Como uma criança que viveu parte nos anos 90 e parte no início dos anos 2000, obviamente que Power Rangers esteve presente na minha infância. Pelo amor de Deus, eu tinha até o CD da Sandy & Junior em que eles cantavam “O Universo Precisa de Vocês“. Porém como muitas séries daquela época eu via de forma “não sistematizada”. Se passava na televisão eu parava para assistir, porém não acompanhava serialmente como deveria. Tanto é que a única série dos Rangers que eu acho que vi do começo ao fim até hoje foi Power Rangers no Espaço. Minto, se não me engano eu assisti a maior parte dos episódios e o final de Power Rangers: Força do Tempo.
Além disso, havia uma produção de Power Rangers que assisti repetidas vezes, ênfase no “repetidas”, naqueles anos mais simples. E sei que não estou sozinho nessa. Falo de Power Rangers: O Filme, que estreou nos cinemas americanos em 1995 e a gente foi ver no Brasil uns anos mais a frente. Adorava assisti-lo sempre que podia e, se não for uma falsa memória, me recordo de ter a fita VHS. Ainda hoje, mesmo depois de adulto, eu nutro muito carinho por esse filme.
Mas não viemos aqui falar do filme. Bom, pelo menos não APENAS do filme!
Semanas atrás publiquei aqui um texto sobre os jogos de plataforma de Aladdin que eu joguei muito na infância. Um deles foi desenvolvido para o Super Nintendo e o outro para o Mega Drive. Enquanto eu escrevia aquele texto lembrei que Power Rangers: O Filme também tinha dois jogos para esses consoles. Diferente de Aladdin, em que ambos eram jogos de plataforma, os jogos dos Power Rangers eram um pouco distintos. A versão de Super Nintendo é um jogo de ação side-scroller enquanto a de Mega Drive é um beat’em up tradicional. Além disso tem a forma como esses jogos “adaptam” o filme, mas falarei desse aspecto depois.
Não posso dizer que os jogos dos Power Rangers me marcaram da mesma forma que os jogos de Aladdin. Até tenho boas memórias de jogar o de Super Nintendo. Do Mega Drive tenho menos e não tão boas assim. Mas no geral não foram jogos que clicaram tanto comigo naquela época e nem mesmo hoje. Ainda assim pensei que seria uma boa falar deles. Só que dessa vez não vai ser uma dobradinha porque decidi colocar o filme nessa jogada também.
Ah sim, só uma nota: o título original de ambos os jogos são Mighty Morphin Power Rangers – The Movie, porém eu não vou ficar escrevendo esse nome gigante. Portanto vou me referir a eles como Power Rangers: O Filme mesmo. Fechou? Beleza, vamos começar com o longa-metragem então!
POWER RANGERS: O FILME
Vamos ser sinceros, não existe qualquer dúvida que Power Rangers: O Filme seja um projeto puramente comercial. Alguns até podem argumentar que tinha algum resquício de integridade artística aqui. Se existiu mesmo, eu diria que está todo no Paul Freeman e a equipe por trás dos prostéticos. De qualquer forma, é óbvio que esse filme foi produzido mais com o intuito de servir como uma propaganda para a marca de Power Rangers do que qualquer outra coisa.
Dito isso, eu não-ironicamente adoro esse filme!
Claro que tem muita nostalgia envolvida e essa semana eu já mencionei como isso vai sempre afetar nosso julgamento em algum grau. Entretanto eu não sou cego para os seus vários problemas. Só que calha de nenhum deles colaborar para diminuir meu divertimento ao assistir o filme. E eu uso esse termo aqui de forma solta porque, apesar do maior valor de produção, Power Rangers: O Filme parece mais três ou quatro episódios da série combinados. A própria premissa não se afasta de um típico episódio de Power Rangers. Você tem um novo vilão ameaçando a paz do universo e os Rangers precisam derrotá-lo. A única diferença é que tem um pouco mais de drama e também aventura do que um episódio da série.
