Ano passado eu comecei a mergulhar em Mobile Suit Gundam começando pelo começo. Tecnicamente não foi assim porque primeiro eu assisti Iron-Blooded Orphans, uma das muitas linhas do tempo paralelas de Gundam. Foi depois dessa série que eu resolvi partir lá para os primórdios de fato. E foi assim que iniciei a minha jornada em Gundam, através das três primeiras séries que culminam no filme de 1988.
Findado essa parte, nos últimos meses eu me aventurei por outras séries da franquia, mais ainda dentro da linha principal do Universal Century (UC). Nessa nova empreitada eu fui pelas Original Video Animations, ou OVAs, produzidas no final dos anos 80 e durante a década de 90. Ah, com exceção de uma delas que foi uma adaptação lançada nos anos de 2010. As OVAs de Gundam selecionadas para esse texto foram: Mobile Suit Gundam 0080: War in the Pocket, Mobile Suit Gundam 0083: Stardust Memory, Mobile Suit Gundam: The 08th MS Team e Mobile Suit Gundam Unicorn.
Depois de concluir esse segundo arco da minha saga em Gundam preciso dizer que considero as OVAs imensamente superiores a suas contrapartes serializadas na TV. Não é nem pelo valor de produção que, em média, é maior que nas séries. As OVAs de Gundam são focadas em histórias mais curtas e isso as permitiram serem mais efetivas nas mensagens e temas que a franquia como um todo discute. Claro que não posso tirar o mérito das séries de TV. Até porque muito do sucesso dessas outras animações vem do fato delas se aproveitarem de tudo aquilo que as obras anteriores estabeleceram. Isso fica muito evidente em Unicorn, mas não vou me adiantar porque ela ficou pro final.
Pois bem, feita a devida introdução podemos partir paras as fantásticas OVAs de Gundam. Novamente, irei falar de cada uma na ordem de lançamento que coincidentemente foi a ordem que eu as assisti também. E, como último aviso, ALERTA DE SPOILERS para todas as séries que serão discutidas aqui.
1. MOBILE SUIT GUNDAM 0080: WAR IN THE POCKET (1989)
Já vamos começar lá no ápice. A fins de transparência, me sinto impelido a salientar (por que diabos eu tô escrevendo desse jeito?) que War in the Pocket é, até o momento, o meu título favorito dentre tudo de Gundam que eu assisti. Não acho ela apenas uma das melhores OVAs de Gundam, é uma das melhores obras entre todas as mídias da franquia. Inclusive acho também que ele é a melhor forma de se introduzir no universo da franquia. É uma série rápida de 6 episódios que você pode assistir sem conhecer mais nada do universo Gundam, no máximo o enredo da série clássica. Para um novato em Gundam, não se fica mais perfeito que War in the Pocket!
Só que isso não é só uma visão apaixonada pelo OVA. Pelo menos eu quero acreditar que não é! Tá, admito que um pouco é sim. De qualquer forma, War in the Pocket dá uma aula em como transmitir uma efetiva mensagem antiguerra. Mas não somente isso. Ao mesmo tempo a série consegue servir como uma crítica a sua própria fanbase. Na verdade, parte dela! Uma parcela bem específica da audiência. Aquela galera mais deslumbrada que se foca nos robôs gigantes sem botar muito pensamento em todo discurso político e filosófico por trás da série.
Mas antes de nos aprofundarmos nas minhas impressões (todas positivas) desse OVA, vou passar rapidamente pela premissa.
War in the Pocket acontece nos últimos dias da Guerra de Um Ano. O protagonista da vez é o garoto Alfred “Al” Izuruha que vive na pacífica colônia de Side 6. Até então a colônia havia conseguido se manter afastada do conflito entre Zeon e a Federação. Al acaba entrando em contato com uma equipe de agentes secretos de Zeon que está na colônia para encontra e destruir um protótipo de um novo Gundan. Al então desenvolve um forte laço com o novato da equipe, o piloto Bernard “Bernie” Wiseman, e ingenuamente passa a ajudá-los na sua missão. Durante esse período Al também cria amizade com sua vizinha, Christina “Chris” Mackenzie, que é na verdade a pilota do protótipo do novo Gundam e acha que Bernie é o irmão mais velho de Al.
