Imagine o seguinte cenário: você está com seus quatorze, indo para quinze, anos. É véspera do seu primeiro dia no Ensino Médio. Você vai dormir, animado com o que essa nova etapa da vida lhe guarda. Na manhã seguinte você acorda e descobre que oito anos se passaram e está no dia seguinte a sua graduação num curso superior que você não tem qualquer memória.

Um pouco assustador, não?

Então, essa não é bem a trama de Amor & Monstros (Love and Monsters, 2020), ok? Mas o exercício de imaginação fará mais sentido ali na frente. Caso não conheça o filme darei uma sinopse:

Um asteroide faz com que animais de sangue-frio se transformarem em criaturas gigantes que eliminam praticamente a humanidade toda. O jovem Joel Dawson é um dos poucos humanos que restauram. Ele vive com um grupo num bunker subterrâneo, referenciado como “colônia”, que tenta sobreviver nessa Terra pós-apocalíptica. Separado há anos da sua namorada da adolescência, Aimee, Joel ainda consegue conversar com ele através do rádio da colônia. Até que um dia eles acabam perdendo contato. Preocupado com Aimee e motivado pela recente morte de um dos membros da sua colônia, Joel decide encarar os perigos desse novo mundo e ir atrás da sua amada.

Capa de Amor & Monstros, filme de 2020, que conta a história do jovem Joel Dawnson se aventurando por uma Terra dominada por monstros gigantes mutantes em busca da sua namorada da adolescência, Aimee
Sim, o cachorro é o melhor personagem! Trailer aqui

Esse foi um dos filmes cujos lançamentos foram afetados pela pandemia da COVID-19. As ideias para o longa-metragem já estavam em discussão desde 2012, porém foi só sete anos depois que a produção iniciou de fato. Planejava-se lançar o filme nos cinemas no início de 2020, mas dada a pandemia ele acabou saindo no formato video on demand. Em 2021 a Netflix conseguiu os direitos para distribuição do filme fora dos Estados Unidos. Foi nesse ano no meio da pandemia que eu pude assisti-lo.

Parece que eu só estou divagando aqui – porque faço isso muito mesmo – mas esse último parágrafo não veio do nada. O tema da pandemia vai ser relevante para o que quero discutir com vocês.

Enfim, semana passada eu decidi rever o filme. O motivo foi um pensamento que me recorreu quando eu lembrava dele numa das minhas caminhadas. A primeira vez que assisti eu não pensei muito nas implicações do filme, porém agora no contexto pós-pandemia eu criei uma nova visão dele.

Como vocês leram, Amor & Monstros é anterior a COVID-19. Mesmo sabendo dessa informação, eu não pude deixar de pensar como a jornada do Joel parecia uma daquelas histórias de filmes “coming of age”, ou amadurecimento, muito explorados no cinema americano. Porém ele se ambienta num contexto pós-apocalíptico no qual poderíamos encaixar outros desastres como uma epidemia.

Obviamente que Amor & Monstros não “previu” a COVID-19. Duvido muito que havia essa intenção inicial de ser um filme amadurecimento pós-pandemia quando finalizaram o roteiro. Tanto é que o filme não é marketizado como um coming of age, e sim uma história de aventura com monstros… e amor. Entretanto isso não me impede de fazer tal leitura. Assim como eu já mostrei num texto passado falando sobre O Último Virgem Americano, só porque a gente não tem certeza da intencionalidade não significa que não possamos projetar essas perspectivas num filme.

Então hoje viajarei na maionese falarei de Amor & Monstros utilizando dessa interpretação de um jovem passando por um arco de amadurecimento após um evento pandêmico. Porém, antes de entrar nesse tópico eu vou dar uma contextualizada rápida sobre esse tipo de filme. Pode pular para o item seguinte se quiser.

Ah, e o aviso mais do que óbvio: SPOILERS DE AMOR & MONSTROS!

O AMADURECIMENTO NO CINEMA

Sim, eu tinha paixonite na Luly

Coming of age é um termo que descreve essa transição entre a infância/adolescência e o início da vida adulta. Sendo uma parte natural da vida humana, essa transição se transformou numa espécie de rito de passagem que é celebrado em diversas sociedades.

