Três trilogias de três kaiju diferentes

A imagem reúne três personagens conhecidos dos filmes de kaiju. Da esquerda para direita: Daimajin, um guerreiro samurai gigante, Gamera, uma tartaruga giante que cospe fogo e Mothra, uma mariposa gigante
Três trilogias para ninguém botar defeito (embora eu irei tentar em uma)

Tempos atrás eu mencionei como fui possuído pelo ritmo kaiju e passei semanas vendo os mais diversos filmes de kaiju que eu consegui encontrar. Com isso eu tive a ideia de iniciar uma nova série para o blog aproveitando a maior parte dos títulos que assisti. Daí vieram dois textos, um sobre a era Millennium dos filmes do Godzilla e outro com um comparativo entre os filmes de monstros gigantes americanos e os filmes de kaiju. Infelizmente por conta de algumas adversidades da vida, eu não consegui dar continuidade ao projeto e dediquei meu tempo a outras coisas no meu “backlog de ideias”.

Com a chegada de 2025 eu resolvi dar uma segunda chance para os planos que eu tinha para a série de textos. Não é muita coisa, eu tenho quatro ideias de temas (por enquanto) e escolhi a mais tranquila para recomeçar. Durante a minha maratona de filmes, eu assisti três trilogias das quais gostei bastante. Cada uma delas é protagonizada por um kaiju diferente: Daimajin, Gamera e Mothra. Como seria inviável dedicar um texto específico para cada trilogia, pensei que a melhor solução seria reuni-las numa única lista de recomendação. Assim eu consigo unir o melhor de todos os mundos, aproveito os filmes que assisti, faço críticas rápidas e não deixo vocês apenas com um simples “confia no pai e vê isso aí”. Se bem que tem um dos filmes que eu faço exatamente isso daí.

Acho que essa foi uma das introduções mais rápidas que já escrevi. Não se acostumem, isso não acontece com frequência. Mas a ideia é para ser rápido em cada tópico mesmo, afinal são nove filmes ao todo para comentar. Então, sem mais delongas, vamos falar de alguns kaijus!

A TRILOGIA DE DAIMAJIN (1966)

Três pôsteres dos filmes de Daimajin, uma da três trilogias discutidas no texto, que foram lançadas em 1966. Todos os pôsteres retratam um guerreiro gigante, vestindo uma armadura antiga e lutando contra soldados em diferentes terrenos.

Daiei Motion Picture Company Ltd foi um estúdio japonês fundado na década de quarenta que se destacou por suas produções para o cinema jidaigeki. Para simplificar, o jidaigeki seria um gênero – seja de filmes, séries, peças, jogos, etc – mais próximo ao “de época” do Ocidente, com histórias que se passam antes da Era Meiji (1868-1912). Com o boom dos kaiju que se iniciou nos anos 50 e ganhou forma nos 60, a Daiei resolveu apostar nesse mercado.

Sua primeira aposta foi um dos monstros que virá mais para frente, Gamera, porém o estúdio acertou de fato quando resolveu unir sua especialidade, jidaigeki, com os filmes de kaiju. Assim nasceu o Daimajin, que recebeu a alcunha de “deus demônio”. O personagem se fundamenta nos mitos japoneses antigos do Japão feudal onde havia uma grande diversidade de cultos aos deuses locais da região. Além disso, o Daimajin também tem referências no mito judaico do Golem, que já havia sido adaptado para o cinema no passado com a trilogia de Paul Wegener, um dos grandes nomes do expressionismo alemão, e Le Golem, dirigido em 1936 pelo francês Julien Duvivier.

Assim, a Daiei produziu três filmes com o personagem, lançados todos ao longo do ano de 1966. Contudo essa não é uma trilogia fechada na forma que costumamos pensar nessas produções. Além de contar com um diretor diferente, cada filme do Daimajin conta sua história de um jeito. Logo, nenhuma das sequências é uma continuação direta do anterior. Você pode interpretá-las como versões diferentes de uma mesma lenda e eu acho que isso que torna essa a mais curiosa dentre as três trilogias.

