Eu sei que me comportamento na internet, seja aqui no blog, no Twitter ou no Reddit, transmite a ideia que eu odeio a noção de gamer. Por extensão, a comunidade gamer como um todo também. Contudo, gostaria de esclarecer que isso é apenas parte de uma persona que eu criei para interagir nesse universo cibernético. Quem me conhece sabe, eu nutro nada menos do que uma imensa admiração aos gamers. Além disso, sou muito grato por tudo aquilo que conquistamos coletivamente como uma comunidade apaixonada por games.
Se eu deixo transparecer o contrário, tenham certeza: é intencional. Há muito tempo eu percebi como conteúdo com teor mais negativo engaja melhor do que qualquer outro na internet. Por isso eu escolhi falar da comunidade gamer de maneira raivosa por saber que isso me ajudaria a alcançar mais pessoas pelos algoritmos. Porém, hoje, eu não tenho qualquer incentivo para manter essa fachada. Verdade seja dita, eu tenho muito orgulho de ser um gamer.
Acredito que nos últimos anos o discurso sobre games evoluiu tanto quanto o conteúdo que é produzido. De tal forma, conseguimos construir uma comunidade saudável, inclusiva, respeitosa que verdadeiramente se importa com os games e não se move por anseios consumistas. Dos últimos doze meses para cá, eu só recebi mais e mais provas de como o gamer compreende a mídia profundamente. Mais do que isso, eu vi como ele luta para que ela se desenvolva mais e mais. Testemunhei diversas discussões durante esse meu tempo online que me fizeram sentir tão bem de fazer parte dessa comunidade.
Queria citar todas, mas são várias que nem sem por onde começar. Foram coisas como descobrir que no passado os desenvolvedores só faziam RPG por turno por conta da limitação tecnológica da época. Isso me fez entender que os RPGs de ação são a evolução natural do gênero. Aliás, espero muito que Baldur’s Gate 3 inclua um sistema de batalha de tempo real em algum patch. Qual é a dificuldade de fazer isso?
Ou então saber como o fato do Cloud não ficar molhado ao pular na água em Final Fantasy VII tira muito a nossa imersão. Até porque num mundo em que jogos ficam cada vez mais caros a gente precisa exigir por mais desses detalhes tão preciosos e que transformam por completo a nossa experiência de jogo.
Sem contar todos os títulos clássicos incríveis que agora eu sei que não valem mais a pena porque envelheceram mal. A não ser que recebam um remake com gráficos da última geração e seguindo todas as tendências da atualidade. Aí sim eles voltam a ser clássicos. Por isso estou ansiosíssimo para o remake de Silent Hill 2 e não vejo a hora de fazerem o remake do remake do primeiro Resident Evil. Já está na hora!
Os gamers estão sempre abrindo meus olhos para o que é essencial para os games. Ontem mesmo eu vi um tweet que exaltava a física de cabelo da personagem de Stellar Blade. Devo ter ficado imóvel em completo silêncio por uns cinco minutos. Tudo que passava na minha cabeça vendo aquela física maravilhosa era: “Cacete! Isso é games, mano!”. Desde que Red Dead Redemption 2 inovou a mídia ao reduzir os testículos dos cavalos durante o inverno, sabemos agora o que faz valer cada centavo investido.
Mas acima de tudo isso que falei, eu acho que a gente tem outra coisa a se orgulhar como comunidade. Em face a uma guerra cultural que tem dominado todos os setores da cultura pop, os gamers conseguiram não se deixar afetar por isso. Caso tenham sido afetados, foi muito pouco. E acho que conquistamos esse feito porque nos importamos única e exclusivamente com questões que de fato impactam a indústria e na nossa experiência com os games. Por exemplo, as críticas – construtivas obviamente – sobre como a Mary Jane em Marvel’s Spider-Man 2. De fato ela tirou todo o realismo que um jogo de super-herói deveria ter para funcionar. O gamer sabe o que é importante pros games.
Por esses e tantos outros motivos eu não tenho como expressar nada menos que todo meu respeito e orgulho por fazer parte dessa incrível comunidade e dedico essa carta a todos os gamers que fazem meus dias tão melhores com suas discussões.
Sinceramente,
Belmonteiro