Eu não consigo ter um dia de paz na comunidade gamer. Um. Mísero. Dia. Sequer! Qual é a bola da vez? Pois bem, agora é o mais recente soulslike de macaco kung fu, Black Myth Wukong. Porém não é sobre o jogo e sim mais especificamente a crítica que a Screen Rant soltou sobre ele poucas horas atrás.
Quando um colega apareceu na minha linha do tempo falando sarcasticamente “Alerta lacração nos games!!!” eu dei aquele longo suspiro sabendo que lá viria mais um episódio idiota dessa comunidade. Antes mesmo de toda aquela situação com Assassin’s Creed Shadows, eu já espero alguma polêmica besta em todo lançamento. Falar de mídias de entretenimento hoje (vídeo games, filmes, séries, quadrinhos, etc) é um ato simplesmente insuportável já que qualquer obra pode virar centro de uma guerra cultural por motivos que desafiam o intelecto humano.
Ok, mas o que aconteceu? Na sua crítica publicada, a Screen Rant deu três estrelas de um total de cinco para Black Myth Wukong. Notas por si só são um conceito estúpido então não tem motivo para gastar energia discutindo sobre elas. Só que esse não foi o problema, não é mesmo? Seria muito bom se apenas isso fosse o problema. Num dos marcadores da lista de contras, a Screen Rant decidiu destacar o ponto “Falta de inclusão e representatividade”. Além disso, a jornalista responsável pela crítica também comenta sobre controvérsias acerca do estúdio e relatos de sexismo e misoginia entre os desenvolvedores.
Resultado: aquela gente que eu mencionei no meu artigo sobre o Yasuke já se ouriçou toda e começou a gritar aos quatro ventos que um jornal diminuiu a nota de Black Myth Wukong por “não ter lacração”.
*siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiigh*
Sabe, eu poderia explicar coisas aqui!
Por exemplo, eu poderia comentar dizendo que estão fazendo um estardalhaço por uma única crítica, feita por uma única jornalista, num único veículo de comunicação. Eu também poderia demonstrar como essa jornalista, ao longo de todo o texto pontua outros fatores que tiveram um impacto negativo na sua experiência, tais como: problemas de desempenho, falta de interação com o ambiente e uma gameplay que vai se tornando repetitiva. Algumas dessas coisas que também se encontram destacadas ali nos marcadores. Poderia apontar que a história da representatividade só aparece na oitava seção do texto. São sete títulos de nível 2 até que qualquer menção a representatividade seja feita. Se eu quisesse poderia até dizer que o destaque que deram para esse contra em particular foi de caso pensado, sabendo que isso chamaria atenção. Ah, eu poderia tantas coisas…
Contudo eu cheguei a conclusão que isso tudo é inútil, mais inútil que este artigo sobre Black Myth Wukong. A batalha já foi perdida, pois todo e qualquer ponto que eu, você ou o fulano de tal poderíamos fazer não importa. Graças a Screen Rant e o editor que tomou a decisão de publicar o texto daquele jeito com aqueles marcadores. Eles deram exatamente o que toda aquela gente queria, porque o gamer reaça que alimenta conspirações desde o infame Gamergate até a mais recente sobre a Sweet Baby Inc. salivava por um espantalho.
De nada adianta a gente tentar mostrar as mentiras, as falácias, as distorções que essa galera faz para justificar a sua permanência numa guerra cultural sem fim, sendo que a própria mídia ofereceu de bandeja o combustível que precisavam. Podemos gastar toda nossa retórica, porém com um simples print eles podem “provar” que existe uma mídia lacradora que está “atacando” jogos que não se rendem a “cartilha lacradora” deles. Para vários deles isso é mais que o bastante e, infelizmente, vai ter gente desavisada sendo carregada nessa onda. Você não precisa de um grande e elaborado argumento para persuadir algumas pessoas. Basta que você apresente o mínimo de evidência – que nem precisa do devido contexto – que isso já ativa aqueles gatilhos e inseguranças que aquela gente carrega. Sejam elas movidas a ignorância ou preconceito.
Então obrigado por tudo, Screent Rant. Espero que todos esses cliques gerados pela polêmica estejam valendo muito a pena.
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