Vira e mexe no Twitter algum perfil resolve fazer uma daquelas correntes de citar seus X favoritos. O X você substitui por filmes, sérise, mangás ou, para os fins desse texto, jogos. Qualquer coisa pra conseguir um engajamento rápido, fácil e inofensivo. Pode parecer que eu estou sendo cínico, mas não tenho nada contra essas correntes per se. Na verdade acho até umas legais quando mostram alguma criatividade maior do que apenas pedir para fazerem um Top 5 das coisas que você gosta.

Teve um período no passado que eu ainda tentava interagir com essas correntes. Mesmo as mais genéricas ainda são uma boa oportunidade de recomendar jogos não tão comentados. Porém o tempo foi passando e ficou cada vez mais difícil para eu conseguir participar dessa brincadeira. Hoje em dia eu já não tenho a menor vontade de entrar nessas correntes. Ou melhor, eu não tenho capacidade!

Isso se aplica comigo em qualquer mídia, porém o foco será nos vídeo games. O melhor exemplo pra ilustrar essa minha dificuldade atual vem dos bastidores da minha Jogospectiva de 2022. A ideia original era pegar os dez “melhores” jogos entre os mais de 60 que eu zerei no ano passado e comentar sobre eles. Contudo ao tentar montar a lista eu não consegui escolher apenas dez. Então me vi obrigado a subir o número doze. Adivinha? Exato, novamente não consegui me decidir e resolvi estender para um Top 15. Funcionou? Mais ou menos. No final tive que fechar com 16 jogos ao todo.

Eu não consigo mais fazer Top 5
Não consigue, né?

E tem um detalhe. Só fui capaz de concluir a lista porque inventei vários critérios para eliminar alguns candidatos. Coisas como me limitar a apenas um jogo por franquia e excluir todos aqueles que eu já tinha jogado antes daquele ano. E mesmo com esses critérios eu ainda tive dificuldade para escolher e até hoje não me sinto satisfeito com essa lista.

Se você me perguntar, sei lá, quais são meus jogos de plataforma favoritos eu consigo te passar uma lista. Só que vai ser lista bem extensa que vai aumentar conforme eu me lembre de um novo nome. Mas se você pedir uma quantidade específica, como um Top 5, certamente eu vou travar. Para deixar pior, se você me perguntar qual é “o meu jogo favorito de todos os tempos” aí que você receberá nada mais nada menos que um ¯\_(ツ)_/¯.

Quando o assunto são listas eu só consigo me decidir com tranquilidade se for de um tópico muito específico. A única pergunta do gênero que eu acho que consigo responder sem hesitar é sobre qual é o meu survival horror favorito. A resposta fica para outro texto! Qualquer outro gênero não rola. Aventura point-and click? Não sei! Metroidvania? Não sei também! RPG então? Putz, meu amigo…

Mas houve uma época em que eu tive um Top 5 dos meus RPG favoritos. Não, eu achava que tinha um Top 5. Verdade seja dita, eu nunca botei muito pensamento nessa lista como eu deveria. De qualquer forma, ela era composta por: Ys – The Oath in Felghana, Phantasy Star IV, Chrono Trigger, Paper Mario e The Witcher 3 – The Wild Hunt. Eu escolhi esses cinco de acordo com critérios específicos que pensei para cada um deles e falaremos disso na próxima seção.

E assim ficou meu Top 5 até o fatídico dia que eu joguei EarthBound.

Isso deve ter acontecido já tem uns dois anos mais ou mentos e depois de zerá-lo tive a brilhante ideia de atualizar a lista. Essa foi a minha ruína. Não somente eu não consegui incluir EarthBound no Top 5 como acabei percebendo que havia dezenas de outros títulos que deveriam estar lá também. Quanto mais eu pensava em quem escolher, menos motivos eu encontrava para me limitar a apenas cinco nomes. Até mesmo dentro dos critérios que eu tinha determinado anteriormente eu já não era capaz de selecionar os candidatos.

