No final da década de 80 tínhamos o nascimento de duas séries de jogos que ajudariam a moldar aquilo que conhecemos por JRPGs: Dragon Quest e Final Fantasy. Claro que esses não eram os únicos títulos desse período que contribuíram para o surgimento desse gênero. Só em 87, ano que marca o lançamento do primeiro Final Fantasy, podemos citar também Phantasy Star e Digital Devil Story: Megami Tensei. E entre esses que se tornaram os clássicos de uma geração, e referência para vários títulos de estúdios satélites que surgiram logo em seguida, tivemos um jogo humilde que parece ficar esquecido em meio aos titãs do JRPG: Ys I: Ancient Ys Vanished.

Chefão de Ys I: Ancient Ys Vanished
Ys é um clássico dos primeiros RPGs de ação

Desenvolvido pelo estúdio Nihon Falcom, Ys inicialmente seria um único jogo. Contudo os criadores resolveram dividí-lo duas partes, portanto, no ano seguinte, veio Ys II: Ancient Ys Vanished — The Final Chapter. Isso deu início a uma série de RPGs de ação que se estenderia até 1995 com Ys V: Lost Kefin, Kingdom of Sand. Alguns desses títulos conseguiram cruzar o oceano para as terras ocidentais, mas no geral a popularidade modesta de Ys se concentrava no Japão.

Foi nos anos 2000 que esse cenário começou uma devagar mudança. Com o mundo entrando no século 21, Ys também decidiu numa nova “fase” da sua vida. Após um hiato que durou 8 anos, a franquia retornou ao mundo dos vídeo games em 2003 com o lançamento de Ys VI: The Ark of Napishtim. E o mais importante viria um tempo depois, pelos anos de 2010, quando a Xseed Games entrou na jogada.

Até então, fãs ocidentais de Ys precisavam contar com o esforço de outros fãs que trabalhavam para lançar patches de tradução para os jogos. A partir de 2010 a Xseed Games passou a cuidar da localização dos títulos dessa nova fase de Ys. Além disso, também foram responsáveis em lançar Ys na plataforma da Steam, ajudando a franquia a alcançar um novo público. Ainda que lentamente, possibilitou que a série deixasse de ser bem nichada. 

Ys VI: The Ark of Napishtim
Ys conseguiu ter seu retorno nos anos 2000

No meio desse novo público estava eu que vim a conhecer a série através de Ys: The Oath in Felghana. Aconteceu em meados de 2012 e até hoje esse um jogo que permanece como o meu xodózinho da franquia. E também um dos meus RPGs de ação favoritos!

Cativado pela personalidade da série, eu passei a última década conhecendo todos os jogos na primeira oportunidade que aparecesse. Porém ainda não completei o álbum todo. Recentemente risquei outro item da minha lista de Ys que eu estava devendo a mim mesmo há algum tempo: Ys Origin.

Esse talvez seja o título que mais chegou perto de tirar o posto de Ys favorito de Oath in Felghana. E sempre que me pego pensando nele eu fico mais próximo de me convencer que talvez ele seja mesmo meu favorito. Isso tudo por conta da forma que ele se distancia dos demais títulos da franquia em relação a sua narrativa, que como já mencionei aqui é o elemento que eu mais aprecio em qualquer obra, e o tratamento dado aos seus protagonistas.

Mas antes de falar sobre os personagens de Ys Origin, acho vale explicar um pouco sobre a franquia.

YS: O COMEÇO E A ORIGEM

Adol Christin em Ys: Memories of Celceta
Um ponto central de Ys são as aventuras do protagonista Adol

De volta aos anos 80, quando Masaya Hashimoto e Tomoyoshi Miyazaki criaram Ys, a ideia era que o jogo fosse uma obra fechada num único título. Porém, considerando o tamanho da história que eles queriam contar e os limites tecnológicos da época, o primeiro jogo de Ys precisou ser dividido em duas partes.

Ys I: Ancient Ys Vanished começa com o protagonista Adol Christin chegando na região de Esteria onde uma cartomante lhe diz que um mal ameaça essas terras. Na sua aventura, Adol passa e investigar o passado de uma misteriosa terra chamada Ys que desapareceu séculos atrás. Ao longo desse e o segundo jogo da franquia, Adol descobre a verdade sobre esse continente perdido que foi levado aos céus pelas Deusas Gêmeas para proteger seu povo do Clã da Escuridão e seu exército de demônios.

