Como toda criança dos anos 90 que tinha um aparelho de fita cassete em casa, eu fui criado com praticamente todas as animações da Disney. Eu assistia desde os clássicos das décadas de 30 a 70 como Branca de Neve e os Sete Anões, Mogli, 101 Dálmatas e A Espada Era a Lei, até animações contemporâneas daquela época como O Rei Leão, A Bela e a Fera e O Corcunda de Notre Dame. E claro que também não podia faltar Aladdin!
É virtualmente impossível eu escolher qualquer uma dessas animações como a minha favorita. Foram filmes importantes demais para mim e responsáveis por até hoje eu amar animação como mídia. Mas dá pra dizer que Aladdin tem um lugarzinho especial porque não foi apenas na animação – e aqui levo em consideração também a série de TV que passava no SBT – que me marcou naquele período.
Na década de 90 nós também vivenciamos a explosão dos jogos licenciados. Tivemos incontáveis adaptações para os consoles de filmes e outras propriedades intelectuais de diversos estúdios durante aquela década inteira. Isso foi algo que se estendeu por mais algumas gerações até jogos se tornarem tão complexos e demorados de se produzir deixando tais projetos inviáveis. Da Disney tivemos uma porrada de jogos das suas animações. Pinóquio, Pocahontas, Hércules, Tarzan entre outros tiveram suas versões nos vídeo games. Cara, até A Bela e a Fera tem jogo!
Aladdin por sua vez também não ficaria de fora dessa história. É um filme que transpira aquele espírito de aventura e conta com cenários fantásticos, ideais para se traduzir num jogo. O que é curioso no caso de Aladdin é que não foi algo como O Rei Leão em que você tinha um único jogo portado para outros consoles. Ele recebeu praticamente ao mesmo tempo, dez dias de diferença de um lançamento para o outro, dois jogos diferentes para os maiores rivais da sua época, o Super Nintendo e o Mega Drive.
Cada jogo é produção de um estúdio diferente. A versão de Super Nintendo foi feita pela Capcom, contando como seu principal designer ninguém menos que Shinji Mikami. Já a de Mega Drive é de autoria da extinta Virgin Games. Apesar de dividirem algumas similaridades, os dois jogos possuem jogabilidades distintas o que faz deles um caso mais interessante de se avaliar.
Historicamente sempre existiu aquela discussão de qual dos dois era o melhor jogo. Algumas pessoas acreditam que é o de Mega Drive e outras tem a opinião correta. Brincadeiras a parte, eu acho bobeira ficar discutindo qual dos dois jogos é o melhor como se a gente vivesse sobre a lei dos Highlanders em que “apenas pode haver um”. Acho que tanto o jogo de Super Nintendo quanto o de Mega Drive tem suas qualidades e todo mundo deveria jogar ambos.
Por isso hoje o tema do texto serão ambas as versões de console de Aladdin que joguei tem alguns dias. Esse tipo de texto duplo vai ficar mais frequente por aqui. Farei comparações, obviamente, mas não com o intuito de declarar quem é o melhor. Não tenho interesse em determinar qual é o superior desses jogos como se isso tivesse qualquer importância. Até porque, como vocês verão ao longo do texto, eu sou extremamente enviesado nessa história. O jogo de Super Nintendo foi muito presente na minha infância, por isso nutro um carinho especial por ele. Portanto aqui eu estou me dispondo é a olhar as qualidades próprias de cada uma das versões para mostrar qual o valor em cada uma delas.
ALADDIN (SUPER NINTENDO): O PLATAFORMA IDEAL
Desde que eu me lembro como gente, os jogos de plataforma estão na minha vida. Duke Nukem – de 1991 – e Claw foram os primeiros jogo que eu tive no meu primeiro computador. Logo em seguida vieram Rayman e Croc: Legend of the Gobbos. E isso acabou se estendendo para os consoles quando ganhei um Super Nintendo com Super Mario World nele. Tempo depois consegui uma cópia do Aladdin que talvez seja o que mais joguei naquela época. Rejogando depois de todos esses anos eu consigo entender o porquê.
