Mês passado eu publiquei um texto sobre En Garde!. Esse é um jogo que tem muita inspiração nos ditos swashbucklers. Tanto na literatura quanto no cinema, essas histórias compõe um dos subgêneros mais clássicos dentro da ficção de aventura. Como exliquei na minha crítica:
O swashbuckler, geralmente traduzido como “capa e espada”, é um gênero de ficção literária que surgiu ao final do século XVIII com a ascensão do Romantismo. Portanto suas histórias envolviam narrativas carregadas de aventura, geralmente misturando-se com eventos e figuras históricas, romance e personagens cavalheirescos com um senso de moral e justiça bem definido que realizam feitos heroicos. Outras características que marcam os protagonistas de um swashbuckler são as habilidades com esgrima, as acrobacias, a bravura e, claro, as roupas extravagantes.
Nos filmes os swashbucklers marcaram presença desde os primórdios do cinema mudo. Nesse início se destacou o ator Douglas Fairbanks que deu vida a alguns dos personagens mais clássicos da ficção como Robin Hood, Zorro e d’Artagnan. Com a introdução do som, abrindo a era de ouro de Hollywood, os swashbucklers foram por um bom tempo protagonistas do cinema americano. Mas como tudo que sobe um dia tem que descer, o gênero deu uma diluída nas décadas seguintes.
Felizmente os swashbucklers nunca perderam por completo seu apelo e até hoje nascem títulos populares como foi a franquia de Piratas do Caribe. E é disso que vim falar hoje.
Motivado por En Garde!, eu decidi revisitar um dos meus filmes favoritos da vida. Coincidentemente ele é um swashbuckler que surgiu na fase mais moderna do cinema que é A Máscara do Zorro, protagonizado por Antonio Bandeiras. Só que um filme apenas não me bastou e precisei ir além. Tomei uma segunda decisão de voltar no tempo e conhecer um pouco mais da história dos swashbucklers através do cinema. Com isso eu acabei passei mais de duas semana vendo vários filmes partindo da década de 30 e subindo até 2023. Ao todo foram mais de 20 filmes que eu assisti religiosamente.
Eu não podia deixar passar a oportunidade de aproveitar essa experiência para algo, portanto cá estamos. A escolha mais segura foi a fazer uma lista com os filmes que eu mais gostei de assistir nesse período. Também lancei alguns que eu já conhecia e aproveitei para rever nesses dias. Dentre tudo que eu assisti selecionei 15 itens, que não são necessariamente 15 filmes como vocês verão, então se preparem que tem muito texto pela frente. Dessa vez eu vou manter uma linearidade, colocando minhas recomendações na ordem de lançamento. Como foi muita coisa dessa vez, não terão menções honrosas, mesmo que fossem merecidas. Eu vi coisa demais, meu Deus!
1. O CONDE DE MONTE CRISTO (1934)
Na literatura, Alexadre Dumas é um dos mais consagrados autores do século XIX que criou duas das maiores histórias do gênero de aventura: O Conde de Monte Cristo e Os Três Mosqueteiros. Ambos são livros que eu adoro e por isso eu decidi que iria ver pelo menos uma adaptação para o cinema de cada. Dos Três Mosqueteiros eu optei por um filme mais recente. Já com O Conde de Monte Cristo achei uma boa abrir a lista já que eu conhecia por cima a adaptação de 1934. Sim, foi por causa do filme de V de Vingança!
Essa foi uma adaptação eficiente. Claro que não daria para representar uma obra tão robusta quanto o livro original num único filme. Isso é uma tarefa difícil hoje, então imagina 90 anos atrás? É por essa ambição, considerando a época, que fez O Conde de Monte Cristo de 1934 me impactar. Muitas coisas precisaram ser mudadas, uns personagens ficaram de fora e algumas linhas narrativas tiveram ou que serem encurtadas ou não exploradas.
Apesar disso, o adaptação dá um show de cinematografia e a presença do Robert Donat como o Conde é fortíssima. Ainda mais considerando que o ator assumiu um papel que exigia bastante esforço físico sendo que ele sofria de asma crônica. O problema que eu apontaria aqui é a duração. O filme toma tempo na sua primeira metade para contar como Edmond é traído, preso e depois a sua fuga. Contudo a transformação dele no Conde de Monte Cristo, a orquestração da sua vingança e a execução do plano tem que dar vários saltos. No terceiro ato é onde você percebe que o filme mais se apressa pulando de vingança em vingança em poucos minutos.
