Desde o ano passado eu resolvi adotar a tradição de fazer uma retrospectiva dos jogos favoritos que eu zerei. Porém, uma característica das minhas jogospectivas é que elas tendem a ficar muito extensas já que eu tenho dificuldade de decidir quais eu gostei mais. Na Jogospectiva 2022, eu comecei querendo fazer um Top 5 e acabei escolhendo 16. Para a Jogospectiva 2023 o número subiu pra 20. Na verdade mais de 20! Afinal não é uma lista minha se não rolar alguma trapaça, né? Mas em minha defesa, eu já falei que para mim é impossível fazer qualquer Top 5.
Antes de entrar na lista, vamos a uns comentários rápidos:
Uma coisa que vai ficar bem aparente em relação ao ano anterior é que a Jogospectiva 2023 é majoritariamente de jogos de computador. Esse ano escolhi focar no meu backlog da Steam por isso joguei pouquíssimas coisas de consoles antigos, então não tinha muito o que colocar na lista. Ano que vem eu vou tentar diversificar mais, porque Deus me livre das pessoas pensarem que sou PC gamer.
Para a Jogospectiva 2023 ainda continua valendo a mesma regra da anterior e penso em tornar isso padrão: eu escolho somente entre os jogos que eu pela primeira vez nesse ano. Os jogos de Aladdin do Super Nintendo e do Mega Drive, por exemplo, ficaram de fora. E eu só chamei atenção para isso como uma desculpa para linkar o texto que fiz deles aqui. Falando em links, se preparem. Eu vou tirar qualquer oportunidade para mencionar um texto desse ano bem como fazer uma divulgação pros meus conhecidos e colegas de produção de conteúdo.
Para finalizar, um aviso rápido: no começo de janeiro deve rolar um texto pessoal comentando as minhas reflexões sobre esse um ano de Backlogger. Nesse texto pretendo dividir também quais são minhas perspectivas para o futuro do blog, mas já garanto que ele vai continuar ativo em 2024. Ainda tem muita coisa que quero falar sobre, então não vai faltar pauta.
Com isso encerro os comentários introdutórios banais e podemos partir para os jogos:
1. VAMPIRE SURVIVORS – ROGUELIKE – 2022
Ter um roguelike na minha lista (na verdade mais de um) é uma surpresa para quem me conhece. Nas minhas redes eu não escondo o desprezo que sinto por esses jogos e essencialmente é esse o motivo de incluir Vampire Survivors. Se até eu consigo gostar desse jogo tem que haver algo de especial nele.
Eu não tenho, e nem quero ter, repertório nesse estilo de gameplay para saber o quanto ela já estava consolidada, sobretudo na cena indie, mas acho que posso dizer com segurança que Vampire Survivors foi um dos jogos de maior sucesso nessa área. Ele é simplesmente viciante e não tem outro jeito de descrevê-lo. Você começa jogando uma partidinha ou duas e quando percebe já se passaram mais de três horas. Ao mesmo tempo que é uma jogabilidade simples, ela ainda consegue ser muito instigante. Seja pelos personagens desbloqueáveis, a variedade de armas & fases e os modos que não deixam as partidas cair na mesmice.
Obviamente isso tem um preço, pois o jogo não tem muito valor de replay a longo prazo. Como mencionei no meu texto na época, por mais viciante que Vampire Survivors seja, uma vez que você para de jogar você para de vez. Até hoje com o conteúdo novo que saiu e que está para sair pro jogo eu não sinto a menor vontade de instalá-lo novamente. Já tirei tudo que poderia tirar dessa experiência, mas foi divertida enquanto durou!
2. FOUR LAST THINGS / THE PROCESSION TO CALVARY – AVENTURA POINT ‘N CLICK – 2017/2020
Eu conheci Four Last Things pela sua sequência, The Procession to Calvary, que me foi recomendada pelo meu amigo PC, anteriormente conhecido como Jogando Sem Hype. Que aliás está me devendo um episódio extra no podcast dele. Sim, PC. Eu coloquei esse jogo na lista só para te cobrar!!! Ok, não foi apenas isso e sim porque aventura point ‘n click é um dos meus gêneros favoritos e é obrigatório ter um dele todo ano aqui.
