Como a maioria dos brasileiros eu sempre tive contato com animês, mesmo não sabendo que eles eram animês no sentido de serem desenhos produzidos no Japão, por conta de nomes como Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, Pokémon, Digimon, Hamtaro, Sakura Card Captors, Medabots e por aí vai. Quando cheguei na adolescência e descobri a existência dos fansubs passei a frequentar alguns meios virtuais, lê-se um único grupo de Facebook, para entender um pouco mais dessa mídia.

Embora eu visse uma quantidade moderada de animês naquela época, mangás eram quase que inexistentes para mim. Como eu já mencionei num texto anterior, até meio ano atrás eu só tinha lido quatro mangás na vida: Hellsing, Vitamin, Ashita no Joe e Devilman. Nem me pergunte porque essas 4 obras especificamente. Pois bem, isso mudou quando resolvi fazer uma maratona de mangás e no final de 2022 eu já tinha lido mais 22 obras completas e já estava iniciando Mobile Suit Gundam: The Origin.

Lista de Mangás

A minha ideia era ler o suficiente para conseguir fechar uma daquelas tabelas 3×3 que é ao mesmo tempo popular e infame dentre a comunidade otaku. Estou ciente que a tabela já virou um meme por conta de um lado pedante da comunidade que quer mostrar como tem um gosto refinado para mangás e animês. E um outro lado, que tenta fingir que não é pedante, criou uma ojeriza por esse tipo de postagem. Mas no meu caso eu só queria fechar uma lista de mangás para recomendar num texto que eu já planejava escrever.

Pois bem, a lista a seguir são 9 dos 22 mangás que eu li ano passado que eu acho que valem a pena recomendar. Tem até uns 4 ou 5 que mereciam ser recomendados também, mas se eu não por um limite vira um pesadelo interminável tal como quase a minha Jogospectiva 2022 se tornou. Não existe nenhuma hierarquia na lista, é só a ordem na qual eu terminei de ler. Mas pelo texto acho que dá pra perceber quais as que eu gostei.

Dada todas as explicações, vamos aos quadrinhos!

1. SLAM DUNK, POR TAKEHIKO INOUE

Páginas de SLAM DUNK
Dá pra sentir a energia da partida em cada página do Inoue

Apesar da lista de mangás está por ordem de leitura, Slam Dunk não foi o primeiro mangá que eu li no ano. Contudo foi o primeiro que eu gostei!

Eu já ouvia se falar muito de Slam Dunk no tempo que frequentava o tal grupo de Facebook que mencionei. E até hoje ouço porque o pessoal adora postar imagens da arte incrível do Takehiko Inoue. Mas naquela época estava em alta por conta de Kuroko no Basket, outro mangá de basquete, e havia toda uma briga por quem era o melhor. Até assisti umas temporadas desse último, mas não fui até o fim. Então meio que já dá pra imaginar de que lado da briga eu estou agora.

Sei que existe uma enorme biblioteca de mangás de esporte onde Slam Dunk se encontra nos clássicos e hoje consigo entender o porquê. Para mim são dois fatores essenciais: o próprio autor e o protagonista da história, Sakuragi Hanamichi.

Todo mundo já sabe dá habilidade que o Inoue tem como um desenhista graças a imagens de Vagabond que são frequentemente postadas nas redes sociais. Porém, mais importante do que seu traço, em Slam Dunk a beleza está na forma como o Inoue constrói cada jogada. Intercalando não só o lance, mas como as reações da plateia, dos jogadores e seus adversários. O autor nós faz assistir as jogadas em câmera lenta em diferentes ângulos, nos permitindo ter uma noção mais profunda da arte do esporte. É até um tremendo benefício que hoje podemos pegar um volume inteiro para ler de uma vez. Isso porque o Inoue é paciente no desenvolvimento dos lances. Tendo acesso a todos os capítulos não há uma interrupção do ritmo narrativo de cada partida.