OBS: a trilogia do Daimajin, até onde eu pude conferir, não foi distribuída oficialmente no Brasil. Portanto, eu vou deixar os títulos traduzidos, com exceção do primeiro que é apenas o nome do personagem, e também incluirei os títulos em japonês e inglês. Acredito que assim ficará mais fácil para vocês achá-los caso se interessem pelos filmes.

1. DAIMAJIN

Cena do filme Daimaji. Duas pessoas, uma moça jovem vestindo um kimono vermelho, e uma criança com roupas desgastadas, estão numa montanha olhando para uma estátua gigante que retrata um guerreiro antigo, o Daimajin

Ainda que as histórias sejam independentes, para mim o primeiro filme é a melhor introdução ao Daimajin dentre os três. Ele estabelece um “template” para a lenda do deus demônio que as duas sequências irão se basear, ainda que cada uma delas adicione ou altere algumas particularidades. Assim, esse é um filme que puxa bastante para o lado místico da história do Daimajin, ainda que o jidaigeki seja o motor principal da história.

A trama começa num pacato vilarejo onde existe a lenda de um antigo espírito preso numa montanha. O senhor feudal da região é derrubado do poder por um dos seus próprios homens, que massacra toda sua família com exceção de seu filho e sua filha. As crianças são levadas em segurança por um samurai até a sacerdotisa e os dois são criados a distância enquanto o novo senhor feudal escraviza o vilarejo.

Daimajin, o filme, é uma boa mistura dos gêneros populares da época, contudo vale ressaltar que os elementos de kaiju são muito moderados tanto aqui quanto nas sequências. Não diria que é um spoiler (embora seja), mas o Daimajin, o personagem, só aparece de fato mesmo no final numa única sequência de ação, funcionando como uma espécie de kaiju ex machina. Isso não diminui o filme nem um pouco e o roteiro constrói muito bem a chegada desse momento, só cito isso para moderar as expectativas da potencial audiência.

2. A IRA DE DAIMAJIN (DAIMAJIN IKARU / RETURN OF DAIMAJIN)

Cena do filme A Ira de Daimaji. Na imagem, o deus demônio está enquadrado no centro da tela, olhando para frente, enquanto atrás dele as águas do lago se abrem

Acho que é mais fácil esbarrar com pessoas se referindo ao filme pelo título traduzido do inglês, O Retorno do Daimajin, em vez de A Ira de Daimajin. Porém eu não gosto desse título porque ele incentiva a interpretar a sequência como uma continuação direta do filme anterior e não uma variação da lenda do Daimajin, que surge aqui num local e contexto diferente.

Agora a história se passa num conflito entre três vilarejos. Dois deles vivem tempos abastados e pacíficos, porém o terceiro senhor feudal resolve atacá-los movido pela sua ganância e pela situação da região que governa. Assim, os dois povos tentam reunir forças para impedir que seus vilarejos sejam dominados, recorrendo ao deus demônio, o Daimajin, que descansava numa ilha no meio de um lago.

A Ira de Daimajin aumenta um pouco o escopo de um épico jidaigeki e assim o lado sobrenatural fica mais contido até o terceiro ato. Só então temos um glorioso show de kaiju tal como o seu antecessor. Dessa forma, ele não traz nenhuma perspectiva muito diferente para o personagem, mas é o meu é o meu favorito da trilogia. A produção é excelente, tem cenas memoráveis, como quando o Daimajin desperta e abre as águas do lago, e é um conflito mais intrigante do que o do primeiro filme.

3. O CONTRA-ATAQUE DE DAIMAJIN (DAIMAJIN GYAKUSHU / WRATH OF DAIMAJIN)

Cena do filme O Contra-Ataque de Daimajin. O deus demônio segura uma criança desmaiada no meio de uma noite de neve

Eu frisei que A Ira de Daimajin não traz nenhuma perspectiva nova na trilogia não porque eu vejo isso como defeito. Longe disso! É apenas porque isso é algo que o terceiro filme faz. Os dois primeiros são contados sob o ponto de vista dos senhores feudais e seus herdeiros, trabalhando a ideia que o povo só estaria em perigo caso um mal governante chegasse ao poder. O Contra-Ataque de Daimajin, por outro lado, nos coloca na perspectiva das pessoas comuns que estão sempre à mercê dos seus senhores.

