Isso aí, OUTRO texto sobre RPG Maker!

Em minha defesa, essa crítica tripla era para sair logo após a publicação do porquê de eu não conseguir mais fazer Top 5 de RPGs. Parte da motivação de refazer aquela texto foi para incluir de Legion Saga na história. Contudo calhou de eu querer falar de Saint Seiya RPG: Asgard Chapter também no meio do caminho. É por isso que parece que o Backlogger decidiu virar, de uma hora para outra, um blog de RPG Maker. Mas já voltamos a programação normal. Pois bem, Legion Saga!

No mesmo período que decidi falar mais de jogos brasileiros por aqui também acabei voltando aos meus tempos de RPG Maker. Muito por conta do jogo que eu estava há décadas tentando reencontrar e o consegui mês passado. Por consequência eu acabei indo revistar uma trilogia que é um tremendo clássico para quem fez parte das primeiras comunidades de RPG Maker brasileira.

Legion Saga não é um jogo brasileiro, a trilogia foi criada pelo Kamau que era o apelido de um maker britânico. Entre 2000 e 2002 ele lançou três jogos foram bem influentes para a comunidade global como uns dos grandes jogos da época. Se já era raro concluir um único projeto, Legion Saga se tornou mais especial por ser uma trilogia completa. Foram três lançamentos consecutivos num espaço de mais ou menos três anos em que todos os jogos são genuinamente bons. Dado o contexto daquele período, isso foi uma tremenda de uma conquista.

A trilogia Legion Saga feita no RPG Maker

>>> Legion Saga está disponibilizada gratuitamente pelo próprio autor no seu site <<<

Confesso que quando eu frequentei as comunidades de RPG Maker brasileiras eu conhecia Legion Saga mais pelo nome. Até havia jogado um pouco do primeiro jogo porque uma versão traduzida por um usuário. Entretanto, as duas sequências eu só fui conhecer de fato nessas últimas semanas. Mas agora que zerei os três, consigo entender plenamente porque essa trilogia é foi uma inspiração para tantos makers dos anos 2000. Até mesmo aqui do Brasil porque tenho vagas memórias de jogar um projeto brasileiro que era “visivelmente influenciado” – para não usar outra palavra, ha ha – por Legion Saga.

Mas enfim, sem mais de longas, vamos falar de joguinho!

LEGION SAGA I: DEFININDO A TRILOGIA

Cena de abertura de Legion Saga I

Filho do rei e comandante das tropas de Maluvet, Durane lidera o exército de seu país contra a invasão do reino de Galaras. Entretanto, Durane se mostra incerto sobre a guerra e passa a questionar suas próprias ações. Após ser confundido com o líder de um exército rebelde e considerado um traidor, Durane se une a rebelião para por um fim ao conflito e trazer a união de volta para aquelas terras.

Legion Saga I talvez seja o título que mais me impressiona dentro da trilogia. Não que ele seja o melhor, a sequência leva esse prêmio. Porém, existem algumas peculiaridades nesse jogo que me fascinam. Além disso, como um primeiro capítulo, é aqui que a gente observar o Kamau estabelecer vários elementos que se tornariam uma característica da trilogia como um todo.

Uma das primeiras peculiaridades que me vem a mente é o fato de ser um jogo de RPG Maker do exato ano de 2000 quando saiu o RPG Maker 2k. Esse é um período que eu gosto de destacar que foi quando o RPG Maker chegava ao ocidente. Muita gente estava aprendendo a usar a engine, mas Legion Saga já mostrava uma qualidade ímpar. Honestamente eu até ousaria colocá-lo em pé de igualdade com vários RPGs da década de 80 e 90 como Breath of Fire I, Phantasy Star II e Dragon Quest III.

E, claro, não pode deixar de mencionar Suikoden que é a mais forte inspiração que o Kamau tomou para sua trilogia. Muitas das mecânicas que ele incluiu no jogo foram tiradas diretamente dessa franquia, tal como o escopo. Em vez de focar numa história sobre o mundo em perigo por uma força maligna, Legion Saga foca em pequenos conflitos locais.

Guerra é o principal tema de toda a trilogia de Legion Saga

Aqui vem uma das melhores qualidades da trilogia que é o texto!

