A mensagem é curta – porém dessa vez não é grossa – então não vamos perder tempo. Ontem a Netflix lançou a nova temporada de He-Man intitulada como Mestres do Universo: A Revolução. Apesar de ser tratada como uma série separada, ela serve de sequência a Salvando Eternia que foi dividida em duas partes. São cinco episódios de trinta minutos facilmente maratonáveis para uma geração que infelizmente tem se acostumado demais com o consumo rápido. Mas eu não comecei esse texto para extravasar meus resmungos costumeiros, pois já me basta os comentários do meu último BO da Semana. Tô aqui para recomendar um desenho do He-Man que me surpreende o quanto eu venho gostando mais e mais.
A Revolução é uma série para nenhum fã – e aqueles que se fingem de fãs – botar defeito. Embora eu tenho certeza que internet vai encontrar uma forma de transformar isso numa briga cultural. Parte de mim quer acreditar que essa será a temporada com maiores chances de agradar diferentes públicos. Inclusive os antagônicos! Cada um ganha um pouquinho do que queria para essa série.
Ficou evidente que não é bem que os produtores resolveram escutar as, digamos, críticas que pessoas, digamos, emocionadas fizeram sobre Salvando Eternia. Portanto aqui tentaram mitigar vários dos “problemas” que uma parcela do público teve e assim desagradar o mínimo de gente possível. O maior é exemplo disso é a participação mais ativa que o He-Man tem na história. Para mim ele recebeu atenção mais do que suficiente na segunda parte, o que inclui a melhor luta da série toda, mas agora não vai ter ninguém chorando que deram mais espaço para Teela. Felizmente a série também não recua nesse aspecto e tenta chutar a personagem para escanteio. Tanto a Teela, agora assumindo o manto de Feiticeira, quanto o He-Man dividem protagonismo. Até porque uma parte importante de Mestres do Universo: A Revolução é acabar com as implicações e enfim desenvolvê-los como um casal.
Então para aquela galera mais chata que queria algo próximo a série dos anos 80 que muitos conheceram pela TV Colosso ou TV Globinho, vocês receberão a sua boa dose de fanservice. E sim, tem bastante fanservice. Mas o que importa aqui é como todos os personagens dão contribuição para a trama, reforçando como Mestres do Universo é de fato sobre o grupo. Obviamente que alguns serão mais destaque do que os outros, He-Man e Teela por exemplo, mas não dá para dizer que ninguém foi subaproveitado ali. Bom, talvez os vilões. Placa-Mãe foi uma presença tão marcante no final de Salvando Eternia para aqui ela ficar como apenas um acessório do Hordak.
E para quem gostou das escolhas tomadas em Salvando Eternia, pode ficar tranquilo que A Revolução não tenta apagá-la. Pelo contrário, temos uma continuidade direta dos eventos passados, como a destruição de Preternia, para construir, ou melhor, reconstruir a série a partir dali. Algo que vejo que essa série de He-Man vem acertando ao longo das suas temporadas é o de saber o que ele é de fato. Não digo só em termos de power fantasy, com sequências de ações extravagantes onde até os personagens humanos são sobre-humanos, mas numa deliciosa e desavergonhada cafonice oitentista.
Não acho que He-Man precisa ser necessariamente ser cafona para funcionar. Mas Mestres do Universo: A Revolução entende que essa é uma das principais características que fazem o desenho clássico ser cativante hoje em dia. Tem uns diálogos que forçam um pouco o limite, como o discurso da bicicleta que eu só relevei pela cena anterior. O desenho sabe que não precisa ter essa poesia quando a gente só tá esperando o Príncipe Adam gritar “Eu tenho a força!”. Para mim a única coisa que falta de verdade na série é ter coragem de colocar uma narração do He-Man com uma lição de moral para a audiência.
Ao mesmo tempo, a série não se deixa acomodar apenas nessa ação despretensiosa. Existe alguns momentos de carga dramática que te pegam desprevenido. Não pelo choque, como quando o Esqueleto mata o Príncipe Adam para fazer um cliffhanger para a segunda temporada, e sim porque você não imaginaria que a série fosse trabalhar um tema com tanto impacto emocional logo de cara. Porque isso vem logo no primeiro episódio. Você tem uma sequência de luta que te leva a crer que teremos uma temporada puramente baseada na aventura e na porradaria generalizada. De repente temos uma virada súbita no tom que eu duvido que alguém esperava dessa série. Eu não vou falar o que exatamente o que é, mesmo que isso aconteça nos primeiros minutos, porque a reação de “Caralho, He-Man! Vai começar assim?” é uma experiência que julgo ser injusto de tirar da audiência.
Mas pensando em retrospecto, talvez o início que é realmente comovente acaba prejudicando a temporada. Porque no final nós não temos nada que seja tão impactante quanto esse momento. Até mesmo a ação perde o entusiasmo e urgência que outras temporadas trabalharam melhor. E acho que cabe aqui uma reclamação sobre o fato do ritmo de Mestres do Universo: A Revolução ser corrido. Não chegou a me afetar tanto, mas é um ponto que considero bem válido e vi algumas pessoas já comentando sobre isso.
Acredito que a intenção agora foi não de encarar o desenho como uma minissérie dividida em duas partes. Ela funciona mais como um episódio estendido. Algo como aquela série animada de Liga da Justiça, lembram? Tínhamos histórias divididas em dois ou três capítulos, mas que poderiam ser facilmente um único e longo episódio. Por isso que os vilões não recebem toda atenção que deveriam, por que no fundo A Revolução só quer ser mais um episódio de He-Man e os Mestres do Universo que por ventura dura mais de duas horas. De qualquer forma, concordo que os últimos episódios não chegam a ter a mesma empolgação que os primeiros criaram. Aqui a série talvez tenha caído na armadilha de querer deixar tudo para a temporada seguinte.
Portanto, reafirmo que vocês devem assistir Mestres do Universo: A Revolução. Porém o faça sem muito compromisso. Foi uma temporada segura e torço que ela consiga acabar todas as discussões bestas que se iniciaram anos atrás porque o foco não foi o He-Man. A série volta mais uma vez a abraçar o fantástico, o ridículo, o cafona, o sincero e, embora não ache que isso seja um requisito obrigatório para o desenho funcionar, fico muito grato que seja e continue assim. E que venda muito bonequinho, por que eu preciso dessa quarta temporada!
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