
A jovem atriz de 21 anos Bella Ramsey começou na televisão encarnando a personagem de Lyanna Mormont na série Game of Thrones. Já na sua estreia a sua atuaçã chamou a atenção da crítica e sua carreira deslanchou com papéis de peso em outros shows. Enquanto trabalhava em Games of Thrones, Bella também protagonizou a série The Worst Witch até 2020 quando precisou se afastar da produção por questões pessoais. Também nesse período ela dublou a protagonista homônima da animação Hilda, série que passou na Netlifx de 2018 até 2023.
2023 é outro marco importante na carreira de Bella Ramsey, ficando no centro do que viria ser uma das séries de maior sucesso do ano. A jovem foi elencada para coprotagonizar com outro ex-ator de Game of Thrones, Pedro Pascal, na adaptação do jogo The Last of Us. Com tantos trabalhos de peso em sequência, não existe qualquer dúvida que Bella Ramsey é uma das grandes atrizes da sua geração. Mas mal sabia ela que, ao assumir o papel de Ellie, teria que lidar com um dos piores públicos de todo esse mundo: gamers!
A primeira temporada de The Last of Us foi muitíssimo bem recebida tanto pela crítica quanto pela audiência, entre aqueles que conheciam os jogos e aqueles que não. O elenco foi muito elogiado pelas suas atuações, sobretudo a química entre Bella Ramsey e Pedro Pascal que se tornaram muito amigos na vida real. Contudo, no que tange a dupla, existe uma pequena diferença nas reações. Enquanto a interpretação de Pascal como Joel é virtualmente amada por todos, Bella recebeu alguns comentários bem particulares como Ellie.
Eu tenho a vaga memória de ver, quando anunciaram os atores principais, alguns comentários “criticando” a escolha da Bella Ramsey para o papel. Com a chegada da segunda temporada, tais comentários se intensificaram exponencialmente. Em parte porque a mediocridade inata dos gamers os fazem acreditar que algo só pode ser bom se for o mais próximo possível do original. Sobretudo nos aspectos estéticos. Já outra parte mais inflamada nem se importava de fato que a atriz não parecesse com o modelo dos jogos. Bella Ramsey não era uma boa escolha para ser Ellie pois pelo crivo masculino ela não é atraente o bastante. Essas “críticas” vêm de um lugar mais simples e muito mais conhecido na mídia, a misoginia nossa de cada dia.
Não há motivos para medir palavras. Essas reações sobre a última temporada escancaram o aspecto misógino por trás de cada “meme” debochando da aparência da atriz. No Brasil então, só com muita desonestidade para negar. Eu já perdi as contas de quantos comentários e “memes” comparando a Bella Ramsey ao Marquito passaram pelas minhas linhas do tempo. Claro que as pessoas que postam ou compartilham essas coisas vão se defender dizendo que é apenas zoeira. Coisa de internet, né? Afinal, não existe uma defesa mais covarde no mundo do que a de se esconder por trás da comédia.
Não digo com isso que toda piada com aparência direcionada a uma mulher é fruto de misoginia. Eu digo queo caso da Bella Ramsey é misoginia dado a extensão que esses “memes” chegaram. A atriz precisou até desativar suas redes sociais por conta de todo o ódio que vem recebendo nessas últimas semanas. Não é a primeira vez que isso acontece, não será a última e é parte de um processo bem antigo. Podemos seguir as raízes desses comentários para mais além do que a série e do que os jogos de The Last of Us. Para isso precisamos voltar uma década no tempo quando aconteceu o infame Gamergate.
Em poucas palavras, o Gamergate foi uma campanha de ódio massiva online promovida por gamers entre 2014 e 2015. Apesar de ser um movimento descentralizado e sem lideranças públicas claras, existia uma narrativa coletiva específica entre os membros do Gamergate. Eles alegavam que o movimento visava uma maior ética jornalística. Mas para quem estava de fora, a real motivação dessas pessoas estava evidente. Os alvos principais eram mulheres – desenvolvedoras, jornalistas e feministas – que eram vítimas de ameaças constantes de morte ou estupro e doxxing.
O Gamergate coincidiu com a ascensão da alt-right nos Estados Unidos que trouxe consigo um forte repúdio contra pautas feministas, sobre inclusão e diversidade e progressismo em geral. Isso reforça como aquele foi um movimento de guerra cultural com raízes misóginas e não um protesto por mais ética profissional.

