Em outubro sempre ocorre as tradicionais recomendações de filmes de terror para se ver durante o Halloween. Vou falar Halloween mesmo que é um nome muito mais legal que Dia das Bruxas. E sai daqui com seu Dia do Saci! Eu até pensei e fazer uma lista, porém desisti da ideia. Em vez disso vou falar de um único filme que revi recentemente. A crítica/recomendação deve sair ali por volta do dia 30. Também teremos uma publicação especial no dia 24. Eu encontrei um antigo conto de terror que escrevi muito tempo atrás e irá completar exatos 10 anos. Não é a temática do blog, mas gostaria de compartilhá-lo com vocês. E por último e não menos importante, não poderia deixar passar a oportunidade para recomendar um jogo, né? Então aqui está: Pumpkin Jack!
Pumpkin Jack é um jogo indie que combina elementos de ação-aventura com plataforma 3D. Ele remete aos títulos da época dos primeiros consoles do PlayStation, Nintendo 64 e PC. Segundo o criador do jogo, as suas principais inspirações são MediEvil e Jak & Daxter. Eu não conheci esses jogos além do nome e de algumas coisas que vi deles na internet ao longo dos anos. Mas tenho contato com jogos de plataforma 3D desde que minha mãe me deu alguns CDs como Croc: Legend of the Gobbos e Donald Duck: Goin’ Quackers. Sem contar os nomes mais populares como Crash Bandicoot, Spyro, Banjo-Kazooie e Super Mario 64. A razão de eu jogar esses nomes aqui é porque quando você começa Pumpkin Jack dá para sentir uma familiaridade quase que imediata com todos esses jogos e possivelmente muitos outros mais.
Dando uma premissa rápida: o Diabo estava farto da monótona paz na qual o mundo se encontrava. Então ele decidi agitar as coisas soltando um exército da monstros no reino dos humanos. Para se defenderem, eles invocam um poderoso Bruxo que parte numa jornada para encontrar uma força capaz de derrotar o Diabo. Obviamente que ele não deixaria isso acontecer e também invoca um campeão: Jack, cujo espírito está preso numa abóbora por ter enganado não uma, não duas, mas três (as pessoas esquecem da terceira) vezes o Diabo. Eles fazem um acordo onde Jack será perdoado caso consiga deter o Bruxo.
É um jogo curto, porém altamente satisfatório para quem sente falta desse tipo de gameplay clássica de plataforma que hoje é mantida pelo cenário indie da indústria. Mas estou me adiantando, esse parágrafo já está com cara de considerações finais. Então, para iniciar, vou falar do que para mim pesa mais na recomendação desse jogo que é sua atmosfera:
O ESTRANHO MUNDO DE PUMPKIN JACK
Em inglês existe o termo “spooky” que se formos traduzir para o português vira “assustador”. Contudo existe uma qualidade da palavra original que acredito se perde durante a tradução. Talvez quem consome muita mídia em inglês vai concordar comigo:
Quando eu ouço “spooky” eu não penso na palavra como um qualificador, eu vou mais além e a associo a uma estética – tanto na parte visual quanto musical – bem específica. Acho que todos aqui conhecem a música Spooky Scary Skeletons, ainda mais nessa versão com o clássico curta de The Skeleton Dance. É exatamente nesse tipo de coisa que eu penso quando falam em “spooky”. É algo sombrio, porém não grotesco, amedrontador ou repulsivo e sim cartunesco e, de certa forma, atrativo. Nesse sentido, a estética de Pumpkin Jack é 100% spooky!
Os elementos sombrios estão todos ali. Você tem fantasmas, tumbas, esqueletos enforcados para todos os lados. Tem até um vendedor de roupas que rouba peles dos cadáveres. Mas não é nada que te assusta, pelo contrário. Tanto os personagens quanto os personagens são cativantes porque você se sente em meio aquela atmosfera de clássicos de Halloween como O Estranho Mundo de Jack, A Noiva Cadáver e Os Fantasmas Se Divertem. A trilha sonora principalmente te puxa com força tota para esse clima de Dia das Bruxas, com várias referências sejam elas relacionadas ao Halloween ou a cultura pop como um todo. Tem uma sequência, por exemplo, em que toca a Cavalgada das Valquírias que é tão presente em filmes mais populares.
