
Ninguém imaginava, incluindo o próprio desenvolvedor, que Vampire Survivors seria aquela imensa febre em 2022. Eu também fui pego nesse “ritmo Ragatanga”, gastei dezenas e mais dezenas de horas nele e ainda paguei com a língua de achar que o jogo seria uma moda momentânea. Porque não só ele ainda é jogado, como estabeleceu uma nova tendência de jogos inspirados nele. Alguns chamam de bullet heaven, porém eu prefiro o survivors-like pois este carrega a conotação negativa que que tal subgênero merece.
Por mim a gente passava a chamar de survivors-slop.
Mais do que o título, acredito que o este parágrafo representa qual será o tom da crítica ao longo do texto. Se você gosta desse tipo de jogo, nem siga em frente. Não tenho qualquer respeito por esse subgênero e menos ainda pelo seu público. Tudo que tenho para dizer vem do mais puro desdém que exala do meu coração. Desde o sucesso de Vampire Survivors, mês sim e mês também a gente vê algum jogo novo replicando a sua gameplay. E graças a um crápula que eu chamo de melhor amigo, já joguei alguns deles. Brotato, Dino Survivors, 20 Minutes Till Dawn, Slime 3K: Rise Against Despot e Karate Survivor. Pouco tempo atrás tivemos Megabonk, que eu detestei com todas as minhas forças, e ainda mais recente Slyders, que me fez ter saudades de Megabonk.
Sempre que reviso essa lista eu acho graça de como o quanto minha opinião a respeito dos survivors-like foi decaindo. A ponto que hoje eu chego a detestar o próprio Vampire Survivors pela maldição que lançou no mundo. Porque o que eu vejo acontecer nesse subgênero é um processo de gimmickzação. Os desenvolvedores apenas pensam em algum artifício para diferenciar o seu clone dos demais, mas a experiência continua fundamentalmente a mesma desses últimos três anos.
O Karate Survivor é talvez o melhor exemplo que eu consigo pensar desse processo. O que ele fez foi transformar as armas em golpes de artes marciais, divididos em três estilos diferentes, que você pode sequenciar para melhorar o efeito deles. Além disso, você pode interagir com alguns elementos do ambiente, seja para utilizá-los como armas ou armadilhas. Apesar disso, o jogo ainda consiste em ficar andando pelo mapa e derrotando ondas de inimigos até dar o tempo de cada partida. Ainda que ele tenha uma lógica de combate diferente, a essência da gameplay não se afasta de Vampire Survivors.
Megabonk é outro e o pior é que já vi gente falando que ele pode ser uma revolução para o survivors-like. A sua grande inovação: Vampire Survivors 3D. Pode ser uma visão muito cínica do jogo, mas honestamente eu não vejo nada de especial que ele tenha feito a não ser ter caído nas graças do público. Público este que reforço mais uma vez ter o completo desprezo. Achei até bacana da parte do desenvolvedor em pedir para sair do The Game Award, pois aquele não era seu indie de estreia. Mas em relação ao seu jogo, eu só não digo que é mais medíocre porque agora eu tenho no meu histórico Slyders.
Se Megabonk pode ser reduzido a um Vampire Survivors 3D, também dá pra reduzir Slyders a um Megabonk que você atira. Contudo isso é uma comparação injusta. Procurando um pouco sobre desenvolvimento de Slyders, achei uma postagem do próprio desenvolvedor no Reddit do ano passado divulgando o jogo e dizendo que uma das suas inspirações é Serious Sam (e, obviamente, os survivors-like). Ele apenas chegou em segundo nessa corrida e agora será vítima dessa comparação anacrônica. De qualquer forma, isso não impede de colocar Slyders como apenas mais um nessa grande esteira dos jogos pós-Vampire Survivors que eu acredito que agora tentarão cada vez mais apostar no 3D como uma forma de “inovar”.