Um pouco além disso, o filme também explora a figura do Daimajin através das lentes de crianças. Os personagens principais são um grupo de garotos que atravessam a montanha do deus demônio para chegar até um acampamento onde seus pais estão sendo mantidos como escravos. Só que isso não significa que esse seja um filme mais leve, muitíssimo pelo contrário. Não é uma aventura infantil, é um drama agoniante no qual essas crianças ficam à beira da morte – às vezes literalmente – em várias ocasiões.

É um filme diferente dos seus antecessores e, ao mesmo tempo, igual. O Daimajin ainda vem salvar o dia e punir os injustos, o que muda de fato é o contexto e os detalhes da mitologia criada para o personagem. O Contra-Ataque de Daimajin termina a trilogia não com um ponto final, mas acrescentando uma camada diferente que evoca mais a ideia de como nossas lendas possuem diferentes versões que as torna tão interessantes, cada uma ao seu modo.

A TRILOGIA DE GAMERA (1995-1999)

Pôsteres  dos filmes dos anos 90 de Gamera, uma das três trilogias citadas no texto. Da esquerda pra direita: Guardião do Universo, O Ataque de Legião, A Vingança de Iris. Cada pôster mostra o Gamera, uma tartaruga gigante, enfrentando seus oponentes: Gyaos, um pássaro gigante, Legião, insetos alienígenas, e Iris, uma mutação genética de Gyaos

A primeira tentativa da Daiei em entrar no mercado dos filmes kaiju foi com Gamera, lançado em 1965 com direção de Noriaki Yuasa, para competir com o fenômeno que era Godzilla. Contudo essa foi uma produção muito conturbada, Yuasa precisou lidar com um orçamento limitado e que acabou afetando a qualidade do produto final. Apesar dos reveses, com um filme bem aquém do seu principal competidor, Gamera conseguiu bilheteria o bastante para render sua própria franquia nos próximos anos.

Durante a Era Showa, Gamera teve lançamentos anuais para o cinema de 1965 até 1971, quando a Daiei declarou falência. O personagem só voltaria aos cinemas novamente nove anos depois, em 1980, com o infame Uchu Kaiju Gamera (lit. Monstro Espacial Gamera / eng. Gamera: Super Monster). Este foi um filme que conseguiu desagradar todos os públicos possíveis, se limitando a reciclar muitas filmagens dos títulos anteriores e tendo um péssimo desempenho de bilheteria. Com isso o personagem ficou cinematograficamente adormecido até a década de 90 quando uma reformulada Daiei Film resolveu trazê-lo de volta às telas de cinema.

O primeiro filme de Gamera da Era Heisei veio em 1995, configurando o que para mim é um dos maiores retornos triunfais que já existiram. Dentre as três trilogias do texto, essa com certeza é a minha favorita. São três filmes excelentes, não só na história da franquia do Gamera como dos kaiju em geral, dirigidos pelo Shusuke Kaneko que também esteve por trás de um dos meus filmes favoritos do Godzilla da Era Millennium. Essa é uma trilogia que considero mandatória para qualquer um que queira bailar ao ritmo kaiju.

OBS: resolvi fazer igual no Daimajin e colocar os títulos traduzidos, os originais em japonês e os em inglês. Só que dessa vez eu coloquei a tradução dos títulos em inglês porque gosto mais deles ¯\_(ツ)_/¯

4. GAMERA: O GUARDIÃO DO UNIVERSO (GAMERA: DAIKAJU KUCHU KESSEN / GAMERA: GUARDIAN OF THE UNIVERSE), 1995

Cena do filme de Gamera: Guardião do Universo. A câmera filma o monstro Gyaos na sua forma final de costas, enquanto a frente dele Gamera aparece saindo de uma nuvem de fumaça. Os dois se se enfrentam num complexo industrial

Como todo reboot, O Guardião do Universo busca resgatar alguns elementos do Gamera original que foram estabelecidos ao longo de quase uma década de filmes. O filme traz de tudo para uma audiência que poderia não estar tão familiarizada com o personagem, desde a afinidade que o Gamera tem com crianças bem como o lado mais violento que seus filmes tinham. Contudo o que eu mais gostei foi que destacaram um ponto que se perdeu depois do primeiro filme de 1965: a origem do Gamera numa sociedade antiga extinta, que nessa versão colocam como a lendária Atlantis.

