
Nesse último mês eu voltei a minha atenção para o cinema nacional porque fazia um bom tempo que eu não assistia uns filmes brasileiros. Procurando algumas recomendações, duas me chamaram a atenção: As Boas Maneiras, de Juliana Rojas & Marco Dutra, e A Mata Negra, de Rodrigo Aragão. Ambos eram filmes de terror, um gênero que eu explorei pouco território nacional, e gostei muito deles. Como de costume, resolvi dar uma olhada na filmografia dos diretores. Enquanto via a do Rodrigo eu reconheci um nome, Mangue Negro, seu primeiro filme.
Muito tempo atrás, numa época que eu acompanhei alguns canais de crítica de cinema, eu ouvi falar dele. Contudo, ao perceber que se tratava de um filme independente de baixo orçamento eu tomei a decisão acertada de não assisti-lo. Digo isso porque sem a bagagem cultural que tenho hoje, eu não seria capaz de absorver Mangue Negro e ficaria naqueles criticismos mais chulés possíveis. Vi então uma oportunidade de corrigir meus erros do passado e aproveitei para assistir Mangue Negro também. Só que, como vocês sabem, eu não sou uma pessoa com hábitos de consumo normais. Eu sou o cara que decide rever A Máscara do Zorro e acaba passando por 90 anos de cinema swashbuckler. Logo, calhou de eu pegar TODOS os filmes do Rodrigo para assistir, do mais antigo até o mais recente, Prédio Vazio.
Vou dar um contexto rápido, porque senão eu não paro de falar. Rodrigo Aragão é um cineasta capixaba que começou sua carreira trabalhando com efeitos especiais para curtas-metragens e peças de teatro. Em 2008 ele decidiu se arriscar na direção e produziu Mangue Negro, aproveitando o manguezal que ficava atrás da sua casa em Guarapari. Ele conseguiu projeção o suficiente para fundar sua própria produtora, Fábulas Negras, e dirigiu mais outros longas nos anos seguintes como: A Noite do Chupacabras, Mar Negro, As Fábulas Negras e O Cemitério das Almas Perdidas. A maior parte dos seus filmes utiliza as paisagens naturais do interior de Guarapari e explora temáticas relacionadas ao meio ambiente, ocultismo e folclore.
Eu adoro um terror folclórico, então foi uma ótima experiência essa maratona. Outro incentivo também de ver todos os filmes do Rodrigo em sequência é que eles são conectados. Ainda dá para assistir cada um como uma história independente, porém existem elementos que ligam um filme ao outro em maior ou menor grau. Em parte eu acredito que é porque o diretor queria ter esse grande universo de terror autoral. Mas também porque, sendo um cineasta independente, isso lhe dava mais flexibilidade para reaproveitar atores, cenários e outros recursos usados em cada obra.
Agora, sem mais delongas, vamos falar sobre os filmes dessa mente tão criativa que é Rodrigo Aragão.
MANGUE NEGRO (2008)

Em seu primeiro longa-metragem, Rodrigo Aragão mostrou que era alguém com mais paixão pelo terror do que experiência. Não falo isso como crítico, pois acho que as partes mais amadoras na produção de Mangue Negro é o que tornam cativante. Eu gosto de imaginar que de alguma forma, enquanto estava vivo, George A. Romero conseguiu assisti-lo. Digo isso não apenas pela temática dos zumbis, mas porque é um título que conversa muito com o início da sua carreira com A Noite dos Mortos Vivos (1968). São dois diretores independentes cujos filmes compensam o baixo orçamento com muita energia criativa e que contribuíram para a história do cinema de terror em seus respectivos países.
A trama é finíssima e resumi-la a “zumbis no manguezal” não seria um exagero. O filme faz uma caracterização rápida dos personagens, mais para entendermos a vida no manguezal do que para nos conectarmos com ele. Longo em seguida, ele já parte para sucessíveis sequências de ataques zumbis. Existe um subtexto ambientalista inserido sutilmente no roteiro através de em alguns diálogos, dando a entender que os zumbis são consequências da degradação do mangue. Contudo a real substância do filme está nos seus efeitos.
Mesmo sendo uma produção de baixo orçamento, o Rodrigo Aragão fez valer cada centavo e não poupou no uso de maquiagem, efeitos práticos e mais diversas técnicas para… dar vida aos seus zumbis. Nem tudo funciona. Algumas escolhas são até compreensíveis, como o uso de filtro cinza porque o filme não se pode dar ao luxo de gravar cenas noturnas. Outras, no entanto, saltam aos olhos no pior sentido possível. Enquanto a maquiagem dos zumbis é ótima, tirando proveito da lama do manguezal na sua caracterização, a dos personagens idosos é difícil de engolir. Os closes constantes na cara da Dona Benedita, por exemplo, fazem você gritar “banheira de Nutella” toda vez que ocorrem. A performance dos atores também não ajuda nem um pouco e em momento algum você se convence que está vendo uma idosa ali.
Mas Mangue Negro sofre de fato com a inexperiência do Rodrigo Aragão é no ritmo do roteiro. O filme tem um início bem eletrizante e você se vê jogado num pesadelo aparentemente sem fim em poucos minutos. Porém a partir da segunda metade é como se tivessem puxado o freio de mão e passam a enrolar em cada cena para conseguirem alcançar a margem de um longa-metragem. É na segunda metade também que a edição tenta criar caos com uma série de cortes rápidos que até deixam as cenas mais estilizadas. Entretanto, no geral, só vira uma bagunça visual que torna difícil de acompanhar a ação.
Enfim, considerando todos os obstáculos orçamentários que Mangue Negro precisou enfrentar, o resultado final ficou bom. Não é um grande filme, menos ainda um grande filme de zumbis, mas tem seu charme se você se dispor a relevar alguns dos tropeços.
A NOITE DO CHUPACABRAS (2011)