O Aladdin do Super Nintendo é o que eu chamaria de jogo de plataforma ideal. Não porque ele seja extraordinário, revolucionário, fantástico ou qualquer um desses adjetivos emocionados. Digo ideal no sentido que as qualidades entregam uma experiência suficientemente agradável do jogador mais hardcore até o mais novato. Não é um jogo difícil, os controles são ótimos e não chega ser nem tão longo nem tão curto. Ele tá ali no ponto exato, não sendo fenomenal porém também estando longe de ser passável.
Outra característica muito positiva, só que mais para o lado de quem é fã da animação, é que esse Aladdin consegue traduzir muito bem cada sequência do filme nas suas fases. O jogo recapitula cada momento mais importante da trama sem forçar a barra e mantendo a coesão da história original. Tem ali uma fase ou outra que parece ser adicionada só pra encher linguiça, mas no geral o jogo se alinha perfeitamente com a animação. Nem estou falando das cutscenes com imagens estáticas que acontecem para conectar um estágio ao outro.
Falo dos pequenos detalhes como mostrar a Jasmine sendo atacada pelo mercador, o primeiro encontro com o Tapete, o fato de você passar pelo rubi que o Abu vai tentar roubar antes de chegar na lâmpada e até o dueto de um “Um Mundo Ideal*”. Toda a história é contada direitinho através da gameplay.
*só queria adicionar que a melhor versão da música continua sendo essa
Mas não precisamos ficar nos apoiando no filme para elogiar o Aladdin do Super Nintendo. A parte de jogo de plataforma dele também é muito boa. E diria também até muito acessível no sentido de ser um jogo tranquilo para qualquer principiante. O glider ajuda muito a não errar pulos e, mesmo que não houvesse isso, os controles são bem precisos. Nessa versão você derrota os inimigos pulando em cima deles, também podendo atordoar alguns atirando maçãs e o hitbox está bem feito.
Acima de tudo isso, o que eu vejo de mais positivo na jogabilidade é o level design de Aladdin. Bem limpo e direcionado com fases essencialmente horizontais. Ele não tem muito espaço para exploração, mas isso serve para não deixar as fases perderem ritmo. O curioso de se notar é que as fases são até que bem longas, a primeira então talvez seja a maior do jogo. Só que como cada estágio é dividido em blocos, cria-se uma sensação que as fases são mais curtas e mais numerosas.
Em questão dos cenários, ainda que estejam muito atrelados as sequências do filme, o jogo ainda tem espaço para criatividade nas suas fases. Vemos isso sobretudo no estágio do Gênio onde se enfatiza mais ainda os desafios típicos de um jogo de plataforma. Os inimigos, por outro lado, tem uma variedade bem limitada com pouquíssimos chefões. Não que isso seja um defeito, é mais uma consequência do jogo tentar se manter mais fiel a estrutura do filme.
Por fim falta pontuar a dificuldade. Como eu já disse, é um jogo bem tranquilo para qualquer um. Não existem grandes obstáculos e acho que a única parte em que dá para dizer que existe uma dificuldade maior é na fuga da caverna com o Tapete onde qualquer hit você perde automaticamente. Talvez isso até decepcione alguns jogadores que buscam maiores desafios, mas para quem só quer curtir uma aventura mais simples funciona muito bem.
No geral, Aladdin do Super Nintendo é um jogo de plataforma bem sólido que consegue agradar tanto os fãs do gênero quanto da animação. Se tratando dos licenciados da época, esse certamente se encontra entre os melhores.
ALADDIN (MEGA DRIVE): AQUELE QUE TINHA ESPADA
Ao contrário do Super Nintendo, o Aladdin do Mega Drive não esteve tão presente assim na minha infância. Eu conhecia essa versão e com o advento da emulação até joguei algumas fases naqueles tempos. Porém eu sempre me via preferindo jogar o Aladdin da Capcom. Tanto é que só foi alguns dias atrás que finalmente zerei a versão da Virgin Games para fazer esse texto. Da mesma forma que agora eu entendo porque eu gostava tanto do Aladdin do Super Nintendo, eu também entendi porque o do Mega Drive não retinha meu interesse. Não que seja um jogo ruim. Pelo contrário, tem várias qualidades. Contudo o level design aqui é uma cacofonia de “vai pra direita, vai pra cima, vai pra esquerda, vai pra baixo” que não atrai tanto quanto as fases mais limpas da outra versão.
