
Sem enrolação: estou adorando jogar Gauntlet Slayer Edition. No gerúndio mesmo! Diferente do que eu costumo fazer, não desinstalei Gauntlet do meu computador depois de terminar a campanha principal. Inclusive, antes de abrir o editor de texto, eu acabei de jogar umas fases só para ver se consigo pegar o jeito da Valquíria. Spoiler: não consegui! Tudo começou com uma compra despretensiosa nessa última promoção da Steam e agora todos os dias eu jogo pelo menos uns 30-60 minutos.
O que me cativou em Gauntlet Slayer Edition é a sua jogabilidade com uma ação simples e direta. Ela resgata aquela experiência arcade da década de 80 (em mais de um sentido, mas não vamos nos apressar) que não tenta se aprofundar nas mecânicas e tirar o máximo do básico. Assim ela vem com pegada meio hack ‘n slash em que a única preocupação que o jogador precisa ter é de eliminar o maior número de inimigos possível.
Para alguns isso vai ser mais do que o suficiente, para outros não é nem o mínimo. Evidentemente que eu estou no primeiro grupo, mas isso não significa que eu sou cego para alguns dos problemas do jogo. É uma gameplay repetitiva por natureza e ainda que existam áreas diferentes os mapas acabam tendo a mesma cara. Teve várias fases que eu fiquei com aquela sensação de já ter passado por ali mais de uma vez. Slayer Edition também não se esforça muito para criar desafios que vão além das suas hordas de monstros e os spawners que você precisa destruir. Existem até algumas tentativas de trazer uns puzzles, mas são tão triviais que é difícil considerá-los como um desafio extra. Eles desviam mais a sua atenção do que agregam à experiência de ação frenética de Gauntlet.
O valor de replay é um tanto relativo. Se você tiver a oportunidade de trazer amigos para te acompanhar no modo infinito ou na campanha principal, a diversão do jogo pode se estender por muito tempo. E provavelmente vai desfazer uma amizade com o cara que consecutivamente acertar o frango no meio da porradaria generalizada. Já eu jogo exclusivamente singleplayer, mas estou conseguindo me entreter bastante ainda. Para tal eu tenho que jogar Gauntlet Slayer Edition em “doses homeopáticas” para não correr o risco de enjoar. Também intercalo com outros jogos, o que mitiga a sensação de estar fazendo a mesma coisa o tempo todo.

Esses são os dois fatores que eu acredito que aumentam o tempo de vida de Slayer Edition comigo. São fatores externos, porém não tiram o fato que o jogo tem qualidades próprias. Falando de fatores externos, recentemente eu descobri mais um. Na verdade foi uma epifania. Acredito que gosto tanto do jogo porque sou virtualmente ignorante quanto à franquia de Gauntlet.
Ok, esse é mais um dos exageros que eu costumo fazer por aqui. O nome de Gauntlet não me é de todo estranho assim. Tenho uma vaga memória de um CD antigo que joguei com um amigo da infância. A gameplay era exatamente a mesma e me recordo de uma intro em CGI que mostrava os quatro personagens principais: um guerreiro, uma valquíria, um mago e um elfo. Entretanto, pesquisando sobre o histórico de Gauntlet e todas as versões que teve para PC, eu não encontrei o tal jogo. Não sei se é um caso de falsa memória ou se o que eu joguei foi uma versão pirata produzida em algum fim de mundo na década de 90. Se alguém tiver ideia, por favor, fale aí nos comentários para eu não ficar com essa dúvida pairando na minha cabeça pelos próximos anos.
Enfim, então eu mais ou menos conhecia Gauntlet só não tinha uma grande conexão com a franquia. Para ser mais exato, eu só fui descobrir que era parte de uma franquia anos depois com uma segunda memória. Contudo, antes de entrar nesse detalhe, vale a pena fazer um resuminho para os mais desavisados.
Gauntlet é uma franquia de jogos de ação bem popular nos anos 80. Hoje dizemos que é um dungeon crawler hack ‘n slash, mas quero ser mais exato com a época. Sua primeira versão saiu para os fliperamas em 1985 e se tornou um dos primeiros exemplos de jogos construídos ao redor de uma experiência cooperativa. Dava para jogar com até quatro pessoas e os jogadores tinham que colaborar entre si para sobreviver a hordas de inimigos enquanto exploram as infinitas fases. O jogo obteve muito sucesso nos fliperamas o que garantiu algumas ports e sequências nos anos seguintes. Assim, Gauntlet conseguiu sustentar a sua marca até o comecinho do século XXI.
