Capa de Vengeful Guardian: Moonrider
Bonitinho, mas MUITO ordinário

Existem títulos que eu jogo em sequência porque tenho a impressão que isso agregará em algum nível a minha experiência. Foi o que me levou a criar o Double Down em que um dos principais textos foi o de Oniken e Odallus: The Dark Call. Esses dois foram os primeiros títulos de um dos grandes estúdios indie aqui do Brasil, a JoyMasher, que segue numa linha de jogos com uma pegada retrô. Meus planos eram de fazer um segundo texto com os outros dois jogos do estúdio, Blazing Chrome e Vengeful Guardian: Moonrider, mas calhei em separá-los. O de Blazing Chrome vocês encontram aqui.

De qualquer forma, joguei ambos um atrás do outro e não foi dessa vez que a escolha se mostrou positiva. Não que eu não tenha gostado de Vengeful Guardian: Moonrider, o “selo de qualidade JoyMasher” está ali. Mas para ser sincero, de todos os quatro jogos do estúdio é o meu menos favorito. Diria que minha reação a ele está numa zona nebulosa de positiva indo para neutra. Porque embora ele tenha suas qualidades, ao comparar com Blazing Chrome em termos de jogo de ação ele fica alguns degraus abaixo.

Aqui precisamos abrir um parênteses. Não gosto muito de ficar comparando jogos porque acredito que cada um precisa ser analisado segundo seus méritos próprios. A não ser, claro, que o objeto da análise é ver como cada um desses jogos abordou um determinado tema, mecânica, etc. Só que nesse caso em particular eu acho válido a comparação porque o histórico da JoyMasher explica o motivo do meu leve desapontamento com Vengeful Guardian: Moonrider.

Uma das fases de Vengeful Guardian: Moonrider

Mais uma vez, destaco que não estou dizendo que é um jogo ruim, porque para um jogo de plataforma de ação a gameplay dele é bem sólida. Para quem acompanha os jogos da JoyMasher vai se deparar com a mesma qualidade que ela vem apresentado há anos com sua abordagem de trazer a sensação da terceira e quarta geração de consoles para o nosso contexto atual. Assim, acredito que mais uma vez ela consegue alcançar pessoas até de fora dessa bolha retrô.

Aliás, sempre achei essa a característica mais louvável da JoyMasher. Ela consegue de fato criar uma familiaridade quase que instantânea tanto na estética quanto na jogabilidade com clássicos das gerações 8 e 16 bits. Até mesmo se seu contato com esses jogos foi bem limitado. Contudo isso, esse apelo já está começando a não funcionar direito comigo pois, especificamente em Vengeful Guardian: Moonrider o estúdio se deixou apoiar demais no seguro.

Concordo que dá para dizer o mesmo que Blazing Chrome, afinal a gameplay dele não tem muito que a difere significativamente dos jogos que a inspiraram, como Contra e Metal Slug. Em alguns momentos entra até o questionamento até onde esses jogos são homenagens e não cópias Mas pelo menos Blazing Chrome entrega muito bem duas coisas essenciais para uma gameplay com ênfase em ação: level design e desafio. Vengeful Guardian: Moonrider até se sai relativamente bem no primeiro, mas no segundo ele acaba deixando a desejar.

O jogo parece ter medo de testar as habilidades dos seus jogadores de verdade e acaba sendo generoso demais nas formas de mitigar a sua dificuldade. Itens de cura, por exemplo, aparecem com uma frequência tão alta que são poucas às vezes que você sente que está correndo risco de perder uma vida. Você recebe um dano aqui e outro acolá e logo tem um item para anular seu descuido. Nem os infames death pits são uma preocupação aqui, só meros contratempos. Cair num buraco só faz o personagem perder um pouco de HP e retornar para plataforma mais próxima. Mas e se mesmo assim você levar uma tela de gamer over? Não se preocupe, você voltará para o início da última seção e não da fase toda. É um fator de risco zero num estilo de gameplay que clama por desafios. E olha que nem falei dos chips!

O jogo conta com upgrades escondidos nas fases que seriam úteis para ter um pouco de exploração. Porém não só é fácil encontrar esses segredos como também os upgrades diminuem ainda mais a dificuldade que já não era muito existente no jogo. Não me refiro nem ao chip de armadura que faz o jogo sair de fácil para ridículo. Os chips de vampirismo ou HP/MP Regen já são suficientes para trivializar qualquer risco que você poderia sentir no meio de uma fase. Ou até no final!

Os chefões são uma decepção indefensável. Do ponto de vista de design de personagens eles tem seu charme com esse motif dos samurais, mas em design de luta é desanimador. Eles seguem um ordem de ataques muito restrita que é fácil de gravar. Por vezes os chefões do meio da fase oferecem muito mais desafio do que os finais.

Um dos chefões decepcionantes de Vengeful Guardian: Moonrider

Fora que, por conta de algumas animações de ataque lentas, você consegue facilmente se aproveitar desses intervalos para spammar golpes normais e especiais que esvaziam o HP do chefão em segundos. Essa questão dos golpes especiais revelam uma outra superficialidade da jogabilidade de Vengeful Guardian: Moonrider O jogo tem inspirações no sistema de armas de Mega Man, porém não implementa a mesma lógica de jokenpô que a torna realmente interessante. Depois que você pega um bom ataque especial pode ficar repetindo ele ao longo do resto da gameplay que não fará a menor diferença. Eu, por exemplo, terminei o jogo todo com o ataque especial que você já inicia equipado.

Então não tem nada para se elogiar no jogo? Óbvio que sim! Tanto os visuais quanto as músicas são fenomenais, um ponto que até mesmo as reações negativas ao jogo parecem concordar. Porém eu não acho que isso seja um elogio muito relevante. Direção artística e trilha sonora tem sim seu grau de importância, pois fazem parte da experiência. Só que esse é um elogio que dá para encaixar em qualquer jogo da JoyMasher. O estúdio tem mostrado uma qualidade consistente nesses dois departamentos a ponto que falar isso é apenas destacar o óbvio.

Comparativo dos visuais fantásticos de todos os jogos da JoyMasher
Falar que os jogos da JoyMasher são bonitos é chover no molhado

Se Vengeful Guardian: Moonrider for seu primeiro jogo do estúdio tenho certeza que irá te impressionar. Só que depois de jogar tudo que a JoyMasher já publicou, isso diminui bastante. Ainda mais quando você considera que esse é o terceiro jogo de ação que repete a mesma ambientação de futuro distópico com os protagonistas fazendo parte de algum movimento rebelde. Para mim os sinais de acomodação estão ficando aparentes.

Contudo é cedo para afirmar que Blazing Chrome será o auge do estúdio no que tange a emulação da experiência retrô nos tempos modernos. Porém Vengeful Guardian: Moonrider é definitivamente um nível abaixo em termos de gameplay para mim. Pode até ser uma experiência nostálgica muito boa para aqueles que tem saudade daquela ação mais simples e direta dos jogos de 16-bits. Os visuais enchem os olhos, a música agrada os ouvidos. Contudo é um jogo sem desafio, sem valor de replay, sem ambição. É uma aposta das mais seguras e nesse caso acho um tremendo demérito!


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