O que torna a escolha de Al como o protagonista da série interessante é porque, sendo criança, a perspectiva que ele tem da guerra é através das lentes da sua inocência. Por Side 6 ter conseguido se manter longe da guerra, tanto Al como seus amigos estão alheios as consequências terríveis do conflito. Eles agem como se tudo isso não passasse de uma brincadeira, a guerra soa aventuresca para os garotos. Todos eles tem uma visão muito ingênua da guerra, tanto que é eles escolhem “apoiar” Zeon só por acharem os Zakus mais legais que os Gundams. Mas isso não é apenas porque eles são crianças, eles estão dessensibilizados.
Então a todo momento a série reforça esse deslumbre que Al com os robôs gigantes, sem considerar que eles são máquinas de guerra. E parte da admiração que ele vem a desenvolver de Bernie é por ele ver os pilotos como heróis e não soldados. Bernie, por outro lado, graças ao seu contato com Al passa a questionar sua ação e as de Zeon no conflito por entender como a guerra põe a vida de pessoas inocentes como o garoto em risco. Não é a toa que a sua motivação na batalha final é tentar salvar a colônia do que ele acha que será um ataque nuclear iminente. Ao contrário das suas motivações iniciais de poder se mostrar como um bom piloto de guerra.
Tem duas sequências que eu acho perfeitas para ilustrar todo o tema do OVA. A primeira vez logo no episódio 1 em que vemos Al no seu quarto brincando com um vídeo game que remete aos tempos áureos da light gun. O objetivo do jogo é acertar uma horda de monstros que tentam destruir a cidade. Contudo, em vez de mirar nos monstros, Al alveja as construções até que a cidade virtual é totalmente arrasada. Não é que ele esteja dessensibilizado para a violência, ele simplesmente não pensa na implicações das suas ações. O distanciamento que ele tem entre o jogo e a realidade é o mesmo que ele tem com a guerra, portanto ele não pensa que vidas reais estão sendo perdidas ali.
De certa forma isso pode servir como uma leitura do próprio fã deslumbrado que eu mencionei anteriormente. Esse determinado tipo de fã olha para as lutas de robôs e acham elas tão legais e épicas, alheio ao fato que isso é uma guerra e centenas de milhares de pessoas estão morrendo a cada mês que o conflito se estende.
A segunda sequência é no penúltimo episódio quando Al testemunha as consequências do ataque que a equipe de Bernie planejou, mas que acabou dando errado. Al vê uma criança morta sendo retirada de escombros e fica em choque. Mais a frente você ele segurando o choro aliviado depois de descobrir que seus amigos estão são e salvos após a escola deles ter sido alvejada. Essas duas reações contrastam com outra cena do primeiro episódio. Nela vemos os Zakus invadindo Side 6 e Al ignora toda destruição que eles causaram porque está em entusiasmado com a chance de ver esses robôs de perto.
Aliás em War in the Pocket a gente nota uma certa tendência de enfatizar o quão massivos esses robôs são. Frequentemente o anime enquadra eles numa perspectiva de baixo para cima que dá mais imensidão a eles. E por vezes quando um robô está na tela nós também podemos ver a destruição que ele causou com as pessoas em pânicos. Tudo isso para ressaltar que eles não são máquinas feitas para “salvar o mundo”. São máquinas de guerra. Ponto!
Aqui a gente vê o Al lentamente perdendo a magia com que ele imaginava que eram esses embates épicos de robôs, coisa que alguns fãs de Gundam também o fazem, e começa a ter noção da realidade terrível que é uma guerra. Ao que nos leva ao desfecho da série. Já dei muitos spoilers, mas como esse se refere ao último episódio vou deixar destacado entre os separadores para quem não quiser saber.
