
Anteontem eu publiquei aqui no blog um texto enorme falando sobre um caso dentro da comunidade de OpenBOR que levou um dos seus membros mais notáveis, Pierwolf, a desistir de fazer jogos. Foi uma perda e tanto porque ele era muito respeitado, com alguns títulos que se tornaram referência para vários desenvolvedores. E não queria que o legado do Pierwolf aqui no blog se limitasse apenas a situação que o fez abandonar o OpenBOR, portanto resolvi fazer uma lista com (quase) todos os seus jogos para que vocês conheçam o trabalho dele.
Mas por que quase todos? Pelo que eu pude notar no pouco tempo que passei nas comunidades de OpenBOR, o desenvolvimento desses jogos é cheio de indas e vidas. O Pierwolf em particular parecia trabalhar em múltiplos projetos de uma vez, sempre ajeitando uma coisa aqui, testando um recurso novo ali e revisando um jogo antigo acolá. Obviamente nesse processo muitos projetos acabam ficando pelo caminho. É o caso do Dungeon Fighter, o último beat’em up que o Pierwolf começou a desenvolver. Tem uma versão beta para quem tiver curiosidade, porém não vejo sentido em falar de um jogo inacabado. Também não acho que vale a pena falar de Castlevania: Legacy of Dracula porque considero um jogo tão ruinzinho que até o próprio Pierwolf se esqueceu dele.
Logo eu vou falar apenas dos seus jogos completos que foram publicados lá no Chrono Crash. Também deixarei aqui os links das respectivas páginas caso vocês queiram jogar. Ao todo são cinco:
- Knights & Dragons: The Endless Quest;
- Golden Axe Legend;
- Double Dragon Gold;
- Fighter’s History Revenge;
- Super Final Fight Gold Plus.
Tem que fazer uma conta no site para liberar o download. Pois bem, essa também será a sequência na qual falarei de cada jogo. Acredito que está na ordem de lançamento da primeira versão completa deles, me orientei pela data das publicações do Pierwolf no fórum do Chrono Crash.
Agora sem mais delongas, vamos falar de joguinhos de OpenBOR. Mesmo que sejam poucos itens, tentarei ser o mais objetivo possível.
KNIGHTS & DRAGONS: THE ENDLESS QUEST (20??)

Um rápido adendo: Não sei dizer quando exatamente saiu a primeira versão completa de Knights & Dragons: The Endless Quest. No antigo canal do Pierwolf tem vídeos de demonstração do início do projeto que datam de 17 até 13 anos atrás. Vou assumir que ele lançou esse jogo ali entre 2011-2013. Além disso, anos depois ele fez uma versão melhorada que é essa que irei comentar abaixo.
Knights & Dragons: The Endless Quest é a magnum opus do Pierwolf. Não foi exatamente o seu primeiro projeto, porém foi aquele que ajudou a solidificar sua reputação na comunidade. Para mim esse foi de longe o jogo mais criativo do Pierwolf e que estabeleceu algumas das mecânicas que marcariam a identidade dos seus projetos seguintes. O que ele fez aqui foi pegar a progressão de personagem de The King of Dragons e expandir para quase um RPG de ação do OpenBOR. Quando seu personagem passa de nível ele não apenas ganha mais HP e MP, mas vai liberando novas habilidades que você pode utilizar pressionando as teclas corretas. Esses combos irão aparecer, sem exceção, em todos os jogos do Pierwolf
Em vez de uma estrutura sequencial de fases, The Endless Quest vira um mundo semi-linear onde você pode escolher entre dúzias de fases diferentes. Cada uma “quest” com uma narração igual a de uma partida de Dungeons & Dragons, porém que no geral funcionam como uma típica fase de beat’em up onde você avança destruindo todos que estiverem pela frente. Depois de concluir missões o bastante, você libera uma das três quests finais que encerram a história do jogo. Só é necessário fechar uma delas para zerar The Endless Quest.
O jogo não tem necessariamente uma curva de aprendizado acentuada, a maior dificuldade é que no início seus personagens são bem fracos e alguns podem morrer com um único golpe de um chefão. Por isso é importante dominar o botão de bloquear ataques, porque é praticamente impossível sobreviver às várias e várias hordas de inimigos sem se defender. Não é complicado porque o Pierwolf coloca um tempo generoso que você pode segurar o bloqueio antes do personagem se cansar. Além disso, você começa com uma única vida – mais para frente você consegue mais ao acumular pontos – então pode ser bem frustrante na primeira hora de jogo.
Apesar das muitas fases, The Endless Quest não chega a ficar muito tedioso. Você pode alternar entre vários personagens nas tavernas e os vários cenários e inimigos não te deixam cair na mesmice. Tem até um pequeno aceno para um outro beat’em up clássico numa das fases que prefiro manter a surpresa. Dica: façam a quest do barco assim que ela aparecer. Então se você quiser conhecer o trabalho do Pierwolf, não há um caminho melhor do que começar pelo seu primeiro jogo. Knights & Dragons: The Endless Quest é sua obra definitiva!
GOLDEN AXE LEGEND (2013)