E aí, em 89, Ys se torna uma série de fato quando é lançado o Ys III: Wanderers from Ys que dá continuidade a jornada de Adol com seu companheiro Dogi, que ele conhece nos jogos anteriores, indo para a província de Felghana. Quatro anos depois temos Adol indo para uma nova terra chamada Celceta em Ys IV: Mask of the Sun. 

Pois bem, como deu pra ver, a série Ys gira em torno das aventuras de Adol ao longo da sua vida. Cada jogo inicia com ele chegando a uma nova região que é ameaçada por algum perigo misterioso. Cada jogo tem suas particularidades na jogabilidade, sendo todos RPGs de ação, entretanto em termos de história Ys nunca mudou muito. Dessa forma o próprio protagonista da franquia também nunca sofreu grandes mudanças que fossem além do seu design. Adol funciona mais como um símbolo que representa o espírito aventureiro e de heroísmo e não um personagem de fato. 

Por isso em todos os jogos antigos ele nunca passava pelo que a gente chama de arco de personagem. Ou seja, uma transformação ao longo da história já que internamente o Adol nunca muda. Ele provoca uma mudança na região, porém o personagem permanece sempre sendo Adol mudo e sem uma personalidade distinto. E o motivo é que os jogos focam muito mais na história daquela região do que na história do seu protagonista. 

E aí veio Ys Origin!

UM JOGO, TRÊS “ROTAS”

Ys Origin se diferencia dos demais jogos por ter um novo trio de protagonistas sem o Adol

Durante a segunda “fase” de Ys foram produzidos três jogos na mesma engine: Ys VI, The Oath in Felghana e Origin. Graficamente os jogos são bem similares, tal como a jogabilidade, mas dentre os três o Origin se destacou por quebrar alguns padrões para a série.

Depois tantas aventuras na pele de Adol, Ys Origin marca o primeiro título da série em que o jogador não controlava o seu habitual protagonista. Isso porque a história se passa 700 anos antes do nascimento de Adol, no período em que a terra de Ys foi erguida pela Deusas Reah e Feena para salvar os habitantes dos ataques dos demônios. Meses depois desse evento, ambas as Deusas desaparecem levando consigo a Pérola Negra, um artefato sagrado que garante os poderes paras Deusas e seus seguidores. Preocupados com o destino de Ys, os Seis Sacerdotes decidem mandar de volta a superfície, até a Torre de Solomon, um grupo de busca formato por cavaleiros de elite e magos a fim de encontrar as Deusas e trazê-las de volta em segurança

O resto da história é contado pelo ponto de vista de um de dois personagens que você pode escolher: Yunica Tovah e Hugo Fact. Depois de zerar com qualquer um dos protagonistas, pelo menos é assim na versão de PC, você libera um terceiro personagem que é o Toal. Dessa forma existem três rotas diferentes que o jogador pode seguir nessa história. Bom, “três”!

Acontece que independente do personagem que você escolhe, a estrutura do jogo é essencialmente a mesma. Você começa da base da torre e vai subindo enfrentando os mesmos monstros e quase que todos mesmos chefões, passando pelos mesmos andares, desviando dos mesmos obstáculos e coletando os mesmos artefatos. Um puzzle específico é resolvido de forma diferente dependendo do personagens que você escolhe. No caso do Toal há algumas seções do mapa e localização de certos itens que mudam um pouco além de ter novos chefões.

Os personagens se diferem mais no seu estilo de batalha. Yunica é uma guerreira de combate corpo-a-corpo com um moveset bem semelhante ao de Adol nos outros jogos dessa fase de Ys. Hugo por ser um mago tem ataques de longa distância. E Toal também é um combatente corpo-a-corpo, porém com uma velocidade bem superior a de Yunica. Todos os personagens adquirem os mesmo artefatos mágicos, porém cada um recebe um poder diferente de acordo com o seu estilo de combate.

Mas a verdadeira diferença na escolha de cada personagem é a narrativa da história. Cada um tem diálogos e cutscenes únicos e a trama se readapta para cada um deles. A cada nova run com um personagem diferente você consegue novos detalhes da história geral. Dessa forma, apesar de você estar seguindo o mesmo caminho, há três “rotas narrativas” diferentes no jogo.