E é nisso que a gente vê toda a paixão e know-how que o Inoue tem pelo basquete, tornando a sua história mais cativante. Por esse motivo que o Sakuragi funciona como um excelente protagonista. Pois ao mesmo tempo que ele é a gente, a audiência leiga nas regras do basquete, ele também represente o Inoue e seu amor pelo esporte. E acho bacana como ele nunca tenta transformar o personagem num super-jogador. Pelo contrário, praticamente todo o time joga muito melhor que ele durante todo o mangá. Mas porque a característica mais inspiradora do Sakuragi não é a habilidade (que ele não tem) e sim a paixão que ele desenvolve pelo basquete e a energia que ele traz pra dentro de cada partida. Uma energia tão forte que sai das páginas e contamina até mesmo você, o leitor.

Chamar de “carta de amor” já se tornou um cliché para obras desse tipo, às vezes fica até meio cafona. Mas acho que Slam Dunk merece esse título, pois a gente sente que o Inoue colocou seu coração nessa história.

2. NAUSICAÄ OF THE VALLEY OF THE WIND, POR HAYAO MIYAZAKI

Um quadro de NAUSICAÄ OF THE VALLEY OF THE WIND
Facilmente um dos melhores universos da fantasia e ficção científica feitos

Volta e meia tem algum texto aqui em que menciono meu gosto por animação, sobretudo a tradicional. Portanto é seguro assumir que eu tive uma fase Studio Ghibli na minha vida. Contudo, confesso que não vi até hoje mais que um terço do catálogo do estúdio. Dentre os que vi um me chamou atenção por ter uma atmosfera meio Final Fantasy, que foi Nausicaä of the Valley of the Wind. Eu gostei bastante, mas me bateu uma sensação que tinha alguma coisa faltando. E de fato tinha!

Uma das coisas mais comuns que acontecem no Japão são as adaptações de mangás em andamento, sendo Nausicaä um dos seus melhores exemplos. O mangá começa em 1982 e o Hayao Miyazaki vai terminá-lo apenas em 1994, dez anos depois do filme animado. Então como podem ver, muita coisa; mais muita mesmo, ficou de fora da adaptação.

Essa é uma obra bem robusta. Não digo nem pelo números de páginas, porque os doze anos que se levou para concluir essa jornada foi influenciado mais pelo tempo que o Miyazaki tinha disponível enquanto se dividia entre outros projetos. Aliás isso isso cria até uma segunda qualidade interessante na obra. Por causa desse tempo, dá para observar como ela muda de acordo com a evolução do próprio autor, reavaliando suas visões de mundo que mudaram nesse período.

Mas o que faz Nausicaä robusta é a densidade de seus temas como religião, espiritualidade, guerra, ambientalismo, etc. E também seu personagens, sendo a protagonista homônima A protagonista do Miyazaki de todos os tempos. Além do mais tem os vários elementos que o autor coloca na construção desse universo. São tantas coisas que o Miyazaki tem para falar, e o que podemos falar sobre elas, que seria necessário um ou mais textos para se discutir plenamente.

Então vocês precisaram confiar na minha palavra quando eu me limito apenas a dizer que essa é uma obra fantástica que não mostra o talento inquestionável do Hayao Miyazaki como desenhista, mas também como um escritor.

3. AKIRA, POR KATSUHIRO OTOMO

Um quadro de AKIRA
É assim que se começa um mangá!

Mais um dos casos “vi o filme e senti que faltava alguma coisa”. Apesar de estar no processo de me tornar um fã de Gundam, ficção científica não é um gênero no qual eu sou muito afeiçoado. O motivo de eu gostar de Nausicaä of the Valley of the Wind é exatamente por ele ter uma abordagem muito mais fantástica. Apesar disso e do fato de eu NÃO gostar do filme de 1988 – e não irei elaborar mais – o mangá de Akira me conquistou.

É fato conhecido até para leigos como eu que esse é marco do cyberpunk no Japão. Katsuhiro Otomo representa em sua obra todo os sentimento de angústia e rebeldia de uma juventude muita afetada pelo pós-guerra japonês. Então quando o autor ataca essas questões de agitação e descontentamento político e social, ele não o faz só por serem pilares fundamentais do movimento cyberpunk. Otomo reconstrói suas próprias experiências nos efeitos causados pela Segunda Guerra Mundial nele e e as consequências no país. E com isso ele traz um olhar bem crítico tanto ao governo, americano e japonês, quanto a sociedade japonesa contemporânea ao mangá.