Foi naquele período que eu fiz um texto, parecido com esse, onde eu explicava o porquê de eu não conseguir fazer mais esse tipo de Top 5. Ele estava no meu Medium e em circunstâncias normais eu apenas traria ele pra cá como já fiz tantas outras vezes. Contudo surgiu outro jogo, na verdade uma trilogia, na minha vida chamada Legion Saga.

Clássico das comunidades de RPG Maker dos anos 2000 – que é um tópico que pretendo abordar aqui no blog sempre que possível – que serviu de inspiração para muitos makers da época. Pretendo falar com mais detalhes dessa série no futuro assim que terminar de zerar o terceiro e último jogo. Mas ele aparece aqui hoje porque Legion Saga me fez pensar de novo nessa questão de listas de jogos favoritos.

Então, em vez de apenas modificar meu texto anterior, decidi refazê-lo do zero e expandir a discussão um pouco. Mas antes disso temos que falar sobre aquela lista de 5 RPGs que eu citei.

MEU VELHO TOP 5 DE RPGS

Meu antigo Top 5 de RPGs favoritos
Ah como eram tempos mais simples…

Atualmente eu digo que a única forma de eu fazer uma lista com meus cinco jogos favoritos é seu eu tivesse jogado apenas seis jogos durante toda minha vida toda.

Isso é algo que eu considero universal entre todas as pessoas. Ou deveria ser. Porque, ao meu ver, quanto mais você explora um determinado gênero ou uma determinada mídia, mais difícil se torna para você selecionar os seus favoritos. Conhecimento traz dúvidas. Logo, hoje eu acho que quem diz com toda certeza que tem uma lista fechadinha dos seus cinco, dez, quinze jogos favoritos ou está mentindo para si mesmo ou não tem um repertório muito extenso assim.

Explicarei melhor porque eu acho isso mais pra frente. Por enquanto vamos nos focar no meu já-não-mais-existente Top 5 de RPGs e nos motivos que me levaram a escolher cada um desses jogos:

  1. Ys – The Oath in Felghana: esse foi um jogo importante para mim porque me marcou de duas formas. Primeiro foi um dos que solidificou meu gosto pro RPGs de ação e segundo porque o que me introduziu em Ys. Na verdade u já tinha jogado a sua versão original, Ys III – Wanderers from Ys, décadas atrás no Mega Drive, mas ela não clicou comigo. Foi o remake que me ensinou a admirar a franquia. Hoje eu me considero um fã de Ys e quando o assunto é RPG de ação esse é um dos primeiros nomes que me vem a cabeça. É um combate simples porém cheio de energia, com vários chefões marcantes, uma trilha sonora fenomenal e uma perfeita história de aventura autocontida;
  2. Phantasy Star IV: como franquia, eu não diria que sou muito chegado em Phantasy Star. Respeito o I, tolero o II, tento não pensar no III. Por outro lado, Phantasy Star IV é especial! Esse eu gosto de paixão sem dúvidas. Foi um dos primeiros RPGs que eu me recordo de jogar e também um dos primeiros que eu consegui zerar. Para mim ele encerrou a história no auge, bem amarradinha e é disparado o melhor da série. Tanto em termos de narrativa – o uso de quadros como se fosse um mangá enche meus olhos até hoje – e também de jogabilidade;
  3. Eu preciso explicar os motivos para Chrono Trigger estar nessa lista? Como eu já o defini antes, é um clássico atemporal. Fruto do somatório dos maiores talentos da sua época e uma execução perfeita de roteiro, direção artística e jogabilidade. Chrono Trigger que tem todas as razões para ser considerado um dos maiores jogos de todos os tempos. Inclusive é um dos títulos que eu considero que nunca deve receber um remake. Seria diminuir o valor do original como uma obra de arte e faria dele apenas mais um produto que precisa ser atualizado pois gamers são frescos com qualquer coisa que tem mais de dez anos;
  4. Paper Mario: assim como os demais títulos dessa lista, Paper Mario é mais outro RPG especial do meu passado. Não foi exatamente um dos primeiros que eu joguei, mas com certeza um dos que mais me marcou. Tudo devida a criatividade posta tanto nas lutas como no gameplay geral, fazendo uma mistura perfeita entre elementos dos jogos de plataforma tradicionais de Super Mario e de RPGs. Fora o senso de humor bem leve e descontraído que considero uma das essências da franquia;
  5. The Witcher 3 – The Wild Hunt: ao menos um jogo mais recente teria que estar nessa lista, né? E o motivo dele entrar aqui foi causa das suas históriaS. Isso, no plural mesmo. Sou fascinado pela quantidade de pequenas narrativas que são construídas em todas as missões de The Witcher 3 e os caminhos que elas podem seguir. Até mesmo uma simples side quest sobre procurar uma esposa desaparecida se transforma numa intrigante história de triângulo amoroso terminando em tragédia. E isso é apenas uma das tantas e tantas aventuras que você consegue experimentar nesse jogo;