O melhor aspecto de Ys Origin comparado com o restante da franquia é esse enfoque maior que ele dá aos seus protagonistas. Aqui cada um deles passa por um arco diferente. De tal forma, ainda que cada run repita vários aspectos da gameplay anterior, você sempre sai com a sensação de ter visto uma nova história. O valor de replay vem na satisfação com a jornada do personagem.

Os arcos dos personagens de Ys Origin são especialmente tocantes para mim por ser de certa forma uma novidade na franquia. Assim ele se tornou um dos meus favoritos. E nesse texto gostaria de discutir o que achei de mais fascinante em cada um desses arcos. Irei apresentar os personagens na ordem que eu acho melhor de se zerar o jogo e recomendo completar todas as três runs. E não é tão trabalhoso assim zerá-lo repetidas vezes. Outra característica boa dos jogos de Ys é que tem um ritmo bem rápido o que facilita jogar mais de uma vez.

Dito tudo isso, vamos aos personagens.


ALERTA DE SPOILERS PARA A MAIOR

PARTE DA HISTÓRIA DE YS ORIGIN


YUNICA TOVAH: TRAGÉDIA E AMADURECIMENTO

Ys Origin, rota da Yunica
A inexperiência de Yunica é um tema recorrente do seu arco

Quando conhecemos Yunica ela é uma inexperiente e ingênua integrante dos Cavaleiros Sagrados de Ys, responsáveis pela proteção da Deusas Gêmeas e do seu povo. Ela também é a herdeira da Casa de Tovah, uma das seis famílias responsáveis em manter a paz e ordem em Ys. Seu pai, Saul Tovah, era o Comandante dos Cavaleiros Sagrados. Ele foi morto em batalha ao ficar para trás lutando contra o exército de demônios. Um gesto de auto-sacrifício para ganhar tempo para as Deusas conseguiram terminar o ritual que levaria a cidade para as nuvens. Apesar dessa sua inexperiência, Yunica consegue permissão pra acompanhar a equipe de buscar pela sua relação com as Deusas, que desde sua infância a tratam como se fosse uma irmã caçula.

Um dos traços de personalidade que tornam Yunica uma personagem cativante é seu senso de lealdade com as Deusas. Isso que a motiva a se juntar a equipe de buscas mesmo sendo insegura nas suas próprias habilidades já que ela não tem qualquer aptidão para magia ou experiência em combate.

Ys Origin, rota da Yunica

O complexo de inferioridade de Yunica é o principal motor do seu arco. O tempo todo as suas inseguranças estão expostas. Desde o momento que ela falha em derrotar o homem que descobre ser o assassino de seu pai até em proteger as Deuses de caírem nas garras dos vilões. A personagem sofre altos e baixos o tempo todo, quase perdendo todo otimismo e esperança. Entretanto, Yunica sempre consegue se reerguer por uma bravura inerente que tem dentro de si.

Ys Origin, rota da Yunica

Um dos seus momentos mais emotivos é quando a personagem encontra a espada da sua família que foi deixada pelo seu pai e ela consegue falar com seu espírito. É ali que começa o caminho de superação da protagonista. Através dessas sucessivas perdas, algumas que chegam a ser trágicas, que Yunica consegue crescer como personagem. Pouco a pouco você percebe a personagem ganhar mais confiança e aprender a não depender tanto assim dos outros a ponto que ela finalmente consegue adquirir a força para defendê-los.

Ys Origin, rota da Yunica

Você se cativa tanto pela jornada de Yunica que o ponto de maior emoção na história não é nem quando ela derrota o vilão da história. Mas sim momentos antes quando ela é finalmente condecorada como uma Cavaleira Sagrada. O reconhecimento que ela recebe é mais do que merecido, pois você passa o tempo todo testemunhando os esforços de Yunica para melhorar, continuar lutando e não deixar seus companheiros na mão.

Ys Origin, rota da Yunica

E de fato quando chegamos nos minutos finais de Ys Origin, quando todos os personagens tem que se despedir e seguir seus caminhos, não vemos mais a garotinha insegura do início do jogo, mas sim uma verdadeira guerreira, amadurecida por todas as perdas trágicas que sofreu pelo caminho.

HUGO FACT: ORGULHO E HUMILDADE

Ys Origin, rota do Hugo
Bem diferente de Yunica, Hugo é mostrado como uma pessoa muito arrogante

Enquanto Yunica causa uma simpatia quase que imediata no jogador, Hugo consegue manter uma aversão por mais da metade da história. Filho mais novo de Cain Fact, líder dos Seis Sacerdotes, ele se voluntaria para ir em busca das Deus Gêmeas. Além disso, ele recebe uma missão secreta do próprio pai de “encontrar o traidor”.

