Para alguém que supostamente tem nojo de roguelikes eu tô jogando coisa demais nesse gênero, né? Tá certo que foram apenas três jogos num espaço de 12 meses, mas no meu caso isso já muito. Enfim, não viemos aqui falar sobre mim e sim de um jogo: Dino Survivors, um shoot’em up indie com mecânicas de roguelike e, bom, dinossauros!
Vamos começar pelo óbvio: Dino Survivors é um Vampire Survivors com dinossauros. O autor não tentou esconder de ninguém que o seu título descende diretamente do jogo de Luca Galante que foi uma febre em 2022. A jogabilidade é exatamente isso que você pensou ao ler o nome. Durante dez minutos você precisa sobreviver a hordas de dinossauros que vem por todos os lados, utilizando diversos acessórios, upgrades e armas com ataque automático. Não tem nenhuma gimmick especial nem nada, você escolhe seu personagem e bate em dinossauros.
Eu tendo a achar que na maioria dos casos isso vai ajudar a maneirar as expectativas em torno de Dino Survivors. Porém, ao mesmo tempo, com certeza terão pessoas se decepcionando pelo quão derivativo o jogo é. Ainda mais considerando que ele tem muito menos conteúdo e sua gameplay não é tão afinada quanto a de Vampire Survivors. Por exemplo não há modificadores de fase como o hyper e o hurry mode, apenas variações de um mesmo mapa. Aquela mecânica de combinar algumas armas com acessórios específicos para gerar uma forma final também não existe aqui. O jogo se resume a uma premissa básica e você não vai encontrar nenhum mistério ou segredo no plano de fundo.
Dino Survivors é a reprodução mais direta e básica da jogabilidade de Vampire Survivors que alguém poderia esperar. E como eu disse, as comparações são inevitáveis. Portanto consigo visualizar, embora não ache muito compreensível, muitos gamers fazendo uma lista de mecânicas que deveriam ter sido incluídas. Assim eu gostaria de puxar um gancho para um tipo de comentário que já esbarrei em algumas reviews da Steam. Como todos sabem, a plataforma usa um sistema binário de Recomendo/Não recomendo e já vi alguns usuários dizendo como queriam que desse para marcar uma avaliação como neutra. Dino Survivors foi o primeiro caso onde me vejo querendo também que houvesse essa possibilidade, já que tenho coisas positivas e negativas a pontuar sobre ele.
Vamos começar com as qualidades. O elogio mais fácil de se fazer está na arte dos dinossauros, um aspecto que Dino Survivors tinha mesmo que acertar afinal os dinossauros são seu principal apelo. O design dos lagartões são muito bons, mas o que eu gostei de ver foi a animação. Eu aprecio a simplicidade da movimentação dos monstros em Vampire Survivors, combina com sua jogabilidade “minimalista”. Mas vamos ser sinceros, é muito mais emocionante ver um T-Rex rugindo e partindo pra cima de você do que aquela movimentação estilo South Park. Os personagens selecionáveis também tem um design simples, porém expressivo que combina com o tom mais leve e descontraído – embora às vezes muito frustrante – do jogo.
Apesar de termos poucos mapas, pelo menos o autor conseguiu dar pequenos diferenciais na jogabilidade de cada um para não parecer que é só uma mudança estética. São sete ao todo em três localidades diferentes. A primeira região tem três variações e as restantes duas cada. No primeiro mapa das planícies vocês tem plantas carnívoras que spammam em locais aleatórios. Já na segunda variação dessa região aparecem dentes-de-leão que explodem e lançam projéteis se você se aproximar demais. No terceira e última versão, o mapa começa de noite atrapalhando a visão do jogador. Agora nas regiões da neve, em algumas seções o seu personagem sai escorregando e tem dinossauros congelados espalhados pelos mapas que te atacam se você quebrar os blocos.