O roteiro aposta na boa e velha ação kaiju que o público tanto adora, trazendo como vilão o clássico Gyaos. Os vilões no caso, já que em O Guardião do Universo o Gamera precisa encarar mais de um. Não tem muitos detalhes que vale se aprofundar, vemos a humanidade tendo o seu primeiro contato com esses monstros gigantes e trama desenrola a partir daí até chegar no esperado confronto encaminhando para o aguardado confronto final. Ainda existe um pouco de tensão já que os humanos ainda não tinham a noção que o Gamera é um protetor e não uma ameaça.

O Guardião do Universo é uma diversão muito segura e é por isso que eu acho um retorno e tanto do personagem. Não é apenas pela nostalgia, se esforçaram para fazer um bom filme do Gamera. Até tomaram algumas liberdades criativas com o lore original, como a ideia de que os Gyaos crescem conforme consomem mais carne humana. Isso adiciona mais uma camada ao personagem para torná-lo mais ameaçador e aumentar os riscos.

5. GAMERA 2: O ATAQUE DE LEGIÃO (GAMERA TSU: REGION SHURAI / GAMERA 2: ATTACK OF LEGION), 1996

Cena do filme Gamera 2: O Ataque de Legião. Gamera é visto caído de longe ao nascer do sol em meio a uma cidade destruída

Enquanto O Guardião do Universo passava pelos cinemas japoneses, o estúdio anunciava que uma sequência já estava em produção. Assim, no ano seguinte, tivemos O Ataque de Legião que é para mim o filme que mostra porque essa trilogia é tão especial. Podiam muito bem ter ido pela rota fácil e trazer outro dos seus vilões (Barugon, Viras, Guiron, etc) para explorar a nostalgia. Porém foram pelo caminho mais interessante – que nem sempre implica em ser boa, mas nesse caso é – de trazer um monstro original.

O filme dá uma guinada maior para a ficção científica colocando o Gamera para enfrentar uma raça insectóide que vaga pelo espaço colonizando planeta por planeta. Esses elementos já foram trabalhados em filmes da Era Showa, mas sempre numa pegada mais fantástica e lúdica. Aqui a invasão da raça alienígena é tratada com mais seriedade e, apesar disso, o filme não larga dos seus temas espirituais. O próprio nome do vilão é uma referência bíblica, Legião.

Isso é o que torna o Gamera um dos meus kaiju favoritos porque tanto o personagem quanto os seus filmes são um emaranhado de temas que, mesmo que nem sempre funcionem bem, deixam sempre algo muito mais interessante de se assistir. Assim, O Ataque de Legião é uma ótima sequência para um ótimo retorno, mostrando como os filmes de kaiju tem muito a oferecer. Bom, não que outros filmes não tivessem feito isso também, mas é sempre bom ter mais evidências a nosso favor.

6. GAMERA 3: A VINGANÇA DE ÍRIS (GAMERA SURI: IRISU KAKUSEI / GAMERA 3: REVENGE OF IRIS), 1999

Cena do filme Gamera 3: A Vingança de Íris. O vilão, Íris, se encontra na sua forma final, voando em frente a uma lua cheia sobre as nuvens

Lembram como eu disse que uma das coisas que mais gostei em O Contra-Ataque de Daimajin é ele oferecer um ponto de vista diferente ao dar o protagonismo para pessoas do povo? Pois bem, O Ataque de Iris faz algo parecido no que tange a oferecer um ponto de vista diferente. A personagem mais importante é uma garota cujos pais morreram durante o confronto de Gamera com Gyaos no primeiro filme.

Como o nome indica, um dos principais temas dessa história é vingança. A protagonista menina encontra um ovo de uma criatura antiga que se alimenta do seu ódio e tenta destruir Gamera enquanto ele luta contra vários Gyaos que estão surgindo pelo mundo afora. A Vingança de Íris mostra que muitos desses confrontos não terminam tão bem para as pessoas, porque acontecem várias fatalidades ocorrem no literal fogo cruzado dessas criaturas, inclusive pelos poderes do Gamera. Não que isso o torne um vilão, só aborda o personagem com menos otimismo do que os primeiros filmes.

