Imagem de Mobie Suit Victory Gundam de 1994
Eu tô tentando…

No final do ano passado eu comecei a desbravar as terras da gigantesca franquia de Mobile Suit Gundam. Meu ponto de partida foi a série de Iron-Blooded Orphans, uma história dentre as dúzias de linhas do tempo alternativas que Gundam possui. Depois de terminar as duas temporadas e gostar bastante do conceito, eu resolvi voltar no tempo e conhecer os primórdios dessa franquia. Fui direto para a primeira série transmitida em 1979. Também gostei bastante dela!

Com duas experiências positivas eu botei na cabeça que queria assistir as principais séries da linha narrativa do Universal Century (UC), a mais extensa entre as demais. Isso culminou numa minissérie de textos aqui no Backlogger que chamei de ‘A (minha) saga Gundam’. No meu planejamento inicial ela consistiria em três “capítulos” cobrindo tudo que eu vi. Também tinha a chance de rolar um quarto texto caso me obrasse tempo.

O primeiro saiu em fevereiro onde eu comentei sobre as três séries iniciais de Gundam – 0079, Zeta & ZZ – o filme de Char’s Counterattack e o mangá de Mobile Suit Gundam: The Origin. Dei sequência em abril com um texto falando sobre algumas OVAsWar in the Pocket, Stardust Memory, The 8th MS Team & Unicorn – que foi a melhor experiência que tive com Gundam até o momento. O terceiro capítulo dessa saga deveria ser sobre um filme, um mangá e uma série. Esses cobrem a tentativa de fazer uma espécie de soft reboot no UC, jogando a história para muitos anos depois da conclusão de Char’s Counterattack. O quarto capítulo, se ocorresse, seria sobre as linhas do tempo alternativas como a de Iron-Blooded Orphans.

Bom, estamos em setembro e eu não faço ideia de quando eu vou conseguir fazer o terceiro texto. O quarto eu já dei como por cancelado. E o motivo? Mobile Suit Victory Gundam!

Ao longo dessa saga, eu sempre faço algumas pausas entre cada série e, principalmente, entre cada fase. É uma forma de garantir que minha mente não fique cheia, além de me dar um tempo para organizar meus pensamentos. Nessa terceira parte eu fui começar no final de maio assitindo o filme de Gundam F91. Depois eu passei para o mangá, Crossbone Gundam, que terminei de ler na segunda semana de junho. Segundo meus registros, eu iniciei a série de 51 episódios de Victory Gundam no dia 18 de junho. Hoje, quando iniciei o rascunho desse texto, estamos no final de setembro e eu me encontro ainda no episódio 36.

Se eu tivesse assistido um episódio por dia, algo não muito difícil já que são apenas 20 minutos, eu teria fechado Victory Gundam no início de agosto. Contudo me levou esse período todo para chegar até a metade da série. Houve momentos em que fiquei semanas sem assistir um episódio sequer e hoje tem dia que eu assisto um episódio e nos dois dias seguintes não vejo nada.

A primeira conclusão que alguém pode tirar é a de que eu não estou gostando de Victory Gundam. Ao que eu responderia que não é bem assim. Para título de comparação, eu detestei ZZ Gundam. Até hoje ele é pra mim o ponto mais baixo de tudo que eu consumi da franquia. Bom, talvez tenha um empate técnico com F91, mas isso não vem ao caso agora. Mesmo odiando, eu terminei ZZ Gundam mais ou menos em três semanas. Eu não enrolo quando não estou gostando de algo, é exatamente ao contrário. Aí que eu me motivo a terminar logo para pular pra algo que eu curta mais. Ou seja, essa hipótese não serve.

Uma segunda teoria pode ser que ultimamente eu esteja sem tempo pra assistir as coisas. O que também não se aplica a esse caso. Realmente meu tempo livre é limitado, mas não significa que eu não consiga reorganizar meu horário para algum projeto. Poucas semanas atrás eu fiz uma maratona de filmes swashbucklers onde eu assisti religiosamente um por dia. Ao todo foram 21 filmes que somam cerca de 36 horas totais. Sim, eu fiz a matemática. É tempo o suficiente para assistir Victory Gundam do começo ao fim. Duas vezes! Se eu consigo ver um filme por dia durante umas três semanas, eu tenho tempo de sobra pra assistir pelo menos um episódio de 20 minutos. Contudo não mostro interesse em fazê-lo. Tem vezes que eu fico deitado na sem fazer nada em vez de assistir Victory Gundam.