Eu não gosto de utilizar a expressão “sem alma” porque ela já virou uma daquelas palavras que o gamer joga de qualquer jeito numa frase, como “imersão” e “datado”. Contudo, Slyders É um jogo sem alma. Isso pouco tem haver com o fato do jogo usar IA generativa no seu desenvolvimento. Segundo o desenvolvedor, foi apenas para algumas das imagens contidas no jogo como os ícones das habilidades, perks, etc. Slyders é sem alma porque nessa suposta tentativa de ser uma homenagem a Serious Sam, ele se conforma em apenas ser mais um survivors-like que não vai além do básico.

A gimmick da vez é ser um FPS misturando as mecânicas que vemos nesses outros jogos do subgênero. Então você tem oito espaços para habilidades – quatro ativas e quatro passivas – além dos atributos como dano, vida, velocidade, etc, que você vai selecionando e aprimorando conforme passa de nível numa fase. Tem também um menu de perks para você melhorar com o dinheiro coletado em cada fase e não existem personagens extras. O que tem são armas diferentes que você pode comprar ao desbloqueá-las. Por fim, também tem três runas que permitem que você inicie cada partida com uma das habilidades disponíveis e outras passivas que não tem como obter durante o jogo.
Ao todo são quatro regiões, cada uma com três modos de dificuldade que habilitam depois de você vencer o anterior. A estrutura de uma partida é o que estamos acostumados, temos que sobreviver 15 minutos de hordas de inimigos com a arma da sua escolha e suas habilidades. Há também power-ups temporários que dropam de vez em quando, como tiros infinitos, dual-wielding e mega weapons. De tempos em tempos um mini-chefão aparece e quando você o derrota ele deixa um baú com um equipamento aleatório. Depois dos quinze minutos aparece o último chefão e derrotando-o você vence a partida. Claro que isso não vai acontecer nas suas primeiras tentativas. Ainda é um jogo feito artificialmente para o jogador ter que repetir a mesma fase várias vezes.
Uma coisa que reconheço é que Slyders pelo menos dá mais agência ao jogador porque faz com que ele não apenas desvie dos inimigos como também mire e atire neles. Só que depois disso é apenas Vampire Survivors With Guns e por isso que ele vai dar muito certo. Não na proporção de um Megabonk que já abocanhou uma parte significativa dos potenciais jogadores. Fora que Slyders é mais caro e requer um computador um pouquinho mais potente para jogar. Porém, como já dá para ver pelas reações na Steam, quem consome esse tipo de jogo vai adorá-lo. É aquela ação “frenética” que fica te alimentando com doses constantes de prazer toda vez que você sobrevive um minutinho a mais ou libera algo novo. Apesar de que não tem muita coisa assim para se liberar comparado a outros títulos do subgênero.
É exatamente por isso que eu acho um jogo tão sem alma até mesmo dentro do padrão do survivors-like. Não tem nada de muito profundo pensado na sua jogabilidade que não seja para agradar a um nicho muito bem consolidado. O máximo que Slyders consegue usar de imaginação é na segunda regiões que tem um dragão sobrevoando a arena e soltando labaredas de vez em quando que podem causar dano. Nas demais você só tem um componente estético – um planeta alienígena qualquer, um cemitério e uma fase de gelo – que operam todos da mesma forma.
No final das contas, Slyders só confirma pra mim que Vampire Survivors foi um erro e survivors-like é uma perda de tempo. Não tem esforço nem para entregar uma temática mais elaborada do que animal antropomorfizado qualquer enfrentando criaturas estranhas quaisquer em mundos quaisquer. Vai ter um ou outro momento legal ali, tipo ver uma minhoca gigante que você pode invocar para destruir monstros ou a habilidade que te faz acertar múltiplos inimigos como katana, mas são apenas momentos de rule of cool. Como um todo, é apenas um jogo de ação genérico que conversa apenas com o público desse fast food em formato de videogame.
Como eu tô sendo bem condescendente com esses jogos e também com o seu público, nada mais justo do que permitir que vocês tenham o mesmo desprezo para comigo. A única coisa que peço encarecidamente é que não venham com aquele discurso de “esse jogo não é para você”. Porque, sendo franco, eu acho que survivors-like não é para qualquer pessoa.
PS: Lucas, pare de me dar esses jogos, seu canalha!!! Eu sei que você tem dinheiro para me dar Tormented Souls 2!
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