Mas não é nada que atrapalhe em grande escala a sua experiência com o filme pois dezenas de outras qualidades que o fazem uma obra fundamental para a história dos swashbucklers.
2. O PRISIONEIRO DE ZENDA (1937)
O Prisioneiro de Zenda era um filme que eu não estava esperando muita coisa. Isso não é uma crítica, é só porque eu desconheço o livro original e a recomendação me veio por essas listas de internet. Portanto a minha expectativa era inexistente e talvez isso tenha sido a melhor coisa a se fazer. Ele não tem a mesma energia que O Conde de Monte Cristo e tem um senso maior de diversão, contudo também é um bom clássico.
Ronald Colman fez um ótimo trabalho aqui interpretando dois personagens diferentes, o major Rassendyll e o rei Rudolf V. Claro que o segundo personagem não tem o mesmo tempo de tela que o primeiro, então o ator não tem muita oportunidade para explorar ambos os papéis. Os maiores elogios vão para a cinematografia nas cenas que ambos os personagens tem de estar presentes. Hoje isso não é algo que vai impressionar, mas para um filme de 80 e tantos anos foi uma ótima técnica e edição.
O lado swashbuckler do filme leva um tempo para dar as caras de fato ao nos aproximarmos do terceiro ato. Ainda há um senso de aventura bem leve permeando o filme, mas é só na invasão do castelo que você sente o espírito do “capa e espada” chegando com força. O romance não é dos melhores desenvolvidos, pois há poucas interações entre o protagonista e seu par romântico. Levando em consideração outros filmes contemporâneos, até que está na média em termos de escrita. O que se destaca foi a coragem de não terminar com um típico e otimista “viveram felizes para sempre” e vai mais numa linha de amor trágico.
Então para resumir: filme divertido, bem atuado e um roteiro que não se estende mais do que deveria.
3. A “TRILOGIA” DE ERROL FLYNN (1935-1940)
Não seria uma lista minha se eu não tentasse dar uma trapaceada em algum momento, né?
Quando se fala em swashbucklers para qualquer pessoa que conhece a história do cinema um nome vem à cabeça na mesma hora: Errol Flynn. Considerado como um dos grandes atores da era de ouro do cinema hollywoodiano, Errol Flynn herdou a posição de Douglas Fairbanks de ser a face do swashbuckler nos filmes e protagonizou alguns dos maiores títulos de aventura da sua época. Por isso é moralmente obrigatório assistir pelo menos um filme dele para conhecer o gênero.
Só que no meu caso eu não consegui me decidir qual escolher. Cada um deles me parece fundamental porque não só descrevem a evolução da carreira do Errol Flynn como também dos swasbucklers. Portanto decidi pegar três filmes e transformá-los numa trilogia informal. Começando, obviamente, do começo:
3.1. CAPITÃO BLOOD (1935)
Quando a Warner Bros. decidiu contratar um desconhecido ator australiano para interpretar o protagonista da sua mais recente produção, mal sabia o estúdio que havia aberto as portas para um astro. O charme natural e a habilidade física de Errol Flynn fizeram dele a escolha certa para protagonizar um swashbuckler. No seu próximo filme que ele deixa isso mais que evidente, mas já em Capitão Blood já temos alguns vislumbres do que viria ser o rosto que associamos ao gênero muitas e muitas décadas depois dos seus filmes.
É impossível não simpatizar com Peter Blood, não apenas pelo magnetismo do Errol Flynn como também pelo texto que é dado ao personagem. Não que eu ache que a atuação dele fosse fenomenal, mas sim porque ela combina com a história, ainda mais quando a parte física do personagem entra em ação. Não é o filme mais bem produzido dessa “trilogia”, porém é um ponto de partida muito importante a se tomar.
3.2. AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD (1938)
Agora sim podemos entender porque do Errol Flynn ter se tornado um dos grandes ícones do cinema swashbuckler. Acredito que existiam dois personagens que o ator nasceu para fazer. O primeiro era o Don Juan – que ele só veio a interpretar em As Aventuras de Don Juan dez anos depois – e o segundo é Robin Hood. Isso porque mesmo o Errol Flynn tendo esse charme tão magnético você olha para cara dele é pensa também: cafajeste! Portanto o irreverente arqueiro se opondo ao tirânico Príncipe John era a escolha perfeita para a carreira dele.
