar. Ao mesmo tempo também não acho Mazinger Z é ruim, eu até gosto da sua proposta. O problema é que ao meu ver o Go Nagai não tinha a menor ideia do que ele queria fazer com esse negócio.
Dentro do fandom de Mazinger, é uma anedota bem conhecida que o Go Nagai criou o conceito do mangá quando estava preso num engarrafamento e teve a vontade de ultrapassar os carros pilotando um mecha.
Depois de ler o original de cabo a rabo a impressão que eu fiquei é isso mesmo, que não passava de uma história inventada durante o ócio do trânsito. Me parece que depois de ter criado o conceito inicial, o autor foi só desenhando conforme ele imaginava sem pensar muito na estrutura da história. Por isso que tudo no universo de Mazinger Z, desde o próprio robô e os vilões, até mesmo o mais próximo que temos de plot points, parece ser muito jogado no mangá. Não é à toa que a história simplesmente para depois de um grande confronto entre o protagonista, Koji Kabuto, e um dos seus principais antagonistas, Barão Ashura. É quase como se o Go Nagai cansou de desenhar o Mazinger e decidiu passar para um novo projeto.
Shin Mazinger Impact Z já são outros quinhentos!
O que essa reimaginação faz, e faz muito bem, é pegar todos os elementos que eram apenas jogados no Mazinger Z original amarrá-los num mesmo contexto. Isso dá mais coerência ao roteiro e mostra que há de fato um planejamento para o quadro geral da história. Tanto é que o primeiro episódio já tasca na conclusão, inicialmente te deixando confuso. Mas isso mostra que a série já sabe bem pra onde ela queria caminhar com a sua trama e personagens.
Aqui os robôs dos vilões não são apenas máquinas que eles convenientemente encontraram numa ilha. Agora elas são relíquias de uma civilização antiga cujo lore serve de motor para o conflito entre os personagens do Dr. Hell e Juzo Kabuto, avô do protagonista, e serve até de plano de fundo para outros personagens. O já citado Barão Ashura ganha uma nova origem que o conecta mais diretamente a trama e enriquece o personagem em vez de ser um mero capanga do Dr. Hell.
![Barão Ashura, um dos principais antagonistas do animê](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-hen-episode-18.mp4_snapshot_17.06.610-1024x576.jpg)
![Barão Ashura, um dos principais antagonistas do animê](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-hen-episode-18.mp4_snapshot_17.06.610-1024x576.jpg)
A história adiciona novos conceitos e personagens e o animê consegue costurá-los perfeitamente não só ao roteiro dessa versão de Mazinger Z, como também histórias do mangá original. O que antes era uma bagunça de experimentação, agora fica mais coeso e bem direcionado. Nesse sentido, eu digo que até vale a pena dar uma checada no mangá de 1972. Ele torna a experiência desse animê mais satisfatória já que você consegue observar como as decisões tomadas melhoram o original.
Entretanto há algo que eu preciso pontuar. Shin Mazinger Impact Z não faz “mais sentido” que o mangá de Go Nagai. Ele não tem qualquer compromisso em ter uma lógica e muito menos uma base científica sobre o funcionamento dos robôs. Porém dentro do seu absurdo ele está mais organizado e coerente com esse tipo de história de super robot. Assim, ao meu ver, funciona muito melhor que o clássico que o originou.
MENOS RAZÃO, MAIS EMOÇÃO
![Cena do primeiro episódio mostrando o protagonista em frente ao exército de Dr. Hell](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-Hen-episode-01.mp4_snapshot_22.01.564.jpg)
![Cena do primeiro episódio mostrando o protagonista em frente ao exército de Dr. Hell](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-Hen-episode-01.mp4_snapshot_22.01.564.jpg)
Ao dizer que Shin Mazinger Impact Z não tem compromisso com uma lógica eu estou pensando Gurren Lagann. E o que é Gurren Lagann se não emoção pura que não está nem aí se algo faz ou não sentido prático? Esse é um animê que tem zero interesse no que pode ser real, até mesmo dentro da flexibilização que a ficção nos permite em relação a mechas. Pouco importa como o Lagann funciona de fato em termos científicos. É completamente fantasia! Não é a toa que no final nós estamos vendo robôs, que se chamarmos de titânicos seria um eufemismo, que lutam lançando GALÁXIAS um nos outros. E a gente adora cada segundo!