Agora que tudo foi explicado fica o questionamento: como Earthbound entrou nessa história?

PORQUE EARTHBOUND ACABOU COM MEU TOP 5

Protagonistas de Earthbound: Ness, Paula, Jeff e Poo
Uma turminha do barulho indo destruir meu Top 5

Já falei da minha relação com Mother aqui e um dia eu comento com mais detalhes dos três jogos. Hoje será apenas EarthBound. Para resumir minhas impressões, não existe sequer um aspecto dele que eu tenha algo a criticar. Tudo nele, para mim, é maravilhoso, A atmosfera meio lúdica que permeia a história. A direção artística que usa acertadamente a cultura americana da década de 60 para evocar um sentimento de nostalgia de uma época mais inocente. Todas melhorias feitas no sistema de batalha, principalmente o contador de HP. O senso de humor peculiar do jogo. E, claro, a criatividade!

Há tantos pequenos detalhes transformam Earthbound numa experiência tão especial dentre os RPGs da sua época que dá para ficar um dia todo listando. Um dos meus favoritos é a ideia que de tempos em tempos você precisa ligar para casa senão o protagonista fica com saudades e não consegue lutar direito. Sem contar os sentimentos essa jornada desperta, nos fazendo refletir em temas como infância, amizade, família, amor e fé.

Por todos esses quesitos que EarthBound TINHA que ir para minha lista. E olha que eu ainda nem tinha jogado Mother 3 naquele período. Esse se tornaria outro jogo que de daria vontade de adicionar a lista junto com o anterior.

Porém quando fui olhar meu Top 5 surgiu um dilema. Ao mesmo tempo que eu queria incluir EarthBound eu também não queria tirar nenhum daqueles que estavam ali. A solução mais óbvia seria aumentar de Top 5 para Top 10, certo? Porém² quando fui pensar em novos nomes para preencher os espaços eu percebi que era impossível me decidir. Os critérios que eu havia utilizado antes não serviam para nada porque quanto mais eu refletia neles, mais nomes surgiam.

Ys – The Oath in Felghana foi importante pra me introduzir na sua franquia e aumentar meu gosto por RPGs de ação, certo? Só que ele não foi o único responsável por isso. E não digo apenas em me fazer gostar do gênero, também me refiro a me apresentar uma nova franquia que eu passei a curtir. Teve Tales of Phantasia, Kingdom Hearts 2 e Legend of Mana, todos esses que eu joguei bem antes de conhecer o remake de Ys. Por que eu deveria deixar qualquer um deles de fora sendo que tem o mesmo valor para mim?

Sem contar que hoje eu ficaria em dúvida até em qual jogo de Ys botar na lista. Agora tem no meu repertório Ys Origin que eu acho excepcional pelo arco dos seus protagonistas. E tanto ele quanto The Oath in Felghana estão em pé de igualdade no meu coração.

No caso de Phantasy Star IV ele estava lá por ser um dos primeiros a me fazer gostar de RPG. Mas aí que tá: um dos primeiroS. Ele não foi o único a ter essa importância na minha história. Pokémon Gold foi exatamente o primeiro RPG que eu lembro de ter zerado. Legend of Legaia foi outro também fundamental na minha infância. Shining Force 2 me fez gostar até mesmo de um tipo de RPG que eu não curto muito que é o tático. Não dá para eliminar nenhum deles, todos foram essenciais para eu começar a jogar RPGs com mais frequência e com mais gosto.