Dada a aptidão para magia que corre na sua família, Hugo é um personagem intelectual e analítico. Ele é muito menos abrasivo do que Yunica e aborda todas as situações com cautela para agir de uma maneira mais tática. Que são características até admiráveis que deveriam fazer você simpatizar com o protagonista, certo? O problema é que todas essas qualidades também vem com uma alta dose de prepotência e arrogância que tornam Hugo uma pessoa quase que completamente intragável.

Enquanto na rota de Yunica nós torcíamos a todo momento pelo esforço da protagonista, tentando ao máximo ser prestativa para o restante da equipe, com Hugo temos o oposto. O personagem está constantemente recusando a ajuda de seus companheiros e parece ter uma confiança excessiva nas suas habilidades. Até que em dado momento ele é confrontado com uma derrota terrível, análoga a mesma derrota que Yunica passa porém nas mãos de outro personagem, que leva Hugo a um desejo de conseguir o máximo de poder possível. Mesmo que não seja por formas corretas, como quando absorve a força o poder da espada do pai de Yunica.

Ys Origin, rota do Hugo

É um personagem irritante que fica difícil de se torcer pelo seu sucesso. Até que começamos a entender de onde vem essas suas falhas de caráter.

Com base na foto do trio principal, creio que já devem ter suspeitas que o terceiro personagem tem alguma relação com Hugo. Toal é o irmão mais velho de Hugo. Em algum ponto antes da história do jogo, ele abdicou a sua posição de sucessor da Casa de Fact para se juntar aos Cavaleiros Sagrados. Toal foi o único a ficar para trás junto com o ex-Comandante Saul e até então tinha sido dado como morto. Porém descobrimos que ele na verdade se juntou ao grupo dos vilões em troca de poder.

Por conta de ter abandonado seu lugar na linha de sucessão, Toal deixou para o seu irmão mais novo o fardo da continuidade do legado da sua família. E sendo filho do mago mais poderoso de Ys, Hugo desde criança sofre uma enorme cobrança para não manchar o nome da Casa de Fact e se tornar um grande líder.

Ys Origin, rota do Hugo

Isso fez com que o personagem se afastasse das pessoas e criar essa fachada arrogante para mascarar sua insegurança de ser uma decepção aos olhos do seu pai. Além do fato de estar preso nas sombras do seu irmão. O medo de falhar e a incapacidade de aceitar a ajuda de seus companheiros, leva Toal a um caminho de corrupção que quase o atira na ruína completa. E o interessante é ver que o jogo usa uma das personagens do grupo dos vilões para criar um vínculo afetivo com Hugo e humaniza-lo. Isso faz com que ele exponha suas inseguranças e entenda o valor da humidade e o sacrifício pelos demais.

Ys Origin, rota do Hugo

Por grande parte de Ys Origin você detesta o Hugo como personagem e fica desejando estar jogando com a Yunica novamente. Mas quando as paredes da fortaleza que ele criou em torno de si começam a ruir e você vê que ele na verdade é só uma criança com medo do pai e do julgamento do seus pares. Só então você finalmente consegue se conectar com o personagem, relevar seus defeitos e apreciar sua jornada em se tornar uma pessoa mais humilde e cooperativa.

TOAL: HONRA E DEVER

Ys Origin, rota do Toal
Abram alas para o melhor protagonista de Ys

Só que você nunca vê essa traição do personagem acontecendo de fato. Quando a rota do Toal inicia, ele já se transformou num membro do Clã da Escuridão. Sendo assim o jogador nunca “compra” a sua súbita mudança de lado. Ainda mais quando nas rotas de Yunica e Hugo nós vemos em algumas instâncias o Toal ajudando os personagens. Na sua própria rota em dado momento ele salva Yunica de uma armadilha. E em todos os seus embates com os Cavaleiros Sagrados nunca parece que Toal está lutando pra valer. Inclusive grande parte dos diálogos que ocorrem quando Toal encontra um dos seus antigos companheiros é como nenhum deles acredita que ele tenha se permitido corromper pelas forças das trevas.