Achando que Zeon irá bombardear a colônia com uma ogiva nuclear para destruir o protótipo, Bernie decide lutar contra o Gundam a fim de destruí-lo e salvar Side 6. Porém, após a última batalha iniciar, Al descobre que a nave que carregava as armas nucleares foi interceptada e tenta avisar Bernie que não há motivo mais para lutar. Infelizmente Al não chega a tempo e Chris, que em momento algum sabia que Bernie era o piloto do Zaku, o mata em combate.
No final do episódio, Al e os demais estudantes na frente da sua escola destruída ouvindo um discurso otimista do diretor agora que a guerra acabou. Enquanto todas as crianças parecem entediadas, Al por outro lado começa a chorar agora que ele entende o quão dolorosas são as perdas que as pessoas sofrem nesses conflitos.
E o que é de partir o coração ainda mais é ver os amigos dele tentando consolá-lo, porém achando que o Al está triste porque a guerra terminou. Assim a série termina com os amigos dele dizendo, animados, que logo vai começar uma guerra nova, ainda maior e mais divertida do que aquela.
Ter um arco em que o protagonista perde sua inocência por conta de todos os traumas que ele sofre na guerra não é nenhuma novidade em Gundam. O original de 79 fez isso, Zeta Gundam fez isso também, ZZ Gundam achou que fez e War in the Pocket não é uma exceção. Mas ao ter um escopo menor que as séries da TV, numa história mais focada e íntima, de alguma forma ela consegue transmitir a mesma mensagem dentre as várias séries e OVAs de Gundam com um impacto ainda mais eficiente.
Impacto tal que não apenas reforça os valores da franquia, como também nos faz, como fãs, reavaliarmos nossa relação com Gundam e questionar se por vezes não fazemos o mesmo papel de Al, deslumbrados com os robôs e deixando de prestar atenção no que mais importa da obra.
2. MOBILE SUIT GUNDAM 0083: STARDUST MEMORY (1991-1992)
Uma coisa que eu observei assistindo essas OVAs de Gundam é como dá para relacionar cada uma delas com uma das séries clássicas. Logo, obviamente, Stardust Memory está ligada ao Mobile Suit Zeta Gundam. É ao final desse OVA que vemos o surgimento dos Titans que são os antagonistas da segunda série.
Mas isso é um mero detalhe que só vem ao fim da série. A conexão maior que eu diria que Starrdust Memory tem com Zeta Gundam é por conta do tom de ambas essas histórias. Ao contrário de War in the Pocket, eu diria que o OVA fica melhor se você assistir a série de TV primeiro, mesmo se passando antes dela na cronologia. Isso porque a pegada mais sombria e os temas de Zeta Gundam te ajudam a aproveitar mais a atmosfera de Stardust Memory.
Novamente, vamos a premissa antes de dar continuidade ao texto.
A história se passa 3 anos depois dos eventos do evento da série de 79. Aqui voltamos a alguns padrões da franquia, sendo o protagonista o jovem piloto de testes Kou Uraki. Ele deixa sua posição na base de Torrington para se juntar ao esquadrão da nave Albion na missão perseguir uma frota de novos insurgentes de Zeon, a Frota Delaz. Dentre os insurgentes está Anavel Gato, um ex-soldado de elite de Zeon, que consegue roubar um novo protótipo Gundam chamado “Physalis”. O detalhe que torna esse protótipo importante para a trama é que ele estava carregado com uma ogiva nuclear. Uraki conta com a ajuda da engenheira Nina Purpleto que trabalhou no desenvolvimento de novos Gundams. Assim ele assume o controle do outro protótipo, “Zephyranthes”, e tenta a todo custo impedir Gato e a Frota Delaz de executarem seus planos.
Outra coisa de Stardust Memory que conversa bastante com Zeta Gundam e como ambas essas séries mostram um lado mais terrível da Federação. Durante a série de 1979 essa face da Federação não ficou tão exposta. Lá tínhamos a Federação com essa aura dos mocinhos lutando contra os spacenazis. Já aqui nessa OVA nós entendemos como a Federação também se deixa corromper usando a guerra como uma justificativa para alcançar seus objetivos. O conflito principal, por exemplo, é fruto da Federação financiando um projeto secreto de produção de novos Gundams que inclusive fosse capaz de utilizar armas nucleares. Tudo sobre a desculpa que a Terra precisava de poderio militar para evitar uma segundo embate com as colônias caso ocorresse.
