
Ontem andava casualmente pelo Games e Cultura, o único sub gamer que eu frequento, quando uma postagem chamou a minha atenção. Mal sabia eu que estava prestes a me deparar com o meu filme de ação favorito… de 2025! Predador: Assassino de Assassinos foi uma grata surpresa de uma animação que eu não tinha a menor ideia que estava em produção. Ela saiu agora no começo de junho e agradeço a você, cidadão aleatório do Reddit, por ter me deixado consciente da sua existência.
O filme tem na sua direção ninguém menos que Dan Trachtenberg, responsável pelo aclamado A Caçada (Prey, 2022) que deu um gás muito necessário na franquia depois daquele pavoroso O Predador (The Predator, 2018). Aliás, esse ano tem mais outro filme no universo de Predador com a assinatura do Trachtenberg, Terras Selvagens (Predator: Badlands). O homem não para e Deus o abençoe por isso. Se A Caçada já tinha mostrado a que ele veio, Assassino de Assassinos consolida o Dan como a mente que sabe como trabalhar esse personagem no cinema.
O mero conceito do Predador é algo que me agrada tanto como o Xenomorfo da franquia Alien. Um alienígena cuja cultura é voltada para a caça de seres intergalácticos é a versão sci-fi de The Most Dangerous Game que eu não consigo por defeito. É simples e eficiente e Predador: Assassino de Assassinos acerta apenas por saber aplicá-lo muito bem. Dá até para dizer que tem uns temas jogados ali no meio da animação, como o ciclo do ódio, mas a animação se foca na execução de sequências de ação bem violentas e estilizadas. Até achei curioso o filme estar na Disney+ pela quantidade de membros decepados nas suas quase uma hora e meia de duração.
Trachtenberg, tal como fez em A Caçada, resgata a ideia que a raça dos Predadores já visitou a Terra em outras épocas na busca de novas presas. Algo que foi introduzido em Predador 2, porém não explorado até esses últimos anos. Portanto, aqui ele decide expandir mais o conceito em maior quantidade já que Assassino de Assassinos é uma antologia dividida em três segmentos em épocas distintas:
- O Escudo: Ursa, uma guerreira viking da Escandinávia, no ano de 841 leva o seu clã numa expedição para eliminar a última tribo dos Krivichis cujo líder, Zoran, matou seu pai quando ela era uma criança;
- A Espada: Durante o período Edo no Japão, Keiji é obrigado pelo seu pai a lutar contra seu irmão, Kiyoshi pela sucessão do comando da região. Keiji se recusa a lutar, mas seu irmão o ataca e vence o duelo. Vinte anos depois, agora como um shinobi, Keiji volta à sua terra natal para acertar as contas com Kiyoshi;
- A Bala: John J. Torres é um jovem mexicano vivendo nos Estados Unidos com seu pai mecânico. O rapaz sonha em ser um piloto de avião e tem essa oportunidade ao ser convocado pela Marinha durante a Segunda Guerra Mundial;
Os caminhos de cada um desses protagonistas acabam se cruzando com os dos Predadores, mas os três conseguem sair vitoriosos. Eu não considero isso um spoiler já que todo filme da franquia tem esse mesmo desfecho. Além disso, o próprio filme antecipa o destino dos personagens na transição do segmento da Ursa para do Kenji. Nesse intervalo, vemos a guerreira confinada num com Kenji compartimento futurista com um colar em seus pescoços. Mais a frente descobrimos Torres preso com eles também. Isso leva ao epílogo que serve como quarto segmento ao filme e, sendo honestos com vocês, é a parte que eu menos gosto.

Ali o diretor resolve resgatar outro conceito, dessa vez do subestimado filme de Predadores (Predators, 2010), que mostra que algumas tribos abduzem pessoas para caçá-las no seu planeta. Portanto, no final de Assassino de Assassinos, temos os três protagonistas reunidos numa arena de Predadores onde eles devem lutar até a morte e aquele que sobreviver lutará contra o seu líder.
A ação desse segmento não tem o mesmo fôlego dos anteriores e carece da carga emocional que os outros tiveram. O epílogo serve mais para passar do limite de sessenta minutos e converter o filme num longa-metragem. Não havia necessidade de um arco principal para conectar as histórias, pois elas funcionam perfeitamente isoladas. Assim fica evidente que só estavam preparando o terreno para futuras sequências e possivelmente uma ponte com o próximo filme de Terras Selvagens. Chegaram até incluir uma cena pós-créditos que me fez procurar pelo logo da Marvel.