Cada cultura tem suas cerimônias que variam de acordo com os traços daquela comunidade. No Brasil, por exemplo, ainda existe muito a cultura de baile de debutante, mais conhecida como a festa de 15 anos. Ela marca essa passagem feminina da condição de menina para mulher e muitas famílias celebram esse momento. Para os meninos, eu diria que o alistamento militar, pelo seu caráter de obrigatoriedade, acabou virando também uma espécie de símbolo para essa passagem. Preferia o baile…

Por ser um elemento tão presente na experiência humana, obviamente que o coming of age virou um tema muito abordado na nossa ficção. Seja no teatro, na literatura, TV e cinema. Nos vídeo games eu não sei se tanto, mas acredito que poderíamos encaixar títulos como Earthbound e Life is Strange.

De qualquer forma, nós estamos mais do que familiarizados com esse tipo de narrativa. Tanto no cinema quanto na TV há uma lista enorme de filmes e séries teen que tem o coming of age como centro da sua história. Essas obras tipicamente exploram as pressões psicológicas, os dramas cotidianos e até mesmo questões sociais que se relacionam aos adolescentes e jovens adultos. Juno, por exemplo, explora o tema da gravidez na adolescência. Os Donos da Rua nos mostra as lutas enfrentadas por jovens negros numa comunidade em meio a cultura de gangues dos anos 80 e 90. Atypical trabalha os temas frequentes dessas narrativas, porém sobre a perspectiva de um garoto autista.

E por assim vai. Dá pra ficar um dia todo listando filmes e séries que tenham esses elementos de coming of age. Daqui pra frente vou me referir simplesmente como amadurecimento porque já cansei de ficar pondo o termo em itálico.

Os protagonistas dessas histórias estão geralmente entre os seus 16 e 21 anos. A ambientação mais comum são as escolas nesse período do Ensino Médio indo para o Superior. Mas claro que existem exceções. Uma que eu consigo pensar gora é Oitava Série que explora os dramas de uma menina com dificuldades de se socializar durante seu último ano no Ensino Fundamental. Além disso, temos um novo fenômeno sociocultural, que já vem sendo observado há alguns anos, descrito como “vida adulta atrasada” que também passa a ser explorado nessas mídias.

E é aí que entra Amor & Monstros. Mesmo o filme se vendendo uma como uma história de aventura, que de fato ela é, você percebe que o arco pelo qual Joel passa está muito associado aos filmes de amadurecimento. E é um amadurecimento mais tardio, já que por conta dos monstros o personagem foi obrigado a passar sete anos da sua vida enclausurado num bunker.

Agora podemos ir para o filme, né? Não! Quero falar de outra coisa antes que é:

A JUVENTUDE PÓS-COVID

Sala de aula seguindo as diretrizes recomendadas para aulas presenciais durante o período da pandemia da COVID-19
Fonte: G1

Eu moro ao lado de uma escola do Ensino Fundamental que atende alunos da quinta até oitava série. Assim como muitas outras instituições do país, ela fechou as portas durante o pico da pandemia optando pelas aulas remotas.

Quando as aulas voltaram para valer, mas com os alunos ainda precisando vir de máscara e com turmas reduzidas, a gente aqui em casa ficou sabendo de duas coisas. A primeira é que tiveram casos de alunos tendo crises de ansiedade no colégio. A segunda coisa que ouvimos foram diversas brigas que aconteceram bem no início do ano letivo. Por conta disso eu presenciei uma cena que há anos não via: carro da polícia ficar parado na porta da escola. Isso se estendeu por mais umas semanas.

Ouvimos a mesma história de outras escolas aqui da cidade. Ou alunos apresentavam muito nervosismo em voltar as aulas presenciais ou tinham um comportamento mais agressivo. Comportamento este tanto contra seus colegas de classe quanto contra os professores. Isso não foi apenas um caso isolado de onde eu moro. Notícias que saíram naquele período mostravam muitos educadores reportando essa mesma percepção de um aumento significativo de agressividade nos estudantes.

Desses anos de pandemia para cá, pesquisadores ao redor do globo estudaram os efeitos da pandemia na população mundial. Crianças e adolescentes em particular tiveram um impacto severo na sua saúde mental. O aumento das taxas de ansiedade e depressão é um dos efeitos mais observados. Também estuda-se os impactos no desenvolvimento pessoal e na habilidade de socialização desses jovens.

Agora que o mundo vai entrando nos eixos, possivelmente veremos cada vez mais trabalhos, seja no campo cultural ou no acadêmico, abordando o que será essa geração pós-COVID que enfrentou uma das piores pandemias da história numa época tão fundamental para o seu crescimento pessoal.

