Nas últimas semanas o Backlogger temporariamente se tornou um blog de Os Cavaleiros do Zodíaco. Mais especificamente, um blog de fangames de Os Cavaleiros do Zodíaco. Ainda mais especificamente, um blog de fangames de Os Cavaleiros do Zodíaco feito pelo GustavoLC no RPG Maker 2k. Mas prometo que hoje é a última vez que ordenho essa vaca, até porque não tem mais outro jogo dele para virar texto.
Pois bem, hoje a introdução vai ser bem rápida. GustavoLC é o apelido de um antigo membro de fóruns de RPG Maker brasileiro ali do início dos anos 2000. No seu tempo naquelas comunidades, o GustavoLC fez três jogos de Cavaleiros do Zodíaco que talvez sejam lembrados por quem foi daquela época. Eu só conhecia um deles, mas nessa volta recente que fiz ao RPG Maker acabei por jogar todos os seus fangames.
Cada jogo do GustavoLC culminou num texto com uma temática diferente, porém não são reviews propriamente ditas. Se bem que eu classifiquei um deles como crítica, mas vamos ignorar esse detalhe Então o que eu queria fazer aqui hoje é uma avaliação rápida desses fangames para quem busca esse formato mais tradicional de review de joguinho. Não planejo me alongar muito em cada uma até porque são jogos bem curtos. Espero que seja o suficiente para convencê-los a dar uma chance para esse pedacinho da história do desenvolvimento de jogos amadores no Brasil. E espalhar a palavra do RPG Maker nunca é demais!
Lembrando que vocês podem baixar todos esses jogos num velho blog do GustavoLC. Até o momento que eu escrevo este texto os links estão funcionando, mas caso isso venha mudar no futuro, por favor, me avisem nos comentários.
1. CAVALEIROS DO ZODÍACO: AS NOVAS LENDAS
As Novas Lendas não foi o primeiro projeto do GustavoLC. Seguindo a tradição de todo mundo que usou o RPG Maker, esse foi o primeiro jogo que ele conseguiu concluir o desenvolvimento no longínquo ano de 2002. E nesse caso o GustavoLC foi esperto, pois manteve o escopo do projeto bem simples tanto em relação a sua história quanto nas suas mecânicas. Sem contar que é um jogo bem curto que se não fosse pelo grinding necessário no comecinho não teria mais do que uma hora de duração.
Na trama, você controla quatro jovens que querem servir à Athena e para isso precisam derrotar vários dos Cavaleiros da Deusa para mostrarem seu valor. Ao todo você enfrenta os cinco Cavaleiros de Bronze da história original, mais cinco Cavaleiros de Prata e, por fim, os doze Cavaleiros de Ouro. A história não segue nenhuma cronologia de Os Cavaleiros do Zodíaco, pois você vê Saga, Aiolos e até o Dohko no meio dos Cavaleiros de Ouro. Isso coloca As Novas Lendas em outra tradição do RPG Maker, principalmente nos fangames de Dragon Ball, de criar histórias originais apenas se apoiando nos personagens conhecidos.
Tem até uma pequena reviravolta no fim do jogo que acho um eufemismo chamá-la assim. É só para adicionar um plotizinho na reta final que estende o jogo por mais uns minutos. Não acrescenta nada de muito relevante, apenas fecha o arco dos protagonistas. Mas vou manter o segredo só para As Nova Lendas ter alguma surpresa para quem for jogar.
Não tem como eu reforçar mais o quanto esse é um jogo simples de RPG Maker 2k, com o combate por turnos típico dos primeiros títulos de Dragon Quest. E para o primeiro jogo (completo) de um rapaz que está aprendendo a mexer na ferramenta, está de muito bom tamanho. É um jogo literalmente linear, porque toda a gameplay consiste em você andar para cima num corredor enfrentando alguns inimigos.