O filme faz jus ao seu nome com aventuras no plural, pois o sentimento que passa é que estamos vendo uma sequência de histórias do personagem aglutinadas num único filme. A produção é fantástica, tirando todo o proveito do technicolor para criar um filme que transpira a beleza do cinema. O roteiro é direto e funcional, valores morais definidos com a simplicidade necessária e um elenco que está se divertindo muito nos seus papéis. Depois de tantas décadas é uma obra que não perdeu sua magia nem um pouco.
3.3. O GAVIÃO DO MAR (1940)
A esse ponto da sua carreira o Erron Flynn já não precisava provar nada. Então aqui temos o ator completamente confortável num papel que ele sabe interpretar com uma exatidão quase que matemática. O Gavião do Mar é um conhecido filme de propaganda. Foi produzido bem no meio da Segunda Guerra Mundial para aumentar a moral das tropas britânicas, além de angariar mais simpatia do público americanas. As alusões ao Hitler na figura do rei Filipe II tal como o discurso final da Elizabeth I não deixam qualquer dúvida das intenções do filme. Mas O Gavião do Mar mostra seu valor além do contexto da guerra da sua época.
É uma produção de altíssima de qualidade na construção dos seus cenários e figurinos. Também vemos toda a evolução cinematográfica que apenas 5 anos depois de Capitão Blood fizeram. Sequências de ação muito bem filmadas, sobretudo envolvendo combate marinho, que são elevadas pelas presença e capacidade física do Errol Flynn. É um filme que fecha essa “trilogia” com chave de ouro.
4. O PIRATA (1948)
Os swashbucklers já estavam bons, aí decidiram fazer um musical e ficou melhor ainda!
Uma coisa que eu reparei enquanto assistia a todos esses filmes é quanto a escolha dos atores faz uma enorme diferença. As histórias geralmente são bem simples e sem muitas surpresas. Os personagens por sua vezes tem características de fácil reconhecimento por parte da audiência, o famoso stock character. Então o que traz muita da simpatia pelos protagonistas é mais o carisma dos atores do que o texto. Em O Pirata não poderia ser diferente e fizeram e escolha perfeita ao colocar o Gene Kelly e Judy Garland para interpretar o casal Serafin e Manuela.
Gene Kelly é uma escolha bem óbvia. Toda sua habilidade como dançarino, seu charme e timing cômico fazem dele a pessoal ideal para colocar num musical swashbuckler. Judy Garland também foi outra escolha acertada não apenas pela sua poderosa voz, mas pela química que ela tem com Gene Kelly pela amizade os atores nutriam na vida real. Ambos dão um show nas suas cenas individuais, mas quando eles contracenam juntos é onde o filme brilha. A cena em que a Manuela destrói toda uma sala tacando todos os objetos no Serafin vai morar eternamente no meu coração.
Então não vejam o filme pelo roteiro porque a história não chega a ter nada de fantástico. Venha pela soma desses dois enormes talentos do cinema que sustentam esse filme com uma comédia leve e confortável que vai alegrar o dia de qualquer um.
5. A ILHA DO TESOURO (1950) & OS MUPPETS NA ILHA DO TESOURO (1996)
Durante 1881 e 1882, Robert Louis Stevenson escreveu A Ilha do Tesouro, um livro que viria a se tornar um clássico da literatura infanto-juvenil e criar os elementos que seriam associados aos piratas ao longo de toda a cultura pop futura. E deu pra ver pela lista que a figura dos piratas é muito presente nos swashbucklers, né? Portanto nada mais justo do que incluir uma das várias adaptações de A Ilha do Tesouro no pacote. E também não poderia deixar de adicionar uma segunda recomendação… com Muppets!
Produzido numa joint-venture entre a Walt Disney Productions e RKO Radio Pictures, A Ilha do Tesouro de 1950 permanece como uma das mais efetivas adaptações do livro original. O filme tem um aspecto lúdico bem mais forte, afinal estamos falando da Disney, com uma incrível teatralidade que te ajuda a comprar a narrativa do ponto de vista uma criança inocente e deslumbrada com uma aventura no mar. E para um filme infantil, até que Ilha do Tesouro é bem sombrio pela quantidade de personagens que são fuzilados nos tiroteios. A violência não é gratuita e nem gráfica, mas eu não estava esperando tantas mortes assim em tela.