Em termos de puzzles nenhum deles se sobressai tanto assim, além de serem bem curtos. Acho que não gastei mais do que umas 4 horas para zerar os dois jogos. Mas isso não importa porque os dois pontos mais interessantes do jogo são sua estética e o seu senso de humor bem ácido. O jogo utiliza pinturas da época da Renascença na sua direção artística, algo bem inusitado que até então eu não tinha visto em outro lugar.
Sobre o senso de humor, existe muita piada com religião que, em especial a católico, por conta das inspirações das pinturas. Não acho que nem Four Last Things e nem The Procession to Calvary estão debochando ou sendo maldosos com a fé alheia, mas como convivo com pessoas que são bem sensíveis nesse tópico, fica aí o aviso para você não jogar ao lado da sua tia que vai na missa todo domingo. Por que isso soa como experiência própria?
3. DOKI DOKI LITERATURE CLUB! – VISUAL NOVEL – 2017
Eu não jogo visual novels. Não tenho nada contra, eu só não tenho a paciência necessária e também odeio de ler muito pelo computador. RPG já me dá dor de cabeça, o que é irônico visto que esse é um dos gêneros que eu mais gosto. Mesmo assim, até eu que não sou desse nicho conhecia a fama de Doki Doki Literature Club!, o bastante para saber como você deveria jogá-lo tendo o mínimo de conhecimento sobre a sua história.
É por isso que eu não entrarei em maior detalhes e somente vou deixar aqui a recomendação, porque a reviravolta desse jogo é uma surpresa e tanto. Então o tópico dele vai ficar intencionalmente curtíssimo para não estragar a jogatina de ninguém.
Não acho que ele sirva como uma boa introdução às visual novels, já que não é a apresentação mais adequada do gênero. Eu mesmo não tive muito interesse em explorar outras visual novels depois dele. De qualquer forma, se você não for um daqueles babaquinhas que torce o nariz quando o jogo tem mais de cinco linhas de diálogos e demanda que você preste atenção no texto, é uma experiência ótima de se ter. Não pesquise mais nada sobre Doki Doki Literature Club! e apenas vá na fé.
4. KATANA ZERO – AÇÃO – 2019
Foi aqui com Katana Zero que eu comecei a esvaziar parte do meu backlog em 2023. Esse eu estava bem ansioso porque era um indie que eu só ouvia coisas boas. E realmente só tem coisas boas para falar sobre ele. E eu falei coisas boas sobre ele. Porém nenhuma dessas coisas boas é a jogabilidade. Isso não foi uma hot take, porque a jogabilidade de Katana Zero é excelente. O que eu disse é que eu realmente não falei muito sobre as as mecânicas do jogo.
A gameplay de Katana Zero é bem frenética e tem um valor de replay bom para quem quer tentar fazer as fases em menos tempo ou seguindo diferentes estratégias. Porém não é isso que mais me fascinou no jogo. São seus elementos estéticos e narrativos que me mantiveram vidrado nele. O uso do retrô não é uma mera gimmick e está profundamente conectado a sua atmosfera, principalmente na trilha sonora com suas faixas de synthwave.
É na narrativa que o jogo me ganha – e isso não é nenhuma surpresa – mais ainda com todas as lacunas nela. A maioria das pessoas não gosta quando uma história deixa partes sem explicações ou ficam ambíguas, contudo para mim isso combina 100% com os temas do jogo como um protagonista com amnésia e uma droga que altera sua percepção do tempo. Não saber de tudo é que torna essa experiência melhor e por isso eu nem ligo se nunca houver uma DLC. Mas pode vir sequência que meu corpo está pronto!
5. MAYHEM BRAWLER – BEAT’EM UP – 2021
Esse ano eu joguei uma quantidade surpreendentemente (para mim) de beat’em ups. Alguns clássicos, alguns modernos, alguns que as pessoas nem sabem que existem. Dentre eles esteve Streets of Rage 4, que numa questão puramente técnica deve ser o melhor que eu joguei. Contudo não o incluí na lista afinal ele não precisa de mais uma recomendação. Portanto resolvi ceder o espaço a quem pode se beneficiar mais e eis então Mayhem Brawler.
Esse foi mais um jogo me apresentado por um amigo, dessa vez o Savino – Twitter, canal do Youtube e revista digital dele aqui – que também fez questão de me presentear com o jogo na Steam. Como eu não sou nenhum grande conhecedor da arte do “briga de rua” não vou me atrever a falar o quão bom é a jogabilidade de Mayhem Brawler, só quero dizer que ele é um jogo que eu fico grato que exista. Ele, tal como outros indies, mostram que ainda há potencial para o os beat’em ups side scrollers ressurgirem sem precisar de uma propriedade intelectual popular envolvida.