Isso porque o que move Gurren Lagann, tanto o robô quanto o próprio animê, é a paixão, é a emoção, é aquela força intrínseca humana que palavras não podem descrever tão bem. É sentir, não é entender. Shin Mazinger Impact Z não chega nas proporções galácticas de Gurren Lagann, mas é notável que ele segue a mesma abordagem do seu contemporâneo.
E isso vem do original.
O gênero de super robot tem muito mais a ver com super-heróis do que de fato robôs pilotados como num Gudam da vida. Então dane-se se existe qualquer coisa base científica sobre o Japanium ou a Photonic Energy. Ao menos na forma que a história a aborda. O que importa é a emoção com que o dublador do Koji grita ao usar um dos poderes do Mazinger: Rocket Punch, Rust Hurricane, Breast Fire e BIG BANG PUUUUUUUNCH!!!
Você não está assistindo Shin Mazinger Impact Z porque quer um roteiro mega intrincado que explore a complexidade da natureza humana e nos faça questionar nossas visões sobre a realidade. Você quer ver um robozão enfrentando outro robozão, com uma trilha sonora que te encha com aquilo que na modernidade chamamos de hype.
![Cena em que o protagonista está prestes a enfrentar um grupo de robôs gigantes](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-hen-episode-11.mp4_snapshot_15.47.871-1024x576.jpg)
![Cena em que o protagonista está prestes a enfrentar um grupo de robôs gigantes](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-hen-episode-11.mp4_snapshot_15.47.871-1024x576.jpg)
Mas como eu falei anteriormente, o desenho faz todo sentido dentro da lógica absurda desse universo. E os personagens por mais caricatos que sejam, tem um pouco de humanidade com a qual podemos nos simpatizar e nos importar com eles. Desde a família do Koji, onde agora a morte do avô realmente tem um peso e não é apenas descartado no primeiro capítulo, até vilões como Barão Ashura que se torna uma figura muito mais trágica nessa versão. Personagens novos são igualmente carismáticos como os fantásticos Kurogane Five e a Tsubasa Nishikiori. Essa última que por vezes é mais protagonista que o próprio Koji, tendo até mais camadas e uma conexão mais profunda com a trama do que o nosso herói.
Apesar disso, é óbvio que o animê investe muito mais nas emoções do que nesse lado racional e ele te prende justamente pelos sentimentos e a animação toda que cria dentro de você. Como eu gosto de dizer, se eu tivesse que resumir Shin Mazinger Impact Z em duas palavras seriam:
![Protagonista Kouji Kabuto pilotando o Mazinger Z](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-Hen-episode-02.mp4_snapshot_20.53.580.jpg)
![Protagonista Kouji Kabuto pilotando o Mazinger Z](https://backlogger.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Shin-Mazinger-Shougeki-Z-Hen-episode-02.mp4_snapshot_20.53.580.jpg)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Eu não quero que as pessoas pensem que o Shin Mazinger Impact Z é aquele tipo de história que você tem que desligar o cérebro. Primeiro porque eu odeio esse termo e segundo porque isso nem se aplicaria a ele. Dentro do seu absurdo, o desenho e perfeitamente coerente.
Personagens são caricatos e tem reações exageradamente teatrais e isso de forma alguma é um demérito. Essa é a graça do desenho! Como tudo na arte, depende da proposta e aqui a abordagem de Shin Mazinger Impact Z funciona direitinho. A energia dele vai te contaminando pouco a pouco e logo você se vê gritando, pelo menos mentalmente, os poderes juntos do protagonista.
É um estado de animação constante, sem nunca perder o fôlego, cada episódio move a trama para frente e te mantém preso a esse hype do começo ao fim. Vai, Mazinger!
O Backlogger precisa do seu apoio para crescer. Então, por favor, compartilhe ou deixe um comentário que isso ajuda imensamente o blog. Você também pode me seguir em outras redes como Twitter, Facebook e Tumblr.