Chrono Trigger é inegavelmente um clássico, correto? Mas também o são Final Fantasy VI, Dragon Quest V, Breath of Fire III – isso considerando apenas os que eu joguei, pois existem muitos outros exemplos – que eu também considero atemporais. E eu colocaria o Legion Saga no meio desses clássicos, só que vou deixar para falar dele na próxima seção.

Paper Mario tem um problema similar ao que eu tenho com Ys agora, afinal não foi o único RPG do Mario que joguei naquela época. Também passei por Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars e Mario & Luigi: Superstar Saga. E, francamente, depois de pensar muito nesses três eu não consigo mais decidir qual dentre os três eu gosto mai.s Todos eles dividem características similares na ênfase em comédia e lutas criativas que eu não teria como escolher apenas um.

The Witcher 3 – The Wild Hunt tem lá sua gama de histórias fantásticas que me fascinaram. Mas ele também não foi o único nesse departamento. Um exemplo que eu poderia colocar aqui também é um, infelizmente não tão conhecido, RPG alemão chamado Drakensang – The River of Time. Que, aliás, eu já joguei mais vezes que o The Witcher 3. Recentemente até fiz um texto falando como esse jogo tem uma quest que eu considero perfeita. Drakensang – The River of Time pode não ter o mesmo escopo e complexidade do universo e dos personagens de The Witcher, porém gosto dele tanto quanto. Talvez até mais dependendo do dia que você me pergunte.

Só aí eu citei 12 diferentes títulos de RPG que eu não vejo motivos para não entrarem na minha lista também. E aí o que eu vou fazer? Ficar aumentando-a mais e mais só para conseguir encaixar todos? Algo que se repetiria indefinidamente porque esses que eu citei não são nem a metade dos RPGs que eu conheço e adoro.

Mesmo depois de tantos exemplos ainda faltou falar de: Parasite Eve, Tengai Makyou Zero, Legend of the River King 2, Grim Dawn, Dark Souls 3, Undertale, Sweet Home, Radiant Historia, etc. Isso só considerando séries diferentes. Se for considerar mais de um por franquia, então eu também teria que incluir Final Fantasy VII, Breath of Fire II, Dragon Quest IV, The Witcher 1, Shining the Holy Ark, Tales of the Abyss, Trials of Mana, Titan Quest, por aí vai. E nem entrei nos jogos de RPG de ação side scrollers como Castlevania – Symphony of the Night, Bloodstained e Salt & Sanctuary.

Nunca teria um fim. De mês em mês eu teria que revisitar a lista porque eu estou sempre conhecendo e passando a gostar de coisas novas. De um Top 5 passaria para Top 10. Então viraria Top 20, talvez Top 50 e depois disso qual seria o sentido de ter uma lista então? Foi assim que eu cheguei a conclusão que:

RANQUEAR JOGOS É SIMPLESMENTE BOBO

A trilogia Legion Saga feita no RPG Maker
Legion Saga, uma das responsáveis para eu não ter mais fé em rankings em geral

Certa vez entrei no Reddit e estava rolando mais uma dessas correntes na comunidade que eu frequento. Era naquele formato em que tinha dezenas de quadros que você deveria preencher com algum jogo nas categorias de melhor história, melhor direção artística, melhor trilha sonora, etc. Se minha memória não falha, a primeira ou segunda categoria era a do “seu jogo favorito de todos os tempos”. Na lista de um rapaz ele colocou Crash Bandicoot nesse campo e um maluco aleatório chegou dizendo que não era possível que o jogo favorito dele fosse esse.

A justificativa dele pra esse questionamento era porque o segundo jogo do Crash era muito melhor que o primeiro. Em todos os aspectos! Eu dei um suspiro desanimado lendo isso. Na verdade não foi essa a minha exata reação, porém para não deixar o texto tão agressivo vou dize apenas que isso é uma visão de gente muito medíocre. Ok, eu tentei!