Porém não apenas isso, Stardust Memory explora outro elemento que foi introduzido em Zeta Gundam que é o lado mais capitalista da guerra, mostrando a origem das relações da empresa Anaheim Electronics no desenvolvimento do poderio militar da Federação. Embora você tenha dentro dessa empresa indivíduos mais idealistas como a Nina, pouco eles podem fazer frente as pressões políticas e os interesses econômicos que movem esse sistema. Assim, a série nos mostra que a guerra não é essa visão maniqueísta de bons contra os maus. Ela é um somatório de diferentes interesses, alguns mais justificáveis e compreensíveis do que outros que são pura sede de poder.
Comparado a War in the Pocket, Stardust Memory não tem a mesma precisão narrativa porque aqui temos mais que o dobro de episódios. Então rola uma gordurinha principalmente ali no meio da série, entretanto ela é fácil de relevar. Esse meio serve para dar mais desenvolvimento aos personagens de Uraki, Nina, a relação entre eles e também mostrar as perspectivas de ambas as frotas. Gato também se revela um antagonista muito cativante e só acho OVA peca quando tenta criar um triângulo amoroso entre ele, Nina – que foi de fato sua companheira durante a Guerra de Um Ano – e Uraki. Eu até consigo entender os motivos, mas achei que não deram a devida atenção. Não seria a primeira vez já que o Gundam de 1979 faz a mesma coisa com Amuro, Char e Lalah que a série também não desenvolve tão bem quanto deveria.
Eu não tô entrando nos pormenores da trama porque acho que muito da graça de Stardust Memory vem não dos seus temas, mas sim observar a execução do plano da Frota Delaz. Por isso, fica melhor com a menor quantidade de detalhes que você sabe sobre a história antes de assistir. Não sei afirmar se assistir Stardust Memory antes de Zeta Gundam melhora a experiência, uma vez que eu fiz na direção oposta. Mas pelos motivos que citei, confio em deixar a OVA para depois. De qualquer forma, com toda certeza são duas séries que conversam muito entre si e vale a pena dar sequência com uma ao assistir a outra.
3. MOBILE SUIT GUNDAM: THE 08TH MS TEAM (1996-1999)
Se eu fosse resumir The 08th MS Team em uma única frase seria: o ZZ Gundam que deu certo. Isso porque se comparar com a OVAs de Gundam anteriores, The 8th MS Team é evidentemente mais leve ainda que a história se passa num contexto de guerra. War in the Pocket também tinha certa leveza no início, mas isso é porque estamos vendo a história sob a perspectiva de uma criança. Já The 8th MS Team de fato tem como característica própria uma atmosfera menos sombria que é espalhada ao longo de toda a série. Basta ver energia da ending do OVA!
Mais uma vez passando bem rapidamente pela premissa. Aqui nós seguimos o novo comandante do dito 08th MS Team, Shiro Amada, durante os eventos da Guerra de Um Ano. Porém em vez das batalhas espaciais, o OVA muda a ambientação para um contexto de guerrilha no sudeste asiático com uma óbvia inspiração na Guerra do Vietnã. A história gira em torno de algumas incursões que Shiro e seu batalhão. O objetivo principal é encontrar uma base secreta de Zeon que está desenvolvendo uma nova e poderosa arma que poderia mudar o curso da guerra.
O mais notável dessa série não é a mudança de localização, mas sim, como eu disse, o tom. Que ao contrário de ZZ Gundam, funciona muito bem aqui. Há seus momentos dramáticos, afinal ainda estamos numa narrativa sobre guerra, mas há um esforço em manter os ânimos mais otimistas e esperançosos nesse OVA. É essa mudança tonal que eu acho que dá valor a experiência de The 8th MS Team.