O apelo ao público infanto-juvenil é evidente, às vezes até demais. As primeiras cenas com os Rangers pulando de paraquedas e andando de patins, combinadas com a trilha sonora, gritam um “olha só como somos radicais, olha só como somos cool”. Isso só reforça o quanto o Power Rangers: O Filme opera muito mais como uma autopropaganda do que um filme de fato. E isso está ok. A marca precisava desse investimento para atrair mais atenção e dar continuidade ao projeto. Tanto é que foi a primeira vez que não usaram filmagens recicladas da série original japonesa dos Super Sentai para mostrar um pouco mais de autonomia. As coreografias chegam a ser competentes para esse tipo de história, apesar de alguns notáveis problemas de edição, e não tem vergonha do exagero.
Destaca-se também o evidente esforço para colocar personagem do Tommy – vivido pelo Jason David Frank, que descanse em paz – como centro da atenções pois era o favorito dos fãs. Por mais que os outros Rangers tenham seus pequenos momentos, as cenas sempre dão um jeito de devolver o protagonismo ao Tommy. É compreensível do ponto de vista que queriam dar aos fãs já conquistados aquilo que eles mais gostavam. Fora que ele se tornou o histórico líder dos Power Rangers e até hoje o personagem mais popular da franquia. Mesmo assim, parte de mim queria que deixassem o restante do elenco brilhar um pouco também.
Mas por mais que o filme tente por os holofotes no Tommy, e às vezes na Kimberly, alguém consegue roubá-los. É praticamente um consenso, chutaria que até mesmo aqueles que não curtem o filme iriam concordar, que a melhor parte dessa história é o vilão. O galaticamente temido, globalmente xingado, universalmente repudiado: IVAN OOZE!
O Paul Freeman sabia exatamente em que tipo de filme estava e interpretou o Ooze com o tom perfeito. O trabalho de maquiagem sozinho já é de se elogiar, mas a atuação do Freeman eleva ainda mais o personagem. Ele tem um sarcasmo carismático, consegue ao mesmo tempo ser ameaçador e não se levar a sério, tem uma gama de frases icônicas. O ator entregou até mais do que necessário. E aqui no Brasil demos mais sorte ainda que ele foi dublado pelo Silvio Navas, o grande “Mumm-Ra, que tem vida eterna!”, que casou perfeitamente com o personagem. Chega ser um crime ele estar reduzido a essa única aparição no filme de 1995.
E talvez seja esse o verdadeiro problema que eu tenho hoje com o filme. Eu queria mais. Queria mais do Ivan Ooze, queria mais dos Rangers explorando o planeta de Phaedos, queria mais da Dulcea… ah, Dulcea!
Enfim, esse já foi um dos meus filmes favoritos na infância. Não vou mentir e dizer que continuo adorando ele naquele nível hoje, porém também não acho que diminuiu muito. Os problemas dele não chegam a ser insultantes e estão praticamente no mesmo nível da série. É produto de uma época, como dizem. Seria muito fácil ser o adulto cínico aqui e apontar como o roteiro é bobo, que o CGI é tosco, que a atuação – exceto do Paul Freeman – é bem fraca. Mas como lá no fundo do meu ser ainda vive uma criança interior que cantava alegre com Sandy & Junior, eu não consigo deixar de achar Power Rangers: O Filme uma ótima diversão. Eu ainda fico levemente comovido quando eles usam o poder do amor, da amizade, do Ninjazord, sei lá do que, para reviver o Zordon.
Se eu recomendo? Difícil responder. Se você é da mesma época que eu, com certeza já deve tê-lo visto em alguma Sessão da Tarde, logo seria irrelevante. Para as gerações mais recentes, aí já não sei. Não tenho a menor ideia de qual é o padrão para uma história dos Power Rangers atualmente. Mas acho que recomendaria sim aos fãs mais jovens porque acredito que todo mundo deveria conhecer a história das suas franquias prediletas. E, independente do que acharmos, é um marco para os Power Rangers.
POWER RANGERS: O JOGO DE AÇÃO
Citando mais uma vez os jogos de Aladdin, uma característica que elogiei da versão do Super Nintendo foi como ela adapta muito bem todas as sequências do filme original. O mesmo não dá para dizer de Power Rangers: O Filme dos consoles. Na verdade é o exato oposto. No de Super Nintendo, fora o Ivan Ooze que aparece como o último chefão, não há nada nesse jogo que remete minimamente ao filme. Os Titãs Ectomórficos não sem nem citados e o Ninjazord só vem aparecer bem rapidamente no último instante da fase final.
