Procura-se um jogo de RPG Maker esquecido

Eu não me recordo o ano. 

Sei que eu era jovem, estava ali em meio a minha pré-adolescência. Em casa tínhamos acabado de contratar um serviço de internet via rádio, Super Onda, e eu estava aproveitando para consegui novos jogos. Mas a velocidade de download era baixa, com muita sorte eu conseguia atingir 40 kb/s de download. Por isso eu me contentava baixando jogos de Super Nintendo, Mega Drive e Game Boy Advance. 

Foi nessa mesma época eu conheci o RPG Maker. Na verdade eu reconheci. Pois mesmo sem saber da existência dessa ferramenta eu já tinha me aventurado por um pequeno joguinho brasileiro dela. Era Saint Seiya RPG: Asgard Chapter, que um amigo tinha no computador dele e o mencionei recentemente. O jogo foi passado ao meu amigo por outro colega e nenhum de nós conhecia qualquer detalhe do jogo além do fato de ser um RPG de Cavaleiros do Zodíaco.

Eventualmente, depois de passar horas e horas em sites como Baixaki e SuperDownloads – relíquias de um Brasil que começava a desbravar os mares da internet – eu descobri enfim o que era o RPG Maker: uma série de ferramentas para desenvolvimento de jogos feitos no Japão para ajudar na criação RPGs eletrônicos de maneira simplificada.

Na época em que eu vim conhecer a ferramenta estavam populares aqui o RPG Maker 2k e o RPG Maker 2k3. Através de alguns fóruns dedicados a essa pequena cultura de desenvolvimento de jogos independentes brasileiros, como a Castelo RPG e a RPG Menace – ambas que infelizmente já não existem mais – eu conheci vários projeto. Alguns que ainda consigo me recordar: Era dos Deuses, Gustavo’s Adventure, Las Aventurietas del Robercleiton TURBO, Rygar e os Soldados do Rei, Sunset Over Imdahl, Legion Saga, Fear e uma dezena de fangames de animes populares aqui no Brasil como Dragon Ball: Do Começo ao Fim, Samurai X e CdZ : A Saga de Hades.

Há mais um jogo entre essas memórias.

Eu me lembro da abertura como se fosse ontem. Um rapaz, desesperado, se joga num rio. Minutos depois ele acorda num lugar estranho sem qualquer conhecimento de como ele foi parar ali. Logo ele descobre que ele não é o único. Ao longo dos anos várias e várias pessoas também foram enviadas aquele mundo por uma força misteriosa. Além disso, aos poucos elas vão perdendo as memórias de suas vidas passadas. Um pequeno grupo de heróis se une ao protagonista, motivados a descobrir uma forma de retornar a Terra.

E sabem qual é o nome desse jogo? Pois é, eu não sei! Numa daquelas ironias da vida, o jogo que mais me marcou nesse período é justamente único cujo nome eu esqueci.

Por mais que eu passei tantos dias da minha juventude zerando ele, eu não consigo me lembrar do nome. E isso tem me atormentado por anos. Porque não é apenas um vaga lembrança que eu tenho do jogo. Eu consigo dar muitos detalhes de vários pontos da história e até mesmo da jogabilidade. Tal como:

1. Além da batalha com visão lateral aos moldes de Final Fantasy, você não ganhava dinheiro no final das lutas como era o padrão dos jogos. Você tinha que vender os itens deixados pelos monstros, como dentes e asas;
2. A presença de alguns temas tabus, principalmente em jogos, como incesto e suicídio;
3. A revelação no meio da trama em que descobrem que todos que foram enviados para aquele mundo se suicidaram na sua vida passada; 
4. O passado sombrio de um dos personagens principais. Ele se jogou de um precipício depois de ter matado a esposa, num surto de fúria, ao descobrir uma traição;
5. A trágica história da raça de homens-lagartos que habitam o mundo do jogo. Depois de anos de conflito com os humanos, motivado por preconceitos e desconfianças de ambas as raças, isso causou a morte de todas as fêmeas. Assim a raça dos homens-lagartos estava fadada a extinção;
6. Lembro de um momento bem específico onde todos os personagens são separados e cada um tem que enfrentar seus próprios demônios numa luta individual. Me recordo até que eu tive que recomeçar o jogo de um save antigo porque um dos meus personagens estava num nível tão baixo que era impossível vencer a luta;
7. A história entre o protagonista e sua irmã que aparece depois no mundo do jogo, onde é revelado que o motivo dele ter se matado foi porque estava apaixonado por ela. E uma segunda revelação onde se descobre que a irmã foi parar naquele mundo por engano, assassinada pelo próprio pai achando que ela teve um caso com o irmão;
8. Eu me lembro até mesmo do final onde se descobre que o vilão do jogo era um anjo ao qual foi atribuído a missão de cuidar das almas daqueles que cometeram suicídio. Contudo ele enlouqueceu por conta de todo o sofrimento dessas pessoas e por isso levou todas elas para aquele mundo para que elas não se lembrassem do que fizeram.