Para mim a maior qualidade é que essa adaptação a façanha de me convencer de algo que o livro não foi capaz. Fica muito mais claro como o jovem Jim Hawkins desenvolve uma amizade sincera com o pirata Long John Silver, vivido pelo ator Robert Newton que não se segura no overacting das suas maravilhosas expressões faciais.. Então só por isso eu já acho que vale a pena conferir essa versão, ainda mais se você tiver lido o original.
Mas é claro que a adaptação que eu mais gosto é a dos Muppets. Aqui temos outro fantástico musical que conta com a maestria das marionetes da equipe da The Jim Henson Company, na época conhecida como Jim Henson Productions. É um filme divertidíssimo que também tem suas próprias façanhas, pois ele consegue ser ao mesmo tempo uma paródia e uma adaptação bem honesta do livro de A Ilha do Tesouro.
O Long John Silver aqui também rouba os holofotes graças ao seu ator. Não tinha uma escolha mais perfeita do que o fantástico Tim Curry, que pode ter o corpo físico de um humano, porém na alma é um Muppet. Vejam o número dele – infelizmente o único no filme todo – e me digam se ele não tem a energia de um Muppet humano?
Enfim, se você gosta de piratas, aventuras no alto-mar e Muppets essa adaptação é obrigatória. Se você não gosta, por favor saia desse texto que eu não quero me envolver com gente da sua laia! Falando sério, é uma comédia muito boa, com músicas cativantes e só o trabalho de marionetes já justifica assisti-lo.
6. O PIRATA SANGRENTO (1952)
Burt Lancaster junto com seu parceiro de tela Nick Cravat são outros dois nomes a se associar com os swashbucklers. Os conheci pelo filme O Gavião e a Flecha, de 1950, que a princípio se mostra como uma história aos moldes de um Robin Hood até que vira um filme dOs Trapalhões. E digo isso com todo o elogio possível. Em O Pirata Sangrento – que uma tradução mais correta seria O Pirata Carmesim, porém o título brasileiro acaba se tornando parte da piada – temos os dois no seu formato de filme ideal.
Enquanto O Gavião e a Flecha ainda mantém um ar dos swashbucklers tradicionais, O Pirata Sangrento vai fundo na comédia. Isso porque tanto Lancaster quanto Cravat eram acrobatas profissionais e assim trouxeram bastante desse humor circense para seus filmes. Aqui eu acho que funciona muito melhor que no anterior exatamente porque ele não te deixa pensar que isso é outra coisa senão uma comédia. Tanto é que já abrimos a história com o Burt Lancaster num shot reverso balançando numa corda e dizendo “Acredite em metade do que você vê” para mostrar que aquilo tudo está muito mais para uma aventura de fantasia do que uma de ficção história.
Apesar da enorme ênfase na comédia, ainda tem umas pitadas de momentos dramáticos que funcionam para dar um pouco mais de peso a história. As sequências de ação excelentemente bem executadas, principalmente por estarem mais alinhadas ao tom cômico do filme. Assim, O Pirata Sangrento brilha quando abraça o ridículo e deixa os seus atores principais e coadjuvantes embarcar na piada.
7. VIKINGS, OS CONQUISTADORES (1958)
Mais um filme com uma soma de talentos, com Kirk Douglas, Tony Curtis e outros grandes nomes da época, que traz os swashbucklers para era dos vikings. Não é uma produção tão espetacular assim pelo que o cinema do gênero já havia mostrado nas duas últimas décadas. Também tenho a ligeira impressão que as audiências mais jovens terão problemas com o ritmo. Então é bem fácil pular esse filme, embora eu não recomende que o deixem passar. Vikings, Os Conquistadores tem uma narrativa sólida para os moldes dos swashbucklers e um dos poucos casos com a presença dos “Homens do Norte”.
A representação dos vikings é bem estereotipada, a ponto de causar risos não-intencionais quando os guerreiros não param de gritar outra coisa que não “Odin!”. Porém não vou fingir que entendo de história para dizer até onde a representação do filme é acurada e não é. De qualquer forma, o fato do elenco – incluindo os figurantes – estar se divertindo na pele dos vikings com um entusiasmo contagiante faz você não pensar por esse lado.