Ainda tem muita ação kaiju em A Vingança de Íris, mas o motor da história certamente é o turbilhão emocional da protagonista. Aliás, não comentei isso nos tópicos anteriores, mas os núcleos humanos desses três filmes conseguem ser tão cativantes quanto o próprio Gamera. Assim encerra a trilogia da Era Heisei do Gamera em grande estilo e mais uma vez eu reforço como ela deve ser assistida por todos que se interessem nos filmes de kaiju.

PS: A Vingança de Íris termina num cliffhanger dando a entender que haveria um quarto filme. O diretor Shusuke Kaneko explicou tempos depois que a sua ideia original é que houvesse um epílogo mostrando o resultado da última batalha do Gamera contra os Gyaos, porém nunca foi gravado. Um fanfilm chamado Gamera 4: Truth foi produzido no Japão, porém nunca foi distribuído ao público além de alguns eventos, dando um desfecho para a história. Quem quiser mais informações, leia o artigo na Wikizilla.

A TRILOGIA DE MOTHRA (1996-1998)

Pôsteres dos filmes de O Renascimento de Mothra, uma das três trilogias do texto, que foram produzidos em meados da década de 90

No grande panteão dos kaiju, Mothra segue como uma das mais populares até hoje. Ela surge no período em que a franquia do Godzilla ainda não havia engatado, com a Toho produzindo filmes de kaiju até então originais. Seu filme de 1961 é muito importante por ser um – não sei ao certo se foi o primeiro, perguntem pro Ilha Kaijuu para ter certeza – dos que definiu os kaiju não apenas como uma força da natureza, mas também como seres que protegem a humanidade das mais diversas ameaças.

Nas décadas seguintes, Mothra marcou presença em muitos filmes do Godzilla nas suas diferentes eras e trouxe temas espirituais para o cinema dos kaiju, geralmente imaginada como uma divindade originária de povos indígenas do Sudeste Asiático. Uma das principais características da personagem é que ela está sempre acompanha de duas sacerdotisas, as Shobijin (lit. Pequenas Belezas), fadas gêmeas que possuem o poder de invocar a Mothra sempre que há um perigo no mundo.

Em meados dos anos 90 – mais especificamente 1994 – a Toho decidiu por o Godzilla em hiato após seu último filme da Era Heisei, Godzilla vs. Destoroyah, afim de dar espaço para uma planejada trilogia americana. O projeto foi um tiro dentro d’água, iniciando e terminando naquele desastroso Godzilla de 1998. Contudo, antes disso, ainda havia muito demanda por filmes de kaiju. Logo, a Toho decidiu utilizar seu segundo monstro mais popular para protagonizar um longa-metragem. Dessa forma, a década foi marcada por mais uma excelente trilogia protagonizada pela digníssima Mothra.

PS: mesmo esquema dos outros, título traduzido, original japonês e inglês. Optei por traduzir os títulos do inglês por pragmatismo porque foi com eles que eu encontrei os filmes para baixar.

7. O RENASCIMENTO DE MOTHRA (MOSURA / REBIRTH OF MOTHRA), 1996

Cena do filme O Renascimento de Mothra. A imagem mostra a titular mariposa gigante Mothra no meio de uma caverna protegendo um ovo gigante

O Renascimento de Mothra deu uma rara oportunidade de contar uma história da personagem sem amarrá-la a um filme do Godzilla. Se eu não estou enganado, desde o seu filme de 1961 que isso não acontecia no cinema. Portanto, tal como na trilogia do Gamera, tomaram a oportunidade para brincar com o lore original da Mothra para acrescentar novas camadas e personagens. As Shobijin ganham mais agência na trama e até trazem uma terceira fada que serve como antagonista pela maior parte da trilogia.

Esse primeiro capítulo é o que eu considero um filme de kaiju ideal. Tem forte senso de aventura, um núcleo humano cativante e com muito apelo para crianças, um drama comovente e ótimas cenas de ação kaiju. Inclusive, os dois terços finais do filme são nada menos do que perfeição cinematográfica. Uma cena melhor que a outra, te fazendo passar por um turbilhão de sentimentos. A Mothra original sendo derrotada pelo Desghidorah, o filhote vindo lhe ajudar, a despedida, a transformação da larva na Leo Mothra. Tudo incrível!