Apesar de todas essas lembranças eu não consigo me lembrar do nome do jogo. Chega ser engraçado que eu consigo me recordar até de um diálogo bobo onde um dos personagens que tinha um cachorro, antes de seguir a jornada com os heróis, diz que vai deixar muita ração no pote pra ele não ter fome. Mas a desgraça do nome desse personagem e os demais, além do nome do jogo, eu não consigo recordar.

Isso não para de me atormentar, pois eu tenho uma grande vontade de revisitar esse jogo. Recentemente, por obra do acaso, eu vim descobrir a origem dos seus gráficos. Foram ripados de um antigo RPG da Square do Super Nintendo chamado Treasure of the Rudras. Na imagem você encontra os modelos que, no tal jogo do RPG Maker, pertenciam ao protagonista e sua irmã.

E infelizmente é tudo que eu sei. Os fóruns daquela época já não existem mais e eu nunca tive contato com ninguém fora de lá para poder perguntar se eles se lembram. Tudo que me resta são as memórias e uma esperança que um dia, pela ação do acaso novamente, eu venha esbarrar com esse jogo . 

Até lá, continuarei procurando esse velho jogo de RPG Maker…

…

…

…

Olha só como são as coisas. Sabe como eu acabei de dizer que seria o acaso que faria eu encontrar o jogo? Pois eu deveria ter apostado dinheiro nisso!

O texto original terminava naquele parágrafo ali de cima. Esse era um rascunho que estava esquecido no meu Medium e que calhei de ler ontem. Assim como aquele do Metamorfose S, achei que seria uma boa trazê-lo aqui como um textinho pessoal. Eu estava editando ontem a noite quando, só de graça, resolvi digitar o nome da RPG Menace no Google para ver se tinha encontrava alguma coisa sobre o antigo fórum para matar um pouco das saudades desses velhos tempos.

Eis então que eu caio nessa postagem de 11 anos atrás num grupo do Tapatalk onde estavam falando sobre algumas pérolas da RPG Menace. Olhando a lista, me chamou atenção o seguinte trecho da postagem do autor:

Enfim, jogos que estou procurando inicialmente

A conta
Jogos do Kamui (Notwendige worte, heart and soul)
Hans burger
Faerun
Rhygar
Portal
Era dos deuses

Algo me atraiu nesse nome, Heart and Soul, e por isso resolvi pesquisar jogar no Google “kamui rpg maker heart and soul” e a ferramenta me retornou um vídeo postado 5 anos atrás no YouTube pelo próprio Kamui jogando seu próprio jogo. E assim que eu bati o olho nos primeiros segundos do vídeo eu fui invadido por dezenas e dezenas de flashbacks.

Mais de dez anos depois eu finalmente encontrei o jogo de RPG Maker que eu tanto procurava!

Ai, cara! Não consigo acreditar que depois de tantos anos eu fui encontrar Heart and Soul de um jeito tão aleatório assim. São as pequenas magias da vida. Pois bem, não posso deixar essa oportunidade passar e já baixei ele. Estou jogando desde ontem a noite relembrando o meu comecinho no RPG Maker. Não queria perder também a chance de compartilhar essa história com vocês e por isso decidi não deletar o texto e mostrar que no final deu tudo certo.

Quem tiver curiosidade, naquela postagem colocaram um link do 4shared que ainda funciona e nele vocês encontrarão tanto o Heart and Soul quanto alguns outros jogos daquela época. Obviamente terá uma crítica quando eu terminar de zerá-lo de novo, então nos vemos no futuro. Agora, se me dão licença, tenho que voltar para esse meu velho amigo!

EDIT: fiz uma crítica sobre ele aqui no blog para aqueles que se interessarem

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