A Hora do Mal me deu esperanças para o filme de Resident Evil

Ontem chamei aquele meu mesmo amigo com quem fui assistir Deadpool & Wolverine e Superman para irmos ao cinema ver A Hora do Mal. Uma péssima escolha para o título original, Weapons, cuja tradução literal faria muito mais sentido. O trailer chamou a minha atenção e ouvi coisas muito positivas sobre o filme. De fato ele é muito bom e mostra que nesses últimos anos tivemos uma ótima safra de filmes de terror. Apesar disso tudo, confesso que eu queria ver A Hora do Mal por outros motivos. Fui ao cinema só porque o seu diretor (e também roteirista), Zach Cregger, irá escrever e dirigir o próximo filme de Resident Evil.

Conheci o Zach Cregger acredito que no início do ano passado quando eu finalmente assisti Noites Brutais. Não foi exatamente o seu primeiro filme, mas foi o responsável por colocá-lo no radar do público e dos estúdios. Eu gosto bastante de Noites Brutais muito por conta da sua estrutura narrativa. Eu adoro filmes que se utilizam de diferentes pontos de vista para contar sua história. Tanto é que um dos meus clássicos favoritos é Rashômon, de Akira Kurosawa, que fala sobre o assassinato de um samurai através de quatro testemunhas, sendo uma delas a vítima. Vejam o filme para saber como isso acontece, é maravilhoso!

Noites Brutais tem um pouco disso, mas é A Hora do Mal em que o Zach Cregger utiliza muito melhor o recurso. O filme conta a história de uma cidade onde os 17 alunos de uma escola desaparecem. As crianças não foram sequestradas, elas simplesmente correram de suas casas numa noite e sumiram na escuridão. Isso tudo nos é entregue por uma narradora onisciente com a voz de uma menina que simbolicamente também some depois de nos introduzir ao mistério.

Uma vez que a trama está posta, o desenrolar do roteiro continua com diferentes personagens. Primeiro começamos com Justine, a professora da turma das crianças que desapareceram. Depois disso, temos um segmento com Archer, pai de uma das crianças, e a linha narrativa dele cruza em alguns pontos com a de Justine. Depois temos Paul, um policial local, cuja participação se complementa com a de James, um jovem viciado que comete furtos pela cidade. Também temos um segmento com Marcus, o diretor da escola, e por último fechamos com Alex, o único garoto da turma de Justine que não desapareceu.

A Hora do Mal se vende por essa estrutura narrativa e para mim é o que basta. O filme nos coloca às margens da história e pouco a pouco vamos caminhando para o seu centro. É como se o universo de A Hora do Mal se expandisse com cada segmento novo que nos permite olhar a história sob outra perspectiva e se contraísse ao mesmo tempo com cada novo detalhe que vamos descobrindo. Eu estava conversando hoje com meu amigo porque ele comentou sobre um símbolo de um triângulo que aparece em alguns créditos do filme e me veio essa epifania de como a todo momento estamos “triangulando” a trama do filme para encontrar o seu desfecho.

Enfim, não estou aqui para fazer uma crítica completa de A Hora do Mal. Então se você clicou no texto buscando isso, mil perdões. De qualquer forma, eu recomendo. O Zach Cregger é um diretor muito competente e que está evoluindo demais na sua capacidade de nos manter atentos aos seus roteiros pela narrativa.

Certo, agora vamos ao que importa: o que diabos isso tudo tem a ver com Resident Evil?O que a franquia de Resident Evil tem de jogo bom ela não consegue ter em adaptações. Seja nos filmes live action, nas animações* ou nas séries. Aquele Bem-Vindo a Raccoon City, por exemplo, é uma das coisas mais detestáveis que eu tive o desprazer de assistir. Só que os motivos que me fazem desgostar das adaptações de Resident Evil destoam um pouco de alguns fãs. Muitos falam que o problema é que os filmes e séries são pouco fiéis ao material original. O que é pura bobagem de quem acredita que fidelidade é sinônimo de qualidade. As animações, por exemplo, se encaixam na linha do tempo dos jogos e mesmo assim não passam de cutscenes entediantes com mais de uma hora de duração.

*ainda não vi Death Island, então essa
afirmação pode mudar no futuro.

A afirmação não mudou!

Ao meu ver, o que faz essas adaptações de Resident Evil ficaram entre ruins e medíocres é por serem excessivamente comerciais. Não existe um interesse legítimo em contar uma boa história usando a franquia como um meio, só querem se utilizar da popularidade do nome para conquistar uma bilheteria rápida. Tanto é que deixam esses projetos nas mãos de diretores bem meia-boca como o Paul W. S. Anderson e o Johannes Roberts. Por essas razões que é muito difícil eu ficar animado com a notícia de uma nova adaptação.

Apesar de eu ter gostado de Noites Brutais, isso não foi o bastante para me convencer. Ter feito um filme bom coloca ele à frente dos outros diretores, e só. Agora depois de assistir A Hora do Mal eu me sinto mais confiante, porque a narrativa desse filme acendeu uma fagulha de esperança no caminho que o Zach Cregger pode tomar com a sua versão.

Agora em agosto ele deu uma entrevista para a Inverse dizendo que tem intenção de explorar uma história que não seja a mesma dos personagens do jogo. Pelo menos não os mais populares, já que ele destaca bastante o Leon. Eu vejo isso como um ponto positivo porque já mostra que ele quer pensar a adaptação para além do que os fãs esperariam. Para mim, o Zach está olhando para o filme da mesma forma que o Andrei Tarkovsky olhou para Stalker quando decidiu adaptar o livro Piquenique na Estrada. Como eu falei no meu texto, Stalker parece mais uma história que acontece dentro do universo do livro do que uma adaptação de fato do original. Sendo assim, eu quero acreditar que o Zach Cregger vai apenas inserir seu filme dentro do já estabelecido universo dos jogos de Resident Evil.

E nisso me veio um nome à cabeça: Resident Evil Outbreak. Quem não se lembra, Resident Evil Outbreak e sua sequência foram dois jogos que a Capcom lançou na época e no console errado. Ambos eram exclusivos do PlayStation 2 e tinha uma proposta de survival horror cooperativo interessante. Você controlava um grupo de pessoas tentando escapar de Raccoon City durante os eventos de Resident Evil 2 & 3. A estrutura narrativa de A Hora do Mal cai como uma luva para uma história desse tipo. Ela permite que o Zach Cregger trabalhe diferentes perspectivas num apocalipse zumbi e já deu para ver que essa é uma característica essencial dos roteiros dele.

Eu sei que é mais um wishful thinking meu, mas vai me dizer que a conta fecha certinho? Diria que é até capaz de agradar todos os públicos, mais do que qualquer “adaptação fiel”. Ainda teria um respeito ao lore dos jogos, ao mesmo tempo que consegue se distanciar suficientemente desse material para dar mais liberdade criativa pro diretor. Quem sabe isso não aconteça mesmo? Tão me deixando sonhar, tão me deixando sonhar…


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