Eu não gosto de Golden Axe, nunca gostei e provavelmente nunca gostarei. Portanto um fangame tinha pouquíssima chance de me agradar e o Pierwolf não foi aquele capaz de mudar essa ideia. Reconheço o mérito dele conseguir recriar uma gameplay próxima ao original – com o sistema de magia (um pouco inútil aqui) e as montarias – que certamente vão encher os olhos dos fãs. Mas para mim, Golden Axe Legend é nada mais do que o novo capítulo de uma franquia pela qual eu consigo viver sem numa boa.
A adição dos combos é bem-vinda, mas é algo insuficiente para transformar a experiência tal como ele conseguiu fazer com Knights & Dragons: The Endless Quest. Talvez o problema seja até eu que estou exigindo demais de um fangame com uma proposta mais simples, mas olhando para todos outros jogos do Pierwolf eu não consigo deixar de pensar que faltou um toque especial.
O único elogio que eu consigo dar para Golden Axe Legend é ele ser remanescente de uma época em que o Pierwolf não tentava deixar seus jogos tão desnecessariamente difíceis. É assim que algumas lutas com chefões nas quais você se vê obrigado a spammar o botão de desperation attack, já que é a única forma de não ser atingido, são um pouco mais tragáveis. Enfim, se você é um fã de Golden Axe Legend, provavelmente esse é um jogo feito para você. Se não é, não acho que é com ele que você se tornará um.
DOUBLE DRAGON GOLD (2014)

Eu não gosto de Doub… ok, dessa vez foi brincadeira! Eu sou neutro com a franquia de Double Dragon porque a conheço mais por nome do que por experiência. Quando eu era criança cheguei a jogar o primeiro no Mega Drive, mas ele não me chamava atenção tanto quanto Streets of Rage. Provavelmente eu cheguei a jogar até Golden Axe mais do que Double Dragon. Só estou dando esses detalhes pessoais porque Double Dragon Gold também tem a mesma proposta de recriar a jogabilidade do original, com a diferença de ser uma trilogia camuflada.
O jogo se divide em três capítulos que você vai liberando ao fechar o anterior. Por causa dessa estrutura, Double Dragon Gold fica um tanto repetitivo. Não tem muito nas fases além de derrotar os mesmos inimigos várias e várias vezes. Você até libera um novo golpe ao fim de cada capítulo, mas não é algo que acrescenta muito valor de replay depois que você termina. Por esse motivo eu acabei achando Golden Axe Legend um fangame melhor. É mais direto e tem mais variação com os personagens, seja nos seus atributos ou nos seus golpes especiais. Para mim, Double Dragon Gold é o mais fraco dos jogos do Pierwolf.
Também tem umas coisinhas que me deixaram um pouco frustrado, como o fato que as armas só aparecem durante a animação de ataque. Então direto você é surpreendido por um cara no outro lado da tela atirando uma faca que não tinha como você saber que ele possuía. Também não ajudou muito que eu joguei a versão do Pierwolf depois de zerar Double Dragon Reloaded Alternate, do magggas, que é um fangame MUITO melhor.
Então a gente cai de novo aqui naquilo que falei no tópico anterior. Se você for um fã da franquia, é bem possível que você ache Double Dragon Gold legalzinho. Mas recomendo jogar o Reloaded depois para uma experiência mais polida.
FIGHTER’S HISTORY REVENGE (2016)