Amor & Monstros não encaixa exatamente nesse tipo de produção, afinal ele é anterior a COVID-19. Contudo dá para traçar alguns paralelos com o filme uma vez que o personagem precisou enfrentar também um longo período de isolamento. Portanto, agora finalmente podemos entrar no tema principal do texto.

AMOR & MONSTROS E O AMADURECIMENTO NA PANDEMIA

Amadurecer já não é fácil. Imagina com monstros gigantes!

Eu fui pensar nessa ideia de Amor & Monstros ser um arco de amadurecimento pós-pandemia muito tempo depois de assisti-lo. Logo eu estava naquela de se realmente havia elementos no filme que sustentassem essa ideia ou se eram apenas vozes na minha cabeça.

Para minha surpresa, na narração inicial quando Joel explica as dinâmicas da colônia, o protagonista diz que “é assim que eu imagino como a faculdade deve ser”. Mais a frente, com mais alguns diálogos e flashbacks, a gente tem a confirmação que quando os monstros surgiram, o Joel estava com seus 16 anos. Como se passaram sete anos desde então, é seguro dizer que no ponto em que a história do filme se passa ele está com seus 23 indo para 24 anos.

O que isso nos diz é que Joel perdeu a maior parte da sua experiência no Ensino Médio e toda do Ensino Superior por conta dos monstros. E esse seria um período fundamental para o amadurecimento dos mais jovens. Porém, como ele vive agora num mundo completamente hostil, pode-se dizer que ele teve que crescer mais rápido do que teria em circunstâncias normais, correto? Errado!

Durante todos esses anos Joel viveu em isolamento, nunca deixando a colônia para nada. Então apesar do tempo ter passado, ele não desenvolveu experiências que estimulassem seu amadurecimento. Com isso o que ele se tornou foi apenas um adolescente sete anos mais velho. Mesmo com os traumas que enfrentou, havia outras experiências que ele precisava ter passado durante esse período que lhe foram privadas.

Se a gente comparar o restante da colônia com o Joel, percebemos o quão mais resolvidos esses personagens aparentam estar. Mesmo tendo passado mais ou menos pelas mesmas situações que ele, as pessoas parecem estar lidando muito melhor com esse novo mundo. Isso porque quando os monstros surgiram todos ali já estavam na vida adulta. E o filme representa isso através dos casais que se formaram na colônia já que casar/formar uma família geralmente é tido como um símbolo dessa etapa crescimento pessoal. Ao passo que os adultos estão conseguindo seguir com suas vidas adaptadas para aquele novo mundo, Joel segue preso ainda aos seus anos de adolescente. Principalmente sonhando em reencontrar com sua namorada que ele não vê há desde que foram separados no primeiro ataque dos monstros.

Como eu disse na sinopse, eles acabam perdendo contato e isso porque o rádio para de funcionar. Desesperado que Aimee pode estar correndo perigo, Joel finalmente decide sair do bunker pela primeira vez. A colônia de Aimee fica há cerca de sete dias de caminhada de onde ele está. Imagino que foi uma escolha intencional onde cada dia representa um ano que Joel perdeu no bunker.

Portanto nessa uma semana da história, nós, a audiência, vemos o protagonista passar por todo amadurecimento que deveria ter acontecido organicamente na sua vida. São nesses dias que Joel consegue vivenciar aquilo que é muito essencial para o nosso crescimento: o contato e compartilhamento de experiências com as outras pessoas. Algo que, infelizmente, muitos jovens da nossa realidade perderam nesses dois anos de pandemia.

AMADURECENDO ATRAVÉS DOS EXEMPLOS

Nos sete dias de viagem em Amor & Monstros, além de Aimee, Joel encontra com quatro personagens diferentes. Em cada um desses encontros há uma troca de experiência que faz com que o personagem cresça como pessoa. Até mesmo os personagens não-humanos conseguem ter um impacto tremendo para o desenvolvimento de Joel. Nos próximos parágrafos eu comentarei de cada um deles e como eles marcaram o protagonista de modos diferentes:

1# BOY: ENFIM UM AMIGO

Joel ao lado de Boy, cachorro que salva sua vida do ataque de um dos monstros
Ele não é um bom garoto. Ele é o MELHOR garoto!