O que eu mais gostei aqui foram os personagens. Nos swashbucklers em geral você tem aquela simplificação de heróis são heróis e vilões são vilões, mas no filme isso tem alguns tons de cinza. O Rei Aella é de fato um vilão padrão do gênero, mas por exeplo, o Einar -, vivido pelo Kirk Douglas – ora parece um vilão, ora um rival, ora um anti-herói. Então embora você nunca simpatize com ele, também não chega a odiá-lo totalmente. Já o Tony Curtis tem o benefício de interpretar um personagem mais seguro, Eric, que se alinha mais aos típicos protagonistas de swashbucklers, contudo também não tem essa nobreza tão bem definida igual outros filmes.
Vikings, Os Conquistadores é uma boa escolha para mudar um pouco dos ares das ambientações desses filmes que geralmente ficam se centram na Inglaterra, França e Espanha.
8. OS DUELISTAS (1977)
A dita “era de ouro de Hollywood” fica para trás com o fim dos anos 60 e da década de 70 pra frente sangue-novo chega ao cinema. Dentre eles estava Ridley Scott que chegou mostrando serviço com uma repaginada nos swashbucklers. No seu filme, o então novato diretor foca no aspecto histórico e dramático, fazendo um estudo de personagens com um visão menos extravagante e mais sóbria.
Em vez de uma narrativa heroica com donzelas em perigo e lordes tirânicos oprimindo o povo, em Os Duelistas o que temos são dois homens instáveis numa rixa que se estende por anos por pura mesquinharia e noções tortas sobre honra. Keith Carradine e Harvey Keitel podem não convencer nem um pouco como homens franceses durante as Guerras Napoleônicas, mas a tensão que entre os dois personagens é sentida no filme todo.
Nem acho que o Ridley Scott estava tentando fazer um revisionismo do gênero. Também não sei dizer se Os Duelistas se encaixa tanto assim no gênero para além da presença da esgrima no conflito entre os personagens centrais do roteiro. Mas no meu coração é um swashbuckler e no final é isso que importa.
9. A PRINCESA PROMETIDA (1987)
Preciso ser transparente com vocês e dizer que há um conflito de interesses aqui, pois A Princesa Prometida é um filme que eu amo de paixão. Então ele já apareceria em qualquer lista que desse para eu encaixá-lo. Não é a toa que eu selecionei o Inigo Montoya – o personagem coadjuvante com mais energia de protagonista que existe – para ser a imagem destacada desse texto.
Esse é um filme que você DEVE assistir, mesmo que não tenha interesse em swashbucklers ou fantasia. Um roteiro muito fechadinho que conta com diálogos maravilhosamente escritos. Sem brincadeira, eu diria que em que cada cena tem pelo menos uma linha que dá para virar uma citação tranquilamente. A produção é precisa, pois é uma história que se vende pela simplicidade de uma fantasia menos épica, com uma mistura na dose certa de aventura, romance e humor.
Isso é bem elevado pelo elenco onde cada ator está perfeito no papel para qual foi escolhido. Cary Elwes tem um charme e um sarcasmo ímpar, Robin Wright consegue mostrar imponência até mesmo num papel de donzela em perigo, André the Giant é simplesmente adorável como Fezzik e Mandy Patinkin protagoniza uma das cenas de vingança mais satisfatórias do cinema. Cacete, parem de ler esse texto e vão lá assistir esse filme. E se já viram, assistam de novo!
10. O MESTRE DE ESGRIMA (1992)
Partindo em grande estilo para uma produção espanhola, O Mestre de Esgrima é uma ótima adaptação do livro de mesmo nome escrito por Arturo Pérez-Reverte. E eu afirmo isso, porque logo depois de assistir o filme, num surto consumista eu fui lá e comprei o original. Aliás, recomendo o livro também. Tem um panorama político mais extenso e mergulha a fundo nos dramas pessoais do protagonista e seus demônios internos.
Assim como Os Duelistas, o que temos aqui é essencialmente um drama de época em meio o período da La Gloriosa, a revolução espanhola de 1868. Seguimos o mestre Jaime de Astarloa, interpretado maravilhosamente pelo Omero Antonutti, um personagem meio anacrônico que continua ensinando a arte da esgrima numa época que as armas de fogo se tornavam mais comuns. O filme começa como um romance, quando Dom Jaime dá sinais de estar apaixonando pela sua nova pupila, Adela de Otero; interpretada – também maravilhosamente – pela Assumpta Serna. Contudo logo se estabelece um mistério policial quando um dos amigos do protagonista é assassinado. Essa segunda parte não é tão bem desenvolvida, até porque fica muito óbvio para onde a trama se encaminha, mas não deixa o filme perder seu valor.