Pois bem, então como eu posso estar evitando tanto a assistir uma série e ainda afirmar que não a detesto? É porque o que está acontecendo é algo que de fato mata qualquer experiência com uma mídia: a indiferença.

Faremos um breve desvio porque eu participo do subreddit gamesEcultura. Vai fazer sentido. Lá tem um tipo de postagem recorrente que sempre me faz revirar os olhos que é a de “X vale a pena?” ou então “X é bom?”. Eu sei que posso estar lendo demais nisso, mas me parece que existe uma grande preocupação nessa bolha de cultura pop (jogos, filmes, séries, HQs, etc) em “otimizar” as coisas que você consome. Ou seja, a pessoa quer garantir que tudo que ela vai assistir, ler ou jogar seja considerado bom.

Alguns podem até argumentar que é porque ninguém quer gastar dinheiro ou tempo a toa, mas eu não acho esse um argumento convincente. O que eu vejo são pessoas focando nas questões mais superficiais de uma suposta qualidade definida pela opinião pública e ignorando a parte mais fundamental da nossa relação com as mídias que é a experiência pessoal.

É mais fácil explicar com um exemplo. Metamorfose S é um metroidvania brasileiro bem ruinzinho do ponto de vista “técnico”. Porém eu acho ele fascinante! Sem meme. Eu já expliquei no texto, então quem quiser entender é só dar uma lida. O que vale destacar é que algo ser “ruim” não significa necessariamente que vai te dar uma experiência ruim ou não-proveitosa. Ou que fará você “perder o seu tempo”.

Pé grande, um dos inimigos de Metamorfose S
É, isso sim é coisa boa!!!

Consumir obras “ruins” também podem gerar reflexões em você, por isso acho uma tremenda bobeira ficar se preocupando por antecedência se aquilo será bom ou ruim. Até porque não existe qualquer garantia que você vai gostar de algo que todo mundo achou bom ou que vai odiar algo que todo mundo acha ruim. Opiniões dissonantes são uma parte natural da nossa vida de consumidores. A sua experiência pessoal só será ditada pela opinião pública se você está mais preocupado em pertencer a um grupo do que engajar com aquela obra de fato.

A partir de agora eu vou tratar exclusivamente da série animada, mas saibam que o que irei dizer se aplica para qualquer outro tipo de mídia.

O único caso em que eu concordo que você realmente perdeu seu tempo ao assistir algo é quando aquilo não te surte nenhum sentimento, seja positivo ou negativo. A indiferença que é o verdadeiro veneno fatal no consumo de mídias. Porque a reação que ela te provoca não é exatamente a de que você poderia ter assistido algo melhor e sim teria sido melhor ver o filme do Pelé qualquer outra coisa. É exatamente isso que eu penso toda vez que eu tento iniciar um episódio de Victory Gundam. Tanto que hoje eu ia assistir um episódio na hora do almoço e simplesmente mudei de ideia e fui ver um trecho de stand-up que eu já havia assistido.

Novamente, não é porque eu ache Victory Gundam ruim. Consigo reconhecer algumas qualidades, tanto quanto também pinço alguns problemas. Entretanto não importa para que lado a balance pese, que ela tenha mais pontos positivos do que negativos ou vice-versa. A minha apatia se mantém. Não existe nada em Victory Gundam que me empolgue ou me deixe minimamente engajado na trama. Ao mesmo tempo, também não há nada que me deixe contrariado ou descontente com a série. É a mais pura indiferença que poderia haver. Isso ficou evidente pra mim num dos episódios anteriores onde um personagem se sacrifica chocando o seu Core Fighter contra a nave inimiga para tentar detê-los. Sabe qual foi a minha reação? Eu levantei, mexi no mouse e vi quantos minutos faltavam para terminar aquele episódio. Eu estou tentando ter a maior boa vontade com a série, mas não está fluindo.