Tem até uma sacada criativa que o GustavoLC fez que eu gostaria que ele tivesse explorado de alguma forma nos seus fangames seguintes. Como nenhum dos personagens principais tem uma constelação, as suas técnicas vêm dos equipamentos que você ganha cada vez que derrota um Cavaleiro. Sendo assim, dá para criar builds variadas para o seu grupo, tanto em atributos quanto em habilidades.
Então se aproximem desse jogo com expectativas devidamente moderadas e com um pouco de boa vontade com o rapaz. Todo mundo tem que começar de algum lugar.
2. CAVALEIROS DO ZODÍACO: POSEIDON
Nos seus projetos seguintes, o GustavoLC resolveu ir para uma rota mais segura (e pra mim um pouco menos interessante). Em vez de criar novas histórias, ele optou por dois dos principais arcos de Os Cavaleiros do Zodíaco. O primeiro foi Poseidon que, bom, adapta a saga de Poseidon e mantém a mesma simplicidade de As Novas Lendas. Só não chego a dizer que ele é tão linear quanto porque você ainda tem a possibilidade de enfrentar os Generais Marinas de Poseidon na ordem que quiser.
Dá para dizer que existe um pouco de evolução comparado ao jogo anterior, mas é bem pouca mesmo. A narrativa se assemelha a outro fangame de Cavaleiros do Zodíaco do RPG Maker, Saint Seiya RPG: Asgard Chapter, em que o grosso da história é contato através de imagens estáticas e diálogos curtos. Assim o jogo não tem a mesma dramaticidade que é tão essencial para Cavaleiros do Zodíaco. Contudo é compreensível dentro dos limites do GustavoLC como um desenvolvedor amador de jogos naquele período.
Se eu tive pouca coisa para dizer de As Novas Lendas, eu tenho menos ainda para dizer de Poseidon. É de certo modo uma adaptação muito fiel ao original. Você derrota um General, destrói um dos pilares com as armas da Armadura de Libra e parte para o próximo. Dessa vez o combate não tem nenhuma particularidade criativa, você monta sua equipe com quatro dos cinco Cavaleiros de Bronze e eles aprendem suas técnicas conforme passam de nível. Então eu até poderia dizer que Poseidon é um passo atrás em relação As Novas Lendas, mas não é tão preto e branco assim. Acredito que eu consigo ter um pouco mais de boa vontade porque eu conheci o último jogo de Cavaleiros do Zodíaco do GustavoLC antes dos outros. Desse modo eu consigo enxergar alguns dos pontos mais fortes daquele fangame começando por aqui.
Por não ter muito com o que expandir do material original, o GustavoLC simplesmente resolveu acrescentar algumas coisas próprias. Por exemplo, derrotar cada General Marina libera uma das suas escamas numa sala do mapa e cada escama tem uma habilidade diferente como salvar o jogo, curar o grupo, invocar sombras e enviar os personagens para a área das Feras Marinhas. As Feras Marinhas são a principal adição que Poseidon faz a história original, permitindo que você enfrente os seres mitológicos que dão força aos Generais Marinas. Outro detalhe é que se você enfrentar o General com Cavaleiro que o derrotou no original na sua equipe e depois você usar a mesma arma da Armadura de Libra no pilar, você libera um item especial. Esse item depois é usado para abrir uma passagem para conseguir outro item que serve como um Gameshark do jogo.
Por favor me digam que vocês sabem o que é Gameshark.
Há umas escolhas que eu não gostei muito, como relegar o save do jogo a uma das escamas, incentivando que você olhe o guia para saber qual dos Generais enfrentar primeiro. Isso sem contar o griding pesadíssimo que você tem que fazer no início e sem chance de salvar. Outra coisa é que, tal como em Saint Seiya RPG: Asgard Chapter, é muito difícil você tirar um real proveito da história se já não conhecer o original. Os diálogos não são capazes de exprimir toda intensidade melodramática que faz o mangá especial e deixa várias lacunas na narrativa.