É perceptível o quanto o Kamau já tinha uma boa noção do narrativa, principalmente na temática de guerra, além de saber escrever bons diálogos. Alguns dizem que eram um pouco melodramáticos, mas para mim combinam perfeitamente com o tom da história. A narrativa tem ritmo cadenciado que, dentro de um certo nível de abstração, transmite a noção de desenvolvimento de uma guerra. Kamau consegue estabelecer muito bem cada região que dá muito mais vida ao seu universo. O jogo me remeteu muito ao Final Fantasy II, por esse seu ritmo narrativo já que Suikoden é uma referência que eu tenho só superficialmente.

Porém, mesmo que eu ache que o texto é ponto mais forte de Legion Saga I, o que mais me impressiona é como o jogo usa exclusivamente os recursos que vinham no RTP do RPG Maker 2k e os utiliza muito bem.

Um mapa feito com o RPT do RPG Maker 2k

Pessoalmente eu tenho um fraco pela estética do RPG Maker 2k, ms de fato os mapas de Legion Saga I são maravilhosamente bem desenhados. Apesar das dungeons serem muitíssimo curtas, e o Kamau já mostrava bastante criatividade nos pequenos detalhes. O meu favorito é o da imagem ao lado em que ele consegue criar a ilusão de uma escada circular.

Em termos de jogabilidade, como eu disso, o jogo foi largamente inspirado em Suikoden. Portanto um elemento fundamental da gameplay é recrutar personagens para o seu castelo. São cerca de 40 personagens recrutáveis, um número ousado para um projeto de RPG Maker. Obviamente dada a duração de Legion Saga I, que não deve ir muito além do que 2-3 horas de jogo, você não tem muito tempo para utilizar a maior parte desses personagens. E nem mesmo existe muito incentivo para tal já que grande parte deles está ali quase que preenchendo uma cota. Tem o mago, tem a bruxa, tem o gatuno, tem o guerreiro e por aí vai.

Mais uma vez o que faz valer aqui é a atenção para os detalhes do autor. Conforme você recruta mais personagens, novos NPCs vão surgindo no seu castelo o que fortalece a noção de estar formando um exército e enriquecendo o universo do jogo.

No sistema de batalha o Kamau se mantém com o padrão do RPG Maker 2k mesmo, mas veremos alguns diferenciais na sequência. Aqui dá para ver que mesmo já com um talento além da média das comunidades, ele também estava aprendendo o que podia fazer em termos de game design. E nisso o autor até arrisca um simples sistema de duelo e de combate entre exércitos, ambos seguindo a lógica de uma partida de papel, pedra e tesoura, que ocorrem apenas em duas ocasiões do jogo. Mais a frente veremos ele melhorar esses sistemas pouco a pouco conforme adquire mais experiência e confiança nas suas habilidades.

Duelos e lutas entre exércitos são dois sistemas fundamentais da trilogia de Legion Saga

O único defeito real que eu botaria nesse jogo foi a estranha escolha de diminuir a velocidade de movimento do personagem. Chuto que foi uma forma do Kamau evidenciar o peso da armadura que o protagonista usa, mas na prática deixa a exploração um pouco frustrante. O bom é que, como falei antes, os mapas não são grandes e isso diminui, porém não muito, o incômodo causado pela lerdeza do personagem.

Se formos comparar com as sequências, Legion Saga I é bem cru. Porém considerando a época e que esse foi o primeiro jogo que o Kamau concluiu, ele já conseguiu um feito e tanto. Existe uma simplicidade cativante na gameplay desse primeiro capítulo da trilogia e serve como uma introdução a todos os elementos que se tornariam parte essencial de Legion Saga. Nada mais a declarar, é um bom começo e isso que importa.

LEGION SAGA II: O QUE ESTAVA BOM FICOU MELHOR

Um flashback de Legion Saga II

Nas terras de Veramonde uma crise política se inicia depois que o jovem Nastra assassina o seu tirânico governador. Fugindo para Krisdea, país governado pelo Conselho, Nastra percebe que suas ações criaram um problema maior. O sucessor do trono de Veramonde conspira parra derrubar o Conselho de Krisdea causando uma guerra civil. Agora Nastra precisa formar seu próprio exército junto com um grupo de guerreiros para corrigir seus atos e reestabelecer a paz entre essas nações

Se em Legion Saga I o Kamau mostrou seu potencial como maker, em Legion Saga II ele não deixou mais dúvidas. Por isso nem me surpreende que hoje ele tem uma carreira no desenvolvimento de jogos, apesar de que é uma pena que ele não tenha feito mais nada aos moldes dessa trilogia.