Não era minha intenção que os jogos anteriores fossem um balde de água fria. Felizmente o próximo é um dos que tem o selo de qualidade garantida pelo qual o Pierwolf ficou (re)conhecido. Segundo algumas mensagens que encontrei dele no Chrono Crash, Fighter’s History Revenge é na verdade o seu projeto mais antigo. O Pierwolf o iniciou lá nas primeiras versões do OpenBOR e com o tempo foi aprimorando-o junto com a engine. Isso explica porque Fighter’s History Revenge possui o melhor e mais robusto combate dentre os cinco jogos listados.
Você tem acesso a várias manobras ofensivas e evasivas, incluindo um poderoso golpe especial que você consegue utilizar quando sua barra de energia fica cheia. Além disso, é o título com as melhores animações do Pierwolf, com golpes que se conectam com muita perfeição. Claro que devemos levar em consideração que isso vem em parte dos sprites originais de Fighter’s History, uma série de jogos de luta que teve uma curta vida na década de 90. Porém não dá para tirar o mérito do Pierwolf em fazer um ótimo tratamento desses recursos. O jogo transmite a sensação que você está vendo um beat’em up oficial de Fighter’s History, me fazendo pensar naqueles modos de Tekken Force que tinha em alguns títulos de Tekken.
Mas nem tudo são flores em Fighter’s History Revenge porque a dificuldade dele pode ser um pouco desanimadora. O Pierwolf pesou a mão na quantidade de hordas de inimigos que você encontra pelas fases, aumentando o sentimento de repetição. Além disso, os chefões acabam anulando o efeito da progressão de níveis por conta do dano massivo que causam. Também não tem continues, então você depende exclusivamente das vidas com as quais começam o jogo e as extras que ganha ao acumular pontos. A última fase então é um grande combustível para frustração. É um longo corredor em que você enfrenta TODOS os inimigos do jogo, incluindo os chefões que vem em duplas.
Apesar dos pesares, Fighter’s Hystory Revenge ainda é um jogão. Se tornou o meu favorito dentre todos os jogos do Pierwolf, ainda que eu tenha mais respeito pela criatividade de Knights & Dragons: The Endless Quest.
SUPER FINAL FIGHT GOLD PLUS (20??-2016)

Enfim chegamos ao trágico Super Final Fight Gold, o último jogo completo do Pierwolf. Notem que aqui eu vou falar da versão Plus, que nasceu de uma colaboração com outro membro da comunidade de OpenBOR, Don Drago. Eu não sei das minúcias dessa história, mas o que me consta é que o Don Drago entrou em contato porque tinha umas ideias de como melhorar a versão original. O Pierwolf gostou das sugestões do Don Drago e os dois passaram a trabalhar juntos no que virou o Super Final Fight Gold Plus, até acontecer aquele infeliz episódio que mencionei no outro texto.
É um jogo muito bom também, praticamente ali no mesmo nível que Fighter’s History Revenge. Salvo a inexistência de bloqueio e dash, é o mesmo combate combinando os ataques especiais com progressão de nível. Aqui o Pierwolf se aproveita que Final Fight e Street Fighter dividem o mesmo universo e une seus personagens para termos outro vasto elenco a nossa disposição. Dá para se divertir por horas testando cada um deles. As animações seguem com qualidade e a dificuldade é um pouco mais suavizada. Porém novamente ele repete essa ideia de não ter continues para aumentar sem necessidade o desafio do jogo.
Bom, é isso que eu tenho para falar. Não existe nenhuma característica criativa singular em Super Final Fight Gold Plus, porém não no sentido de ser um fangame genérico. Está bem longe disso. É só que em relação a jogabilidade ótima estabelecida em Fighter’s History Revenge nós não temos nenhuma novidade. Então pode ir com confiança que é outro selo de qualidade… e bem melhor que o outro jogo inflado que fizeram roubando as melhores ideias do Pierwolf.
UM ÚLTIMO AGRADECIMENTO AO PIERWOLF
Para encerrar, gostaria de pontuar que eu não fiz esse texto para recomendar exatamente mais alguns jogos de OpenBOR para vocês. Isso é mais um efeito colateral. O que eu quis aqui é apresentar o próprio Pierwolf para uma nova geração de potenciais jogadores e desenvolvedores que vão chegar nessa comunidade sem conhecer a história dele.
Acredito que é difícil que esse texto chegue ao Pierwolf já que ele abandonou o OpenBOR… e também porque ele é italiano. Mas mesmo assim fica aqui um agradecimento sincero pela sua contribuição com a comunidade por tantos anos. É uma pena que ele tenha se desencantado com a engine pela má-fé de algumas pessoas, mas espero que um dia ele retorne porque sua criatividade será muito bem-vinda. E necessária!
Enão obrigado a você pela leitura e obrigado, Pierwolf, pelos jogos!
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