Outra característica que para mim faz valer a experiência de Mayhem Brawler está no seu cenário construído num universo de fantasia urbana com uma linguagem de quadrinhos. É um subgênero que eu não tenho tanto contato e que foi agradável conhecer através desse jogo. Ah, e uma sequência já está em andamento então é mais um incentivo para jogá-lo.
6. INSIDE – PLATAFORMA – 2016
Inside era um jogo que estava há tempos pegando poeira digital na minha biblioteca. Eu gosto de Limbo, o jogo anterior da Playdead, mas é mais pela direção artística em preto e branco e fato de eu ter um fraco por jogos de plataforma do que pelo jogo em si. Inside, por outro lado, eu adorei de coração pelo que ele é!
Ao meu ver a “sequência” foi muito mais eficiente na construção do seu universo e na sua narrativa. É outro jogo cuja a história não está tão interessada em dar uma resposta única ao jogador e sim convidá-lo a criar diversas interpretações e leituras de acordo com a sua imaginação. E dessa vez me parece algo de caso pensado, ao contrário de Limbo que até hoje eu fico com a impressão que é um jogo que só se vale pelo simbolismo e que os autores não tinha uma plena noção do que queriam fazer com ele.
Comentando brevemente sobre a jogabilidade, gosto bastante como os controles e a solução de puzzles surgem de forma bem natural. O jogo te respeita o bastante para que você compreenda o que se deve fazer apenas prestando atenção no ambiente sem dicas visuais muito gritantes. Uma plataforma de puzzle muito interessante e é uma pena que próximo título do estúdio não será em 2D. Mas é o jeito, o mercado gamer é muito ingrato.
7. BLOOD: FRESH SUPPLY – FPS – 2019
Acho que foi ano passado, ou o retrasado, que joguei o clássico Doom de 1993. Com isso fiquei com vontade de experimentar outro título antigo que foi inspirado nele, contudo não sabia por onde começar. Então foi esse ano que uma postagem no Twitter destravou uma memória e eu me lembrei que em algum momento da vida eu vi alguém jogar Blood de 1997. Possivelmente o meu primo que foi porta de entrada para muitos jogos na minha vida. Conferi na Steam, vi que vendiam o remaster, Fresh Supply, comprei, instalei, zerei e fui feliz.
Eu não sei se chega a ser uma opinião impopular, porém é uma preferência pessoal inofensiva: para mim Blood varre o chão com a cara de Doom. Ok, exagerei um pouco porque ambos são excelentes clássicos do FPS. Só que gosto muito mais de Blood. Óbvio que ele foi influenciado por Doom, contudo soube criar sua própria personalidade. A atmosfera tem um terror bem genuíno, o senso de humor sombrio lotado de referências a cultura pop funcionam bem e o level design é primoroso.
Hoje os boomer shooters mantém vivo o legado desses clássicos, porém eles ainda existem então vale a pena conhecê-los. Então tal como eu você está em dúvidas por onde ir além da escolha mais segura de Doom, Blood: Fresh Supply está esperando por você!
8. SAM & MAX HIT THE ROAD – AVENTURA POINT ‘N CLICK – 1993
Eu estava em dúvida se colocava na lista Full Throttle ou Sam & Max Hit the Road, dois clássicos da LucasArts que eu fui jogar só agora. Mas olhando no meu coração eu sabia que deveria ir com o segundo. Eu não conheço os personagens criados pelo Steve Purcell além dos seus nomes, mas estou sempre a favor de obras que satirizem a cultura americana. E em termos de de jogo de aventura, também acho que Sam & Max levam a melhor em relação a Full Throttle.
Acho que não tem forma mais perfeita de descrever Sam & Max Hit the Road do que “um desenho animado jogável“. Isso porque além das excelentes animações e dublagem, muitos dos puzzles desse jogo tem soluções que refletem a lógica desse desenhos e histórias em quadrinhos. Dependendo do ponto de visto isso pode ser tanto um ponto positivo quando negativo, pois admito que tem alguns puzzles que são frustrantes de se resolver exatamente pelo surrealismo do material base.