Acho curioso notar um fenômeno recorrente em vídeo games onde o primeiro jogo de uma séria demonstra que existe uma boa ideia ali. E é na sua sequência que parece que os desenvolvedores consegue executá-la melhor. Mega Man, Silent Hill, Sonic the Hedgehog, Assassin’s Creed são alguns exemplos e Legion Saga entra nessa lista também. Para mim esse é o principal fator que mostra como o Kamau tinha algo de diferente dos makers daquela época. Em Legion Saga II percebemos que ele não estava fazendo mais um joguinho, ele tinha uma visão para Legion Saga como série.

Tanto nesse sequência como na seguinte fica perceptível como cada jogo vai puxando o outro em no roteiro e no universo como um todo. Realmente parece que o Kamau planejou essa série lá trás, lapidando a trilogia jogo a jogo. Alguns detalhes ficam intencionalmente em aberto, nomes e eventos são citados porém nunca mostrados, alguns personagens permanecem um mistéri

Projetos de RPG Maker misturam recursos de diferentes estilos

Tudo isso para criar a ideia que existe um mundo muito mais complexo fora dos limites da trilogia. Para alguns pode parecer que a história fica incompleta, mas o que o Kamau faz é estimular a nossa imaginação e deixar que nós meses expandamos o universo que ele inventou. Ou ao menos é o que interpretei. Se essa foi a real intenção só ele poderá um dia nos dizer.

Apesar do escopo não aumentar tanto assim, Legion Saga II é um jogo bem maior. Não falo em horas de duração e sim em conteúdo. Velhos e novos personagens marcam presença na história e o Kamau traz novamente os principais sistemas do jogo anterior. Novamente nos vemos recrutando personagens para o nosso exército, mas aqui além da adição de NPCs também vemos o layout do castelo mudar conforme mais pessoas chegam. E ao contrário do primeiro em que todos os personagens apareciam no castelo, em Legion Saga II somente aqueles fora da sua equipe que você pode encontrar nos cômodos e corredores.

Kamau também toma algumas decisões mais criativas para o sistema de batalha para dar uma cara nova e também diferente aos demais projetos contemporâneos. Um sistema de orbes é adicionado, de forma que os personagem aprendem magias de acordo com quais artefatos são equipados, dando um pouco mais de estratégia para combate. Você não equipa nenhuma arma já que cada personagem tem a sua própria.

O sistema de batalha do RPG Maker 2k era a visão frontal ao estilo Dragon Quest, mas que podia ser usado de formas criativas como em Legion Saga II

Então em vez de novos equipamentos você compra itens que aumentam a força das armas dos personagens. Cada personagem também tem sua animação de ataque única onde podemos ver seus sprites na batalha, o que dá mais individualidade a eles. O Kamau até aproveita esse detalhe para criar uma cutscene numa luta scriptada que carrega um pouco mais de efeito dramático.

Há até uma peculiaridade também que no jogo você pode aproveitar seu save de Legion Saga I para habilitar novos personagens na sequência, o que é fundamental para se obter o true ending. Não sei exatamente como isso funciona e nem vou procurar saber, só acho legal destacar mais um detalhe da criatividade do autor nessa série.

Tanto o sistema de batalha na forma de duelos e entre exércitos voltam a marcar presença. Dessa vez eles ocorrem com mais frequência e passam por alguns retoques em sua maioria visuais. A lógicas desses sistemas permanece seguindo as regras de pedra, papel e tesoura, porém nas batalhas entre exércitos o Kamau acrescenta habilidades especiais. As lutas ainda dependem 100% de sorte, porém o jogador agora consegue um pouco mais de vantagem. Já nos duelos o que o Kamau mudou foi no uso imagens para criar uma perspectiva mais semelhante aos jogos de Suikoden. A arte não é das melhores, mas dá para relevar tranquilamente no contexto de um jogo de RPG Maker feito por uma única pessoa

Kamau foi evoluindo os sistemas de duelo e batalha de exércitos ao longo da sua triloga

O que podemos perceber dessa sequência é como ela evolui em vários aspectos do seu antecessor. Dungeons continuam mais ou menos do mesmo tamanho e a narrativa se mantém muito boa. Obviamente nem todos os personagens recebem muito desenvolvimento, alguns entram ali só pra preencher uma cota de novo, mas o núcleo principal funciona bem. A história não perde sua pungência política e adquire um tom bem mais sombrio que seu antecessor. Aqui também o Kamau deixa algumas pistas do que planeja para o fim da série, não necessariamente terminando num cliffhanger, mas deixando evidente que há coisas ainda maiores por vir.

