Em 1989, o diretor Tim Burton trouxe o Batman de volta as telas de cinema no seu filme homônimo com Michael Keaton assumindo o manto do super-herói. Foi um grande sucesso comercial para época – hoje 400 milhões de bilheteria fariam os produtores pular da janela – o que garantiu que anos depois houvesse uma sequência, Batman: O Retorno (Batman Returns, 1992). Burton veio mais uma vez para direção, dessa vez conseguindo mais controle criativo sobre o filme. Keaton reprisou o seu papel ao lado da Michelle Pfeiffer como a Mulher-Gato e Danny DeVitto como o Pinguim . Contudo Batman: O Retorno não conseguiu replicar o sucesso do seu antecessor, comercialmente falando. Por outro lado, o impacto cultural do se alastrou para muito além da década de 90.

Nos vídeo games os anos 90 também tem seu importância. Eles marcam um novo período de grande produção de jogos licenciados que não gozavam de boa reputação desde a década anterior. Evidentemente que um ícone feito o Batman não poderia ficar de fora dessa nova leva. O filme de 89 já tinha recebido algumas adaptações para os consoles da Sega e da Nintendo e o mesmo se repetiu com a sequência. Dentre os vários jogos derivados do filme, para mim, um se sobressai:

Batman Returns, beat'em up feito pela Konami em 1993 e um dos melhores jogos do Batman
Esse é GOTY!

Batman Returns é um jogo desenvolvido pela Konami no tempo que a empresa ainda nos trazia alegria e bons títulos. Ele foi lançado para Super Nintendo em 1993 divergindo da versão de DOS que a empresa lançou no ano interior. Este era um jogo de aventura point and click enquanto o de Super Nintendo foi por uma linha de beat’em up.

Olha, eu até gosto bastante do filme do Tim Burton pois ele foi um dos primeiros contatos que tive com personagem. Mas a minha real paixão é pelo beat’em up a ponto que o considero, sem qualquer exagero, um jogo perfeito. Para minha infelicidade, as coisas se movem rápido demais na indústria e comunidade gamer e muitos jogos dos consoles mais antigos perdem seu espaço independente da qualidade. Hoje a referência que se tem do Batman nos vídeo games se concentra muito nos títulos da série Arkham, que realmente entregou bons jogos e o Batman: Arkham Knight. O problema é que tudo do morcegão que veio antes dessa série acabou sendo jogado para segundo – talvez até terceiro – plano.

Por esse motivo que eu acho importante reforçar como esse singelo beat’em up segue como um dos melhores jogos do Batman já feitos. Seus visuais, trilha sonora e jogabilidade não são nada menos do que excelentes e continuam sendo trinta anos após o lançamento do jogo. Claro que podem achar que é apenas um deslumbre nostálgico, mas eu não viria aqui falar dele se não trouxesse comigo argumentos.

Batman Returns é bom, muito bom, extremamente bom porque ele usa o melhor material possível para a sua gameplay. Ao meu ver isso deve-se ao fato que especificamente o Batman de 92 era a escolha mais ideal para protagonizar um beat’em up. Apesar da gente não associar o Michael Keaton a figura dos clássicos brucutus oitentistas, o Batman dele é essencialmente um. Ele está bem longe de ser aquele ninja vestido de homem-morcego que sai dando pirueta para lá e para cá tal como nos jogos de Arkham. O Batman do Keaton é um sujeito bruto, literalmente pé no chão, que está pronto para rebocar no soco o primeiro capanga que moscar na frente dele. Portanto essa interpretação cabe como um luva dentro do contexto do gênero de Batman Returns.

Outro aspecto no qual o filme se mostra uma escolha tão certa está numa das suas principais qualidades. Por um lado o roteiro de Batman: O Retorno dividi opiniões. Já a trilha sonora composta pelo Danny Elfman é praticamente um consenso de ser fenomenal*, elogio este que também cabe aos visuais criados pelo Tim Burton e sua equipe. É justamente nesse último item que eu vejo o jogo tirar seu maior proveito.

*a trilha sonora do jogo é fantástica igual!

Ao fazer uma adaptação de qualquer mídia para vídeo games julgo que um dos maiores problemas está em como expandir o original para que ele funcione como uma gameplay. No caso dos beat’em ups, onde a jogabilidade está fadada a uma certa repetição, é necessário ter uma boa quantidade de inimigos para não tornar o jogo monótono para o público. O mesmo vale para os cenários/fases e geralmente é onde os game designers vão tomar mais liberdades artísticas.