A qualidade anacrônica do personagem passa para o filme também, pois temos o que poderia ser um protagonista de swashbuckler num contexto fora do seu “habitat natural”. O sentimento de aventura dá suas caras em algumas passagens, inclusive o filme tem um dos melhores duelos de florete que o cinema já produziu, mas é evidente que apelo está mais no drama e no contexto político histórico.
Nem por isso O Mestre da Esgrima, tanto filme quanto livro, deixam de ser uma ótima aventura que passa sutilmente por todos os temas das narrativas swasbucklers mais convencionais.
11. A ILHA DA GARGANTA CORTADA (1995)
Palma, palma! Não priemos cânico! Eu não fiquei doido por colocar esse filme na lista. Quem conhece A Ilha da Garganta Cortada além dos tempos de Sessão da Tarde possivelmente sabe da sua má-reputação. Além de uma produção conturbada, o filme é considerado como o responsável por inviabilizar os filmes de piratas por vários anos até que Piratas do Caribe surgiu nos anos 2000. Essa é uma afirmação um tanto exagerada, não acho que nenhum filme é capaz de matar um gênero, e também acho que pegam o filme mais pra Cristo do que deveriam.
De qualquer forma, de fato não é uma das melhores representações dos swashbucklers no cinema. E é exatamente por isso que inclui ele na lista. Não acredito que a vida tenha que ser consumir coisas consideradas boas, às vezes é bom ver algo de qualidade duvidosa para aprendermos o que deu errado. No caso de A Ilha da Garganta Furada são duas coisas: direção e elenco.
Geena Davis simplesmente não convence como uma capitã, o que é uma pena porque o gênero necessita demais protagonistas femininas, e há zero química com o personagem do Matthew Modine. O humor do filme é vergonha-alheia de ruim e as sequências de ação carecem de qualquer energia. O roteiro é passável, porém o filme não consegue elevá-lo além de uma execução que, sendo muito generoso, é funcional. Trilha sonora boa e em questão de elogio é até onde dá pra estender.
12. A MÁSCARA DO ZORRO (1998)
Quando eu falava dos primeiros swashbucklers no começo da lista alguém talvez tenha sentido falta de A Marca do Zorro de 1940. Eu assisti esse filme. Eu gostei desse filme. Porém A Máscara do Zorro é para mim a melhor representação do personagem nas grandes telas. Tanto que foi esse filme que me fez querer escrever essa lista, pois meus planos antes eram de assistir ele enquanto jogava En Garde!.
Para muitos, Indiana Jones é a referência no que tange filmes de aventura. No meu caso é o Zorro, especialmente nesse filme. Antonio Bandeiras e Anthony Hopkins entregaram tudo na representação do personagem, transformando A Máscara do Zorro ao mesmo tempo numa história de origem quanto uma história de passagem do bastão. Eu até gosto de imaginá-la como a sequência do filme de 1940 agora que eu assisti. A personagem da Catherine Zeta-Jones – que nem vou falar que estava maravilhosa nesse filme porque considero isso até pleonasmo – foi outra adição valiosa, tendo muito mais agência do que os típico interesses amorosos dos swashbucklers
Humor e muita aventura. Maravilhosas lutas de espada. Um elenco fantástico. Uma trilha sonora que te move. Tremendo valor de produção. Não poderia haver uma adaptação melhor do herói mascarado para as telas de cinema. É o tipo de filme que eu gosto mais cada vez que revejo e essa última vez não foi diferente.
13. STARDUST: O MISTÉRIO DA ESTRELA (2007)
Estrelas cadentes, bruxas, príncipes fratricidas, piratas voadores e lutas de espada contra corpos reanimados. Stardust: O Mistérios da Estrela é mais um daqueles filmes que eu considero serem feitos para mim. Misturando swashbucklers com influências do mesmo tipo de fantasia que inspirou A Princesa Prometida e outro elenco fenomenal – Michelle Pfeiffer rainha demais – é uma aventura mais do que agradável.