As chances são que, caso gostou do original, você terá mais motivos para gostar da sequência. Legion Saga II talvez seja o ponto mais alto da franquia e demonstra como o RPG Maker tem potencial de criar obras fantásticas e memoráveis quando está em mãos competentes.

LEGION SAGA III: APESAR DE UNS TROPEÇOS, UM FINAL DIGNO

Um diálogo de Legion Saga III

Após ser exonerado do seu cargo entre os Cavaleiros de Peregin durante uma guerra contra a raça dos kobolds, Kima Roshgarde se vê em meio a um conflito muito maior. Demônios invadem as Highlands ameaçando a ordem não apenas daquela região como do mundo todo. Se unindo a vários bravos guerreiros, Kima lidera um exército que precisará enfrentar até os próprios deuses!

Em muitos aspectos Legion Saga III é também uma melhoria do seu antecessor. Porém, ao mesmo tempo, existem escolhas criativas um tanto questionáveis aqui. Algumas coisas parecem estar inacabadas e outras simplesmente não funcionaram. Isso não faz do jogo ruim, contudo deixa a impressão de ser o menos polido da trilogia.

Ainda que o foco de Legion Saga fosse nos conflitos entre diferentes nações, elementos fantásticos sempre permearam a série. Elfos, demônios, robôs, navios voadores, espadas lendárias, orbes mágicas, dragões, etc. Tudo isso esteve presente no universo desses jogos. E em Legion Saga III temos deuses.

Os temas referentes a guerra e política ainda estão ali, mas dão espaço para questões religiosas tomarem o centro da narrativa que adquire agora um escopo muito maior que o Legion Saga I & II. E isso é óbvio porque, considerando que esse é o último capítulo dessa jornada, Legion Saga além de grande precisava ser grandioso.

Mas essa mudança envolvendo deuses querendo a destruição dos humanos não chega de forma gratuita. Essa história já vinha sendo construída ao longo dos últimos jogos. Por isso que essa narrativa mais aos moldes de um RPG tradicional de salvar o mundo funciona aqui. Então não existe não há qualquer problema significativamente relevante na mudança de escopo. Legion Saga III precisava ser mais ambicioso para dar uma conclusão a trilogia.

Para o último capítulo da sua trilogia, o Kamau vai mais a fundo nos temas religiosos

Tal ambição a gente vê também na própria jogabilidade e é aí que a gente tem problemas de fato.

Por um lado o Kamau entrega mais uma gameplay sólida com vários retoques especiais que fazem os jogos dele se distinguirem não somente um dos outros como também dos demais projetos da sua época. Agora para as animações de ataque ele muda a perspectiva do golpe dando a ilusão de um combate com visão lateral semelhante aos primeiros jogos de Final Fantasy, ainda que na essência seja o mesmo de todos os jogos de RPG Maker 2k.

A versão final de duelos que o Kamau criou no RPG Maker 2k

O sistema de duelo chega a sua forma final em Legion Saga III. Mais uma vez, a lógica não foi alterada, porém há uma qualidade quase que cinematográfica, dada as devidas proporções, nessa última versão. São sequência simples, porém mais dramáticas e que combinam melhor com a estética geral do jogo ao contrário de Legion Saga III.

Aliás, é notório como o Kamau foi evoluindo o apelo visual dos seus jogos, alcançando aqui seu auge através dos menus para seleção de personagens, upgrade das armas e o design dos mapas. Por outro lado, temos o novo sistema de batalha de exércitos…

Em Legion Saga III o Kamau tentou “inovar” trazendo um combate repaginado. Não temos mais a lógica de papel, pedra e tesoura, mudando para uma forma mais “rústica” de jogo de estratégia. O exército do jogador é dividido em unidades que você pode mover para frente, para trás, defender e atacar as unidades inimigas até que todos os soldados sejam destruídos e/ou o comandante.


Preciso abrir um parêntese aqui. Eu não sei ao certo como estava a vida do Kamau no período em que ele desenvolveu o Legion Saga III, mas dá para conjecturar que ele não teve o mesmo tempo para se dedicar tanto ao projeto quanto aos demais. Por isso o jogo vem acompanhado de vários bugs.

Na versão do site, por exemplo, há personagens que aparecem antes da hora, uma sequência numa ponte está quebrada, não tem música no mapa-mundi, um bug te impede de recrutar um personagem e assim não dá para conseguir o true ending, entre outros problemas.