O primeiro contato que Joel tem ao deixar a colônia não é com uma pessoa e sim um animal: um cachorrinho chamado Boy. Ele aparece quando o protagonista é atacado por um sapo mutante, salvando-o e ajudando ele a se esconder num trailer. Ali fica implícito que a antiga dona de Boy foi morta em algum momento anterior aos eventos do filme e o cão não tendo mais para onde ir fica aguardando uma nova companhia. A conexão dos dois é praticamente imediata e Boy passa a seguir Joel na sua viagem.

Só que aqui existe o detalhe que o cachorro não é tratado apenas como um animal. Você vê pela forma que Joel interage com Boy que ele é essencialmente um amigo desses que a gente faz durante a vida. Que era exatamente algo que faltava para ele no bunker. O pessoal da colônia era um substituto da família que Joel perdeu, porém sabemos que as amizades também representam um papel fundamental para o desenvolvimento dos jovens.

Há coisas que você não consegue confidenciar a parentes, nem mesmo aos pais preocupado, com a reação deles. São nas amizades que ficamos mais confortáveis para expor algumas das nossas inseguranças pois estamos em pé de igualdade nessa relação. Não é a toa que escolhem justamente um cachorro para simbolizar esse tipo de relacionamento no filme afinal todo mundo conhece o ditado que ele “é o melhor amigo do homem”.

É encontrando Boy que Joel passa a exercitar suas habilidades sociais e finalmente tem alguém em que pode confiar, contar sempre com sua ajuda e não se sentir sozinho num mundo ameaçador.

2# CLYDE E MINNOW: CONHECENDO NOVAS VIVÊNCIAS

Certeza que a qualquer hora anunciam uma spin-off com eles

Não muito depois de encontrar com Boy, Joel já conhece mais duas pessoas – dessa vez humanos – na sua jornada. Eles são Clyde e Minnow, uma dupla de sobreviventes a caminho das montanhas que, assim como o cachorro, salvam o rapaz de ser morto por monstros. Depois disso, os três passam a seguir juntos até o ponto em que seus caminhos se separam. Nesse meio tempo, Clyde e Minnow ensinam muito do que Joel precisa para sobreviver nesse mundo novo: lhe dão dicas valiosas de sobrevivência, dividem informações sobre o comportamento dos monstros e ensinam o rapaz a atirar melhor com sua besta.

Algo que vale se destacar nesses personagens é que nenhum deles está na faixa etária de Joel. Clyde provavelmente tem a idade que o pai dele teria se estivesse vivo enquanto Minnow é uma garotinha de oito anos. Porém isso não impede que os personagens consigam criar uma relação, ainda que o tempo deles juntos seja breve. Isso porque eles dividem sua vivências nesses mundo pós-apocalíptico, conhecendo as tragédias que impactaram a vida de cada um entendo a dor e os traumas que estão tentando superar.

Mais do que a troca de experiência, o que vejo aqui de fundamental para o crescimento de Joel é o contato com vivências diferentes das deles. Que também é algo que ocorre a todo momento na nossa vida. Na faculdade é onde isso acontece com muita constância. Conhecemos pessoas de diferentes culturas, classes sociais, faixas etárias, etc. Enquanto no Ensino Médio rola a impressão que todo mundo está no mesmo barco, na faculdade é que entendemos como o mundo é um lugar muito mais amplo e diverso.

3# MAV1S: OS ENCONTROS PASSAGEIROS DA VIDA

Ô desgraça, eu vou chorar de novo…

A última “pessoa” que Joel entra em contato nessa jornada antes de chegar na colônia de Aimee é a Mav1s. O filme tem uns elementos futuristas bem pontuais esse é um deles. Ela é uma robô que estava prestes a ser lançada antes dos monstros destruírem a Terra e Joel encontra uma operacional num hotel.

Porém a robô não tem muito tempo de “vida” uma vez que sua bateria já está esgotando. No brevíssimo momento que eles passam juntos, Joel também consegue se conectar com Mav1s e ela mexe profundamente com ele. Primeiro porque a robô oferece parte da sua energia para recarregar o rádio dele. Sendo assim ela é a responsável por Joel conseguir falar com Aimee um pouco. Mav1s também vinha equipada com um banco de dados das pessoas vivas durante seu lançamento e assim ela consegue mostrar uma foto da mãe dele. É olhando pra essa foto que o rapaz finalmente consegue se despedir dela, algo que ele não conseguiu no passado e o vinha atormentando há anos. Depois disso a bateria de Mav1s acaba e não a forma de recarregá-la mais.