Outra característica digna de elogios em Akira é como o Otomo sabe equilibrar as coisas. Não querendo estimular briga entre obras e/ou autores, porém é uma comparação válida. Nesse mesmo ano eu li Appleseed, do Masamune Shirow, que é outro marco do cyberpunk para os mangás. E é bem nítido como o Otomo consegue balancear muito melhor os temas das suas história com sequências de ação do que vemos em Appleseed. O ritmo e enquadramento dessas sequências denotam a grande habilidade artística e narrativa do Otomo.

Para quem quer se iniciar na história do cyberpunk no Japão, acredito que não existe um ponto de partida melhor do que Akira. Até mesmo se você, como eu, não tem muito interesse nesse gênero a leitura é mais do que válida pela sua qualidade.

4. 20TH CENTURY BOYS, POR NAOKI URASAWA

Elenco de 20TH CENTURY BOYS
Como diria o narrador da Globo: e grande elenco!

Vou ser honesto com vocês, não era para 20th Century Boys estar aqui! Isso não tem nada a ver com a qualidade do mangá, que é muito bom. É apenas porque entre as duas obras do Naoki Urasawa que eu li em 2022, eu gostei muito mais de Pluto. Entretanto, como eu já fiz um texto todo sobre esse mangá – bem como Astro Boy, de Osamu Tezuka, que é outro mangá que adorei ler – achei melhor dar lugar para outra recomendação.

Há também outras motivações de eu não querer incluir nessa lista de mangás, porque não é uma obra fácil de ler. Não por complexidade temática e nem por conter imagens violentas que poderiam chocar um leitor mais sensível. É mais porque a sua narrativa é intencionalmente confusa. Uma das características de 20th Century Boys é que a trama constantemente vai e volta entre diferentes épocas mostrando o passado, presente e algumas vezes o futuro dos personagens. Só como exemplo, no primeiro capítulo o mangá faz CINCO saltos temporais pra frente e pra trás. Dessa forma você não tem a menor chance de se situar na história a princípio e isso se mantém por um longo período.

Aí até entra uma crítica que eu tenho com 20th Century Boys que é como o Naoki trapaceia várias e várias vezes na narrativa. Ele passa muitos momentos escondendo, alterando e adicionando novas informações que mudam a nossa percepção da trama para conseguir manter o mistério ativo. Para alguns isso pode ser instigante, para outros pode desanimar.

Independente disso, o motivo que eu recomendo 20th Century Boys é o seu elenco. O Naoki tem um muita habilidade para trabalhar com grandes elencos de personagens, introduzindo e desenvolvendo a maioria deles muito bem. Significa que todo personagem daqui vai ter uma construção fantástica? Não! Tem uns que estão ali só pra servir para um fim específico da trama. Porém o núcleo central é excelente e carrega essa história com tranquilidade.

E o último elemento que eu gostaria de destacar é a arte. O Naoki não somente consegue criar personagens que se expressam de forma diferente, mas também que parecem diferentes sem precisar de exageros. Isso tudo mantendo uma estética bem real, ainda que muitos flertem com certa caricatura nas suas personalidades.

Então, como eu falei, a narrativa requer um pouco de paciência. Mas vale o sacrifício pelos personagens!

5. LUCIFER AND THE BISCUIT HAMMER, POR SATOSHI MIZUKAMI

Quadro de LUCIFER AND THE BISCUIT HAMMER
Pode da amizade feito certo

Se eu fosse resumir Lucifer and the Biscuit Hammer eu chamaria ele de um battle shonen sem firula e sem enrolação. Claro que existem todas as marcas desse tipo de história: um grupo de pessoas se unindo para derrotar um vilão que ameaça o mundo, temas como amizade sendo o centro da narrativa, personagens com habilidades sobre-humanas, ênfase em lutas, etc. Mas o que o Satoshi Mizukami opta é por não criar um mega e intricado universo e ir direto ao ponto.

O objetivo do vilão é entregue logo de cara e se resume a querer destruir o mundo. O sistema de magia é simples e o autor não fica inventando e reinventando novas regras. Os arcos são curtos e as lutas quando passam de um capítulo não se estendem por demais. E embora a história, o mundo e até mesmo design dos personagens é bem simples, Lucifer and the Biscuit Hammer tem uma grande complexidade emocional.