O Gamergate não inaugurou a misoginia nos vídeo games, pois ela é muitíssimo antiga que a própria mídia. O que o movimento fez foi escancarar o quão endêmico este problema é dentro das comunidades gamers. Sempre sugiro o teste de perguntar para qualquer mulher que gosta de jogos online se ela costuma ligar o microfone durante a partida com outros jogadores aleatórios. Posso garantir que em 99% dos casos a resposta será não. Depois basta perguntar o porquê de não ligarem e você terá uma sequência de relatos que mostram o tratamento que mulheres recebem dessa comunidade. Sendo assim, o Gamergate é apenas a evolução de um quadro que já vinha se desenvolvendo há anos.
Não tem como negar a raiz misógina do movimento (embora certamente muitos irão tentar) quando você vê como ele começou. O estopim dos assédios se deu em 2014 com o caso da então desenvolvedora de jogos Zoë Quinn. Eu digo “então desenvolvedora” porque em 2017 Zoë passou a se identificar como uma pessoa não-binária e utiliza os pronomes eles/deles. Com certeza hoje o assédio contra eles seria bem pior, considerando como casos envolvendo questões de identidade e gênero são atacados constantemente pela direita reacionária.
Em 2013 Zoë lançou Depression Quest, um jogo de ficção interativa sobre uma pessoa com depressão que tenta lidar com sua condição em situações diversas. Curiosamente antes do Gamergate estourar Zoë já era alvo de ataques, sendo um dos mais graves uma ameaça de estupro quando Depression Quest entrou no Steam’s Greenlight. Tais ataques se intensificaram no ano seguinte quando Eron Gjoni, ex-namorado de Zoë, decidiu expor o relacionamento deles num blog pessoal, The Zoe Post. Eron deu detalhes da relação até o término, além de divulgar mensagens pessoais trocadas entre eles.
Mas o que atraiu atenção do público gamer foi quando Eron deixou implícito que Depression Quest teria recebido uma review positiva de Nathan Grayson, jornalista da Kotaku, por ele ter se relacionado sexualmente com Zoë. A história foi desmentida logo depois, uma vez que Nathan nem mesmo fez uma review do jogo. Porém foi o bastante para que gamers criassem toda uma conspiração acontecendo entre desenvolvedores e jornalistas. Esse é só mais um exemplo de misoginia bem evidente. Não existe um discurso machista mais comum do que aquele de que mulheres recebem benefícios e alcançam determinadas posições em troca de sexo. Eventualmente o discurso evoluiria para uma conspiração ainda maior de como havia uma aliança entre membros do jornalismo e da indústria gamer para empurrar pautas progressistas nos jogos. Hoje conhecemos isso pelo termo guarda-chuva da moda, a cultura woke.
Zoë Quinn não foi a única vítima desses ataques. Dois outros notórios casos do Gamergate são o da Anita Sarkeesian e da desenvolvedora de jogos Brianna Wu. Anita já era alvo da bolha reacionária pelo seu ativismo feminista que focava na representação de mulheres em diferentes mídias, como sua série Tropes vs. Women in Video Games. Durante o Gamergate ele recebeu incontáveis ameaças e teve seu endereço vazado. O caso de Brianna foi similar, também tendo suas informações pessoais vazadas em fóruns de internet após debochar do movimento e de seus membros. Brianna teve que abandonar sua casa nesse período.
As consequências do Gamergate não se limitaram aos Estados Unidos. Anos depois tivemos um eco aqui no Brasil quando, em 2017, a jornalista Bruna Penilhas virou alvo do extinto e racista canal Xbox Mil Grau. Na época, Bruna trabalhava para a IGN Brasil onde ela publicou sua review de Cuphead com uma nota BAIXÍSSIMA de 9.0. O Xbox Mil Grau – que já era conhecido por ser um antro reacionário que se utilizava de flame war para atacar jornalistas e criadores de conteúdo – utilizou seus seguidores para perseguir Bruna sob o pretexto que ela não havia jogado Cuphead para fazer a sua review. Usuários exigiam que ela divulgasse publicamente sua gamertag, num episódio que ficou conhecido como Currículo Gamer. É importante destacar que os assédios que Bruna sofreu não ficaram apenas no espaço virtual, pois ela relata como também foi perseguida durante uma BGS.