Mais do que representar a morte, a robô mostra esses breves contatos que nos marcam profundamente. Você nota como esse contato afetou Joel porque no final ele ainda enterra a robô no jardim do hotel mesmo que ela não seja um humano de carne e osso. Na vida a gente passa por isso a todo momento. Pessoas cruzam nossos caminhos por alguns instantes e mesmo assim conseguem ter um impacto tremendo na nossa existência. Esses momentos ficam gravados para sempre na nossa memória e, de alguma forma, nos ajudam a crescer como pessoa.

#5 AIMEE: O FIM DA INOCÊNCIA

Aprendendo a superar da pior forma possível

Mas o que pra mim mais solidifica essa leitura de uma história de amadurecimento em Amor & Monstros é quando finalmente Joel chega a colônia de Aimee. O reencontro leva a um tremendo choque de realidade que põe um fim na inocência juvenil que o protagonista ainda se mantinha.

Uma coisa que você nota logo de cara é como a Aimee parece ser mais velha que o Joel. Isso não tem nada a ver com a escolha da atriz porque a Jessica Henwick, atriz que interpreta a Aimee, é mais nova que o Dylan O’Brien, ator do Joel. Isso vem da postura da personagem, da forma que ela fala e age. Ambos os personagens tem a mesma idade na história, mas é evidente o quanto mais madura ela é em relação ao protagonista. Logo percebemos o porquê.

A colônia de Joel era um bunker no meio de um campo formado por vários adultos e o protagonista. A colônia de Aimee, por outro lado, fica numa espécie de resort na praia onde grande parte dos sobreviventes são idosos que precisam de cuidados especiais. E logo notamos como a Aimee é uma figura de liderança ali dentro e todos dependem do suporte dela. Por conta disso, ela precisou assumir dezenas de responsabilidades que a fizeram se desenvolver muito mais do que Joel. Enquanto ela tinha que cuidar de toda uma colônia, o rapaz simplesmente se limitava a cuidar da cozinha.

Enquanto Aimee continuou seu crescimento pessoal muito por conta das circunstâncias em que ela caiu. Joel, por outro lado, se estagnou no seu isolamento. E vejo esse sentimento em muitos jovens, e até adultos, que tiveram que passar pela pandemia da COVID-19 onde parecia que a vida tinha parado. Para muitos esses foram 2 anos desperdiçados onde a única coisa a ir pra frente foi o tempo.

O último baque é quando a visão idealizada que Joel tinha sobre reencontrar Aimee e reaver o namoro de sete anos atrás é destruída. Enquanto ele ainda alimentava essa paixão da adolescência, Aimee conheceu outra pessoa, se apaixonou e em algum ponto o perdeu para um dos monstros. Ao ver que ficou todo esse tempo se apoiando numa fantasia, a última coisa que mantinha Joel preso ao seu passado é cortada. Ao perceber como Aimee seguiu com a vida dela e cresceu em todos esses anos, apesar de tudo que aconteceu no mundo, ele toma o pontapé final que ele precisava receber para entrar na sua vida adulta.

Enfim ele entende e passa para frente uma mensagem que Clyde tinha lhe dito lá trás: você não precisa parar (a sua vida), nem mesmo no fim do mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Eu até poderia mencionar também o vilão de Amor & Monstros, porém é um personagem meio jogado na trama para ter um último conflito que nem vale a pena mergulhar muito nele. Pode ser que ele simbolize toda a malícia que existe no mundo que você fica mais consciente conforme ao envelhecer, mas dado tudo que o filme já nos entregou não precisamos de mais provas.

Pois bem, finalizando! Que Amor & Monstros é, entre muitas outras coisas, uma história sobre amadurecimento não resta qualquer dúvida. Mas se é uma história de amadurecimento para jovens que passaram por algum evento de pandemia, isso aí são outros quinhentos. Talvez dê para dizer que é uma perspectiva de jovens que por algum motivo tiveram que viver isolados durante esse período fundamental da vida e então tem que enfrentar os problemas do mundo subitamente.

De qualquer forma, eu acho que é uma leitura válida. Se bem que eu sou o cara que usa Chapolin para falar de bolsonarismo, então pode ser tudo uma trip louca minha. Ainda acho que o filme levanta muitos pontos a favor dessa leitura e, ainda que seja eu lendo demais em cima dele, vale como uma boa história de aventura, romance e amadurecimento por si só.

Se não tiverem curiosidade de assistir pelo meu texto, façam pelo Boy!


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