Sistema de batalha entre exércitos inacabado pelo Kamau
Infelizmente esse sistema não funciona na última versão de Legion Saga III

No site do RPGMaker.net existe uma outra versão de Legion Saga III. Ela corrige vários desses bugs e adiciona o jogo de cartas que segue as regras de um Super Trunfo. Porém surge outro problema. Aqui o Kamau tentou repaginar a luta de exércitos outra vez para voltar a algo mais parecido com os primeiros jogos. Porém esse sistema nunca ficou pronto. Sendo assim a primeira batalha tem um game-breaking bug que impede dela ser concluída.

Uma forma de contornar esse problema que eu encontrei é você jogar normalmente na primeira versão do jogo até passar dessa batalha. Depois é só pegar o save e jogar dentro da pasta da versão 3. As batalhas seguintes seguem o formato original que o Kamau criou para Legion Saga III e você consegue zerar sem mais problemas.


O sistema anterior dependia fortemente de sorte, porém ao menos isso dava alguma tensão. Já em Legion Saga III não temos nem isso. Além de muito limitado é extremamente enfadonho. Sei da dificuldade que é programar essas coisas numa engine que não foi feita para suportar esses sistemas. Contudo isso não muda o fato que essas batalhas são o ponto mais baixo do jogo.

O sistema de batalha entre exércitos de Legion Saga III é uma coisa que existe

Seria até melhor que não tivessem sido incluídas. É um dos casos em que mais do mesmo seria muito melhor do que “inovar”.

E esse não é o único problema de Legion Saga III porque outro elementos da sua gameplay ficam subaproveitados. Por exemplo, são introduzidas as Influential Orbs que em vez de habilitar magias produzem outros efeitos como a Vision Orb que permite que você veja passagens secretas. Porém isso só é utilizado duas vezes em todo o jogo, pondo em cheque se havia qualquer necessidade de adicionar esse detalhe na jogabilidade.

O sistema de provisões também é mais um sistema falho do jogo. Caso você não tenha recursos suficientes, soldados começam a morrer de fome. Mas em momento algum você sente existe algum risco de perder esses soldados. Não me lembro de qualquer instância em que cheguei perto de perder um soldado por causa das provisões. Pela terceira vez temos o mesmo questionamento se era necessário adicionar esse tipo de sistema.

O que compensa por esses tropeços é que o Kamau continua com um bom talento na narrativa. A história consegue te segurar mesmo que a jogabilidade apresente uma série de problemas frustrantes. Ainda foi um fim digno para tecnologia e que consagra Legion Saga com um dos grandes clássicos do RPG Maker que quem sabe um dia receberá mais reconhecimento pelas suas obras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Às vezes eu penso que os jogos de RPG Maker de vinte anos atrás precisam ser recomendados com muitas ressalvas (vide Saint Seiya RPG: Asgard Chapter). Porém Legion Saga está aí para contestar essa minha preocupação. Essa pequena trilogia foi uma inspiração para muitos makers da sua época e com razão. São três RPGs muito bons dentro e fora do contexto no qual foram produzidos.

Não é perfeita, mas até mesmo as produções dos grandes estúdios não são. Mas pensar que o Kamau conseguiu atingir essa qualidade numa época que pouquíssimo se sabia de RPG Maker é o que torna Legion Saga tão fantástico.

Para quem tem interesse nessa pequena cultura de desenvolvimento de jogos, Legion Saga é definitivamente um must play e um dos melhores retratos de uma época mais simples e sonhadora.


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2 thoughts on “A trilogia Legion Saga: um clássico do RPG Maker”
    1. Então, o Kamau terminou sim a trilogia de Legion Saga. Tinha uma spin off que ele não concluiu, mas a história principal está completa.

      No site do autor tem todos os três jogos da série. Porém a versão do terceiro jogo tem alguns bugs, inclusive um que te impede de recrutar um personagem para conseguir o true ending. Se você não tiver interesse de pegar esse final, pode jogar essa versão mesmo.

      Agora no RPGMaker.net tem uma versão alternativa disponível. Ela resolve alguns bugs e habilita um minigame de cartas que o Kamau tinha desenvolvido. Porém, nessa versão o Kamau estava pensando em refazer a batalha entre exércitos, porém não a concluiu. Então a primeira batalha tem um game-breaking bug que te deixa preso nela.

      Uma solução é você jogar normalmente na versão daquele primeiro link até passar dessa primeira batalha. Depois copia seu save para pastar da versão do RPGMaker.net que assim você consegue jogar sem maiores problemas além de conseguir o true ending

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