Numa geração com tanto serviços de streaming para filmes, séries e jogos, o Paradoxo da Escolha tem aparecido com mais frequência como tema de discussões
Houve um tempo que os títulos desse blog foram normais?

O Paradoxo da Escolha é um conceito que eu gostaria de discutir aqui no blog um dia. Achei fascinante na primeira vez que eu ouvi e desde então procuro oportunidades para conversar sobre ele.

Para quem desconhece, o termo foi popularizado pelo psicólogo Barry Schwartz no seu livro O Paradoxo da Escolha: Por que Mais é Menos. Nele o autor argumenta que o aumento de opções disponíveis de algum produto ou serviço produziu o efeito oposto ao que se esperava. As pessoas não se sentem mais satisfeitas ou com mais liberdade de escolha, na verdade isso aumenta a ansiedade delas. Daí surge a “paralisia da escolha”, a incapacidade de tomar uma decisão por medo de fazer a escolha errada.

A ideia não é totalmente original do Schwartz. Antes dele, o fenômeno já tinha sido observado num estudo anterior envolvendo a venda de geleias em um supermercado. Quem manja de inglês pode conferir mais dessa história nesse artigo que achei pelas interwebs.

É bom ressaltar que o Paradoxo da Escolha não é nenhum consenso científico, inclusive já saíram estudos argumentando o contrário. Mesmo assim eu ainda acho um conceito interessante de se pensar e discutir. Até porque já presenciei alguns eventos anedóticos. Na minha família, por exemplo, vejo direto minha mãe e minha tia não conseguindo escolher um filme pra assistir nas plataformas de streaming. E no caso dos vídeo games, frequento o subreddit do Games e Cultura e praticamente toda semana tem alguma postagem de alguém falando que não consegue decidir o que jogar.

Só que eu não vou falar disso hoje. Por que não? Ora, graças a internet… de novo!

Semana passada eu soltei um artigo comentando sobre a briga consequente do anúncio sobre as mudanças que a equipe de Skullgirls faria no conteúdo existente do jogo. No texto eu menciono como havia uma boa discussão para se tirar dessa história. O principal ponto seria sobre empresas tentando enterrar seu passado para vender uma versão mais “perfumada” do seu produto. Mas não foi isso que aconteceu, né? A internet, como de costume, se transformou numa troca de insultos gratuitos, apontamento de dedos e julgamentos morais. Um lado dizia que o outro apoiava censura enquanto o outro falava que o um apoiava pedofilia e nazismo. Em pouco tempo o ambiente ficou tão beligerante que era impossível estabelecer qualquer diálogo, independente da sua opinião a respeito do caso.

Pois bem, aconteceu de novo! Dessa vez não tem necessidade para um artigo porque não tenho muito a adicionar. Só vou estender a discussão do que comentei anteriormente com um novo exemplo. Ok, mas então o que rolou?

Estava lá eu olhando meu feed completamente zoado do Twitterobrigado, Elon Musk – e notei que tinha algumas pessoas falando de uma tal de “polêmica do Paradoxo da Escolha”. Como uma boa Maria Fifi que sou, fui atrás da treta e a rastreei até esse artigo publicado no site Teoria Geek. Para ser mais exato, história não começou por aí. O ponta pé inicial foi um tweet da própria autora dias antes, contudo a discussão foi degringolar no artigo.

Bom, vocês sabem que eu não costumo ficar do lado de gamers. Tudo nada contra, é que essa comunidade tende a não exalar muita simpatia. Mas dessa vez eu vou dar uma colher de chá para os gamers. A culpa dessa discussão se desvirtuar não foi inteiramente deles. Foi um quase um caso de “O desabafo de uma pessoa sã em um mundo de fãs de The Last of Us. Lembram, aquela treta que teve entre o Omelete e os fãs de The Last of Us? Eu comentei o caso na época, “defendendo” o Omelete no sentido que achei as reações absurdamente desproporcionais por causa de uma opinião dissidente sobre uma série popular. Só que preciso destacar um ponto que fiz nesse texto:

Olha, eu acho que cabe uma pequena crítica aqui ao título da matéria. Quando você abre o texto com “O desabafo de uma pessoa sã em um mundo de fãs de The Last of Us”, você não está convidando o público a ter muita boa vontade com o que você vai escrever

Analogamente, quando a autora do Teoria Geek decide iniciar o texto com uma citação que põe a culpa na Netflix e no Gamepass, ela acaba dando espaço para os leitores chegarem na defensiva e com a mente mais fechada. Para piorar – e não tem como afirmar se isso foi feito na inocência ou com alguma malícia – a autora deixa de citar o serviço da concorrente, o PS Plus. Numa comunidade que respira flame war todo santo dia, é óbvio que isso causaria comentários dizendo que ela só queria falar mal do Xbox.

Apesar disso, ainda houve muitos bons contra-argumentos sendo jogados nos tweets. E eu nem falo sobre o fato do Paradoxo da Escolha estar longe de ser um consenso científico. Digo até mesmo de pessoas que consideram que ele exista. Para citar alguns pontos, algumas pessoas falaram como a culpa não é dos serviços em si. Somos nós, os consumidores, que não conseguimos lidar direito com o tanto de escolhas que temos disponíveis hoje então o real problema estaria na gente.

E aqui poderíamos jogar também toda a cultura do hypeque meu amigo Jogando Sem Hype comentou recentemente num podcastcria mais ansiedade nos jogadores para que eles se atualizem de tudo que está saindo no momento. No final a pessoa não consegue decidir o que jogar porque daqui a pouco tem mais um novo lançamento e ela não tem certeza onde investir seu tempo e dinheiro.

Outro ponto que destacaram foi também o fator socioeconômico. Ainda que serviços como o Gamepass e PS Plus causassem essa ansiedade da escolha, é a existência desse tipo de serviço que permite várias pessoas tenham acesso aos jogos pelo seu custo-benefício.

Mas assim como no caso de Skullgirls, esse comentários ponderados são soterrados por gente que chega fazendo ataques gratuitos e desmedidos. O que só estimulou a própria autora a reagir com um pouco de prepotência, piorando mais ainda o lado dela. E isso foi virando uma bola de “neve marrom” – vocês me entenderam – porque vieram também pessoas com um moralismo raso chamando a autora de elitista só por não considerar a questão socioeconômica. Ou seja, novamente fica impossível de se estabelecer qualquer diálogo pois os leitores e a autora agora já estavam em posições antagônicas.

Enfim, o que poderia ser uma discussão proveitosa, independente se você concordasse ou não com o texto, mais uma fez virou uma troca de insultos, flame war e deboche bobo. Se havia alguém aí com planos para falar sobre o Paradoxo da Escolha em relação a vídeo games *se olha no espelho*, melhor adiar. Vamos ter que esperar uns 2-3 meses até a memória da internet resetar para tocar nesse tópico de novo. E com uma reza brava para não desvirtuarem outra vez a discussão.

E por favor, não me façam ter que escrever um terceiro texto!


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