Maiden Cops é um beat'em up brasileiro feito pelo estúdio indie Pippin Games

Infelizmente existem evidências, criadas por mim mesmo, de como eu não gosto muito de reviews de jogos no modelo mais tradicional. Com Maiden Cops, beat’em up brasileiro lançado há poucos dias pelo estúdio indie Pippin Games, eu me vejo numa famigerada sinuca de bico. Não tem nenhum tema ou tópico em específico que eu queira explorar nesse jogo, portanto não me restam muitos caminhos a não ser recorrer ao batido formato de história, jogabilidade, gráficos e blábláblá.

Mas talvez haja um meio-termo que eu possa explorar. Acho interessante a ideia de falar como Maiden Cops é um jogo equilibrado. Só que não pelas razões que vocês podem estar pensando.

Quando falo em jogo equilibrado, acredito que a maioria irá interpretar que Maiden Cops reúne boas qualidades que apesar de não tornarem o jogo excepcional, fazem-no uma experiência sólida de beat’em up. Bom… errado! O que eu quis dizer é que Maiden Cops tem tantos pontos positivos quanto negativos que se você colocá-los numa balança eles irão se nivelar. Não é que seja um jogo ruim, dá para se divertir e tudo mais. O problema é que tem uns detalhes da jogabilidade que, a depender do jogador, adicionam de pouca a muita frustração na experiência.

Fiquei sabendo da existência de Maiden Cops pelo novo site, Beat’em Up World, de uma figura conhecida aqui do blog, o meu amigo Savino. Indivíduo este que me presenteou com o jogo, afinal eu sou o garoto-propaganda #1 do canal dele. E, assim, eu sou meio besta para jogos de beat’em up. Novamente, existem evidências criadas por mim mesmo para atestar isso. Então, pessoas com um olhar mais clínico para o gênero, tal como o Savino, conseguem identificar problemas que passam por mim despercebidos. Ou até mesmo quando eu os percebo, eles não chegam a me incomodar tanto. Com Maiden Cops foi um pouco diferente.

Um dos pontos fortes de Maiden Cops está na sua arte. É notório que os desenvolvedores miraram num público otaku, com uma estética próxima ao que se vê em animes e mangás. Tanto as personagens quanto os cenários são criados com muita personalidade com um pixel-art primoroso e as animações também não ficam atrás. Os cenários são vibrantes e detalhados que ajudam a dar mais vida a Maiden City. Contudo, para fazer algumas cutscenes os desenvolvedores utilizam imagens estáticas cuja arte não chega a estar no mesmo nível dos gráficos dentro do jogo.

Tudo certo nesse aspecto, né?

Ok! Vamos falar do “elefante na sala”.

  • Tela de loading de Maiden Cops da Meiga Holstaur

Eu tive que explicar tantas coisas aqui em casa…

A direção artística de Maiden Cops aposta explora muito a sexualidade das personagens, porém numa pegada caricata e cômica, enfatizando suas curvas e com trajes que destacam ainda mais suas proporções. Tem até mesmo um botão de fanservice que faz as protagonistas posarem para o jogador. Isso não é nenhuma novidade, seja no gênero de luta, beat’em up e jogos em geral.

Não vejo isso como um defeito, mas também não considero um atributo porque é bem pueril. É o mesmo ecchi que já vi em tantas artes que aparecem nas redes sociais ou em desenhos animados que já assisti. Não há nada de transgressor, e diria que nem mesmo erótico, nos designs de Maiden Cops. É um apelo bem superficial que vai funcionar com certos grupos e gerar alguns comentários em certos outros, mas para mim só causa indiferença.

Mas tem uma coisa que me incomoda no jogo: o texto. A trama é simples como deveria ser e os eventos e cenários deixam bem claro como Streets of Rage foi a principal referência para Maiden Cops. Surge uma organização criminosa que liberta várias prisioneiras e agora as protagonistas precisam resolver essa situação. Como eu falei, o jogo tem essa pegada mais humorística e por isso as três protagonistas seguem estereótipos que você encontra sobretudo em obras de comédia.

Priscila é novata burrinha, coincidentemente loira, e sua caracterização não vai muito para além disso. Nina é uma tsundere que repete aquele clichê da personagem que parece uma criança, mas é na verdade uma mulher adulta. E por último temos a Meiga, que acho que o nome foi intencionalmente foi para fazer um jogo de palavras com sua personalidade gentil, que é a pervertida do grupo. Em termos de jogos de lutas, elas são respectivamente a all-arounder, a ninja e a tank. Então, a comédia de Maiden Cops deriva da interação entre essas três e aí que o jogo falha para mim. O humor é fraco, com piadas manjadas e diálogos que se tornam previsíveis assim que você se inteira da dinâmica do grupo.

Tá, mas ninguém escolhe um beat’em up se preocupando se ele será ou não engraçado. O mais importante é a jogabilidade, certo? Maiden Cops está cheio de problemas nesse quesito também.