Agora o que pode ser um elogio ou defeito dependendo do ponto de vista, Dino Survivors mesmo com menos conteúdo consegue ter aquela mesma qualidade (?) viciante de Vampire Suvivors. Até porque é um estilo de gameplay que é projetado para desencadear essa reação. Você começa descontraidamente jogando uma ou duas partidas e logo se vão horas pra tentar conseguir habilitar aquele personagem ou cumprir aquele desafio. E nesse âmbito, Dino Survivors tem valor de replay a curtíssimo prazo que já havia mencionado em Vampire Survivors. Eu coloquei mais de 20 horas em Dino Survivors nesses poucos dias que esteve no meu PC. Teve dias que realmente eu joguei por três horas direto sem vê-las passar. Só que uma vez que eu desinstalei o jogo, acabou! É zero motivos ou vontades para jogá-lo novamente. Mas foi uma experiência divertida…
… ok, nem tanto!
Os problemas de Dino Survivors não estão no fato dele ser derivativo – tem um monte de jogo pré e pós Vampire Survivors replicando esse tipo de gameplay – ou seu o conteúdo reduzido. Acho que nesse caso é até melhor que ele seja um jogo bem mais enxuto. O que frustra de verdade é que a jogabilidade dele é cheia de pequenas falhas que se acumulam e deixam a experiência um tanto irritante. Ele consegue reproduzir o básico do que esse estilo de jogo de maneira funcional, porém deixa a desejar em detalhes que poderiam ser facilmente ajustados.
Um exemplo simples: a função de rolar os upgrades de novo para ver se você consegue obter um mais interessante pra sua build. A mecânica funciona ok, contudo a aleatoriedade dela é bem falha. Em várias ocasiões o mesmo upgrade aparece consecutivas vezes, atrapalhando as tentativas de testar builds diferentes. Aliás, a escolha de colocar a duração das fases em 10 minutos + 3 extras pra enfrentar o chefão também cria empecilhos nesse sentido. É pouco tempo para conseguir montar e evoluir uma build, na maioria dos casos você terminará a fase com ela pela metade.
Outros problemas notáveis é como a evolução dos seus atributos durante uma run não tem uma progressão boa. Você causa pouquíssimo dano e não dá para aumentar muito com acessórios. Somente quando você atinge uns níveis mais altos e acumula muitas armas e melhorias que você consegue começar a fazer um estrago. O desafio de conseguir terminar uma run sem as melhorias deixa evidente o quão mal balanceado o jogo, pois os danos bases são baixos demais e leva muito tempo até você conseguir compensar por isso.
As armas são um caso a parte, mas que em conjunto também reforçam muitas das frustrações oriundas da jogabilidade. Vou separar três exemplos, sendo o primeiro o arco que dispara uma única flecha na direção que seu personagem está olhando. Além da arma ter um hitbox pequeno, ela demora muito para disparar então horrível de acertar o timing do ataque. Depois vem a poção de sangue infectado que deixa uma poça venenosa atrás de você. O problema dela é a duração, pois nos níveis iniciais ela some muito rápido. O terceiro e último exemplo é o cocô que é lançado numa direção aleatória também com um cooldown muito longo. Sem as melhorias para aumentar o número de projéteis, essa arma é essencialmente inútil até os níveis mais altos porque você não acerta nada com ela.
Como podem reparar, todos os exemplos dividem um ponto em comum: leva tempo para qualquer uma dessas armas serem efetivas. Portanto é melhor você apenas ignorá-las e escolher outras que são mais eficientes logo de cara. Sendo assim, você acaba sempre repetindo a mesma build com pouquíssima variação que tira boa parte da graças de jogos desse gênero onde você está sempre testando diferentes combinações.
Quando eu falo assim pode não parecer que são grandes problemas, mas quando você pega para jogar logo se tornam imensamente frustrantes. O jogo poderia se beneficiar de um tempo de vida maior caso o autor venha ajustar essas detalhes. Eu até dou uma colher de chá para Dino Survivors porque provavelmente esse foi o seu primeiro lançamento, pelo menos comercialmente, mas é difícil não se frustrar em vários momentos com a sua jogabilidade. Ainda mais quando Vampire Survivors acerta tão melhor nesse aspecto, minando os motivos para jogá-lo. Eu ainda acho que vale a pena dar uma chance pois é um jogo curto e barato, mas fiquem avisados que a gameplay vai ter muitos altos e baixos.
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