Outra coisa a se destacar é como o jogo constrói seu tom. Porque se pararmos para pensar com calma na premissa do jogo percebemos o quão ela é horrível. No sentido de horror, não de qualidade. Porque você está controlando um personagem a mando do Diabo, que essencialmente condenou a humanidade a sua extinção. E o Jack aqui não é tratado como uma espécie de anti-herói, ele é um vilão do começo ao fim. Mais ainda no fim, porém não darei spoilers. Ele é violento, ríspido, desagradável e tirânico. Contudo dentro do contexto macabro do jogo ele funciona perfeitamente bem no seu humor negro. Não um humor negro ao nível Léo Lins, mas sim daqueles desenhos antigos que sempre brincaram com elementos sombrios com bastante leveza.
PLATAFORMISMO PARA TODA FAMÍLIA
Pumpkin Jack se divide em seis fases com durações que variam entre 15-40 minutos dependendo do seu ritmo. Então não é um jogo muito demorado, ainda mais que as fases são bem lineares. Em relação aos obstáculos que Jack enfrenta, você não vai encontrar muito que se distancie dos mais clássicos de plataforma 3D. Tem uns minigames no meio de cada fase para quebrar o gelo além de outras sequências que se repetem em todos os estágios que comento mais a frente. O que eu quero reforçar é que não existe nada mirabolante no level design de Pumpkin Jack. Basta você ter jogado qualquer plataforma 3D que você se situa com tranquilidade nele. E pra mim isso é uma qualidade!
É notável quanto Pumpkin Jack não está tentando ser um marco para modernidade do gênero. Não existe nenhuma decisão ousada nas suas fases, pelo contrário, são seguras até demais. Entretanto, do meu ponto de vista, isso é intencional para criar aquele sentimento de familiaridade com uma época mais simples dos jogos de plataforma 3D. Por causa disso que eu falo que Pumpkin Jack é “pra família”. Os mais velhos podem vir nele com uma certa nostalgia pelos jogos mais antigos, enquanto os mais novos podem ser introduzidos a esse gênero com tranquilidade.
Quando falo tranquilidade aqui também me refiro ao fato do jogo não ser particularmente desafiador. Tanto nos seus obstáculos, puzzles e combate você não enfrenta grandes problemas. A maior parte das mortes são causadas por você cair de uma plataforma por conta do momentum que o Jack carrega nos seus pulos. É bem fácil acabar sendo impulsionado para longe de onde você queria aterrissar e admito que em alguns momentos isso é um pouco frustrante. Contudo no máximo é um pequeno contratempo, pois existem checkpoints a rodo pelas fases de forma que você nuca vai precisar voltar muito. Além disso. o jogo não tem nenhum sistema de vidas extras, então não há qualquer preocupação em receber uma tela de game over.
Outra característica da gameplay de Pumpkin Jack são as sequências mandatórias de corredores verticais. Elas ocorrem duas vezes em toda fase, com exceção da primeira quando Jack foge de um celeiro em chamas. A lógica é praticamente a mesma, correr para frente desviando e/ou destruindo os obstáculos a sua frente, mas o contexto muda de acordo com o estágio. Tecnicamente é um padrão repetitivo, mas o jogo faz pequenas mudanças para criar uma ilusão de novidade.
Por exemplo, na segunda fase você está num carrinho de min, precisa quebrar algumas cercas que impedem sua passagem e saltar quando os trilhos estão quebrados. Já na quarta fase é uma corrida contra três soldados. Para isso você precisa, ao mesmo tempo, bombear o carro, desviar de obstáculo, atrasar os soldados com seu companheiro corvo que te permite fazer um ataque a longa distância e chegar primeiro até o portão antes que um dos soldados o feche.
Entro no combate no tópico seguinte, portanto agora acho que só falta cobrir os colecionáveis. Ainda que as fases sejam bem lineares, há um pouco de exploração a se fazer para encontrar os crânios de corvos e gramofones. O segundo apenas habilita uma pequena cena de dança do Jack que francamente não adiciona nada muito relevante para gameplay a não ser que você seja um daqueles complecionistas. Já os crânios podem ser usados para comprar algumas roupas para Jack, mas se formos honestos isso também não traz nada de muita relevância. Tal como o os obstáculos, não existe muita dificuldade em achar esses colecionáveis, até mesmo porque o crânio dos corvos sempre se destaca no ambiente. Então é só você prestar um pouco de atenção que provavelmente nem vai precisar retornar na fase para coletar algum que deixou passar.