Tem um texto, “A tolice da incessante busca pelo “gabarito do bom gosto” de obras-primas“, que li ano passado e volta e meia retorna na minha cabeça. Ele fala mais do público de mangás e animês porém é um tópico que pode se estender para outras mídias. O texto discursa sobre essa mania do público em tentar definir quais são as melhores obras com base em alguns critérios supostamente objetivos. O que quero destacar do texto é exatamente esse conceito do “gabarito do bom gosto. Como diz o autor:

Isso parece criar uma necessidade tonta de obras artísticas precisarem marcar todo um checklist de itens a serem apresentados para serem consideradas “arte de alto nível”

Voltando aos vídeo games. Eu acho um pensamento bem medíocre esse de achar que nossa conexão com os jogos vem de fatores tão simples como “história boa, jogabilidade foda, gráficos”. É uma visão bem limitada do efeito que a arte – e eu tento tratar vídeo games como arte embora os gamers não façam isso – causa em nós. Essa ligação é mais profunda e tem muito mais a ver com a própria personalidade do individuo, temas que ressoam melhor com ele e também o contexto no qual ele conheceu aquele jogo que o influencia fortemente.

Retornando ao colega lá do Crash Bandicoot, o fato desse jogo ser o favorito dele deve ser muito menos por causa do jogo numa questão técnica e sim pela relação que ele tem com esse título. Vai ver o PlayStation foi um dos primeiros consoles que ele teve na vida e passou horas jogando Crash. E por isso ele desenvolveu um carinho e uma nostalgia muito grande pelo primeiro título da série a ponto que se tornou seu jogo mais querido. E quem somos nós para questionar isso?

Eu já falei aqui como Brave Fencer Musashi provavelmente é o jogo da minha vida. E você pode vir aqui e falar como, sei lá, algum The Legend of Zelda 3D é bem melhor que ele que pouco irá importar pra mim. Eu tenho total ciência dos pequenos defeitos de Brave Fencer Musashi e isso não diminui nem um pouco o tanto que eu gosto dele. Metamorfose S e Heart and Soul são jogos que também tem vários problemas técnicos, o primeiro principalmente, e mesmo assim acho ambos fascinantes por motivos que vão além dessa ideia de ter excelência na gameplay.

É por isso que eu acho fazer um ranking de jogos tentando definir qual é o melhor representante de cada gênero, quem tem a melhor história, gráficos jogabilidade, é de uma bobeira cavalar. Não existe objetividade na nossa relação com a arte. Você até consegue estabelecer alguns critérios que são mais ou menos objetivos, porém você está sempre sujeito aos seus vieses. Esteja você consciente disso ou não. Por isso essas listas dos melhores jogos falam muito mais sobre o autor* do que os jogos em si.

*exceto as listas feitas por esses sites de cobertura da indústria do entretenimento já que nesse caso é tudo feito pensando em aparecer nos resultados do topo do Google.

Por exemplo, supondo que eu fizesse uma dessas listas aí de melhores RPGs de todos os tempos. Um dos títulos que estaria no topo, talvez até acima de jogos como The Witcher 3 e Final Fantasy VII, estaria um jogo de pesca de Game Boy Color que tem elementos de RPG. E a razão disso é porque eu, EU, adoro minigames de pesca e ter um jogo de RPG centrado nesse tipo de jogabilidade é algo que ressona comigo muito mais do que a vasta maioria de jogadores. Para outros pode parecer um joguinho desinteressante, porém pra mim ele é fantástico e está de fato entre meus favoritos. Os “critérios” utilizados na minha lista não servem para mais ninguém além de mim, eles são todos influenciados pelos meus gostos pessoais.

E aí que enfim entra Legion Saga nessa história!

Essa é uma trilogia que eu coloco em pé de igualdade com outros grandes clássicos dos RPGs dos anos 90 e 2000. Faço isso por que ela é uma série excepcional? Dada as devidas proporções ela até é sim, porém não é esse o motivo. Isso tem mais a ver com questões pessoais minhas, minha relação com as comunidades de RPG Maker e o impacto que eu vi essa trilogia ter aqui para os fóruns brasileiros da época.