Talvez seja porque depois de um ano assistindo Gundam – fazendo uma única pausa para assistir Mazinger Edition Z – eu dei uma saturada da franquia. Mas não sei afirmar isso porque eu ainda estou bem interessado em assistir Turn a Gundam. Talvez seja porque, ao meu ver, Victory Gundam é uma das séries mais descartáveis da franquia. A tentativa de iniciar um novo arco no futuro do UC não vingou, cheia de problemas de produção. Tudo nela parece uma nova versão do Gundam original de 1979, só que mais mal planejada e reunindo vários dos problemas das séries seguintes. E assim ela fica para mim nesse limbo em que não existe nada de fascinante/interessante em Victory Gundam, ao mesmo tempo que não existe nada digno de desgosto.

Se ao menos fosse ruim feito ZZ Gundam onde eu pudesse apontar os elementos que fizeram não funcionar direito. Ou então se todas as suas qualidades não fossem apenas um repeteco do que séries anteriores executaram não necessariamente melhor, porém com aquela sensação de que era algo novo, que havia ambição. Porém, do jeito que está, toda vez que eu começo um novo o único sentimento é que lá se vão mais 20 minutos da minha vida que poderiam ser melhor empregados numa outra série, independente da qualidade. Parafraseando uma conhecida frase de internet: indiferença é uma vadia!


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4 thoughts on “Uma batalha contra a apatia por Victory Gundam”
  1. Turn a Gundam eu achei o mesmo q ZZ. Demora pra engrenar de inicio.
    mas pelo menos ZZ continua de Z.
    Sim Victory até perto do ep 40 é muito descartavel. (n que melhore muito depois do 40).

    1. Terminei o Victory no final de semana passado – vai sair um texto sobre ‘A (minha) saga Gundam’ essa sexta – e foi só ali na reta final que senti que o animê achou a sua linha narrativa, mas o estrago já estava feito. Foi a série que mais me decepcionou pela falta de paixão na história. Claro que tem que levar em conta que o Tomino estava na pior fase da depressão dele, mas mesmo assim não muda o fato que Victory é chatíssimo de assistir!

  2. Eu tenho minhas opiniões sobre Turn A Gundam, mas vou guardar por enquanto pra não te “envenenar o poço” com qualquer ideia da serie antes de você assisti-la.
    Dito isso, algumas frases que você usou me chamaram atenção. Victory Gundam é conhecido na comunidade como um dos piorzinhos mesmo, com o meme que o único indivíduo que conseguiu gostar disso foi o Hideaki Anno. O contexto dela se dá após o “production hell” de F91 e a pressão por um novo Gundam com um protagonista para apelar para um publico mais jovem.
    O ponto positivo (E que é uma pena você ter abandonado a ideia do quarto texto) é que a falha deste foi o motivo de termos começado a ter universos alternativos em Gundam.
    Turn A Gundam pode não ter feito um ultra-sucesso na época, mas hoje é lembrado como um “cult clássico”, algo similar acontece tambem com “After War Gundam X”, a diferença sendo que esse flopou tanto que foi cancelado. Quem levou a pior, porém, ainda acaba sendo coisas como “Gundam AGE” (Que a comunidade simplesmente esquece que existiu) ou Reconguista in G que o diretor chegou ao ponto de pedir desculpas.

    Me chamou atenção o trecho de “Tudo nela parece uma nova versão do Gundam original de 1979, só que mais mal planejada e reunindo vários dos problemas das séries seguintes.” pois essa frase basicamente definiria Gundam SEED… que ironicamente foi um sucesso tão estrondoso que revitalizou a franquia.

    1. Ah me expressei mal nesse lance do quarto capítulo, mas expliquei melhor no texto que deve sair amanhã.

      O quarto capítulo não está cancelado, só não deve sair esse ano. Minha ideia seria ver 5 séries de linhas alternativas diferentes, porém até hoje só vi o Iron-Blooded Orphans, então ver +4 e escrever um texto em meio a tudo que eu já tenho planejado pra esse ano ficará inviável.

      Terminando Jaspion eu já devo começar a ver o Turn A Gundam ou o Mobile Fighter G Gundam e daí escolho mais duas que capturem meu interesse pela premissa. Se for sair algum texto, provavelmente será em janeiro ou fevereiro do ano que vem

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