Há outra mudança de paradigma aqui, e pra mim é o que faz o lado mais cômico da história funcionar, que é o protagonista, Shiro. O mais comum em Gundam é termos um arco em que seus protagonistas perdem sua inocência pelos traumas que sofrem na guerra. The 8th MS Team vai no sentido oposto em que vemos o Shiro tentando, e conseguindo, manter seu idealismo apesar de tudo que acontece com ele. Isso porque o personagem vê a necessidade de se por um fim no ciclo de ódio entre Zeon e a Federeção, e que pode ser aplicado a outros conflitos, ou esse embate nunca terá fim. E é nisso que a outra personagem central do OVA, Aina Sahalin, se mostra importante.
Shiro é um combatente a serviço da Federação da Terra e Aina é do Império de Zeon, porém ambos passam a desenvolver um forte sentimento um pelo outro mesmo estando nos lados opostos da guerra. Essa história “Romeu e Julieta” não é nenhuma novidade seja dentro das séries ou das OVAs de Gundam. Tivemos isso com Amuro e Lalah na série de 1979, Kamille e Four em Zeta Gundam, Bernie e Chris no War in the Pocket e o trio Uramaki, Nino e Gato em Stardust Memory. A diferença é que The 8th MS Team faz esse relacionamento ser o centro da trama e a força motriz pra mudança de pensamento de ambos os personagens.
São os sentimentos que Shiro desenvolve por Aina, e vice-versa, que motivam ambos os personagens a reavaliarem suas posições em relação a guerra entre Zeon e a Federação e tomarem decisões opostas as quais estavam determinados anteriormente. E isso é algo que vai sendo trabalhado ao longo de toda a série, portanto o relacionamento deles não se torna uma mera anedota para forçar um arco de personagem pontual no meio da história. Ele é a âncora emocional que nos faz investir nessa série que, se olharmos superficialmente, não parece ter nada de muito inusitado comparado ao que já tinha sido produzido de Gundam na época.
The 8th MS Team é mais uma forte adição ao lore de Gundam e mostra que dá sim para fazer uma abordagem mais leve e ainda ter uma mensagem efetiva. Basta só ter um bom roteiro e uma boa execução, coisa que ficou faltando e muito em ZZ Gundam. Sim, eu odeio essa série e vou aproveitar toda e qualquer oportunidade para criticá-la!
4. MOBILE SUIT GUNDAM UNICORN (2010-2014)
Originalmente, Gundam Unicorn era uma série de light novels do autor Harutoshi Fukui que foram publicadas de 2007 até 2009. Como eu já estava lotado de coisas para ler, em vez de ir atrás da mídia original eu preferi ficar com as OVAs mesmo. Fica aqui a menção para quem preferir esse formato, avisando também que existem as versões de mangá e uma série compilada para TV. Mas tem outro motivo para eu citar esse fato.
Mesmo se você desconhecesse que Unicorn era uma adaptação de uma light novel tenho certeza que você suspeitaria que o OVA fosse. Porque se tem uma característica notável em Gundam Unicorn é quantidade de texto que essa série contém. Até mesmo para os padrões de Gundam. Cada episódio tem por volta de 50 minutos de duração e o último, que é tranquilamente um filme longa-metragem, com 1h e 30m. E o OVA usa cada um desses minutos. Há muito, e enfatizo muitos mesmo, diálogos sobre política, filosofia, espiritualidade, diferentes ideologias entrando em choque constantamente, que te fazem ter certeza de que qual é o tipo de mídia do material original.
Vale ressaltar aqui também como o valor de produção de Unicorn é altíssimo. Dentre as quatro OVAs de Gundam que eu assisti, ela com certeza é que vai mais encher os olhos da audiência. A animação é fantástica e, embora leve tempo até chegar uma cena de ação, quando chega a hora de usar os robôs gigantes a série entrega e muito bem.
Mas se por um lado isso dá muita densidade a série, isso também cria um problema que eu já cito logo de cara: ritmo. Por mais de uma vez me ficou a impressão que o clímax do episódio já tinha chegado e mesmo assim ele continuava por mais uns 10 minutos. Então o sentimento que de que um episódio está cansativo e arrastado é bem comum na série, mesmo sendo apenas 7 ao todo.