O caso da Bruna é o que mais conseguimos fazer uma tangente clara com o Gamergate. Mas se pensarmos apenas no tema de assédio, dá para buscar mais alguns. Em 2019, a streamer Gabi Cattuzo se permitiu a um pequeno momento de descarrego de raiva contra comentários de homens lhe assediando numa das suas fotos do Instagram. Esses gamers ficaram ofendidíssimos com as “generalizações” que a streamer fez – lembrando, tudo depois dela receber comentários lhe assediando – resolveram reclamar para sua patrocinadora, Razer. A marca resolveu tomar o lado deles e cancelou o contrato com a streamer. Só deixa eu lembrar mais uma vez que isso aconteceu depois dela extravasar a sua raiva por conta do assédio que recebia em suas redes.
Por fim, em 2020 tivemos o caso da apresentadora Isadora Bastile que naquele foi anunciada como apresentadora do canal da Xbox Brasil. Para a nossa não-surpresa, o anúncio gerou uma onda de ataques à jovem apresentadora, com acusações de que ela não jogava no Xbox e também com as velhas ameaças de morte e estupro. E o que a marca resolveu fazer? Demitiu Isadora no mês seguinte.
Esses dois últimos casos eu citei para mostrar como casos de assédio contra mulheres são frequentes na comunidade gamer e como algumas empresas chegam a ser coniventes com os ataques. Mas eu queria focar no caso de Zoë Quinn e da Bruna Penilhas porque em ambos existe um elemento em comum que também vai aparecer no caso da Bella Ramsey. Tanto no Gamergate quanto no Currículo Gamer, os gamers criaram um pretexto que escondesse as reais motivações misóginas das suas ações. Não é mera coincidência, é método!
Precisamos entender que por mais que pessoas preconceituosas sejam ignorantes, elas não são inteiramente burras. Um racista, um homofóbico, um transfóbico, um misógino, um “todas as alternativas acima” tem consciência que serão mal vistos na praça pública se emitirem suas “opiniões”. Portanto eles precisam de toda uma narrativa para fazer parecer que não estão dando vazão a preconceitos. É até uma forma das próprias empresas manterem a vista-grossa com essa conduta, pois vamos lembrar que o assédio contra a Bruna aconteceu em 2017 e o canal só foi ser banido do YouTube em 2020. Precisou de uma extensa mobilização na internet depois de um tweet escrachadamente racista de um dos seus membros para que o Xbox Mil Grau recebesse alguma consequência pelas suas ações.

E falando sobre narrativas falsas criadas para esconder as reais motivações, hoje temos a conspiração do “embarangamento” das personagens de vídeo games.
Eu fiz uma rápida menção a essa história no último texto da série de “Como gamers mentem para você”, mas não cheguei a dar maiores explicações. Agora é uma boa hora, porque esse tema também tem suas raízes no Gamergate. O movimento não era um evento isolado, ele também fazia parte do zeitgeist dos anos 2010. Foi nesse período que o termo social justice warrior (SJW) adquiriu uma conotação negativa com a ascensão de vozes e discursos com viés progressista no cosmos da cultura pop. Embora algumas pessoas fizessem jus ao estereótipo, era evidente que o termo era utilizado de maneira bem solta numa tentativa de ridicularizar e silenciar qualquer ideal percebido minimamente como de esquerda.
Essencialmente o que vemos hoje com a abstrata cultura woke. Que coisa, não?
Feministas se tornaram um alvo recorrente desses grupos anti-SJW, não só as reais como as metafóricas. A figura de uma mulher feia, gorda, histérica e de cabelo pintado se tornou a principal caricatura dessa galera para representar as feministas. Tudo isso porque para contrariar as críticas sobre a sexualização de personagens femininas, ainda mais no contexto de vídeo games, o reacionário médio precisava fazer parecer que era tudo inveja de mulheres supostamente não-atraentes. É uma lógica simples: feministas não querem gostosonas games, porque são todas umas barangas.
Só que isso não parou por aí, a narrativa ganhou mais uma camada. Pois não basta que as feministas metafóricas não querem ver gostosonas games, também é necessário que as empresas estejam “embarangando” as personagens para agradar essas feministas metafóricas. É uma narrativa grosseira e que infelizmente funciona com um bando de marmanjos barbados e jovens influenciáveis. Essa conspiração se limita ao Ocidente, pois o Oriente é visto como a resistência para essa turma. Não é à toa que superestimaram muito o genérico Stellar Blade por conta da sua protagonista Eve.