E essa é a pegada do mangá! Porque essa não é uma jornada épica aos moldes de One Piece ou sequência de batalhas extraordinárias como Dragon Ball. Essa é uma história sobre amadurecimento, sobre lidar com os traumas e insegurança, assumir suas responsabilidades na vida e aprender a se abrir e conviver com diferentes pessoas.

Não vou dizer que cada personagem é tão bem trabalhado como já vi alguns comentários mais emocionados dizer, mas Lucifer and the Biscuit Hammer tem um elenco muito cativante. Além disso é um mangá que consegue usar a essência mais pura do battle shonen e combiná-la com um típico slice of life para acertar seu público com uma abordagem menos convencional para ambos os gêneros.

6. LONE WOLF AND CUB, ESCRITO POR KAZUO KOIKE E ARTE DE GOSEKI KOJIMA

O assassino LONE WOLF AND CUB
Eu tenho nem uma frase engraçadinha pra esses dois

De vez em quando eu gosto de assistir um filme antigo e por conta disso me tornei um grande fã do trabalho de Akira Kurosawa, um dos mais consagradores diretores da história do cinema. E dentre as suas obras, as que mais me interessam são as em torno da figura do samurai. Pensando nisso, decidi ler um mangá nesse estilo. Como Vagabond do Inoue está num eterno hiato eu fui de encontro ao clássico Lone Wolf and Cub, uma das colaborações entre Kazue Koike e Goseki Kojima na década de 70.

Não quero menosprezar a arte do Goseki, até porque ela é muito boa, mas o forte de Lone Wolf and Cub é o seu texto. E percebe-se que houve uma extensa pesquisa por parte do Koike estudando o Xogunato Tokugawa para criar uma ficção histórica dentro desse período. Não posso afirmar até onde o mangá tem uma acurácia histórica e onde o autor tomou mais liberdades criativas, mas nota-se que houve um imenso esforço para manter a história em algo mais tangível com a realidade.

Mas não só se vê o Japão histórico, mas como também temos um olhar do Japão filosófico dentro de Lone Wolf and Cub. Koike busca várias referências do budismo, xintoísmo e do bushidō e assim cria a sua própria filosofia do Meifumadō que é tanto repetido pelo protagonista Ogami Ittō na sua jornada de vingança contra o clã Yagyū.

Um detalhe interessante do mangá é que a trama principal é que por metade do mangá ela se desenrola no plano de fundo. Existem alguns capítulos pontuais que a trazem para a frente das páginas, contudo durante a primeira metade o que nós acompanhamos é a jornada de Ittō atuando com um assassino de aluguel. E aqui a gente vê a habilidade do Koike como escritor porque ele consegue escrever dezenas e mais dezenas de histórias independentes que tem começo, meio e fim com tramas e personagens desenvolvidos na medida certa.

O que é mais impactante é ver como o personagem do Ittō se torna implacável na sua busca por vingança. Não há mais um homem ali, por vezes nem mesmo um pai afinal o filho de três anos dele o acompanha nessa jornada. Há um demônio que, mesmo tendo um código de honra que ele segue a risca, se vê completamente fora do que pessoas comuns veem como os limites do bem e mal, do certo e errado. E isso torna o Ittō uma figura tão fascinante, mesmo sabendo que o caminho que ele está trilhando só vai levar a sua própria ruína.

Só pelo fato desse ser o maior tópico entre todos os que escrevi na lista dá para notar que esse foi um mangá que me impressionou muito. E foi mesmo! Lone Wolf and Cub não só foi meu mangá favorito de ler em 2022 como ele já está no topo da minha lista de mangás da vida. Esse eu adiciono até um superlativo: recomendadíssimo!

7. INUYASHA, POR RUMIKO TAKAHASHI

Um quadro de INUYASHA
Meu casal

A motivação de ler Inuyasha e seus mais de 550 capítulos foi por curiosidade. Eu lembrava do desenho nos tempos áureos da Cartoon Network, que eu nunca acompanhei porém sabia da existência. Então vi esse ano a oportunidade de conhecê-lo de fato. E que ótima escolha porque eu adorei o estilo da Rumiko Takahashi!

Foi até uma feliz coincidência ler o mangá da Rumiko logo depois de Lone Wolf and Cub porque pesquisando eu soube que ela foi aluna do Koike. E você consegue observar as influências dele no seu trabalho bem como onde seus estilos divergem.