Agora uma coisa que toda essa densidade de texto produz em Unicorn é que ele parece a série mais Gundam e a série menos Gundam possível ao mesmo tempo.
Quando as light novels começaram a serem escritas lá em 2007 já tinha muito material da franquia produzido. E assim Unicorn absorve muitos elementos das diferentes séries e OVAs de Gundam que foram criados no passado. Dá para afirmar isso com tranquilidade sobre as obras dos Universal Century, que aqui a linha do tempo vira uma parte central da trama. Dos universos alternativos eu não vou me arriscar a afirmar qualquer coisa porque eu ainda desconheço a maioria. Portanto você verá muita coisa aqui do Gundam de 79, Zeta e até mesmo Char’s Counterattack. Por isso eu acho que é melhor assistir Unicorn depois de você pelo menos ter fechado a jornada do Amuro e do Char nas séries de TV e no filme.
Ao passo que existe muita coisa de Gundam aqui, Unicorn também se distancia um pouco do padrão. Isso porque ele pega todo o aspecto espiritual dos Newtypes que teve seu auge no desfecho de Char’s Counterattack e o eleva ainda mais. Não dá nem para chamar de real robot, Unicorn cruza a fronteira e mergulha de cabeça no gênero de super robot. Só sendo muito generoso para achar que as habilidades do novo modelo de Gundam são uma tecnologia avançada, são descaradamente superpoderes. É reforçado diversas vezes como o novo sistema é amplificado pelas emoções do piloto e para ficar mais óbvio que isso só faltou o protagonista da vez, Banagher Links, gritar o nome dos poderes.
Podem notar que até agora eu não falei a premissa. Daria para fazer um resumão dizendo que o protagonista é mais um jovem que se vê em meio a mais um novo conflito entre a Federação e insurgentes de Zeon por conta dos eventos que circundam a misteriosa Caixa de Laplace. Porém a história se desdobra em tantas vertentes e personagens, com o próprio protagonista indo e vindo em ambos os lados que seria inútil tentar explicar. É melhor ver por si só. E com parcimônia, ok? Pois, como eu disse, são episódios longos e exaustivos pela quantidade de texto.
Admito que de todas as séries e OVAs que eu já assisti até o momento de Gundam, Unicorn é a menos acessível. Essa é uma série feita para quem realmente gostou da franquia e ficou fascinadopor esse universo. Isso porque Unicorn demanda muito conhecimento dos eventos levaram a linha do tempo até o contexto da sua trama. Fica até simbólico ele ser o último da lista porque de fato você deveria deixá-lo pro final após estar mais familiarizado com o UC. De qualquer forma, Unicorn vale muito a pena de se assistir em algum momento!
Encerrado mais um capítulo na minha saga, agora com as OVAs de Gundam. A próxima parada será a tentativa de criar uma nova narrativa no futuro do UC que foi iniciado no filme Mobile Suit Gundam F91 e dá sequência na série Mobile Suit Victory Gundam. Já ouvi algumas coisas dessa parte e infelizmente não foram muito positivas, mas pretendo testemunhar por mim mesmo.
Quanto a esse último capítulo, como eu falei, para mim as OVAs dão uma surra de pau mole fácil nas séries televisivas. Porém, exceto no caso de War in the Pocket, muitas delas dependem de elementos que foram introduzidos nessas outras séries então julgo importante conhecê-las antes de embarcar nos OVAs. Garanto que será uma experiência mais proveitosa assim.
Não levem essa minha série de texto como um guia, você não precisa necessariamente trilhar os mesmo passos que eu, minha intenção mesmo é só motivar mais pessoas a ingressarem nesse universo tal como eu fiz nos últimos meses.
O Backlogger precisa do seu apoio para crescer. Então, por favor, compartilhe ou deixe um comentário que isso ajuda imensamente o blog. Você também pode me seguir em outras redes como Twitter, Facebook e Tumblr.