Ainda é um bom joguinho de RPG Maker, mas não há nada especialmente criativo em Poseidon. Ele serve mais como uma ponte para o projeto seguinte que aí sim eu acho que o GustavoLC consegue apresentar muita coisa legal para fechar sua carreira nos fangames de Cavaleiros do Zodíaco.
3. CAVALEIROS DO ZODÍACO: A SAGA DE HADES
O meu jogo favorito do GustavoLC hoje é As Novas Lendas porque eu me cativei pela sua simplicidade. Entretanto, admito que a magnum opus dele é A Saga de Hades, seu jogo mais “denso”. Não que isso o faça necessariamente um jogo melhor. O que eu enxergo em A Saga de Hades é que o GustavoLC estava mais maduro no uso do RPG Maker, mesmo que pouco tempo tenha passado desde Poseidon. Dessa forma ele conseguiu evoluir em aspectos que ficaram secundários nos fangames anteriores.
O combate é essencialmente o mesmo de Poseidon, a única diferença é que todos os Cavaleiros já começam com as técnicas. Não há nenhuma profundidade na batalha e se você 95% delas você consegue vencer só spammando ataque. Tem até um menu bem feitinho de seleção de personagens, possivelmente a coisa mais complexa que o GustavoLC fez. Por outro lado, a narrativa evoluiu horrores e acho que é o que merece mais destaque por vários motivos.
Aqui você vê o GustavoLC conseguindo dar mais dinamismo para as cenas de diálogos, movimentando os personagens, usando animações e até brincando um pouco com edição de imagens. Tudo isso ajuda a dar mais daquela dramaticidade que eu falei anteriormente que é tão essencial para Cavaleiros do Zodíaco. Tanto que, por exemplo, a morte do Shaka que é um momento bem impactante no mangá aqui funciona muito bem. Desse modo, mesmo que você não conheça a história da Saga de Hades você consegue entendê-la perfeitamente pelo fangame.
Mas o melhor aspecto é a compreensão do GustavoLC de que por mais que aquele seja um fangame, ainda era uma ideia sua. Então ele não se preocupa em seguir à risca o original e acrescenta suas próprias particularidades nessa versão. Aldebaran não é morto por um dos Espectros de Hades, o Castelo de Heinstein é uma área explorável, tem várias referências ao Inferno de Dante e mitologia grega que não estavam no mangá, novos Espectros, etc.
Assim eu vejo A Saga de Hades como uma amálgama dos pontes fortes de As Novas Lendas e Poseidon, com outras características que vieram com a evolução do GustavoLC. Ainda é um RPG bem simples que vai ter um apelo maior para fãs de Cavaleiros do Zodíaco e pessoas que sentem nostalgia por aqueles primeiros anos das comunidades de RPG Maker. Pra mim é um fangame bacana que representa esse espírito do desenvolvimento de jogos amadores, sem pretensão em ser um título revolucionário que atravesse gerações.
A Saga de Hades fecha muito bem essa trilogia informal de Cavaleiros do Zodíaco do GustavoLC no RPG Maker. Ele até deu a entender que tinha ideias para um quarto jogo, mas provavelmente não foi para frente caso contrário estaria no seu blog.
Então encerramos aqui o texto. Reforço a recomendação que joguem todos os três para conhecer esse pedacinho da história do RPG Maker aqui no Brasil. Um agradecimento sincero ao GustavoLC pelos seus fangames e espero que esteja bem onde quer que esteja. E se um dia voltar para o RPG Maker, espero ter a oportunidade de jogar quarto fangame idealizado!
O Backlogger precisa do seu apoio para crescer. Então, por favor, compartilhe ou deixe um comentário que isso ajuda imensamente o blog. Você também pode me seguir em outras redes como Bluesky e Tumblr. Para mais textos do quadro Três por Dez clique aqui.