Dá pra pegar vários casos que gamers usam como evidência para esse tal “embarangamento” nos vídeo games. O primeiro em que eu tomei consciência dessa mentalidade foi com Horizon Forbidden West. Se me recordo direito, foram divulgadas algumas imagens da protagonista Aloy nas quais o rosto dela parecia estar mais gordinho comparado a sua versão de Horizon Dawn Zero. Isso foi o bastante para o bando de marmanjos barbados esbravejar na internet e fazer montagens exageradas em que a Aloy ficava cada vez mais gorda.
O meu caso favorito é o de Marvel’s Spider–Man 2 porque ele enfatiza mais o caráter conspiratório dessa galera. Tal como em Horizon, alguns gamers acharam que o novo modelo da Mary Jane estava mais feio do que no jogo anterior. Em cima disso, inventaram uma história que essa mudança tinha sido feita para deixar a personagem mais parecida com uma das roteiristas – nota: roteirista ASSISTENTE – que trabalhou na sequência. Afinal, é assim que funciona o desenvolvimento de um jogo, né? Uma roteirista assistente tem toda a influência para chegar na equipe de design e mandar que tornem a personagem parecida com ela porque sim. Talvez ela fosse uma das feministas que as empresas querem tanto agradar.
Se isso já não é o bastante para ilustrar o grau de paranoia em que esse bando de marmanjos barbados vive, me permitem citar só mais um caso? Stellar Blade! Sim, aquele Stellar Blade. Como não existia polêmica já que a protagonista passou no crivo de gostosona games, o gamer reaça precisou ser mais criativo e inventar uma. Um pouco depois do lançamento, jogadores notaram que algumas roupas de Eve estavam um pouco mais longas do que nos protótipos que foram reveladas para o público. Talvez fosse porque os designs vão mudando ao longo da produção de um jogo? Óbvio que não! A explicação mais lógica é que a Sony censurou o jogo. Chegaram a fazer uma petição exigindo a suposta versão real do jogo.
A conspiração do “embarangamento” das personagens de vídeo games também funciona como um pretexto para atacar mulheres por tabela. Porque, como vimos nesses casos, eventualmente a culpa recai sobre as feministas metafóricas ou então arranjam um jeito de culpar uma mulher real. Porém o mais importante aqui é notar que o cerne dessas reações são por causa do padrão de beleza que o gamer acha correto nessas personagens. Também não preciso dizer como criticar a aparência de mulheres é sempre a primeira arma que qualquer machista escolhe. Com isso em mente, podemos falar de um caso brasileiro recente.
Alguns meses atrás, durante a campanha de marketing de Assassin’s Creed Shadows, a Ubisoft Brasil resolveu fazer um trailer homenageando as séries tokusatsu que tem uma comunidade forte aqui no país. Para isso ela chamou o lutador e streamer Ruan Silva (Joga Zulu) e a jornalista e apresentadora Thais Matsufugi (Flow Games) para representar os personagens de Yasuke e Naoe. Foi uma produção excelente e que repercutiu bem dentro e fora do Brasil.
Mas é claro que não tinha como ficar sem controvérsia, não é mesmo? Assassin’s Creed Shadows já teve sua boa dose de polêmicas por conta do Yasuke e gamers racistas, então qualquer coisa relacionada ao jogo já tinha propensão a atiçar os reaças de plantão. De tal modo, quando a campanha viralizou na gringa, aquele nosso conhecido bando de marmanjos barbados resolveu fazer alguns comentários transfóbicos – e misoginia e transfobia andam de mãos dadas – em relação a aparência da Thais. Comentários estes que foram replicados por um certo canal alaranjado do YouTube brasileiro.
Mais uma mulher, mais um assédio virtual, mais misoginia. Quando a gente coloca todos esses casos em perspectiva, fica muito mais fácil entender os “memes” da Bella Ramsey como mais uma parte desse padrão. Tanto que podemos destacar no caso dela os dois elementos que vimos nos demais, a criação de algum pretexto para atacar uma mulher e o uso da sua aparência como arma para tais ataques. Qual o pretexto dessa vez?
Uma diferença entre a primeira e a segunda temporada de The Last of Us é que, enquanto ambas são aclamadas pela crítica, a recepção da audiência caiu bastante de uma para outra. É até simbólico se pararmos para pensar porque o mesmo aconteceu com o segundo jogo da franquia. Tal como naquela época, eu esbarrei com mais de um comentário dizendo não gostar de algumas das escolhas que tomaram com The Last of Us nessa temporada.