A jogabilidade remete aos clássicos dos arcades. As personagens tem um combo simples, grab, ataque aéreo, dash, esquiva para cima e para baixo e um botão de bloqueio. Além disso, você tem três opções diferentes de especiais que você pode soltar se tiver energia o suficiente. Vale mencionar que o bloqueio serve também para escapar de grabs e consome energia. Caso você tente defender um golpe enquanto a barra estiver vazia, você recebe 50% do dano. São controles responsivos, tudo muito lindo, tudo muito show. Mas aí vem a IA dos inimigos!

Geralmente, num beat’em up, a gente espera um leque diversificado de inimigos. Não apenas em design, mas também na forma que eles se comportam: alguns mais lentos, outros mais velozes, uns agressivos, outros e. Já Maiden Cops todos os inimigos são rápidos, até mesmo os tanks, e tem uma tendência de lançar uma investida no seu personagem, como uma voadora ou uma rasteira, que tem um alcance absurdo.

Isso se torna uma dor de cabeça quando tem três ou quatro inimigos na tela de uma vez, mas o maior problema é que muitos desses ataques não podem ser bloqueados. Por exemplo, mais para a segunda metade do jogo surgem duas inimigas que durante a luta elas fazem uma pequena pausa e acionam um golpe especial no qual elas vem correndo com tudo para cima de você. É complicado de desviar a tempo e a única forma de você impedir esse ataque é usando os seus próprios especiais. Sendo assim algo bem comum de acontecer é você gastar sua energia rápido, te deixando exposto a esses ataques sem muita oportunidade de se defender.

Priscila usando seu especial em área

E sabe o que é pior? Isso não é nem o começo dos empecilhos que você encontrará na gameplay de Maiden Cops.

As fases são muito grandes, algo que acaba desestimulando testar o modo arcade, e quase não tem itens de cura pelo mapa. Seus personagens nem mesmo recuperam vida entre um estágio e outro. Os colecionáveis que você encontra, em sua maioria apenas aumentam o seu score que no final de uma jogatina será convertido em dinheiro para se gastar na Loja Maiden. Lá você desbloqueia cheats, trajes, artes, músicas, fichas dos personagens, essas coisas.

Ao longo do trajeto você se depara com dezenas e mais dezenas de inimigos que levantam muito rápido quando derrubados, tem super armor e frames de invencibilidade que no calor da luta fica complicado de distinguir. E os chefões? Ha ha ha ha! Além deles terem tudo isso, eles sempre estão acompanhados de capangas que respawnam toda vez que você derrota um. Esses fatores colaboram para Maiden Cops ter um combate muito frustrante.

Mas notem que eu falei ‘frustrante’ e não ‘difícil’. A vantagem é que no modo normal você tem continues infinitos. Você começa com três créditos para gastar caso perca todas as vidas, porém pode seguir jogando mesmo que use todos eles. A única “punição” é que o seu score para de subir. Fora que no início de cada nova jogatina você pode selecionar qualquer uma das fases que habilitou e começar a partir dela. Então zerar Maiden Cops não é uma tarefa complicada, mesmo com o combate sendo frustrante.

Tem outras particularidades que eu nem acho que são um defeito, apenas umas escolhas um tanto esquisitas. No jogo tem as armas mais clássicas dos beat’em ups como facas e canos, porém também você encontra algumas maiores como vigas de metal, toras de madeira e postes. Contudo, apenas a Meiga que é a personagem mais forte que pode usá-las. Faz sentido, né? Contudo, ela não consegue usar as armas mais leves, apenas Priscila e Nina. Acredito que isso foi para compensar já as armas pesadas são um tanto overpowered, ainda assim me pareceu uma escolha estranha.

Dá para citar outros exemplos, como você precisar deletar o seu save toda vez para começar uma nova jogatina no modo normal, mas acho que essa das armas é o bastante para ilustrar o ponto.

Enfim, acho que agora fica mais claro porque eu disse que Maiden Cops é um jogo equilibrado, mas pelos motivos errados. Para cada elogio que dá para fazer ao jogo, ao mesmo tempo podemos encaixar uma crítica:

Design e animações das personagens são muito bem feitas…

… mas o senso de humor do jogo é um tanto vergonha alheia e pueril.

Cenários vibrantes e muito bem desenhados…

… entretanto as fases são muito longas e com poucos itens de cura.

Controles responsivos com uma boa pegada arcade…

… contudo a IA dos inimigos precisa ser revisada.

Não quero incentivar ninguém a não testar Maiden Cops. Ainda dá para tirar algumas horas de diversão dele e está a um preço acessível. Eu só fico me questionando qual seria o público desse jogo (além da resposta mais óbvia). Porque para quem não tem muito jeito com beat’em ups, tipo eu, vai ter problemas com o combate. Porém, os jogadores hardcore mais habilidosos são justamente aqueles que terão mais facilidade em identificar os problemas que eu descrevi acima. Então em ambos os casos eu vejo os jogadores saírem frustrados de Maiden Cops.

Se me permitem uma sugestão, aguardem um tempo para ver se sai um patch ou dois para tentar corrigir alguns desses problemas para você ter uma experiência mais agradável. Ah sim, outra dica: não joguem quando tiver visita em casa. Foram tantas, tantas explicações…


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