Média de notas do Metacritic sendo usadas como combustível para flame war
Junho começou feito uma segunda-feira

Adicionando mais um item na minha lista de erros na vida, hoje cedo eu abri o Twitter. Enquanto tomava meu café, eu scrollei pelo meu feed para me atualizar das últimas da comunidade. E foi aí que me deparei com a imagem acima num tweet de um gamer aleatório com a seguinte legenda:

Mesmo jogo, hardware idêntico. Não apenas a média deveria ser a mesma como a quantidade de análises também. Um desavisado vê isso e pensa que o jogo é pior no XBOX, principalmente considerando esses selos de “Must Play”. Depois perguntam pq fico batendo em notas e reviews…

*sigh*

Lá vamos nós… de novo! Eu juro que tento dar o benefício da dúvida, juro. Todavia, no final a gente sempre volta para um discurso que mistura complexo de inferioridade com conspiracionismo sobre manipulação da mídia. E aqui quero destacar que não tenho nada contra a pessoa que fez o tweet, apenas calhou dela reproduzir um pensamento que me incomoda.

Ano passado eu escrevi um texto clamando pro um mundo em que as pessoas entendessem o Rotten Tomatoes. E hoje vejo, mais uma vez, que o mesmo precisa ser feito para o Metacritic, outro conhecido agregador de reviews para filmes, séries, músicas e, principalmente, vídeo games. O problema é que no caso do Metacritic a gente não está apenas lidando com desconhecimento de como a plataforma funciona, nessa equação entra também o maldito flame war da comunidade gamer.

Flame war não se limita a essa comunidade, mas é nela que vejo o termo sendo utilizado com mais frequência graças a eterna guerra de consoles. O que outrora foi protagonizado pelo Super Nintendo e o Mega Drive, hoje é uma briga constante entre sonystas, caixistas e nintendistas. Todo dia eles vão na internet tentar convencer os outros da superioridade dos seus consoles favoritos já que decidiram devotar parte da sua personalidade a um brinquedo. Falo isso com toda a condescendência possível!

Alguns até podem dizer que o flame war é uma consequência natural do tribalismo da humanidade sendo aplicado a redes sociais. Até certo ponto eu concordo. Porém no caso específico dos gamers eu não vejo isso como fruto de uma identificação entre os jogadores, uma comunidade e uma marca. A guerra de consoles se perpetua graças a um profundo estado de ignorância que esses gamers parecem nem se esforçar de sair.

Voltando ao tweet, o colega diz que se qualquer desavisado olhar os resultados do metascore vai concluir que o Street Fighter 6 está pior no Xbox do que no Playstation. Sim, até porque quem costuma acessar o Metacritic são os leigos e não os membros ativos dessa comunidade? O mais foda é o tom do “pior” que faz parecer que existe uma diferença muito gritante entre as médias e não apenas três míseros pontos.

Se estendendo para os comentários da postagem, você vê outros usuários dizendo como Xbox está recebendo notas mais baixas que o PlayStation. Mas se você conferir o Metacritic verá que em ambos os casos a maioria das notas é de 90 para cima. A única diferença é que tem uma quantidade maior de reviews para PlayStation do que para Xbox, o que depende em grande parte das keys que esses veículos receberam apara analisar os jogos.

Ter uma diferença de médias é a coisa mais normal do mundo e eu recuso a acreditar que essas pessoas não saibam estatística básica. Se você pegar um grupo A de pessoas e pedir que elas avaliam algo com notas de 0 a 100, depois repetir o mesmo processo para grupos B, C, D e por aí vai, dificilmente você obterá as mesmas médias para cada um deles. Pode ser o mesmo produto, porém são pessoas diferentes utilizando seus critérios individuais para avaliá-lo. Sempre irão existir variações em menor ou maior grau. Estranho seria se as médias fossem iguais! Não é impossível, porém altamente improvável que você conseguirá ter o mesmo metascore para ambos os consoles. Nos próprios comentários já deram um contraexemplo.

Aí o autor do tweet tenta defender que sua crítica é sobre como esse sistema de notas está defasado. Mas será que foi essa intenção mesmo? Porque eu achei bem revelador quando o colega resolveu destacar a questão do “Must-Play”, estranhando que apenas o PlayStation recebeu o selo e o Xbox não. É aqui que a gente percebe a ignorância da qual eu me refiro daqueles que promovem esse flame war tosco nas redes sociais.

Assim como no Rotten Tomatoes existe o selo de Certified Fresh – que segue normas definidas pelo próprio site como o filme ter uma taxa de aprovação de 75% ou mais e ter pelo menos 5 reviews dos Top Critics – o Metacritic também tem seus critérios para entregar o selo de “Must-Play“. E isso é de conhecimento público. Basta ir no site, clicar no About do rodapé, selecionar o link que redireciona para a página de explicação que lá estão descritos esses critérios:

  • ter um metascore de 90 ou mais;
  • um mínimo de 15 reviews feitas por profissionais.

Mas caso você não queira ter esse trabalho todo de ir no site e buscar pela página correta, bastava uma busca rápida de apenas quatro palavrinhas para encontrar a resposta:

Primeiro resultado quando você busca "metacritic about must play"
Muito difícil encontrar essa informação, né?

É mesmo necessário criar uma conspiração boba e facilmente refutável dando a entender que o site tenta dar preferência a um console e preterir outros?

Existem várias críticas que podem ser feitas a metodologia desses agregadores de reviews. Eu, por exemplo, também não gosto de como eles acabam por supervalorizar a nota em vez da visão do reviewer. Inclusive sou contra essa obrigação de ter que colocar uma nota para review no Metacritic mesmo quando ela não existe no texto original. Para mim isso só estimula um empobrecimento do debate fazendo as pessoas focarem em números e não em argumentos.

Porém tais críticas nunca são feitas por essa galera que só consegue enxergar o mundo através das lentes do flame war. O vira-latismo frequente de algumas bolhas gamers se tornou uma piada sem-graça. Basta uns minutos de pesquisa que você já desmantela a história toda e mesmo assim continuam repetindo esse discurso cheio de complexo de inferioridade.

Flame war não tem qualquer utilidade a não ser manter o gamer num estado de eterna ignorância!

2 thoughts on “O flame war como um mecanismo de perpetuação da ignorância”
  1. o metacritic tem uma grande falha no que diz respeito a avaliação do público. Pessoas que nunca jogaram o jogo pode acessar a plataforma e dar 0, ou 10, para qualquer jogo. isso é muito quebrado, as vezes um jogo fica com a imagem suja por questões bobas, como ser de uma plataforma concorrente ou alguém pode dar nota 0 simplesmente pq o jogo é difícil? kkk não duvido que seja impossível de acontecer.

    1. Não discordo que o userscore seja falho, mas nisso as reviews da Steam também o são. Sem qualquer curadoria não tem como você impedir que os trolls utilizem a seção de má-fé. Mas pelo menos ninguém se importa com userscore. Bom, pelo menos ninguém NORMAL se importa!

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