Há alguns meses eu decidi revisitar de novo o primeiro título da franquia Assassin’s Creed para fazer uma crítica retrospectiva. Durante essa experiência, algo que me chamou atenção foi a sua quantidade de diálogos. Metade da gameplay se passa entre as conversas do Altaïr com os demais personagens e a outra metade cobrindo todos os pontos de vista do mapa. Óbvio que estou exagerando e existem vários exemplos que tem muito mais texto do que Assassin’s Creed. O que realmente pesa é como ele constantemente se interrompe para fazer o jogador escutar algum diálogo. Até mesmo de um NPC agradecendo por salvá-lo. Com isso em mente, eu pensei que talvez o primeiro Assassin’s Creed funcionasse melhor como livro do que jogo e, então, acabei comprando a A Cruzada Secreta.
Novelizações não são nenhuma novidade no universo multimídia de franquias super populares e já eram bem comuns em 2011. Até mesmo livros de Assassin’s Creed não eram surpresa naquele período. Apesar de A Cruzada Secreta contar a história do primeiro jogo, o livro foi o quarto título a ser escrito por Oliver Bowden, pseudônimo do autor Anton Gill. Ele começou as novelizações pela trilogia do Ezio Auditore da Firenze, os jogos responsáveis pelo prestígio que Assassin’s Creed e que a Ubisoft se empenhou tanto em esgotar nos anos seguintes.
A Cruzada Secreta é de certa forma uma trilogia também. A história se divide em três grandes arcos que recontam os eventos da vida do Mestre Assassino Altaïr Ibn-LaʼAhad mostrados em três jogos diferentes: o de 2007, Bloodlines e os flashbacks que aparecem em Assassin’s Creed Revelations. O livro também opta – e até onde eu sei isso é uma característica de todas as novelizações – por eliminar todas as referências ao futuro com a Abstergo e o Animus. Ainda há os elementos de ficção científica, como a Maçã do Éden, porém A Cruzada Secreta foca apenas no passado. Mas ainda existe uma moldura narrativa presente pois a história é contada por Niccolò Polo, pai do famoso Marco Polo, que nesse universo teve contato com o Altaïr já no final da sua vida.
A minha expectativa com A Cruzada Secreta era que o livro exploraria mais o personagem do Altaïr para além do que eu já havia visto nos jogos. A princípio é o que acontece. A história começa muitos anos antes de Altaïr se tornar um Assassino, logo após uma missão executada pelo seu pai. Embora tenha sido um sucesso, um informante é capturado e o pai de Altaïr decide trocar a sua vida pela dele. O informante era pai de Abbas Sofian, personagem que aparece no primeiro jogo e que ganha mais proeminência nos flashbacks de Revelations.
Esse seria o catalisador para o início da amizade entre Altaïr e Abbas e depois a sua rivalidade. Algo que eu nunca achei que ficou tão claro nos jogos, diga-se de passagem. De longe essa é uma das melhores partes do livro e a trama ganha muito quando explora essa relação. Contudo, a narrativa vai decaindo quando fica evidente que A Cruzada Secreta não pretende tirar qualquer proveito do seu formato e se limita a traduzir a jogabilidade do original para uma mídia escrita.
Nesse ponto, eu acabei tendo a mesma experiência com livro que eu tive no jogo. Ele começa muito bem, mas passa a repetir a fórmula de ir até um determinado local, eliminar um alvo e partir para o seguinte. Isso deixa a história repetitiva e monótona. Diria que no livro é até pior porque eu saí com a impressão que todos os personagens, com exceção de Altaïr, ficaram menores do que na versão original. A trama corre muito, quase como se o autor estivesse fazendo speedrun para chegar nos pontos principais da missão. Muitos capítulos começam, “desenvolvem” e concluem um dos assassinatos em pouquíssimas páginas, não dando qualquer espaço para você conhecer mais dos alvos.
A Cruzada Secreta acaba se tornando uma espécie de “detonado em prosa” de Assassin’s Creed para se manter fiel à estrutura do jogo. Isso para mim é um enorme demérito porque não traz nada de muito novo para a mesa. Na verdade, traz até menos.
Na primeira parte da história ainda existem momentos que exploraram o passado de Altaïr, então temos algo diferente para se investir. Já na segunda, em que se contam os eventos de Bloodlines, a estrutura fica ainda mais aparente. A ponto que essa parte parece até ser o roteiro real do jogo. Por isso que os últimos capítulos, baseados em Revelations, são os melhores ao meu ver. Por ter informações mais limitadas na versão original, o Bowden tomou maiores liberdades criativas nesse arco. Portanto, conseguimos ter um Altaïr mais complexo cheio de mágoas, arrependimentos e precisando tomar responsabilidades pelos seus erros no passado.
Quando o livro não está tentando ser uma descrição do jogo, ele brilha. O problema é que isso não acontece em no mínimo dois terços das suas páginas. Assim, aquela minha teoria do começo cai por água abaixo. Bom, talvez não totalmente. Acredito que, se Assassin’s Creed: A Cruzada Secreta tentasse de fato ser um livro e não uma mera recapitulação dos eventos dos jogos, haveria um enorme potencial para essa história. Mas do jeito que foi contada, é como estar ouvindo alguém falar de um jogo que te parece interessante e você se questiona se não era melhor parar de escutar e ir testá-lo por conta própria.
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