Todas as fases não tem qualquer conexão com o original, a coisa mais próxima seria a primeira por ser uma cidade comum. Depois disse você tem desde um porta-aviões até uma base secreta com foguetes. Inclusive, existe um forte tema militarista sci-fi ao longo desse jogo que não tenho a menor ideia de onde veio. Os inimigos são bem variados. Em sua maioria você encontra os clássicos Putties da série, porém surgem novas variantes deles. Mas os “guris” do Ooze e aquelas aves humanoides não chegam a dar as caras por aqui.
Então podemos dizer que esse foi um jogo que tomou muitas, muitas mesmo – excessivas seria o termo mais adequado – liberdades artísticas, sendo o principal interesse aqui apenas usar o nome do filme ao seu favor. Isso faz até dele um jogo bem criativo nesse quesito de criar cenários. Mas quanto ao jogo em si, não vou dizer que ele é fantástico. Pelo menos não chega a ser dolorosamente genérico como o de Mega Drive que daqui a pouco xingarei falarei sobre.
Vale ressaltar que a jogabilidade de Power Rangers: O Filme tem precedente. A Natsume, que desenvolveu essa versão, já tinha feito outro jogo dos Rangers para o Super Nintendo: Mighty Morphin Power Rangers. Ambos são jogos de ação side-scroller na mesma veia dos beat’em ups que precederam o formato mais tradicional de belt scroll que conhecemos. Porém existem algumas diferenças sutis. No primeiro jogo você seguia por uma pista única desviando de obstáculos e derrotando os inimigos com um combo simples de um botão. Morfar acontecia automaticamente ali para o meio da fase assim que o chefão fazia sua primeira aparição e você ganhava uma unidade de especial que causava dano na tela toda.
Já Power Rangers: O Filme remove o combo deixando apenas um soco e um gancho quando você aperta o botão de ataque mais o direcional para cima. Por outro lado, o jogo adiciona uma segunda pista paralela que o jogador pode alternar para desviar dos obstáculos quando necessário. E agora os Rangers podem morfar em duas situações seja coletando energia suficiente ou então ao alcançar o chefão. Uma vez morfados, coletar mais energia libera as armas dos Power Rangers que vão esgotando o medidor e também um especial em área.
Aliás esse é o único detalhe que distingue os personagens além da paleta de cores quando estão no traje dos Rangers. Fora os especiais e as armas, a diferença deles é puramente cosmética. Somente sem os trajes que eles possuem uma distinção maior pela animação dos seus golpes, porém em questão de atributos todos parecem ter a mesma força, velocidade e resistência.
Nas fases eu acho que o jogo até se sobressai. Não que seja um level design muito interessante nos desafios, contudo pelo menos tem mais variedade e de fato mantém o jogo com esse sentimento de ação constante. Isso só para quando chegamos no chefões que são um ponto bem fraco. As lutas demoram demais e não existe muita dificuldade. Se você ficar só usando o gancho, não terá qualquer problema para derrotar o chefão. O maior desafio é vencer sua própria impaciência e tédio.
Power Rangers: O Filme está longe de ser um jogo excelente e alguns diriam até que ele nem é bom. Eu pessoalmente acho divertido o bastante, nada que vá te impressionar, e tem mais criatividade que sua contraparte do Mega Drive. Só não vá nele querendo ver qualquer coisa relacionada ao filme, isso aí foi propaganda enganosa das mais brabas possíveis.
POWER RANGERS: O BEAT’EM UP
Se eu disse que o filme era um claro produto comercial, o que eu vou falar do jogo de Mega Drive?
Esse é um beat’em up dolorosamente genérico que se limita a somente vestir a skin dos Power Rangers. Já deu para ter uma boa noção do que eu acho desse jogo, né? Não dá para eu enfatizar o suficiente, embora eu o farei ao longo de todo esse tópico, na decepção que esse jogo causa.
Eu nem esperava uma maravilha da briga de rua com os Power Rangers, mas pelo menos poderiam ter tentado um pouco. Há fangames feitos por uma única pessoa que apresentam mais zelo e polimento do que esse jogo. E não é exagero como vocês verão no tópico seguinte.