Independente dessa dificuldade, isso não diminui o fato que Sam & Max Hit the Road é um dos melhores títulos da LucasArts que mostra todo o talento que o estúdio tinha para fazer grandes jogos de aventura antes de se tornar uma mera publisher de jogos de Star Wars.
9. TRILOGIA LEGION SAGA – RPG – 2001-2002
Esse ano eu decidi revisitar o RPG Maker que eu havia abandonado há um tempo. Em parte foi pro nostalgia, mas também porque acredito que pouca gente fala desse pedaço da história dos vídeo games. Isso levou há alguns textos aqui no blog dedicados a Heart and Soul, Saint Seiya RPG: Asgard Chapter, Ariela, Ahriman’s Prophecy, entre outros. Nesse ‘outros’ se encontra a trilogia de Legion Saga, uma das poucas séries de jogos de RPG Maker que teve mais de um capítulo com começo, meio e fim.
Feito pelo maker gringo Kamau, Legion Saga era um dos títulos mais populares dentro das comunidades de RPG Maker do início dos anos 2000. Inclusive aqui no Brasil porque alguns membros dos fóruns mais antigos traduziram o jogo para português. Legion Saga conquistou o público primeiro porque eram jogos completos, que até hoje é raridade de acontecer, e também porque eram bem feitos. Não bem feitos pro RPG Maker, eram jogos bem feitos e ponto!
O Kamau tirou uma evidente inspiração da franquia de Suikoden e já demonstrava um olho muito bom para o game design. O roteiro é bem inscrito, mapas bem desenhados, cada novo capítulo trazia novidades para franquia. Se existem jogos que podemos chamar de clássicos do RPG Maker, Legion Saga é certamente um deles e vale muito a pena para conhecer a história dessa engine e a cultura que se formou ao redor dela.
10. POWER RANGERS: BEATS OF POWER / TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES: RESCUE-PALOOZA / CAVERNA DO DRAGÃO / AVENGERS: UNITED BATTLE FORCE / KNIGHTS & DRAGONS: THE ENDLESS QUEST – BEAT’EM UP – 2013-2021
Agora vem a trapaça máxima! Alguns anos atrás eu tomei conhecimento da engine de OpenBOR que é utilizada para criação de beat’em ups tal como o RPG Maker para – obviamente – RPGs. Porém foi só esse ano que eu resolvi conhecer um pouco mais da plataforma e testar alguns títulos variados. Um deles foi o jogo que iniciou tudo, Beats of Rage, cuja engine virou o OpenBOR. Apesar dos maravilhoso gráficos ripados de The King of Fighters, em gameplay ele é bem cru, mas vale pelo valor histórico.
Depois disso muita gente talentosa e criativa foi chegando a plataforma e hoje tem excelentes fangames das mais variadas propriedades intelectuais. Power Rangers: Beats of Power, Caverna do Dragão, TMNT: Rescue-Palooza, Avengers: United Battle Force e Knights & Dragons: The Endless Quest. Esses são os cinco que eu mais gostei dentre todos os que joguei. Não vou poder falar de cada um deles porque senão a Jogospectiva 2023 vai ficar muito maior do que já está e acabamos de chegar na metade.
No meu texto “Conhecendo o OpenBOR em 7 jogos“ vocês podem encontrar mais alguns títulos, inclusive o link para download de cada um deles. Aproveito para mencionar que o Douglas Baldan, criador do fangame de Avengers, está com um novo projeto, Power Rangers: It’s Morphin’ Time, em colaboração com alguns amigos dele. Vale a pena conferir. O Merso X fez o jogo das Tartarugas Ninja e o Beats of Power também está com um projeto, esse original, chamado Buccanners: Shipshape que você já pode por na lista de desejos lá da Steam.
11. SONIC THE HEDGEHOG 3 – PLATAFORMA – 1994
Em mais uma das minhas “hot takes que não são bem hot takes”, eu não ligo para existência da franquia de Sonic. Isso não quer dizer que eu não reconheça a importância tanto dos jogos quanto do personagem para o gênero de plataforma e seu impacto na cultura pop. Eu apenas sempre fui mais tendencioso para o lado de Super Mario e Mega Man que acho títulos muito melhores. Mesmo assim, pelo interesse na história dos jogos de plataforma eu joguei os três primeiros Sonic’s esse ano.