Felizmente os três primeiros segmentos são bons o bastante para compensar por esses vinte minutos finais de encheção de linguiça. Nenhuma das histórias traz algo tão novo para a franquia assim que não sejam os cenários diferentes. Nem mesmo chegam a expandir o que já conhecemos dos Predadores em relação ao seu “código de ética”. Mas é sempre bom reforçar esses elementos para uma geração que não teve contato com os filmes originais.
Em cada um dos segmentos vemos como os Predadores agem com uma estratégia clara. Eles nunca engajam em combate direto a princípio, sempre observando suas “presas” à distância para entender seus movimentos. Além disso, temos vislumbres da tradição dos Predadores de buscar os maiores desafios possíveis, pois eles deixam que os humanos terminem seus próprios embates para determinar quais deles são os mais poderosos. Por exemplo, o Predador de O Escudo assiste todo o confronto entre o clã de Ursa e o de Zoran antes de se revelar para os vitoriosos. A mesma coisa acontece em A Espada, onde o Predador espera Kenji terminar seu duelo contra o irmão antes de desafiá-lo.
O que existe de novo no filme são os próprios Predadores. Cada segmento nos entrega um espécime diferente e não apenas em questões estéticas. Cada Predador tem seu próprio estilo de caça que os torna especiais e únicos na franquia. O Predador de O Escudo é um tremendo brutamontes que tem tanta confiança na sua física que nem mesmo se preocupa em usar uma armadura ou camuflagem. Por outro lado, o Predador de A Espada é um ser mais ágil e furtivo, usando das suas diferentes armas para acabar com seus oponentes. Por fim, A Bala conta com um Predador enfrentando os humanos em combate aéreo com a sua nave.
Predador: Assassino de Assassinos possui algumas das melhores sequências de ação que a franquia já teve e muito devido ao fato de ser uma animação. Admito que tenho um viés com essa mídia, mas eu falo isso porque ela permitiu que o filme tivesse uma violência mais estilizada. Para chegar a esse resultado o Trachtenberg contou com a ajuda de muitos artistas que trabalharam na série Arcane e quem assistiu vai se familiarizar bastante com o design dos personagens.

Algo que é importante destacar é que essa é mais uma animação que vem seguindo a tendência de diminuição dos quadros por segundo. Essa técnica já marcou presença em algumas das melhores animações ocidentais dos últimos anos, como Gato de Botas: O Último Desejo, Homem-Aranha no Aranhaverso e As Tartarugas Ninja: Caos Mutante. Apesar disso, eu vejo que infelizmente existe uma rejeição com a técnica e, pior, uma impressão errônea que isso é um problema da animação e não uma escolha artística. Por causa disso eu acho melhor já deixar avisado para a pessoa saber onde está pisando.
Mas eu concordo que existem momentos que há um estranhamento com a animação. Só que no meu caso não foi pela taxa de quadros e sim uns pequenos detalhes que fui reparado. A sensação que me deu é que apressaram a produção para que o filme saísse ainda esse ano antes de Terras Selvagens. Então tem umas horas que parece que faltou um pouquinho mais de cuidado na animação. Por exemplo, quando mostram aqueles pelos do casaco da Ursa ou quando os dentes dos personagens ficam à mostra quando estão falando. Tem algo que parece meio inacabado. Ficará mais evidente quando vocês assistirem, falando assim parece que estou apenas caçando coisa pra criticar.
Enfim, eu não tenho muito mais o que comentar sobre Predador: Assassino de Assassinos porque realmente não tem muito que comentar. De novo, reforço que o filme tem maravilhosas sequências de ação, sobretudo nos dois primeiros segmentos, e o Dan Trachtenberg sabe muito bem o que fazer com o Predador. A animação trouxe um novo estilo que é muito bem-vindo para uma franquia que é conhecida majoritariamente pelo cinema e abre portas para mais adaptações desse tipo. Deem uma chance assim que puder, porque acho que o projeto não recebeu tanto marketing assim. Ou eu que ando com a cabeça nas nuvens mesmo.