Agora *sigh* o combate do jogo…
A PARTE MAIS ASSUSTADORA DE PUMPKIN JACK: O COMBATE
Eu não acho que a falta de dificuldade do jogo seja qualquer problema. Até porque ele não se propõe em ser uma experiência mais desafiante como alguns dos plataformas 3D de outrora *todos olham para a fase da ponte de Crash Bandicoot*. Agora o combate é onde eu afirmo que o jogo deixa a desejar e talvez para alguns pode chegar a ser decepcionante.
Não tem nenhum mistério aqui, você aperta o botão de ataque repetidas vezes e Jack desfere um combo nos inimigos. Ele também pode rolar para desviar de ataques e, como mencionado, ele tem um companheiro corvo que te permite atacar a longas distâncias atordoando um inimigo temporariamente. Assim o combate é mais um button smash onde por vezes nem parece que os inimigos sentem o impacto dos seus golpes. A câmera também é um pouco zoada, principalmente com o autolock pois às vezes você quer acertar um determinado inimigo e o Jack acaba atacando outro. Fora que não existe muita sensação de risco ao sofrer dano pois muitos objetos do cenário podem ser quebrados para recuperar uma quantia generosa de HP.
O que me decepciona de verdade é que ao fim de cada fase o Jack ganha uma nova arma, porém elas são mais cosméticas do que qualquer outra coisa. Elas mudam as animações de ataque, algumas até de movimento como a espada mágica que faz Jack flutuar, porém elas não alteram em nada o seu estilo de luta. Para ilustrar eu vou falar da terceira arma que você ganha: uma escopeta. O jogador iria imaginar que com ela pode atacar os inimigos de longe, certo? Errado! Você continua tendo que atacar de perto tal como a pá ou com a foice. E nenhuma arma oferece um aparente benefício contra algum inimigo em particular, então o único incentivo para alternar entre elas é o de ver outra animação de ataque.
Mas um detalhezinho que eu curti nessa parta da jogabilidade foi nas lutas contra chefões. Eles também não te dão muito trabalho a não ser um ou dois, sendo um deles a batalha final que precisa ser memorável. O que me agradou, e por pura nostalgia, é o padrão de luta com três estágios que novamente remete a muito dos clássicos de plataforma 3D. Não é que você precise esgotar a vida do chefão e sim ficar desviando dos seus ataques até abrir uma janela de oportunidade para acertá-lo. Algo que você precisa fazer três vezes consecutivas para derrotá-lo e cada vez a luta vai adicionando uma camada nova de dificuldade. No exemplo lá do topo, cada vez que você acerta o chefão caem pedaços da arena, algo que era relativamente comum de acontecer em jogos mais antigos.
Então, o combate é o elo mais fraco de Pumpkin Jack, mas não o bastante para figurativamente arrebentar a corrente da gameplay. Os outros elementos, como os visuais, trilha sonora, senso de humor e plataformismo compensam por esse aspecto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pumpkin Jack é um jogo curto, porém altamente satisfatório para quem sente falta desse tipo de gameplay clássica de plataforma que hoje é mantida pelo cenário indie da indústria. Eu já falei isso, não falei? Mas de fato, se você está procurando um bom jogo para o mês do Halloween ele pode ser uma excelente escolha.
Tem seus defeitos, porém nada particularmente gritante que prejudique experiência. Por não ter mais do que talvez umas 3-6 horas de duração eu recomendaria esperar uma promoção se você não estiver com pressa. A última vez que vi, ele estava 90 reais na Steam e sei como o gamer costuma ser cricri com seu dinheiro quando o jogo não lhe fornece 100 horas de conteúdo inflado só pra fazê-lo achar que o gasto valeu a pena.
Mas se você não tem esse tipo de frescura e está podendo gastar um dinheiro a mais esse mês, dá uma chance para Pumpkin Jack!
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