Se por um lado o Koike tinha um interesse no Japão histórico em Lone Wolf and Cub, a Rumiko mostra um interesse maior no Japão místico. Ela demonstra a mesma habilidade que seu antigo professor na construção de pequenos arcos com personagens marcantes que são desenvolvidos até o ponto onde a trama requer.

Em certo momento a história começa dar sinais de canseira e a autora acaba criando várias repetições da sua própria fórmula em vários momentos. Mas também, né? 558 capítulos ao todo, uma hora os padrões das linhas narrativas ficariam muito evidentes.

Entretanto, como eu disse, ela a Rumiko compensa pelos personagens que constrói. Naraku é certamente um dos maiores vilões dos mangás e a dinâmica entre o protagonista homônimo e a Kagome consegue trazer bons momentos cômicos e dramáticos. Minha maior rusga é que a Rumiko se apoia demais no Inuyasha para resolver os conflitos das tramas, o que vai diminuindo bastante o brilho do restante do elenco de apoio.

Apesar disso e de ser um pouco cansativo, Inuysaha é uma leitura agradável de uma habilidosa mangaká.

8. BECK, POR HAROLD SAKUISHI

Elenco de BECK
Será que alguém pediu pra tocar Raul?

A princípio eu estava um pouco reticente de ler Beck. Só porque tinha aquela ideia errônea de achar que não haveria graça em ler uma história sobre música. Mas o Harold Sakuishi me provou estar enganado no seu mangá. Beck me mostrou que eu estava preocupado era apenas nos sons e não no que a música significava de uma forma mais íntima.

A trama vem com aquilo que você já espera de um típico mangá de banda: um grupo de adolescentes sonhadores tentando se lançar como músicos. E Beck mostra todos os percalços, desafios e as dificuldades de despontar como uma banda, principalmente no mercado japonês. Mas o que eu gostei é que o mangá não é apenas sobre a banda, é também uma história de amadurecimento. Quando a história começa o protagonista Koyuki tem apenas 14 anos. Ao longo de todo mangá a gente vê ele passando por toda essa parte da adolescência e entrando no começo da vida adulta. Tudo ao mesmo tempo que desenvolve uma forte paixão pela música.

E aí que está o cerne de Beck. O Harold usa muitos quadros em que vemos os personagens tocando seus instrumentos com closes em seus rostos. E isso é feito para mostrar como eles estão curtindo o momento e demonstrar a relação que cada um deles tem com a música. Não é apenas um sonho de carreira, mas é uma parte fundamental para a vida deles.

Em geral Beck é bem realista sobre a dificuldade de criar uma banda de sucesso. Tem alguns momentos mais idealizados e toda a parte em que tenta referenciar a histórica rivalidade da Costa Oeste e Costa Leste dos EUA dos anos 90 fica um pouco ridículo. Você já tem um bom conflito pelas adversidades naturais de se lançar uma carreira na indústria da música e adicionar esse elemento mais violento me pareceu desnecessário.

Tenho outras críticas quanto alguns outros personagens, mas no geral Beck conseguiu me conquistar pela jornada do grupo principal e o que a música pode significar na vida das pessoas.

9. SILVER SPOON, POR HIROMU ARAKAWA

Página de SILVER SPOON
Outra grata surpresa de 2022

Hiromu Arakawa não me é um nome estranho, afinal a adaptação de um dos seus mangás, Fullmetal Alchemist: Brotherhood, é um dos meus animês favoritos. Esse ano eu finalmente li o original e não foi surpresa nenhuma que eu tenha gostado dele, facilmente um dos melhores mangás já feitos.

E é exatamente por isso que eu não coloquei ele na lista. O Fullmetal Alchemist original já foi largamente elogiado tanto pela crítica quando por leitores mundo a fora e continua sendo a obra mais popular da Hiromu. Então eu achei que valia mais a pena recomendar o outro mangá dela que li no final do ano e que também gostei imensamente: Silver Spoon.