É um primeiro capítulo tão bom, mas tão bom, que acaba sendo prejudicial pra trilogia. Ela tem tanta qualidade (o segundo filme é discutível) quanto as demais que citei aqui, porém nenhuma das sequências consegue chegar nem próximo do que O Renascimento de Mothra alcançou. Ainda vale a pena assistir cada um deles (novamente, o segundo é discutível), mas já vão moderando suas expectativas em relação ao primeiro.

8. O RENASCIMENTO DE MOTHRA 2 (MOSURA TSU: KAITEI NO DAIKESSEN / REBIRTH OF MOTHRA 2), 1997

Cena do filme O Renascimento de Mothra 2. A titula Mothra está no topo de um templo antigo no meio do mar, enquanto um monstro marinho gigante a ataca com raios vermelhos

Acho que deixei bem evidente que eu não sou um grande fã de O Renascimento de Mothra 2, né? Não que o filme seja ruim, ele seria uma boa aventura de Sessão da Tarde num mundo em que a Globo não fosse tão capacho dos Estados Unidos. O filme simplesmente não clicou comigo e talvez seja por vê-lo tão abaixo do seu antecessor.

Eu entendo a proposta de ser uma aventura ainda mais focada no público infantil, mais leve e se permitindo ser mais bobinha. Meu problema é que essa aventura parece nunca engatar de verdade e o filme só está ali para preencher espaço. A ideia de explorar um templo antigo que emerge do mar é muito boa no papel, atiçando a curiosidade da audiência. Mas na prática a gente fica vendo os mesmos corredores sendo repetidos à exaustão.

Ainda existem bons momentos em O Renascimento de Mothra 2. Ainda mais porque conseguiram uma forma coerente de criar uma vulnerabilidade no Leo Mothra mesmo depois de estabelecer o quão mais poderoso que sua mãe ele é. Só fica aquela sensação que poderia ser melhor se tivessem de fato investido na aventura e não enrolado por vários minutos até chegar no embate entre kaiju que todo filme tem que ter.

9. O RENASCIMENTO DE MOTHRA 3 (MOSURA SURI: KINGU GIDORA RAISHU / REBIRTH OF MOTHRA 3), 1998

Cena de O Renascimento de Mothra 3. A titula Mothra está fugindo de Ghidorah, o dragão dourado de três cabeças, que está logo atrás dela

O Renascimento de Mothra 3 é muito melhor comparado ao seu antecessor. Embora eu não considere que ele chega aos pés do primeiro, reconheço que foi um ótimo capítulo final para a trilogia. Ele traz de volta um dos mais clássicos vilões dos kaiju, Ghidorah, para um último e épico combate com Mothra que fecha essa história com chave de ouro.

Esse filme é a diversão que O Renascimento de Mothra 2 tentou ter, sem forçar muito a barra. É muita coisa que acontece em sequência que torna esse um filme muito gostosinho de se assistir. Sabe aquela expressão manjada de “diversão para toda família”? O Renascimento de Mothra 3 é exatamente isso. Tem abdução, viagem no tempo, dinossauros, intrigas familiares entre as Shobijin e, para não perder o costume, a gloriosa pancadaria kaiju.

Eu não quero nem entrar em muitos detalhes porque acho que nem vale a pena. Preciso que confiem em mim quando eu digo que esse é um perfeito caso de diversão garantida, é outro bom exemplo de filme de kaiju ideal. Uma pena que não tivemos outras oportunidades de ver a Mothra com mais protagonismo no cinema, porque essa trilogia mostra bem porque ela é uma personagem tão popular que merece todo espaço que pudermos dar.


Assim encerro a lista com as três trilogias de kaiju que eu queria recomendar a vocês. Espero que alguma delas capture o interesse de vocês e que, a longo prazo, estimule mais gente a conhecer a filmografia dos kaiju. Tem muita coisa para se assistir, com diferentes mentes criativas por trás. Devo voltar ao tema só no mês que vem para focar em outros textos agora, mas tentarei não ficar muito tempo sem falar de monstrinhos gigantes por aqui. Até a próxima e obrigado pela leitura!


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