Baseado no livro de Neil Gaiman, que explica muito dos elementos sombrios que vão chegando sorrateiramente, eu não sei dizer se é uma boa adaptação, mas com certeza é um bom filme. Tenho algumas ressalvas quanto algumas escolhas, como o personagem do Robet de Niro que até agora não sei se foi sincero ou feito no deboche, mas foi uma história que me ganhou fácil.
Acho que o grande defeito é que você sai querendo ter visto mais daqueles universo. Ou talvez essa seja uma qualidade também? Eu conseguira aguentar tranquilamente mais 30 minutos de filme para ter mais algumas sequências em que conhecemos mais alguns detalhes de cidade de Muralha. No mais, é uma obra interessante para ver como Neil Gaiman consegue imaginar histórias bem diferentes do estilo e tom que estamos acostumados de vê-lo escrever.
14. GATO DE BOTAS 2: O ÚLTIMO PEDIDO (2022)
Não teria como eu ter paz de espírito se não tivesse pelo menos uma animação nessa lista, uma mídia que não canso de elogiar e defender internet a fora. Não precisei buscar uma referência mais antiga, como o Robin Hood de 1973 da Disney, porque felizmente 2022 garantiu que essa vaga fosse preenchida sem qualquer esforço.
Eu sempre gostei do Gato de Botas, tanto o personagem nos filmes do Shrek quanto no seu próprio spin-off. Exatamente porque o protagonista traz essa energia swasbuckler que tanto me cativa. Mas nem precisa apreciar o gênero para achar Gato de Botas 2: O Último Pedido, pois esse é um filme incrível sob qualquer ótica. Desde a animação excelente até o tema central do filme.
Essa é aquele tipo de animação que precisa vir de tempos em tempos para mostrar aos adultos que não se deve subestimar a mídia e muito menos as crianças. Pois aqui temos uma profunda reflexão sobre vida e morte sendo discutida num filme com um gato espadachim que calça botas. E mesmo que não houvesse todo esse texto, só a animação faria valer a pena assisti-lo. Nem vou me estender muito porque acredito que esse seja o título que praticamente todo mundo que chegar nessa lista já vai ter conhecido.
15. OS TRÊS MOSQUETEIROS: D’ARTAGNAN (2023)
Fechando a lista e fechando muito bem! Eu estava esperando gostar de Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan dado o tanto que eu adoro o original, mas não imaginei que seria tanto assim. Ok, que não sou um grande conhecedor das adaptações do livro para o cinema, mas essa aqui foi fenomenal. É o tipo ideal de adaptação na minha concepção. Consegue manter a essência que faz a história original funcionar, mas não se acanha em fazer mudanças que criam mais valor em cima do que já foi estabelecido.
Achei ótima a escolha de estruturar a história em dois filmes, o primeiro focando no D’Artagnan e o segundo – que sai agora em dezembro – na Milady. Assim como o livro de O Conde de Monte Cristo, Os Três Mosqueteiros original também é uma história robusta que não dá pra você simplesmente traduzir pra um filme de 2 horas sem cortar algumas coisas. Assim essa primeira parte fica mais responsável por colocar todas as peças no tabuleiro. Se o filme quisesse poderia até ser uma história fechada, mas termina com um cliffhanger bem calculado.
Bem calculado parece o elogio certo para fazer a esse filme porque nada nele se estende demais. As contribuições de Athos, Porthos e Aramis também estão na medida certa para não tirar o protagonismo do D’Artagnan ao mesmo tempo mostrando o suficiente para sabermos como eles são essenciais para o crescimento do personagem. Milady foi teve o bastante de participação de tela para te deixar instigado para o próximo filme. Tem boas sequências de luta de espada, confesso que nessa lista existem exemplos muito melhores, mas nota-se que o foco está mais nos conflitos políticos e religiosos que marcam o contexto do original.
Que venha dezembro logo com a parte II!
Ufa, ‘cabou!
Foi uma longa e proveitosa experiência dessas semanas em revisitar e conhecer novos filmes swashbucklers e até mesmo aqueles que não entraram na lista ainda tem um espacinho na minha cabeça. Não acho que ninguém vai se empenhar a assistir tudo isso que eu recomendei, porém espero que alguns dos itens despertem o interesse de vocês.
Obrigado pela paciência e até a próxima lista!
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