Continuo não ligando para a franquia, porém posso dizer que entendo melhor o porquê de tanta gente gostar dela. O primeiro eu jamais irei defender e se me derem a chance eu apago ele da história, mas tanto o segundo e principalmente Sonic the Hedgehog 3 são jogos que eu gostei bastante. Dá para ver a evolução em cada um deles e, para mim, foi no terceiro que a série atingiu seu modelo ideal.
Tudo ali está na dose perfeita. Jogabilidade, gráficos, trilha sonora, level design. Não tem o que botar defeito. Até mesmo o jogo consegue criar pequenas narrativas dentro de um mesmo mapa e na transição de uma fase para outra que o torna mais satisfatório de jogar. Então, fãs de Sonic da internet a fora, eu os entendo agora. Porém ainda mudarei de calçada se ver vocês na rua!
12. GHOST OF A TALE – STEALTH – 2018
Graças a Ghost of a Tale eu estou falido. Eu precisava de uma nova placa de vídeo (e depois precisei de uma nova fonte) e calhou de eu comprar quando estava a fim de jogar essa pequena aventura de um pequeno camundongo. Não sou tão chegado a stealth porque sou uma pessoa muito impaciente e destrambelhada que até mesmo em jogos eu consigo me atrapalhar. Mas quem sou eu para dizer não a um camundongo tão fofo como o Tilo?
Em jogabilidade o jogo não é tão complexo assim, você tem todas as mecânicas básicas que esperaria de um jogo stealth. Você se esconde nas sombras, nos móveis, joga objetos para distrair ou incapacitar os jogos e corre muito quando é visto. O mais legal mesmo é o universo robusto que Ghost of a Tale constrói, mesmo que o mapa não seja gigantesco. Mas também não é pequeno!
A única rusga que eu tenho com o jogo é que ele se apoia demais em fetch quests e é extremamente fácil fugir dos guardas quando você é visto. Então não rola aquele pânico quando você está sendo procurado. Mas talvez isso tenha sido intencional porque você vai ter que andar muito pelo mesmo mapa a procura de itens, então se fosse mais difícil tenho certeza que ninguém se motivaria a ir até o fim do jogo.
13. EN GARDE! – AÇÃO-AVENTURA – 2023
Tinha que ter pelo menos um jogo desse ano, né? Teve Dave The Diver também, porém decidi deixar ele de fora da lista porque a parte do restaurante ainda me dá raiva. Então a posição ficou para En Garde! que tem seu texto próprio aqui. Esse foi mais outro jogo que conheci por intermédio de um amigo. Agora foi a vez do Raxyz – que recentemente se embrenhou nessa selva digital do YouTube – que um dia compartilhou o trailer no Twitter e eu me interessei de imediato.
Eu adoro a energia de filmes swashbucklers na qual En Garde! toma uma clara inspiração. Não é a toa que por causa dele eu fiz uma maratona de filmes passando por uns 90 anos de cinema. Portanto numa questão de ambientação e tom eu já tinha tudo pra gostar do jogo. Mas mais ainda eu gostei da jogabilidade. En Garde! é bem curto, muito curto até, e não chega a ter muito desafio principalmente no lado de plataforma. Porém o combate é outra história!
O ambiente em volta da luta é uma arma. Você pode empurrar inimigos de escadas, jogar baldes na cabeça deles, fazê-los escorregar, explodir um caldeirão que cai cartunescamente sobre eles, etc. A diversão do jogo é usar todos os recursos ao seu redor para criar caos e derrotar seus inimigos com mais facilidade. Poderia ter mais algumas fases, espero que um dia lancem uma expansão, mas já garante umas boas horas de entretenimento.
14. HADES – ROGUELIKE – 2020
Se Vampire Survivors entrou não lista não teria como deixar Hades de fora, né? Até porque ao contrário do primeiro que eu achei divertido, com Hades eu realmente amei o jogo. Mas aqui preciso ser transparente, porque as chances de eu gostar muito dele eram altas antes mesmo de jogá-lo por conta da minha “fraqueza” com mitologia grega.
Não há muito que eu possa adicionar sobre Hades já que ele é um dos indies mais aclamados e não apenas de 2020. Gostei bastante do combate, principalmente da curva de aprendizagem notável que ele tem e a variedade de armas e combinações com as bênçãos dos Deuses do Olimpo que dá para fazer. Porém vocês já devem imaginar o que foi de fato que me prendeu nesse jogo, não é mesmo?