Antes de Slayer Edition, o último jogo da série era Gauntlet: Seven Sorrows, lançado em 2005 para PlayStation 2 e Xbox. Este foi o meu segundo contato com a franquia. Não sei se quem encontrou o jogo primeiro, se foi eu ou um amigo, mas o importante é que jogamos bastante naquela época. Joguei até com uma prima que não curtia muito vídeo game. Se me lembro bem, todos os três adoraram o jogo. Para minha surpresa, na internet descobri que o Seven Sorrows era a ovelha-negra de Gauntlet.
Ele não é bem quisto pelos fãs por abandonar o tom mais leve da franquia e cair na onda de jogos sombrios dos anos 2000. A mudança de jogabilidade também não chegou a agradá-los, pois transformou Gauntlet num hack ‘n slash mais convencional, com poucos elementos em comum com seus antecessores e muito mais curto. Eu concordo que como um jogo de ação o Seven Sorrows não tem nada de especial. Entretanto, eu o achei divertidíssimo naquela época. Acho que vou testá-lo novamente qualquer dia dessa para ver se o sentimento se mantém. Enfim, também achei que isso aconteceu pelo meu quase que completo desconhecimento sobre Gauntlet.
O que me leva a crer nisso é uma postagem do Reddit na qual caí de paraquedas dias atrás. Nela um usuário falava como não gostou de Gauntlet Slayer Edition, argumentando que era downgrade em comparação ao original. Nas suas palavras, não havia personagens para desbloquear, poderes legais e nem golpes finalizadores. Era apenas “matança sem sentido”. Isso me deixou com uma pulga atrás da orelha, afinal o Gauntlet Slayer Edition é um óbvio remake do jogo de 1985 adaptado para gerações modernas. Na melhor das hipóteses, o que dá para dizer é que ele aposto no seguro e no conhecido. Além disso, mesmo que eu não conhecesse o original, eu tinha certeza que nenhuma das mecânicas que ele citou existiria num jogo de fliperama da década de 80.

Minhas suspeitas se mostraram corretas. Outros usuários apontaram que a referência do cara de “original” eram os dois jogos que saíram ali na transição do milênio, Gauntlet: Legends e sua expansão Dark Legacy. O rapaz não tinha ideia que Gauntlet era um pouquinho mais antigo do que quando ele a conheceu. Isso fez com que o comentário dele tivesse mais sentido – embora não ficasse mais correto – pois Legends e Dark Legacy são considerados o ápice da franquia. Pelo que pude ler e ver sobre esses dois jogos, de fato parecem uma experiência co-op absurda de boa. Talvez eu também devesse testá-los…
Mensagem do Belmonteiro do Futuro: vai testar nada, já temos coisa demais para jogar!
Assim eu fiquei pensando que a reação a Slayer Edition dependia um pouco do seu referencial de Gauntlet. Aqueles que o conheceram lá atrás estavam inclinados a gostar dessa nova versão, afinal ela é a essência da franquia nos tempos modernos. Já aqueles que tiveram contato com Gauntlet a partir de Legends sentiam-se incomodados com a falta de várias mecânicas que ele introduziu. E ainda tem eu, cujo conhecimento era próximo de nulo me fazia curtir bem mais do que a média por ser uma experiência “nova”.
Mas espera que tem mais! Existe uma terceira camada na minha ignorância aqui. Gauntlet Slayer Edition não é exatamente o remake do primeiro jogo porque essa versão saiu em 2015. O verdadeiro remake é a de 2014 que tem uma jogabilidade diferente em alguns pontos. Um pequeno exemplo é que em Slayer Edition você tem as Masteries que funcionam como um sistema de conquistas internas. Ao atingir certos objetivos, como matar milhares de inimigos, morrer de formas específicas ou concluir uma área em cada dificuldade, você recebe uma quantia de ouro que serve para comprar armas, relíquias, talismãs e roupas para o seu personagem. Na versão de 2014 as Masteries ofereciam bônus como aumento de dano e até algumas habilidades passivas para algumas classes. Particularmente eu gostaria que tivessem mantido isso.
De tudo que eu li, sinto que eu gostaria bem mais dessa versão do que de Slayer Edition. Então é uma pena que a Arrowhead Game Studios decidiu tirar o primeiro de circulação, porque eu adoraria fazer um texto comparando ambas as versões. Pelo menos isso me levou a uma reflexão de como a nossa experiência será moldada não apenas por tudo aquilo que conhecemos como também aquilo que desconhecemos. Talvez eu fosse mais crítico de Gauntlet Slayer Edition se tivesse jogado Legends na minha adolescência ou se tivesse comprado o jogo lá em 2014. Talvez! Mas a realidade é que nesse caso em especial a ignorância me fez ter uma experiência muito melhor, portanto não ousem me tirar da Matrix!!!
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