Não nego a validade de alguns desses comentários e nem a possibilidade que existam criticismos honestos aí pela internet. Não é incomum que uma série conquiste a audiência numa temporada e a desagrade numa seguinte. Só que fica cada vez mais difícil acreditar que esse descontentamento com a temporada seja totalmente por motivos genuínos quando vivemos nesse mundo dominado por guerra cultural. É complicado ter generosidade com um público que reclama de um jogo só porque ele tem pronomes neutros. Mas vejam só, eu encontrei um youtuber fazendo uma crítica sincera e argumenta bem sobre os pontos que ele não está gostando na série.
Contudo teve um momento do vídeo que eu tive que balançar a cabeça e ensaiar um sorriso de escárnio quando ele diz que a Bella Ramsey está sendo uma espécie de bode expiatório para os supostos problemas que as pessoas têm com a série. Porque é o inverso. Os supostos problemas que essas pessoas têm com a série que são o bode expiatório para atacar a Bella Ramsey.
A título de curiosidade eu resolvi pesquisar no YouTube e me deparei com vários vídeos que teoricamente são para criticar a segunda temporada de The Last of Us, entretanto as thumbnails destacam o rosto da Bella com montagens bizarras. Palavra esta que aparece no título de um vídeo de um “Mago dos Games” aí para descrever a atriz. Um sujeito que é tigrão na hora de falar de jornalismo gamer, mas é tchutchuca na hora de defender a própria esposa de ataques transfóbicos.
O que me faz ter essa desconfiança com a legitimidade dessas críticas vem de alguns anos atrás, pois eu ainda me lembro bem de Os Últimos Jedi!
Prometo que esse será meu último exemplo.
Os Últimos Jedi esteve numa posição similar a de The Last of Us porque embora o filme agradou a crítica, a audiência de Star Wars se dividiu. Nesse período, o diretor e roteirista Rian Johnson recebeu muitos comentários odiosos internet a fora pela sua condução do filme. Porém nenhum desses comentários se comparam ao que a atriz Kelly Marie Tran sofreu por interpretar Rose Tico. O assédio foi tamanho que, assim como Bella, Kelly decidiu sair das suas redes sociais em 2018, não retornando até hoje.
Agora tentem adivinhar um dos principais aspectos que usaram para atacar a atriz. Foi sua atuação ou foi sua aparência? Fácil demais! Além disso, atacaram também a sua etnia já que ela tem ascendência vietnamita.
Assim, Kelly recebeu todo o ódio do mesmo bando de marmanjos barbados de sempre como se ela tivesse culpa de qualquer coisa que aconteceu em Os Último Jedi. Kelly era apenas uma atriz contratada para interpretar uma personagem num dos maiores blockbusters do cinema. Ela não tinha qualquer controle criativo sob qualquer aspecto do filme que não fosse a sua atuação. Porém isso pouco importa para os marmanjos. Ela ainda foi assediada por fãs e “fãs”, mais do que qualquer pessoa da produção. Talvez o único mais próximo desse mesmo tipo de assédio foi o ator John Boyega, vítima de ataques racistas em O Despertar da Força.
Depois de tantas histórias, como acreditar que o caso de Bella Ramsey é apenas zoeira de internet ou então críticas honestas? Porque, vamos lá, a suposta queda da qualidade da segunda temporada é irrelevante uma vez que os “memes” começaram antes mesmo dela ir ao ar. Também não existe isso dela só estar recebendo o ricochete do descontentamento pela série uma vez que a atriz tem influência nenhuma nas decisões criativas que tomaram. Menos ainda dá para levar fé que é por causa da atuação dela porque, primeiro, ela é uma ótima atriz e, segundo, porque o que ficam destacando o tempo todo é o quanto ela não se parece com a Ellie original. Que nem existe, porra!
Então não se enganem. Os ataques à Bella Ramsey não tem nada a ver com a série. A atriz vem recebendo todo esse assédio pelo mesmo motivo que Zoë Quinn (quando ainda não se identificava como não-binária), Anita Sarkeesian, Brianna Wu, Bruna Penilhas, Gabi Catuzzo, Isadora Bastile e Thais Matsufugi foram atacadas. O motivo é ela ser mulher e essa é a única coisa que gamer odeia mais do que vídeo games!
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