>>> A trilogia de Legion Saga está disponível gratuitamente aqui <<<

Para quem não frequentou comunidades de RPG Maker lá do início dos anos 2000 esse nome pode não significar nada. Porém a série de Legion Saga foi uma referência para muitos dos makers brasileiros que tentavam fazer seus jogos. O primeiro título dessa trilogia, Legion Saga I, lançado em 2001, veio num período que essas comunidades ainda estavam se formando e a maior parte dos usuários mal sabiam utilizar os recursos disponíveis no RPG Maker. Tanto é que a gente precisava importar muita coisa de fora, inclusive os jogos. O Legion Saga foi um desses a serem traduzidos por alguns membros daquelas comunidades para que os demais conseguissem jogar.

Foto de comparação do Legion Saga original com sua versão traduzida
As comunidades de RPG Maker sempre se esforçaram para “democratizar” o acesso a recursos e jogos

Kamau, responsável por desenvolver a série, conseguiu explorar muito bem RPG Maker para reproduzir mecânicas de jogos de RPG que víamos nos consoles. A trilogia tomou grande inspiração na franquia de Suikoden na sua gameplay, desde os temas políticos até sistemas como o de recrutar personagens e de duelos. E indo além disso, ao longo dos seus três jogos, o Kamau demonstrou várias sacadas bem criativas nas formas que você podia utilizar os recursos disponíveis na engine para dar mais personalidade aos seus projetos.

Outra característica louvável de Legion Saga é o fato de ser uma trilogia. Naqueles tempos já era difícil de se terminar um único projeto, quiçá três. Consecutivamente! O que o Kamau realizou aqui foi uma conquista e tanto. Até porque ele não apenas fez três jogos, cada sequência foi melhorando vários dos aspectos do seu antecessor e dá para ver muito a evolução do maker nessa empreitada.

Pelo meu tom nesses parágrafos acho que fica visível que eu também fui uma dessas pessoas que durante a infância e adolescência tentou fazer um joguinho no RPG Maker. E, spoilers, não consegui finalizar nenhum deles. Tal como vi dezenas de outros makers da minha época não conseguindo também. Portanto eu sei de toda a dificuldade que era e bato palmas muito quem conseguiu concluir um dos seus projetos.

Por isso que eu admiro tanto a trilogia de Legion Saga, pois eu sei o quanto especial é o fato dessa série existir dentro da história do RPG Maker. São por esses fatores que ela é uma franquia que divide espaço com nomes tão consagrados como Dragon Quest & cia na minha cabeça. E é também por isso que acho tão bobo fazer esses rankings dos melhores jogos, de gêneros específicos ou em geral. Não existe esse Top 5 dos melhores jogos RPGs, nem Top 10 ou qualquer outro número que o valha.

Não se ranqueia a arte, por mais que isso seja tão comum nas redes sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chapolin Colarado fazendo sinal de vitória
Trazendo o Chapolin pra reforçar que eu não odeio listas algumas odeio sim,
só não consigo mais fazê-las

Não quero dizer aqui que eu sou contra a criação de listas de favoritos ou dos “melhores jogos de todos os tempos”. Eu só acho que nossa relação com os jogos vai muito além, ou pelo menos deveria ir, de noções tão insignificantes como o fato do jogo ter uma história super complexa ou gráficos em alta definição.

Tá certo que nesse lance de “melhor de todos os tempos” eu talvez tenha algumas críticas. Acho muito arrogante (e narcisista, já que você vai invariavelmente escolher os jogos que VOCÊ gosta) bater o martelo nesse tipo de coisa. Mas é apenas uma peculiaridade minha e eu não sou nenhuma autoridade no assunto.

E em relação a lista de favoritos, sinceramente penso que as pessoas enganando a si mesmas. Ao menos quando é um Top 5 ou Top 10 porque são números muito baixos. Depois de jogar tanta coisa na minha vida eu não vejo a menor possibilidade de conseguir fazer uma lista tão pequena assim. Nessa jornada já passei por tanta coisa fantástica e que mexeu comigo por motivos diversos que é absolutamente improvável que existe uma forma de se escolher entre todas elas.

Top 5 nunca mais!


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