Olha, eu não vou nem esconder o quanto eu gosto desse personagem. Não é a toa que ele virou minha foto do Twitter. Mas não é apenas o personagem, mas a rota dele eu considero a melhor de Ys Origin por vários motivos. Um deles é que ela se encaixa perfeitamente com a história do primeiro Ys, inclusive o final dela que é considerado o canônico. O outro é que ela resolve um problema que acontece nas rotas da Yunica e do Hugo. Ao escolher um dos personagens acaba inviabilizando o arco do outro. Mas com Toal todos os três personagens conseguem ter um final satisfatórios para suas histórias pessoais.

E tem um terceiro e último motivo que é apesar de Yunica e Hugo terem arcos diferentes, nós ainda vemos a história de ambos na perspectiva dos mocinhos. A rota de Toal nos dá um ponto de vista novo uma vez que ele já inicia no lado dos vilões. Novamente os cenários são os mesmos, mas há muito mais diferenças na trama agora e um maior sentimento de novidade.

Ys Origin, rota do Toal

Como dito no tópico do Hugo, em algum momento depois que a terra de Ys foi levitada, deixando para trás apenas o ex-Comandante Saul e Toal, este decidiu se aliar aos vilões, o Clã da Escuridão. A princípio a motivação para a tal traição é que o Toal desejava obter mais força. Tanto é que essa vira a justificativa na rota dele dada para se explicar porque ele derrota todos os monstros e guardiões da Torre de Solomon que deveriam atrapalhar os mocinhos. Inclusive alguns desses monstros foram invocados pelo próprio Clã da Escuridão e Toal não hesita em destruí-los.

Ys Origin, rota do Toal

Outra coisa que torna ainda mais difícil aceitar essa queda moral do personagem é que na sua rota temos uma ocorrência bem maior de flashbacks que mostram alguns momentos específicos da vida de Toal antes dos eventos do jogo. Essas cenas nos fazem perceber que ele sempre foi uma pessoa com forte senso de dever e um cavaleiro de grande honra. Assim não se surpreende que ele se voluntariou para ficar para trás com o ex-Comandante Saul para que o povo de Ys tivesse uma chance de escapar dos ataques dos demônios.

Ys Origin, rota do Toal

O estranhamento vai aumentando progressivamente até que fica bem óbvio que aquele Toal que vemos interagindo com os vilões nada mais é do que uma fachada. Alguns poderiam até achar que esse seria um arco de redenção, contudo o Toal jamais teve uma queda moral de verdade. O que acontece é que ele toma pra si a responsabilidade de selar o poder da Pérola Negra e por isso abandona seu dever como Cavaleiro Sagrado. Ele deixa de lado a sua honra pois achava que aceitar o poder das trevas seria o jeito mais fácil de conseguir força o suficiente para concluir essa missão sem por em risco a vida de mais um companheiro.

Ys Origin, rota do Toal

Portanto, em vez de uma jornada de redenção o arco de Toal é mais uma história sobre entender suas responsabilidades, ser honesto consigo mesmo e com aqueles a sua volta e saber aceitar que você não deve tentar carregar o mundo inteiro nas costas sozinho.

Ys Origin, rota do Toal

É somente quando o Toal ele para de tentar enganar seus antigos companheiros, se desculpa e entende que essa não é uma luta só dele, enfrentando os vilões não como um membro do Clã da Escuridão, mas sim como parte dos Cavaleiros Sagrados, que ele consegue ter a força necessária que tanto buscava. O que nos leva para uma das batalhas mais satisfatórias não só de Ys Origin como da franquia toda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ys Origin, final canônico
Um fim digno para o jogo

De todos os Ys que eu joguei, a segunda “fase” é certamente a minha favorita. Não apenas revitalizou a franquia como conseguiu, ainda que a passos curtos, aumentar a fanbase no Ocidente. The Oath in Felghana permanece como o meu favorito, porém me pego cada vez mais pensando no Ys Origin e não nele.

A forma como o jogo conseguiu construir três arcos distintos e ainda fazer muita homenagem as origens da franquia e de bater palmas. E recomendo muito jogarem com todos os personagens, pois cada história consegue te prender de uma forma diferente e elevou muito as capacidades narrativas de Ys.

Yunica, Hugo e Toal, todos tem uma jornada fascinante, cada uma com sua particularidade específica. Para quem estava acostumado com uma trama mais simples de bem contra o mal, que admito que se repete nesse jogo, vai se impressionar com a complexidade emocional e a ênfase em desenvolvimento de personagens que a história de Ys Origin carrega.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *