Em Memória à Satoshi Kon é uma minissérie de cinco textos que pretendo fazer sobre a obra de um dos grandes diretores de animação que já existiu. Satoshi Kon iniciou sua carreira em 1984 e esteve em atividade até sua morte em 2010 por conta de um câncer pancreático. Durante esse período ele dirigiu quatro longas-metragens que se tornaram clássicos modernos da animação japonesa. O primeiro texto da minissérie foi sobre Tokyo Godfathers e agora decidi falar não sobre um dos seus filmes e sim uma série, Paranoia Agent, que ele criou antes do que seria seu último filme, Paprika.
Numa ironia do destino, eu não só deveria ter assistido essa série muito tempo atrás como também o texto deveria sair antes. Acontece que eu acabei empacando nele e o Natal se aproximava, então resolvi priorizar um dos filmes.
Como eu já esclareci anteriormente, eu assisti todos os longas-metragens do Satoshi Kon mais de uma década atrás. Porém, teve uma coisa que deixei passar nessa maratona: Paranoia Agent. Erro este que fui corrigir no final do ano passado. Paranoia Agent é uma série animada em 13 episódios que o Satoshi Kon criou em 2004 que puxa vários temas dos seus filmes anteriores: Perfect Bluce, Millenium Actress e Tokyo Godfathers. Você pode assistir essas obras na ordem que quiser, mas eu recomendo deixar para verem a série depois. Isso porque o Satoshi Kon utilizou Paranoia Agent para dar vazão há algumas ideias que ele não conseguiu utilizar nos filmes.
Esse será um texto um tanto diferente do que eu planejei para o restante da série, pois será evidentemente mais longo. Portanto, vamos a umas questões rápidas:
UM RESUMO DE PARANOIA AGENT E UM AVISO RÁPIDO
A história de Paranoia Agent se passa em Musashino, uma cidade nos arredores de Tóquio, onde um estranho fenômeno passa a afetar a população local. Um misterioso delinquente, que ganha o nome de Shounen Bat, ataca pessoas aparentemente aleatórias com um taco de basebol dourado. Por boa da série nós seguimos pelo ponto de vista das vítimas desse delinquente e alternamos com os detetives encarregados de investigar o caso. Pouco a pouco compreendemos melhor as vítimas e vemos como a chegada do Shonen Bat impacta tanto as suas vidas quanto a da população de Musashino.
Diferentemente de Tokyo Godfathers, aqui o Satashi Kon volta a repetir um dos temas mais predominantes de todas suas obras: o limiar entre ficção e realidade. Mas dessa vez ele usa o tema para discutir a relação entre as ansiedades do mundo moderno e o desespero para escapar dessa realidade. Então, na minha leitura, Paranoia Agent é um comentário sobre os aspectos mais sombrios do escapismo. Não que ele seja intrinsicamente prejudicial para as pessoas. Todo mundo precisa de um descanso temporário das pressões cotidianas. O que a série comenta é sobre como se perder num mundo ficcional, seja ele um jogo, um desenho, uma história em quadrinhos, etc; pode tornar as pessoas letárgicas a realidade ao seu redor.
A seguir eu irei comentar as minhas impressões desse tema através de todos os episódios. E quando digo todos eu estou falando sério. Nos próximos tópicos eu vou cobrir cada um dos treze episódios de Paranoia Agent. Então acho que nem precisa dizer que haverá SPOILERS do começo até o fim da série. Então se você já assistiu Paranoia Agent, ou não liga para saber de, mais uma vez, TODOS OS DETALHES da história, vá em frente. Caso não queira ler sobre cada um dos capítulos, pode pular para o último tópico onde faço um apanhado geral do que tirei da série.
AS AFLIÇÕES NO MUNDO MODERNO (EP. 01 AO 07)
Cada episódio de Paranoia Agent, com exceção dos dois últimos, explora a história de um personagem novo ou que já tinha sido apresentado num anterior. No primeiro nós temos contato com três nomes centrais para a série história. O trio marca uma presença contínua até mesmo nos momentos em que não são foco do episódio. Tsukiko Sagi, uma designer que vira a primeira vítima do Shounen Bat, e os dois detetives responsáveis por investigar o caso, o veterano Keiichi Ikari e seu parceiro Mitsuhiro Maniwa.
Além disso, nos primeiros episódios existem temas recorrentes que giram em torno de estresse, frustrações e ansiedades todas associadas as pressões da vida moderna. Porém o que eu acho mais importante destacar nessa primeira parte da série é como se constrói a figura do Shounen Bat. Mesmo que ele seja um agressor, Paranoia Agent a princípio faz parecer que ela é na verdade um salvador, uma vez que todas as vítimas parecem mais tranquilas após serem atacadas por ele. Mas estou me adiantando, vamos para os episódios.
1. Enter Lil’ Slugger:
Quando conhecemos a Tsukiko nos fica claro o quanto ela está uma pilha de nervos. A jovem designer alcançou uma posição de destaque graças a um personagem que ela criou, um cãozinho rosa chamado Maromi, e se mostrou um sucesso de vendas. Porém, a partir daí, Tsukiko passou a ser pressionada pelo seu chefe, que por usa vez está sendo pressionado pelos clientes, para que ela crie outro personagem que seja tão popular quanto Maromi. Como se isso não bastasse, a jovem passar a ser odiada por todas as suas colegas de trabalho que tem inveja do seu sucesso repentino.
O seu estresse chega ao ápice quando ela volta sozinha a noite depois de um exaustivo dia de trabalho. Tsukiko começa a ficar paranoica que está sendo seguida e se assusta com uma idosa moradora de rua. Ao fugir, a jovem tropeça, deixa cair todos os seus rascunhos e um deles vai parar embaixo de um carro. Ela tenta pegar o papel, mas sua blusa rasga e isso acaba sendo a última gota para o dia de merda que levava. Quando Tsukiko está prestes a ter uma crise de ansiedade, vemos a sombra de uma criança se aproximar no fundo.
O misterioso garoto ataca Tsukiko com um objeto pesado e no dia seguinte a vemos hospitalizada com a perna machucada. Os detetives Ikari e Maniwa assumem o caso para identificar o agressor e Tsukiko faz um retrato dele: um menino de boné vermelho, patins e que carrega um taco de basebol entortado.
Depois do ataque, Tsukiko aparenta ficar mais relaxada. Contudo no trabalho ela continua sendo pressionada e as colegas continuam a detestando. Isso faz com que ela comece a ter visões de um dos bonecos de pelúcia de Maroni ganhando vida e falando com ela. Ao mesmo tempo, um repórter inconveniente, Akio Kawazu, que passa a persegui-la para conseguir mais detalhes do caso. Isso tudo culmina numa segunda aparição do delinquente de patins. Mas dessa vez ele ataca o repórter enquanto ele corria atrás de Tsukiko. A jovem vê o Shounen Bat aparecer na sua frente e dizer: “Cheguei!”.
Embora muito dos temas de Paranoia Agent já estejam presentes nesse primeiro episódio, aqui me limitarei a sinopse. Existe muita coisa ainda para ser comentada na frente e esse primeiro capítulo funciona mais para introduzir nós, a audiência, na história. Mas prestem atenção na frase dita pelo Shounen Bat ao encontrar a Tsukiko pela “segunda” vez porque isso será importante nos próximos episódios.
2. The Golden Shoes:
Se no primeiro episódio Paranoia Agent se dedica a nos fazer simpatizar com a vítima, o segundo faz o oposto. Aqui se inicia a estrutura narrativa que mencionei, onde cada capítulo explora um personagens diferente. Dessa vez o protagonismo é entregue a um menino chamado Yuuichi “Icchi” Taira, cuja vida vira de cabeça para baixo quando surgem os primeiros rumores do Shounen Bat. Antes ele desfrutava de grande popularidade entre seus colegas, porém ao suspeitarem que ele é o delinquente que atacou a jovem designer ele passa a ser motivo de desprezo.
Conforme o episódio prossegue nos passamos a ver um lado cada vez mais sombrio de Icchi. Ao perder o seus status de garoto mais popular da escola ele se torna uma pessoa maliciosa que passa a descontar toda sua frustração em cima de Shougo. Esse é um gentil garoto que se mudou recentemente para cidade e tem se esforçado para se enturmar.
Icchi responsabiliza Shougo por tudo de ruim que aconteceu na sua vida, contudo as suas tentativas de prejudicá-lo só se voltam contra ele. Principalmente depois que Shougo é atacado pelo suposto Shounen Bat que alimenta ainda mais a crença nas pessoas que Icchi é culpado. O garoto é então ostracizado por todos seus antigos colegas e se isola no seu quarto.
Todos esses problemas destroem o psicológico do garoto, levando-o a perder o contato com a realidade e sair correndo pela rua jurando que vai pegar o Shounen Bat para provar sua inocência. É evidente que ele está passando pela mesma crise Tsukiko e só aí que o delinquente surge durante um dos seus surtos. Icchi. Assim a série reforça mais uma vez que o Shounen Bat está tentando ajudar pessoas que estão a ponto de perderem a cabeça totalmente. Mas será mesmo que é isso? Porque no caso de Icchi não vemos qualquer melhoria na sua situação, apenas uma tela preta.
3. Double Lips:
O terceiro episódio de Paranoia Agent abre com uma garota de programa, Maria, terminando de atender um cliente. Antes de passar para o próximo, ela usa o celular para checar sua caixa postal e ouve uma mensagem zangada de uma mulher a criticando pelo seu modo de vida. Maria deixa uma mensagem para essa mulher e vai para cliente seguinte. Mais tarde, quando chega em casa, para nossa confusão, ela escuta a mensagem que ela mesmo mandou para a tal mulher zangada.
Nas cenas seguintes vemos Maria tirando sua maquiagem, revelando seu nome verdadeiro que é Harumi Chouno, a tutora de Icchi do episódio anterior. Percebemos então que ela vem discutindo consigo mesmo através das mensagens deixadas na caixa postal. As coisas passam a fazer mais sentido quando descobrimos que ela sofre de transtorno dissociativo de identidade.
Acontece que ambas as personalidades de Harumi entram em conflito uma vez que ela quer manter uma imagem da típica mulher “bela, recatada e do lar”. Isso se agrava quando ela é pedida em casamento e tenta eliminar a existência de Maria para sempre, o que deixa essa personalidade ainda mais agressiva.
Os dois “lados” de Harumi vão se chocando cada vez mais, disputando sobre quem é o verdadeiro eu dela. O que culmina nela brigando fisicamente consigo mesma no meio da rua até que, surpresa, Shounen Bat surge do nada e lhe ataca também. É nesse episódio que vemos a série questionar se o delinquente é de fato um vilão quando Maniwa comenta com Ikari que até o momento todas as vítimas aparentam estar mais aliviadas após o ataque.
4. A Man’s Path:
No final de Double Lips vemos uma cena rápida revela que o Shounen Bat foi capturado por um policial, Masami Hirukawa. Então nesse episódio nós acompanhamos os eventos que antecedem o momento da prisão para conhecer mais do personagem. A reviravolta vem porque o setup do terceiro episódio nos faz crer que o Masami é uma figura heroica, porém a realidade é mais decepcionante.
Apesar de ter toda uma postura de um homem de família, ele trabalha para uma grupo local da yakuza. Além de ser pago em dinheiro, Masami também usa os serviços das garotas de programa do grupo demandando que elas o chamem de “Papai”. É, vocês já devem imaginar onde isso vai chegar. Depois de… gozar muito dos benefícios que a yakuza concede, Masami passa a ter problemas com um novo chefão que exige que ele faça algumas contribuições em dinheiro paro os mafiosos. Nessa mudança de cenário, Masami se vê obrigado a cometer uma série de furtos para juntar as quantias exorbitantes que o chefão passa a lhe cobrar.
Algo curioso é que ao longo do episódio nós vemos o Masami lendo um mangá que retrata um típico protagonista de shonen que é o exato oposto do que ele é na vida real.
É a primeira vez que vemos o tema do escapismo ser tratado de forma mais escrachada na série, pois é bem evidente o quanto Masami gostaria de viver na pele do protagonista. No universo daquele mangá ele poderia ser um jovem destemido e virtuoso que serve como modelo para outras pessoas. Não um policial em desgraça que assalta velhinhas no meio da rua.
No final do episódio temos o policial rezando para algo o pare e assim ele não precise cometer mais crimes, então ele também é atacado pelo tal Shounen Bat. Ao contrário do que aconteceu com os outros personagens, o Masami não fica inconsciente e consegue se levantar. Ele acerta o garoto com seu sapato, derrubando-o e conseguindo e prendê-lo.
Pode parecer estranho que a série está recompensando o personagem, já que de todos até o momento ele se mostrou o mais baixo e desprezível. Só que com informações que vem nos episódios seguintes, vemos que a “vitória” dele é uma farsa tão grande quanto ele próprio. Embora o mundo o enxergue como um herói, nós sabemos o que o Masami é de verdade por dentro.
5. The Holy Warrior:
É impossível assistir The Holy Warrior e não pensar em Millennium Actress, o segundo filme que Satoshi Kon dirigiu. Nesse episódio acompanhamos Ikari e Maniwa interrogando o garoto que suspeitam ser o Shounen Bat. Seu nome é Makoto Kozuka e o seu perfil bate exatamente com o “retrato-desenhado” que Tsukiko fez do seu agressor. Só que o interrogatório não sai como Ikari imaginava, pois logo ele e seu parceiro percebem que o garoto tem um comportamento bem peculiar. Kozuka acredita ser um guerreira sagrado que foi escolhido para combater uma entidade maligna que ele chama de Gohma. Assim o garoto percebe a nossa realidade como se fosse um jogo de RPG de fantasia medieval.
Se comparado aos episódios anteriores, esse aqui é muitíssimo mais leve e cômico. Ikari e Maniwa se veem obrigados a embarcar na ilusão do garoto na esperança de conseguir alguma pista sobre o caso. Assim rola uma recapitulação de todos os casos anteriores, pois dentro da sua realidade distorcida o Kozuka consegue recriar todos os ataques que ocorreram.
The Holy Warrior é feito para criar essa confusão na audiência e trazer uma ambiguidade sobre a a figura do Shounen Bat. Por isso que o episódio não nos oferece resposta alguma. Pelo contrário, a gente só vê a trama de fato avançar nos instantes finais quando o Maniwa tem uma epifania sobre o caso que os leva a recuar alguns passos e retornar para o ponto em que a história começou.
6. Fear of a Direct Hit:
O episódio começa com uma tempestade se aproximando de Tóquio. Simbólico, não? Sob ventos fortes, Ikari e Maniwa encontra a velha moradora de rua que é a única testemunha do ataque de Tsukiko. Em paralelo, acompanhamos também uma nova personagem, a adolescente Taeko, que visivelmente está sofrendo com algum problema familiar que a motivou fugir da sua casa. Aqui o tom volta a ser o mesmo dos demais episódios e a série usa as duas linhas narrativas como uma forma de explorar a ambiguidade do Shounen Bat que introduziu em The Holy Warrior.
No lado do Ikari e do Maniwa a gente vê uma contestação ainda mais forte sobre o Shounen Bat. Isso porque o relato dado pela moradora de rua os fazem trazer Tsukiko novamente para ser interrogada. Só que dessa vez o tom dos detetives é muito mais agressivo do que na primeira vez. Agora eles tem que confrontá-la com a verdade: naquela noite ela nunca foi ataca por um delinquente de patins, foi ela mesmo que machucou a própria perna acertando-lhe com um cano.
Isso ocorre no ápice dramático do episódio, porém antes e durante a cena de interrogatório alternamos com o lado de Taeko da história. Estabelece-se que a jovem admirava muito seu pai, porém um dia descobriu que tirava fotos íntimas dela com uma câmera escondida no seu quarto. Portanto ela foge. A identidade do pai vocês já devem ter imaginado se prestaram bem atenção no texto. Vemos então uma Taeko desesperada na chuva querendo esquecer de tudo que ela descobriu sobre o pai. O momento que ela deseja que sua memória seja zerada acontece no mesmo instante que o detetive Ikari conta a verdade sobre a noite do ataque para Tsukiko. E isso acontece:
Tsukiko, que estava na delegacia, cai como se tivesse sido atingida na cabeça tal como Taeko que é alvejada por um novo Shounen Bat. Que agora sabemos que não pode ser o Kozuka já que ele estava sob custódia da polícia. Logo quando tudo parecia estar se direcionando para uma resolução, voltamos a estaca zero.
Ao final desse episódio ficamos sabendo que Taeko era filha do policial corrupto Masami e que o trauma do golpe fez com que a garota não só esquecesse o segredo do pai mas como a sua própria identidade. O reset mental dela simboliza também o reinício da trama da série, pois tudo que achávamos saber do Shounen Bat pode ser esquecido. Ele não atacou Tsukiko, ele não é o Kozuka e os detetives não tem a menor ideia do que ele pode ser.
7. MHz:
O choque das revelações do último episódio repercutem de várias formas nesse. Se você comparar a atmosfera de The Holy Warrior com MHz dá até para acreditar que são duas séries completamente opostas, pois agora nós estamos indo fundo no campo do terror. Bom, tecnicamente a maioria dos episódios tem um componente de terror psicológico, mas é aqui neste sétimo que sentimos Paranoia Agent ficar realmente pesado. Tanto que é a partir dele que começamos a ter óbitos reais na história, quando Kozuka é encontrado morto na sua cela ao fim do episódio.
Os aspecto mais sombrio desse episódio também reflete em dois personagens que até agora eram satélites nas histórias. Vemos como o caso já está afetando Ikari e principalmente Maniwa, cujo psicológico vai deteriorando ao desenrolar de MHz. Acredito eu que esse é o principal motivo da série ficar muito mais sombria a partir daqui porque eram os detetives que traziam uma certa normalidade para Paranoia Agent. A partir do momento que ambos começam a se afetar pelo Shounen Bat, a gente percebe que não existe um lugar ou alguém seguro nesse universo.
A reação do Maniwa, que vai se tornando mais obcecado e desequilibrado conforme se afunda no caso, reflete também a audiência. Pois tanto o personagem quanto nós temos que admitir agora que o Shounen Bat não pode ser mais explicado racionalmente. Antes daria para explicar tudo como uma representação do estado mental das vítimas, agora não mais. Somos obrigados a entender que ele se estende para além dos limites da lógica do nosso mundo e as fronteiras da realidade começam a desaparecer.
A VERDADEIRA FACE DO SHOUNEN BAT (EP. 08 AO 10)
Sendo uma série que com capítulos que divergem tanto de narrativas, tom e até mesmo estilos artísticos, dizer que um episódio de Paranoia Agent é diferente dos demais não tem muito sentido. Porém nos três episódios que se seguem a gente nota uma tomada diferente na progressão da trama. Isso porque temos narrativas ainda mais peculiares com personagens que não parecem estar exatamente ligados a trama, mas apenas existindo em conjunto com esse universo. Nem me surpreende que ao pesquisar no Reddit acabei esbarrando com gente considerando-os como fillers, o que só reforça minha crença de como esse é um termo que não serve de nada para análise de uma obra.
Até compreendo quem define esses três episódios como fillers, porém acho que visão bem boba. Isso porque embora os personagens aqui não tenham um papel central na história como os sete anteriores, a série usa essa parte para desenvolver mais o que é o Shounen Bat. Num primeiro momento, tal como o Maniwa diz, ele parece estar ajudando todas aquelas pessoas. Entretanto, aos poucos vamos percebendo o real perigo que o Shounen Bat representa não só para aqueles personagens, mas para o mundo e passamos a enxergá-lo como vilão. E são nesses episódios que vemos como ele vai ganhando força.
8. Happy Family Planning:
Até o momento eu não tive receio de spoilar nenhum detalhe de Paranoia Agent, mas em Happy Family Planning eu vou evitar. Isso porque ele é um episódio tão único e que fomenta tantas interpretações que acho um crime revelar detalhes sobre ele, pois isso destrói muito o impacto que ele causa.
Na história nós seguimos três pessoas que decidiram fazer um pacto suicida. Nós não sabemos seus nomes reais, apenas os apelidos que eles utilizavam no chat em que se conheceram: Fuyubachi, Zebra e Kamome. Os três marcam então um encontro para se matarem juntos, porém Fuyubachi e Zebra, dois homens mais velhos, se surpreendem ao descobrir que Kamome é apenas uma garotinha. Então o episódio todo segue com o grupo passando por diversas tentativas fracassadas de suicídio enquanto tentam despistar Kamome para que a menina não morra.
O que eu gostaria de pontuar é que tem um objeto que se destaca pelo episódio inteiro. Todos os três personagens aparecem carregando a mesma mochila com uma cor rosa berrante de alguém que já estamos bem familiarizados: Maromi.
O cachorrinho rosa criado por Tsukiko é uma presença constante em todas as histórias, tanto quanto o Shounen Bat. Ele aparece até mesmo na ending de Paranoia Agent onde vemos todos os personagens dormindo juntos na grama e formando um círculo com um boneco gigante do Maromi no centro nos encarando. O fato dele aparecer de algum jeito ou de outro até mesmo quando não estamos no contexto da Tsukiko mostra o quão ubíquo o Maromi é para esse universo e logo vamos entender o porquê.
9. ETC:
Com exceção do último episódio, até o momento nós só víamos Shounen Bat da perspectiva de pessoas que entraram em contato direto com ele. Porém em ETC a gente olha o personagem pelas lentes de personagens que apenas ouviram falar sobre o delinquente misterioso. São uma série de vinhetas que representam fofocas contadas por um grupo de donas de casa sobre histórias envolvendo o Shounen Bat
As duas primeiras são bem similares aos casos que vimos até o momento: um rapaz tentando desesperadamente passar no vestibular que ele já reprovou várias vezes e uma nora tendo que conviver com uma sogra que a crítica em tudo. Ambas são pessoas passando por situações de alto estresse que as levam a cruzar caminho com o delinquente do taco de baseball dourado.
Nela as enfermeiras de uma clínica de inseminação artificial cometem um erro e utilizam tanto o esperma quanto os óvulos errados na paciente. Tá aí uma frase que eu nunca achei que escreveria nesse blog. Elas e o médico escondem isso da mulher, porém durante a ultrassom a imagem de um mini-Shounen Bat aparece no monitor. É um desfecho mais cômico do que perturbador e isso é intencional. Pois a partir dali essas histórias ficam tão ridículas que é óbvio que são inventadas.
Mas existe um elemento em comum nelas pelo menos e que se alinham com o tema da série. Em todas as histórias vemos alguém responsabilizando o Shonen Bat por qualquer mazela que acontece no mundo. Assim o personagem adquire um novo papel dentro da série: ser uma desculpa esfarrapada para que as pessoas não tenham que lidar com as complicações e responsabilidades das suas próprias vidas. Algo que fica muito evidente no episódio seguinte.
10. Mellow Maromi:
No seu décimo episódio Paranoia Agent resolve mergulhar o pé na metalinguagem. Aqui nos acompanhamos a tempestuosa produção de uma série animada baseada em Maromi. A data de transmissão do primeiro episódio se aproxima e a equipe tem dificuldades para cumprir o prazo. E boa parte dos problema tem um motivo em comum: o gerente de produção Naoyuki Saruta.
Saruta é péssimo no seu trabalho, vive criando contratempos para o estúdio e não cumprindo suas obrigações. Por conta disso ele acaba afetando o desempenho da equipe como um todo e uma parcela do atraso é por culpa dele. Porém em vez de admitir que ele simplesmente não tem capacidade para o cargo, Saruta fica tentando se convencer que pegam demais no pé dele e que no final ele será responsável por salvar o dia. Ao longo do episódio a gente alterna entre cenas dele dirigindo numa autoestrada para entregar a fita com o primeiro episódio da série de Maromi para a emissora e flashbacks que mostram o desastre que ele causa na empresa.
Num desfecho bem terrível, descobrimos que antes de se dirigir para a emissora Saruta matou todos os membros da equipe para ficar com a glória só para si. Porém no caminho ela passa a ser perseguido pelo Shounen Bat e termina batendo o carro.
Enquanto seu corpo jaz ensanguentado no chão, as mãos de uma das executivas da emissora pega a fita e deixa Saruta para trás. Gravem esse detalhe também que no final comentarei mais sobre ele. Aqui basta destacar como temos mais uma pessoa que tenta ignorar a realidade por não saber lidar com ela e fugir das suas responsabilidades. Logo não existem muitas dúvidas a esse ponto sobre o que a série está comentando. Por isso os três últimos episódios são dedicados escrachar esse tema de Paranoia Agent antes dar um conclusão para a história.
A LETARGIA PERNICIOSA DO ESCAPISMO (EP. 11 AO 13)
Como pretendo fazer um apanhado de tudo que comentei durante esse longuíssimo texto eu não vou me estender muito na introdução desse tópico. Nessa reta final temos a série retornando ao núcleo principal formado por Tsukiko, Ikari e Maniwa para revelar a origem e o significado de Shounen Bat. Falaremos dessa última primeiro já que isso é nos entregue de bandeja no episódio 11.
11. No Entry:
Se No Entry fosse o capítulo final de Paranoia Agent eu me daria por mais do que satisfeito. Porque isso não é um episódio, é um esculacho e um dos bem dados. Ele abre com uma mulher num consultório médico dizendo que ela e o marido não tem dinheiro para pagar a operação, apesar do alerta do doutor que a sua vida depende disso. A mulher então vai andando até sua casa, com uma expressão bem melancólica enquanto ouve os transeuntes a sua volta falando sobre o Shounen Bat.
Ao chegar descobrimos duas coisas. Primeiro que ela é Misae Ikari, esposa do detetive Ikari, e segundo que o Shounen Bat estava a sua espera. De imediato a gente chuta o que provavelmente vai acontecer. Com um estado de saúde agravado e com a recém demissão do seu marido, Misae caiu num estado de depressão e assim como os outros personagens invoca o o Shounen Bat para poder fugir dos seus problemas. Só que é exatamente o oposto. A Misae, apesar de estar no ponto mais baixo da sua vida, o atraiu para lhe dar uma lição sobre a resiliência do espírito humano.
Boa parte de No Entry é um monólogo da Misae falando de todos os problemas que ela e o marido enfrentaram no passado distante e recente. O relato afeta o Shounen Bat: nos momentos mais desesperadores, ele cresce se alimentando do sofrimento da mulher. Porém quando Misae demonstra a imensa força de vontade que tem, ele mingua de volta para um corpo de uma criança. O que culmina num dos discursos mais memoráveis do animê que pontua por A + B tudo que vinha discutindo até o momento. Nas palavras de Misae:
Você aproveitou um momento de descuido meu e resolveu aparecer. Para me matar. Para me dar uma falsa salvação! Mas eu não vou ceder. Nunca mais desejarei a morte! Sim, é assim que os humanos são. Não importa o quão difícil seja, nós aguentamos a realidade. Mas você, que não é humano, não entende isso. Você simplesmente machuca e mata aqueles que estão com problemas e se ilude achando que assim estará resolvendo seus problemas. Que pretensioso! A única coisa que você é capaz de fazer para se sentir satisfeito é agir assim. Sua própria existência é uma decepção. Sim, iludindo as pessoas com uma paz de espírito temporária. Você é igual a esse Maromi!
Após esse discurso a Misae revela que irá fazer a operação e os muros da casa caem revelando uma pintura de campos esverdeados. Porém esse não é um momento de fuga ou uma realidade falsa, pelo contrário, é um símbolo de libertação. Ao aceitar a incerteza do futuro e sua atual condição, a Misae é a primeira personagem que se mostra verdadeiramente livre de qualquer influência do Shounen Bat e assim ele não tem outra escolha a não ser deixá-la em paz.
Infelizmente o episódio não termina numa nota tão inspiradora assim. Pois ao mesmo tempo que estamos vendo Misae, a série corta também para sequências em que vemos o Ikari no seu novo trabalho no setor de construção. Lá ele reencontra um velho conhecido, um infrator que ele mesmo botou na cadeia e agora responde em liberdade. Em vez de se antagonizarem, os dois se conectam ao relembrar dos “tempos mais simples”. E é aí que nosso detetive finalmente cai. Ao ceder para os sentimentos de nostalgia, Ikari é levado até um um mundo paralelo construído nessas falsas memórias de um passado mais simples para o qual ele gostaria de voltar. Então o Shounen Bat pode ter perdido uma batalha, mas a guerra continua.
12. Radar Man & The Final Episode:
Vou falar dos dois últimos episódios de uma vez porque ambos se complementam.
Quando Radar Man começa nós percebemos que Maniwa perdeu todo o contato com a realidade e assumiu o lugar de Kozuka, imaginando a si mesmo como o guerreiro sagrado que precisa derrotar Gohma que agora ele sabe que é Shounen Bat. Então vemos ele constantemente lutando contra uma versão mais demoníaca do delinquente. Contudo o Maniwa não tem poder o bastante para derrotá-lo porque o próprio Shounen Bat tem se tornado cada vez mais forte se alimentando das ansiedades da população de Musashino.
Sem outra escolha, Maniwa volta a investigar o passado de Tsukiko procurando a “chave” para derrotar o Shounen Bat. Ele visita algumas pessoas que lhe dão informações valiosas, como a esposa de Ikari que diz que Maromi e o Shounen Bat são a mesma pessoa e o pai de Tsukiko que lhe dá a pista final para entender todo o mistério que conecta a jovem com o delinquente sobrenatural.
Ao mesmo tempo que essa trama se desenrola, vemos que o personagem de Maromi se tornou uma febre comercial no Japão, com todos os produtos derivados dele se tornando um sucesso de vendas. Isso não impede que o chefe de Tsukiko a continue pressionando para criar um novo personagem que seja um sucesso igual. E como há pessoas acima dele que o pressionam também e ele acaba assediando moral e fisicamente a Tsukiko, o que leve a ser morto por um Shounen Bat gigantesco.
Nesse momento que Maniwa entra em contato com Tsukiko e revela que falou com o pai dela e agora sabe a verdade por trás de Maromi. Porém o cãozinho de pelúcia corta os fios de telefone e obriga a jovem a fugir para que ela não relembre do que aconteceu no passado. Os dois fogem para a mesma realidade que o detetive Ikari se encontra, enquanto a sua esposa vai para a sala de cirurgia após sofrer uma parada cardíaca em casa.
No último episódio, Ikari e Tsukiko andam tranquilamente pelo mundo da nostalgia em que ele se prendeu. Enquanto isso, no mundo real, uma gosma preta passa a consumir toda a cidade e Maniwa tenta de alguma forma entrar em contato com seu ex-parceiro. Ikari começa a ter visões da sua esposa, no passado e no presente, que tentam trazê-lo de volta pra realidade. Até que ela surge uma última vez e Ikari percebe que a esposa morreu na mesa de cirurgia. Quando ele vê que o que ele tinha de mais importante no mundo foi embora, ele passa a rejeitar o mundo da nostalgia, reconhecendo toda a farsa por trás dele. E por trás de Maromi, o verdadeiro “vilão” da série.
Então, munido de um taco de basebol, o detetive destrói a ilusão do mundo de nostalgia e traz Tsukiko e Maromi de volta para o mundo real. Ele são encontrados por Maniwa que enfim conta o que ficou sabendo pelo pai da jovem. Anos atrás quando ela alegou que um garoto de patins com um taco de baseball matou seu cachorrinho de infância, ela estava na verdade escondendo que ele foi atropelado quando num momento de descuido ela soltou a guia e o cachorro correu pra rua.
A gosma preta tenta pegá-los e Ikari e Tsukiko fogem inutilmente, até que ambos são consumidos por ela. A jovem então é enviada até o passado no dia que seu cachorrinho foi atropelado. Ali vemos que o motivo por trás do seu descuido foi uma infeliz coincidência de naquele dia ela ter sua primeira menstruação. Enquanto estava paralisada pela dor, o cachorro escapou. A Tsukiko mais velha testemunha toda a cena e quando vê sua versão criança a ponto de criar pela primeira vez o mito do Shounen Bat, ela a interrompe e pega o corpo do cachorrinho no colo, pedindo desculpas a ele e aceitando enfim a responsabilidade pelo ocorrido.
Com isso a gosma preta desaparece e o mundo real aparentemente volta ao seu equilíbrio.
A MINHA INTERPRETAÇÃO DE PARANOIA AGENT
Paranoia Agent, e seu criador Satoshi Kon, tem muito a dizer sobre muitos tópicos diferentes. Então seria muito arrogância afirmar que ela comente sobre um único tópico. The Golden Shoes comenta sobre os efeitos do bullying na cabeça de um garoto. Double Lips sobre repressão sexual e papeis de gênero na sociedade japonesa. A Man’s Path desconstrói a figura do pai de família. E por aí vai! Dá para tecer dezenas de discussões sobre essa série, mas eu pessoalmente decidi concentrar a minha leitura no tema do escapismo.
Não que o Satoshi ache que o escapismo seja intrinsicamente ruim. Dentro dos limites de ser apenas um descanso temporário de um dia atribulado não existe qualquer problema nele. O perigo vem em se deixar perder pela fantasia ou querer viver nela. Pois não apenas ilude as pessoas com uma falsa paz, como também as deixam letárgicas para a realidade a sua volta. No final isso nem mesmo consegue tranquilizar as pessoas porque os problemas sempre arranjam um jeito de voltar. Isso fica bem evidente com a Tsukiko, que machuca a própria perna achando que isso de alguma forma vai diminuir o estresse que ela passa no trabalho. Contudo nada muda, porque ela continua sendo pressionada para fazer um novo personagem e as colegas de trabalho continuam a odiando.
Taeko é um dos casos que acho que todos podemos concordar que a vontade de fugir da realidade é a mais justificada. Qualquer um no lugar dela gostaria também de esquecer aquela experiência, só que não é assim que nós lidamos com problemas. Apenas esquecê-los não resolve, pelo contrário, você só está dando mais brecha para que ele ganhe mais força e piore. Exatamente o que vai acontecendo com o Shounen Bat.
Aqui é interessante analisar a escolha do nome para o delinquente, uma vez que shounen no ramo editorial dos mangás e animês diz respeito a demografia meninos bem jovens, dos 12 aos 18 anos. As histórias criadas para esse público geralmente tem uma qualidade de escapismo bem forte, já que são narrativas que giram em torno de personagens heroicos em universos fantásticos cheios de aventura. Também não existe problema em consumir essas mídias, até mesmo quando você não é o público-alvo. Outra vez, você só não deveria ser como o policial Masami, querendo viver numa fantasia porque ela é muito mais agradável do que a realidade deplorável do personagem.
O escapismo temporário pode se agravar para um fuga completa da realidade e como a série mostra existem diversas formas de fuga. Tsukiko cria uma delinquente imaginário para se livrar dos seus problemas. Icchi projeta suas frustrações em cima de outra pessoa. Harumi tenta esconder a parte que ela julga ser inconveniente da sua vida. Kozuka cria toda uma realidade na qual ele é o herói. Taeko escolhe o esquecimento. E Ikari fica pensando nos bons e velhos tempos que ele acredita que era uma época mais simples e sem os problemas do mundo moderno.
Se formos colocar uma “moral” na história de Paranoia Agent é que não devemos negar a realidade por mais dura que seja, ainda mais trocá-la por uma ilusão que pode ser agradável mas não deixa de ser falsa. Por isso que no final vemos uma Tsukiko mais feliz ao largar o emprego que a tanto consumia. Ikari, apesar de ter perdido o emprego e a esposa, também demonstra estar levando a vida melhor um dia por vez.
Mas ainda tem um comentário final que o Satoshi nos reserva. Os últimos minutos do décimo episódio espelham os minutos iniciais do primeiro. Embora os eventos da série não são ignorados, há menções que a cidade está em reconstrução desde o desastre dois anos atrás. Só que há um porém. Vemos um novo personagem surgindo como um Maromi 2.0. Maniwa, que parece ter enlouquecido de verdade, reflete o mesmo velho que vemos lá no começo da série prevendo eventos futuros numa escrita enigmática. Ou seja, vai começar tudo de novo.
Mas não acho que o Satoshi Kon estava dizendo aqui que a humanidade está fadada a repetir o mesmo erro de fugir da sua realidade. Ao meu ver o que ele quis mostrar é que esse ciclo se repete porque há quem se beneficie disso.
Lembram quando eu disse para gravar aquela cena da executiva pegando a fita com o primeiro episódio da série de Maromi? Mesmo com todo sangue derramado, a indústria cultural tem que continuar. Precisam existir novos Maromis que apelem para o sentimento de nostalgia e deem uma falsa sensação de tranquilidade nas pessoas. Basta ver o estado da cultura pop hoje. Quantos estúdios e empresas usam e abusam de da nostalgia nas suas obras? Quantas franquias já tiveram remakes e/ou reboots só na última década? Enquanto tiver dinheiro a ser conseguido explorando a nostalgia alheia, as empresas farão isso independente da consequência na vida de cada pessoa.
Também não acho que o Satoshi Kon estava sendo pessimista nesse desfecho, para mim ele usa Paranoia Agent como um alerta para que estejamos vigilantes e não nos deixemos cair nesse abismo sedutor do escapismo, que a princípio te trará conforto e alívio, mas a longo prazo só te transformará numa pessoa anestesiada para o mundo a sua volta.
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Adorei suas interpretações. Muito obrigada. Eu vivo abismada com o quanto o Satoshi Kon viveu olhando de frente pra tudo o que há de “feio” e estranho no nosso mundo. Ele parece muito ter estudado patologias e vidas de pessoas diversas, porque as aborda com muito realismo. Pra mim, será sempre um gênio. E pra você, um abraço. Grata pelo texto.
Eu que agradeço o comentário, Maria!
Satoshi Kon era um artista fenomenal com uma visão incrível sobre a sociedade, a indústria e a relação entre as ambas. Uma pena que ele tenha partido tão cedo. Hoje deve sair outro texto onde falo um pouquinho sobre Paprika