Mas isso não quer dizer sair inventando qualquer coisa para fazer volume, é algo que deve ser pensado com cuidado. Mighty Morphin’ Power Rangers: The Movie, de Mega Drive, por exemplo, falha muito nisso. Não só o jogo repete os mesmos inimigos várias e várias vezes, a maior parte das fases são amontoados de episódios que não tem qualquer relação com o filme, tão somente para aparentar que o jogo tem mais conteúdo. E como Batman Returns se saí nesse departamento? Eu diria que muito bem!

Botei mais empenho em montar esse comparativo do que em muita disciplina na faculdade

Acontece que a equipe do Tim Burton foi tão criativa, mais tão criativa, na construção da gangue do Pinguim, que o jogo não encontrou qualquer dificuldade para conseguir montar um rol de inimigos. Praticamente todo capanga do Pinguim do filme é convertido num inimigo comum ou então num chefão. Mas não apenas os personagens, as fases e as cenas de transição entre elas se esforçam para ilustrar os eventos do filme numa forma mais linear. Não de qualquer jeito igual o beat’em up dos Power Rangers, em Batman Returns existe uma coesão narrativa ainda que não fosse necessário para esse tipo de jogo.

Obviamente ele abandona os temas da história do filme e foca nos elementos estéticos, mas existe sim uma progressão orgânica de roteiro dentro jogo. Você sente que cada fase leva a outra sem fazer uma elipse muito absurda entre os cenários. Fora que, agora num sentido mais prático, tiveram uma boa sacada de adicionar seções de plataforma side-scroller, até mesmo em alguns chefões, para variar ainda mais gameplay. Além de uma pontual fase com o Batmóvel que é muito mais do que bem-vinda e não satura feito uns jogos aí. Sim, eu sou o hater #1 de Batman: Arkham Knight!

Ainda falta comentar um ponto, pois o que é um beat’em up sem um combate ímpar? Por conta do seu atual histórico eu não gosto de elogiar muito a Konami, entretanto em Batman Returns ela fez o dever de casa bem demais. Dizer que ele tem uma das melhores jogabilidades do seu gênero é até pouco. O jogo consegue com maestria combinar uma variedade de movimentos e recursos do Batman que tornam o combate uma delícia de se jogar.

Você tem seus golpes padrões como um combo simples, voadora, bloqueio e o icônico desperation attack. Mas o melhor está nas suas particularidades próprias, como ter a disposição uma espécie de granada de concussão que pode ajudar o jogador a sair de situações mais desesperadoras sem sacrificar o tão valioso HP.

Outros movimentos derrubar motoqueiros ou atordoar inimigos com o batrangue, tacá-los contra as paredes e, o meu favorito, socar dois capangas um no outro. É um “briga de rua” com o Batman e essa frase sozinha deveria ser o bastante para convencer qualquer pessoa em plenas faculdades mentais.

Então se você nunca teve a chance de jogar Batman Returns no seu Super Nintendo, ou no do seu coleguinha ou porque você é de uma geração mais nova que nem sabia da existência desse jogo, faça esse favor a si mesmo. A dificuldade pode ser um pouco assustadora a princípio. Me lembro que a primeira vez que eu enfrentei a Mulher-Gato quando era mais novo eu parei de jogar por uns dias. Mas como todo bom beat’em up, logo você pega as manhas de forma natural e consegue avançar cada vez mais longe perdendo cada vez menos vidas. É um jogo que considero obrigatório para fãs de beat’em up, para fãs do Batman e também para pessoas normais.


PS: não deixem de assistir o filme. Tem uma galera desmamada a trilogia do Nolan que torce o nariz para ele, mas acho isso uma injustiça. As sequências de ação podem deixar a desejar para os padrões modernos, mas o filme compensa isso com muita personalidade. É um trabalho bem mais autoral do que o filme de 1989 e que tira ótimas performances do seu elenco. Já falei que tanto a trilha sonora quanto os visuais do Tim Burton são os pontos altos dessa versão do Batman e reforço-as aqui. Além disso, a Michelle Pfeiffer de Mulher-Gato é absolute cinema!!!

Michelle Pfeiffer como Mulher-Gato em Batman: O Retorno, filme de Tim Burton

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