Left 4 Dead e o segredo de um bom “trailer” cinematográfico

Uma imagem da sequência cinematográfica introdutória do jogo Left 4 Dead que mostra os quatro personagens do jogo agrupados lutando contra uma horda de zumbis. Da esquerda para direita estão: Louis, Francis, Bill e Zoey

Depois do banho de água que Rockstar deu nos seus fãs com o adiamento de GTA VI para 2026, o estúdio resolveu fazer um agrado e liberou um novo trailer. No momento em que eu escrevo este texto, o vídeo já alcançou 77 milhões de visualizações no YouTube com uma recepção majoritariamente positiva por todo mundo. Mas como mamãe diz, eu não sou todo mundo! Porque para mim esse foi um puta trailer medíocre que só é visto como fenomenal por conta do tamanho que essa franquia tem na comunidade gamer. Dito tudo isso, vamos falar de Left 4 Dead!

Beleza, mas que diabos de salto olímpico foi esse? O motivo de achar esse trailer de GTA tão medíocre é porque ele nada mais é um compilado de cutscenes ordenadas numa sequência linear. A nível promocional ele não fez nada para mim, mas isso é irrelevante porque eu já não me interesso nessa franquia há uma década e meia. Onde eu acho que ele falha mesmo é na sua função. Não existe nada nesse trailer que o anterior não tenha estabelecido sobre ambientação, tom, pontos de vista e temas do próximo GTA. É apenas umas ceninhas para o fã deslumbrado ficar especulando e ordenhando conteúdo pelos próximos meses, enquanto sites de notícias têm algo para movimentar cliques pelos próximos dias.

Se eu estou sendo desnecessariamente cínico nesses comentários, é porque mais do que medíocre eu acho aquele um trailer preguiçoso. Talvez até de forma intencional, já que a Rockstar sabe que não precisa fazer muito marketing para um nome tão popular como GTA. Além disso, é só mais um daqueles trailers cinematográficos – ou cinematic trailer – que se tornaram o padrão dessa indústria AAA. Mas vou dar o braço a torcer um pouco, eu não acho que esses tipos de trailers são de todo mau. Teasers, por exemplo, são tipos de anúncio que eu acho que vale muito mais apenas seguir numa pegada cinematográfica já que a intenção é instigar, despertar a curiosidade. Mas trailer, trailer mesmo, de jogo eu acho que deveria ter um mínimo de gameplay revelada.

Então às vezes eu me pego pensando se existem formas boas de se trabalhar um trailer cinematográfico e exemplo que sempre surge nessas horas é o “trailer” de Left 4 Dead.

Estou plenamente ciente que isso não se trata de um trailer e sim do vídeo introdutório quando você inicia o jogo. É porque eu gosto de me referir a essa sequência como “o melhor trailer que não é trailer”. Como eu não acompanhei o lançamento de Left 4 Dead, fui conhecer o jogo por recomendação de um amigo, não sei dizer se aquele vídeo foi usado em alguma campanha promocional. Se não usaram, honestamente, que desperdício! A intro de Left 4 Dead não serve apenas para deixar aquele jogador de primeira viagem mais animado. Aquilo é quase um guia audiovisual que sorrateiramente coloca esse jogador a par de vários elementos da jogabilidade.

Uma das primeiras coisas que o vídeo mostra é a famigerada Witch, um dos infectados mais poderosos do jogo, e como lidar com ela. Você aprende todas as duas principais dicas sonoros, o choro e a mudança na trilha sonora, que indicam que a Witch está próxima. Também você entende que a luz das lanternas pode alertá-la e o que acontece caso ela se levante. Ainda que com uma liberdade criativa, a intro até mostra que se um jogador tentar fechar uma porta para impedir a Witch ela pode destruí-la.

Nessa sequência você também tem a chance de ver o comportamento de outros dois infectados especiais, o Smoker e o Hunter, e como cada um pode incapacitar um jogador. Há uma demonstração de como a pipe bomb funciona e como a buzina dos carros irá atrair uma horda de inimigos. Isso também serve para mostrar a principal sensação de jogar Left 4 Dead, aquela de estar acuado o tempo todo atirando em infectados quem vem de todas as direções. Alguns dos diálogos até fazem alusões a táticas recomendadas, como permanecer juntos quando atacados por muitos inimigos e de correr e atirar quando o Tank está próximo.

Existe uma sequência narrativa clara e coerente na intro de Left 4 Dead. Você identifica a premissa do jogo, você conhece os personagens, você entende a ação. Tudo enquanto já aprende como se joga sem ainda interagir com as mecânicas. Para mim essa deveria ser a forma que os estúdios deveriam trabalhar seus trailers cinematográficos. A jogabilidade não precisa ficar tão explícita, até porque sabemos que algumas coisas podem mudar ao longo do desenvolvimento. Mas dá para você criar o sentimento que o jogador está aprendendo algo que ele vai de fato enfrentar ou usar na gameplay.

Cena bonita pode encher os olhos, mas no final das contas ainda estamos falando de vídeo games e não filmes. Você precisa mostrar para o jogador como ele irá interagir com aquele universo. Mostrar a gameplay diretamente é a forma mais efetiva. Mas ainda dá para ser cinematográfico, didático e entreter sem escancarar a jogabilidade. A Valve conseguiu isso com um vídeo de menos de cinco minutos em 2008, então não tem desculpas para se acomodar com coletâneas de cutscenes e/ou trailers cheios de CGI. Já temos cinema para isso!


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