No começo você não acha que vai ter algo muito especial nesse mangá, afinal é só mais um slice of life escolar, com o detalhe de ser uma escola agrícola. Só que essa é uma história escrita pela Hiromu e isso muda tudo. Não porque ela é apenas uma excelente mangaká, mas porque ela tem vivência afinal ela cresceu na pequena fazenda de seus pais. E o que resulta disso não é apenas um conhecimento de como é a vida e o trabalho numa fazenda, isso qualquer autor que faça uma extensa pesquisa pode reproduzir. O que a Hiromu traz aqui são as nuances emocionais relacionadas a vida no campo.

São tantas camadas que ela explora na sua história através do personagem do Yuugo Hachiken, um garoto da cidade que vai para a escola agrícola depois de não conseguir entrar na escola que ele queria. Hiromu traz a dura e fria realidade da vida numa fazenda e principalmente do agronegócio.

As dificuldades que os pequenos agricultores e pecuaristas enfrentam, muitos se afundando em dívidas para conseguir manter seu negócio vivo. A montanha-russa de sentimentos que os alunos novatos tem que enfrentar para lidar com o fato que muitos dos animais que estão ajudando a criar terão que ser abatidos. Hiromu nem foge de mostrar como acontece esse abatimento. As pressões que muitos desses alunos passam para dar continuidade ao negócio da sua família, tendo que sacrificar seus próprios sonhos. Tem até uma crítica bem pungente como a sociedade japonesa pressiona esses jovens a alcançar um nível de excelência na sua vida escolar que é impraticável.

De verdade, eu poderia ficar parágrafos aqui apontando cada discussão valiosa que a Hiromu faz no seu mangá. E como ela consegue equilibrar perfeitamente esses momentos mais dramáticos com um humor leve e que nunca parece estar tirando a seriedade das cenas mais tensas.

Se eu já achava a Hiromu uma excelente mangaká que sabe criar e desenvolver personagens fantásticos, Silver Spoon foi pra eliminar qualquer dúvida residual. É um mangá incrível que eu gostaria que mais pessoas conhecessem. Vou até conceder a ele o mesmo superlativo que reservei pra Lone Wolf and Cub: recomendadíssimo!


Bom, essa foi a minha lista de recomendação com base em tudo que li em 2022. Não é uma lista de mangás para você começar a ler. Também não é uma lista de mangás clássicos que você precisa ler. É simplesmente uma seleção dos mangás que eu mais gostei de ler nesse ano. Então se algum deles despertou sua curiosidade, espero que você curta! E quem é inteirado nos mangás da vida, por favor deixem recomendações nos comentários tanto pra mim quanto pra quem mais quiser conhecer.

Há algumas menções que eu gostaria de fazer além dos Pluto, Astro Boy, Fullmetal Alchemist e Appleseed. Outras leituras que me agradaram, com várias ressalvas, em 2022 foram:

  • Trigun, de Yasuhiro Nightow
  • Uzumaki, de Junji Ito
  • Dorohedoro, de Q Hayashida

Não vou discorrer sobre nenhuma delas afinal o texto já está grande demais. Penso em fazer uma outra lista de mangás ano que vem também com tudo que eu ler em 2023. A diferenças é que provavelmente vou dar uma maneirada na quantidade de coisas que lerei. De qualquer forma, pretendo manter mangás e animês como uma pauta recorrente do blog. Já tenho planos para uma série de textos de Gundam que logo deve sair o primeiro. Então, até a próxima!


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2 thoughts on “Uma lista de mangás sem qualquer motivo aparente”
  1. Excelente texto, Belmonteiro! Confesso que já conhecia vários dos mangás da lista, mas nunca li nenhum. Se eu puder dar uma recomendação para 2023, procure ler Bestiarius, de Masasumi Kakizaki! É um mangá bem curto (saiu aqui em 7 volumes) focado em uma Roma histórica e fantasiosa, com lutas de gladiadores e criaturas fantásticas. Confesso que o roteiro não é lá super elaborado (sendo até bem repetitivo até mais ou menos a metade), mas a arte é MARAVILHOSA e os personagens bem cativantes. Recomendo!

    1. Tava olhando aqui, já tem o mais importante que é ser um mangá concluído. E o autor se inspirou em Ben-Hur então já é mais um fator pra me motivar a ler. Coloquei na na minha lista, se bobear começo ler assim que terminar ou Sailor Moon ou I Am A Hero. Valeu pela recomendação, Davi!

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