Eu consigo relevar os problemas tanto do filme quanto do jogo de Super Nintendo porque ainda vejo houve algum esforço, em maior e menor grau, empregado neles. No beat’em up não. Para mim, esse jogo exala uma energia de “faz aê”. É absurdo o quanto o Power Rangers: O Filme do Mega Drive parece ter sido feito na preguiça ou má vontade. O conteúdo do filme preenche duas fases mais a luta com os Titãs Ectormórficos e depois disso o jogo mete mais três fases baseadas em episódios aleatórios da segunda temporada só para encher linguiça até a última luta com o Ivan Ooze.
Na jogabilidade a gente nota mais ainda o não-esforço em fazer qualquer coisa minimamente fora do básico. Os personagens não parecem ter qualquer distinção além da cor dos uniformes. Outra vez temos um combo simples, porém dessa vez também tem a possibilidade de agarrar e lançar os inimigos. O jogo também inclui um desperation attack que é o mesmo para cada Ranger. Mas o pior para mim é que na gameplay inteira encontramos só dois tipos de inimigos: no começo temos os “guris” do Ivan Ooze que depois são substituídos pelos Putties e todas as fases seguem sem qualquer variações dos mesmos. O jogo é tão preguiçoso que você luta contra o Goldar não uma, não duas, mas três vezes consecutivamente.
Os sprites são bonitos e tem uns momentos que você luta com os Zords, mas isso é muito pouco para compensar pelo mínimo esforço que utilizado no desenvolvimento desse beat’em up. O máximo que ele consegue fazer de diferente é colocar uma luta contra três chefões ao mesmo tempo, a fase da caverna que você precisa encontrar as passagem secretas não-tão-secretas e na penúltima fase que caem detritos do céu. Fora isso, é o mais genérico que você encontra no mercado.
Se eu não falei muito do jogo é exatamente porque não se tem nada para falar de relevante dele. Um beat’em up completamente esquecível!
E PARA CONCLUIR: UMA MENÇÃO HONROSA
No meu texto de Jaspion – The Game eu mencionei que me informaram que aquele fangame tinha sido feito na verdade em cima de outro fangame que no caso seria Power Rangers: Beats of Power. Esse foi um projeto que uniu o que tinha de melhor nos dois jogos de console e eu diria que é uma versão superior a ambas.
A história não tem nada a ver com o filme – tal como o jogos de console :v – e adapta os eventos da série. Ele segue a estrutura de um beat’em up e te dá chance de controlar todos os Rangers e os Megazords também em algumas batalhas contra os chefões gigantes. Tem uma jogabilidade boa com um pouco mais de criatividade do Mega Drive, porém não tão louca quanto a do Super Nintendo. Certamente é um dos melhores projetos de OpenBOR e quem tiver interesse é só baixar aqui.
Não vou falar muito mais sobre ele porque estou pensando em deixar isso para outro texto que estou formulando aqui na minha cabeça sobre jogos de OpenBOR. Portanto fiquem apenas com essa recomendação rápida para estender o tópico anterior que ficou curto demais.
AGORA SIM A CONCLUSÃO DE FATO
A experiência de revisitar os jogos de Power Rangers: O Filme não chegou a ser tão proveitosa quanto os de Aladdin. Mas eu já estava ciente que seria assim porque, se não estou enganado, eu já os tinha jogado ano passado e sabia o quão ruim aquele beat’em up era. Sigo achando que o de Super Nintendo tem seus problemas, mas ainda é um jogo divertido e com mais criatividade que o torna de alguma forma interessante de se testar.
Rever o filme, por outro lado, foi uma experiência bacana de ser fazer. Como eu disse, tem muita nostalgia envolvida nisso, mas foi um filme que eu consegui aproveitar descontraidamente ainda que consciente de suas falhas. Coisa que eu já não consigo ter tanto com os jogos, pois eles não tem o Paul Freeman pra carregar a história nas costas.
Então, quem tiver curiosidade de jogar qualquer um dos dois, vá por sua conta e risco. O Super Nintendo é o que pra mim tem mais chances de agradar e questiono muito as faculdades mentais de qualquer um que falar, sem um pingo de ironia, que o de Mega Drive é bom.
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