O que eu achei de mais fascinante foi a forma como Hades incorpora a natureza repetitiva da sua jogabilidade na narrativa do jogo. Cada nova tentativa de escapada você realmente sente que está aprendendo um pouco mais daquele universo e dos seus personagens, então é como o mundo dele estivesse em constante atualização. Não é a toa que eu larguei dele apenas depois que conclui boa parte das linhas narrativas do elenco.
15. BLAZING CHROME – RUN ‘N GUN – 2019
Esse foi o ano que decidi zerar o catálogo do estúdio indie brasileiro JoyMasher. Os seus primeiros jogos, Oniken e Odallus: The Dark Call, receberam um texto em conjunto enquanto Vengeful Guardian: Moonrider teve o seu individual. Já o meu favorito que foi Blazing Chrome eu reservei um espacinho na minha série de Game Cuts e agora um segundo na Jogospectiva 2023.
Para mim Blazing Chrome é até o momento o ápice da JoyMasher na sua filosofia do “we know retro”. De todos os seus quatro títulos ele é o que melhor representa a estética dos jogos da década de 80 e 90, que no texto dele eu chamo de “oitento-noventismo”. É uma ação pura e frenética no melhor estilo de run ‘n gun possível. Pode ser frustrante em algumas passagens e por pode eu quero dizer que será frustrante. Mas quem sofreu com Contra no Super Nintendo está preparado para qualquer coisa.
Eu até poderia elogiar aqui os gráficos, mas isso aí é chover no molhado porque todos os jogos da JoyMasher tem uma direção artística retrô fenomenal. Então vou dedicar os elogios a trilha sonora que é fantástica, sobretudo a dos créditos finais que se eu fechar os olhos me sinto num filme da década de 80. Eu recomendo o catálogo todo do estúdio – Vengeful Guardian: Moonrider com ressalvas – mas se você só está podendo adquirir um jogo, vai no Blazing Chrome que é sucesso.
16. VILA DO NEVOVEIRO – SURVIVAL HORROR – 2008
Já que eu falei de um clássico gringo do RPG Maker não poderia faltar um clássico brasileiro: Vila do Nevoeiro, que completou 15 anos em 2023. Eu era um membro ativo da antiga RPG Menace quando o Triskal, criador de Vila do Nevoeiro, iniciou o desenvolvimento. Porém deixei a comunidade antes do seu lançamento em 2008. Esse era um projeto que chamou muita atenção do pessoal na época por conta dos seus gráficos pré-renderizados que o faziam parecer com os primeiros jogos de Resident Evil e Silent Hill.
Como muito dos jogos de RPG Maker brasileiros, Vila do Nevoeiro praticamente se perdeu no tempo e poucas pessoas – como o canal do Lavanda – se lembram dele. Menos ainda falam alguma coisa sobre esse jogo. Assim ele configura mais um dos títulos brasileiros obscuros que a gente só pode sonhar que tenham algum reconhecimento um dia. Por isso estou aqui fazendo minha parte divulgando a sua existência.
A jogabilidade de Vila do Nevoeiro está longe de ser perfeita, até porque o RPG Maker no máximo permite que você consiga simular um jogo 3D. Então os controles tem seus problemas, o ataque é meio travado e ainda tem vários erros de português. Mas ele tem uma narrativa enigmática intrigante, a sua atmosfera é tensa e a direção artística é no mínimo curiosa. Vale destacar também que atualmente o Triskal tem um novo projeto: máReligião. Ainda tem pouquíssimo material sobre o jogo, mas torço para ele conseguir concluí-lo.
17. REDO! – METROIDVANIA – 2019
Joguei pouquíssimos metroidvanias esse ano, um erro que tentarei corrigir em 2024. Mas pelo menos joguei um que gostei bastante, sobretudo por uma qualidade específica do seu modo de New Game Plus. E pra melhorar foi um projeto brasileiríssimo, um cenário que eu vou tentar dar mais espaço aqui no blog sempre que possível. Então, eis aí REDO!
Esse é um metroidvania bem simples. O mapa não é muito extenso e não tem tanto backtrack para fazer assim. Só tem dois itens que você precisa pegar para liberar o acesso a todas as áreas então fica bem fácil de você navegar de um lado pro outro e se lembrar para onde deve voltar. REDO! tem uma atmosfera melancólica ótima e mais uma daquelas narrativas meio enigmáticas que capturam muito a minha atenção.