As comparações são inevitáveis, mas acho engraçado notar como os jogos tem algumas similaridades. Umas eram de se esperar que houvesse, como uma fase voando no Tapete quando a Caverna das Maravilhas entra em erupção. É uma das sequências mais emocionantes da animação, logo qualquer jogo usaria esse cenário para uma fase de fuga. Entretanto na sua essência são jogos com gameplays que focam em pontos diferentes
Apesar do level design bagunçado, nota-se que o Aladdin do Mega Drive dá um pouco mais de ênfase em exploração tendo itens escondidos que você pode encontrar ao longo das fases. Ao mesmo o tempo o jogo insere um pouco mais de ação já que aqui o Aladdin derrota seus inimigos com uma espada, além das maçãs que causam dano em vez de apenas atordoar.
Outra ponto em que os jogos divergem é na estética. Porque os sprites do Aladdin da Capcom até reproduzem bem os designs da animação, adaptando a um estilo gráfico mais parecido com o que tínhamos nos jogos dela. Já o Mega Drive reproduz com quase total exatidão a estética de Aladdin que, somado as músicas, dá uma impressão maior que você está jogando a animação.
Contudo eu vou contra o ponto que vi fazerem que a versão da Virgin Games reconta melhor o filme, pois já nas primeiras fases você nota uma liberdade artística maior sendo tomada nesse Aladdin. E esse para mim é o aspecto mais positivo desse jogo.
Em certo ponto o jogo até começa a seguir o passo a passo do filme, porém o que faz o Aladdin do Mega Drive brilhar é o quanto ele vai além do que aparece no filme. Por isso existem muito mais inimigos aqui, o que inclui chefões, com designs originais que se integram perfeitamente a estética do filme. Em alguns momentos você até fica se perguntando se aquele personagem não aparecem em algum momento na animação. Outra coisa forte nessa versão é o senso de humor, praticamente toda fase tem alguma gag visual se você estiver prestando atenção. E isso traz muito da comédia do Robin Williams cujo personagem do Gênio no original foi escrito tendo em mente ele como dublador.
Só que nem tudo são flores e a razão pela qual hoje eu entendo porque esse Aladdin não clicou comigo como o do Super Nintendo é a jogabilidade. Para começar os controles não são tão precisos, é aquele tipo de pulo “flutuante” que muitos outros jogos de plataforma sofriam. O hitbox também fez ou outra não é muito claro e tem um passagem na fase do Gênio onde você precisa se agarrar em balões que chega a dar nervoso porque precisa de uma precisão quase que milimétrica. Fora o level design bagunçado que eu já critiquei mais de uma vez nesse tópico.
Não significa que o jogo fica ruim por causa dessas coisas. Longe disso. Mas não é um plataforma que eu indicaria para passageiros de primeira viagem. Então embora a versão de Mega Drive tenha seus problemas de jogabilidade, acho que ela compensa bem no quesito de criatividade. E provavelmente os fãs da animação vão gostar muito desse pelos gráficos estarem mais alinhados com a estética do filme e também pelo uso maior das músicas, ainda que eu ache elas sejam usadas mais por nostalgia do que por combinar com a fase.
VEREDITO: JOGUEM OS DOIS, CACETE!
Como eu havia dito, esse não é um texto para ficar escolhendo qual é a melhor versão de Aladdin. Isso não tem a menor importância. São dois bons jogos de plataforma, cada um com seus pontos fortes e alguns probleminhas aqui e ali. Mas nada disso os impede de serem imensamente divertidos para qualquer um que gostava de assistir Aladdin, seja o filme ou até mesmo a série de TV. Pode ir nos dois consecutivamente que é uma ótima dobradinha de jogo de plataforma para se fazer.
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Mas eu continuo achando a de Super Nintendo superior!
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Fiquei curiosa pra jogar o do Mega Drive! Comprei em uma promoção a mídia para o Nintendo Switch que vem várias versões dos jogos do Aladdin, Rei Leão e The Jungle Book, mas acabei pegando porque tinha justamente esse Aladdin da Capcom, marcou muito minha infância.
Então, é um jogo bem diferente daquele da Capcom mas ainda vale a pena dar uma conferida. Mesmo com esse level design bagunçado, eu gostei bastante de como esse jogo tomou mais liberdade criativa pra adicionar coisas que iam além do filme. E tem um senso de humor bem agradável também com as gag visuais sempre acontecendo ali no plano de fundo. Espero que você curta!