Outro fator que faz REDO! ser muito bom de testar é, como falei, seu modo de New Game Plus. Ele muda a localização de alguns itens e inimigos, além de bloquer algumas passagens. Dessa forma que você precisa redescobrir toda uma nova rota para prosseguir no jogo de um jeito que faz parecer que você está de fato tendo uma jogatina diferente e não apenas um pouco mais desafiador. E tem uma sequência a caminho também!
18. ZNIW ADVENTURE – AVENTURA POINT ‘N CLICK – 2020
Recomendar joguinhos de aventura point ‘n click nunca é demais, ainda mais quando é um joguinho tão adorável quanto Zniw Adventure. Jogo charmoso, com um humor leve, um universo carismático e com uma energia que te faz se sentir num desenho matinal.
A história começa de maneira simples, com você tentando fazer a dinossaura Zniw voltar para casa a tempo do aniversário da mãe depois de que uma série de desventuras que fizeram ela parar no meio da floresta. O jogo parece que vai ficar nessa linha, mas da metade para frente segue por uma trama um cadinho mais complexa.
Nos seus gráficos Zniw Adventure utiliza uma técnica que desde os tempos de Curse of the Monkey Island eu gostaria que tivesse em mais jogos. Falo da boa e velha animação tradicional, também conhecida (eu acho) como “desenhada a mão”. Essa é a principal qualidade para jogá-lo e o que dá a sua enorme carisma. A jogabilidade também é bem tradicional do gênero, com a diferença que você tem um inventário limitado. Contudo isso raramente te atrapalha porque você consegue expandi-lo e não tem tantos itens assim para pegar no jogo. Mas enfim, isso tudo não importa, dessa vez é para jogar pelos gráficos sim. Além disso, é outro que tem uma sequência em andamento.
19. TREK TO YOMI – AÇÃO – 2022
Era evidente que em algum momento da minha vida eu iria jogar Trek to Yomi pois é um jogo feito para mim. Há muito tempo que eu adoro os filmes do Akira Kurosawa que foi uma das principais inspirações para o jogo e no momento que eu vi aquela estética de filme em preto e branco eu sabia que era tudo que eu precisava.
Eu já dei minhas ressalvas sobre a jogabilidade e como eu não me importo nenhum um pouco com ela. Eu vim para Trek to Yomi por causa da cinematografia, portanto os tropeços do combate não surtiram tanto efeito em mim como surtiram em outras pessoas. E eu acho que ele não deveria ser impeditivo para ninguém, a direção artística faz valer muito essa experiência.
Mas isso deixa o jogo numa posição ingrata porque o público vai nele por conta da ação e não em todo o aspecto artístico. Então eu até entendo as críticas ao jogo, mas ele continua como um dos meus favoritos do ano. Então peço que deem uma relevada na jogabilidade e foquem nas outras qualidades. Vale a pena!
20. TREASURE OF THE RUDRAS – RPG – 1996
Para fechar com chave de ouro, um dos meus mais novos RPGs favoritos de todos os tempos, Treasure of the Rudras. Eu já estava pensando em jogá-lo desde que descobri que o Heart and Soul, aquele jogo de RPG Maker que eu adoro, tirou a maior parte dos seus gráficos para os personagens e monstros dele. Acabei enrolando um pouco para iniciá-lo, mas consegui zerar a tempo de acabar o ano. E que ótima experiência foi.
Um tremendo clássico do Super Nintendo que infelizmente sofreu o mesmo destino de muitas outras joias do console que não foram conhecidas porque nunca tiveram um lançamento oficial fora do Japão. Mas hoje temos a sorte de conseguir jogá-los graças a grupos como o Aeon Genisis que veem traduzido as ROMs e disponibilizando na internet há muitos anos.
O bacana de Treasure of the Rudras, além do seu sistema de magia que você cria combinando palavras, é como a história foca em três linhas narrativas diferentes com três grupos de personagens principais. Os cenários se tangenciam levemente, porém é só depois de terminar cada um que os protagonistas se unem para derrotar o verdadeiro vilão. É uma tremenda aventura épica e nem chega a ser muito demorado para o incentivar o jogador a completar a história de todos os personagens.
Eu poderia adicionar umas menções honrosas, mas já teve jogo demais e muitos links ao longo do texto que duvido que alguém teria paciência para mais uns parágrafos. Portanto termino aqui a lista e deixo apenas um desejo de um próspero ano novo para todos vocês. Nós vemos daqui uns dias em 2024!
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