Poucos anos separam Mangue Negro de A Noite do Chupacabras, mas a evolução do Rodrigo Aragão de um para o outro é notável. Não sei dizer se isso é influenciado pela experiência que o diretor adquiriu depois do seu primeiro filme ou pelo fato dele ter acesso a equipamentos melhores. Mas fato é que o valor de produção melhorou muito. A edição não é mais confusa, a fotografia usa planos mais inventivos, o roteiro é mais equilibrado. Os efeitos seguem muito bons, mas como vocês verão, essa é uma constante nesses filmes.
Ao contrário de Mangue Negro, o filme não precisa exclusivamente do monstro principal, o Chupacabras, para funcionar. Metade das mortes nem mesmo é causada por ele, pois a criatura é incidental à trama. Boa parte da trama gira em torno do conflito entre duas famílias que alimentam um ódio mútuo por conta de desavenças do passado. Mas sim, ainda temos um tema ambientalista tangenciado a história. É mais sutil, vindo num único diálogo e mantendo a origem do Chupacabras em aberto como algo sobrenatural ou talvez fruto de uma mutação.
Tematicamente, A Noite do Chupacabras fala mais sobre violência humana, ao mesmo tempo que começa a costurar um universo mais amplo para os filmes do Rodrigo Aragão. Uma cena no meio do filme, que a princípio parece completamente aleatória, insere um canibal na trama que é morto por um dos personagens minutos depois. De fato ele não contribui para a trama, somente com um contexto posterior que entendemos que ele está ali para pontuar a primeira aparição do Livro de Cipriano que estará tão presente em filmes futuros. Porém dá para dizer que o canibal também reflete a mesma ideia do Chupacabras de ilustrar mais um dos horrores obscuros que existem nesse mundo.
A montagem não tem nada de muito elaborado e, apesar de perder um pouco do estilo de Mangue Negro, permite uma visão mais clara da ação do filme que agora não precisa recorrer a filtros para criar sequências noturnas. Eu particularmente acho louvável como o Rodrigo Aragão não tem vergonha de mostrar o monstro quando ele finalmente passa a marcar uma presença real na história. Não existe uma tentativa de esconder o Chupacabras por sabermos na prática que é apenas um cara numa fantasia de borracha. O diretor respeita a inteligência da audiência (respeito esse que às vezes, infelizmente, não é correspondido) em nos deixar ver o monstro em toda sua glória e animalidade.
Enquanto para aproveitar Mangue Negro a gente precisa levar em consideração que é uma produção independente de baixo orçamento, A Noite do Chupacabras já não depende tanto dessa boa vontade. É um eficiente filme de monstro, ainda que detenha alguns dos mesmos problemas do anterior, sobretudo na atuação.
MAR NEGRO (2013)

Mar Negro é um filme divertidíssimo e ponto. Ele consolida os filmes anteriores como parte de uma trilogia, conectando os zumbis de Mangue Negro com o canibal e às menções a uma misteriosa mancha negra no mar de A Noite dos Chupacabras. Porém você precisa se aproximar com cuidado, pois ele te engana na sua primeira metade.
O início do filme é bem sóbrio na medida que um filme do Rodrigo Aragão consegue ser. Você tem ali o contato inicial de dois pescadores com um estranho monstro no mar enquanto o literal Albino encontra o corpo do canibal e seu livro no meio da mata. Ao mesmo tempo ficamos sabendo sobre a inauguração de um novo clube, um eufemismo para cabaré, na região. Ou seja, tudo se constrói para uma noite desastrosa, só que isso também é um eufemismo. Porque é aí que o diretor resolveu despirocar totalmente e transformar seu filme num glorioso splatter com gosmas negras e sangue jorrando para todo lado.
Os personagens aqui são todos descartáveis e nem vale a pena investir muito neles. Albino é o que tem um desenvolvimento maior do que a média e dá para dizer que tem um arco de personagem, mas o restante do elenco só está ali para ser viver de vítima a todos os horrores do filme. Gosto até da escolha do cabaré para ser palco pra maior parte das sequências de Mar Negro porque é nessa hora que ele se transforma num inferninho repleto de zumbis, cultistas e animais mutantes. O filme é na sua essência um pastiche de ação, comédia e terror, com uma sanguinolência intencionalmente exagerada.
É por ter esse lado mais assumidamente cômico que algumas coisas que podiam ser um problema nas obras anteriores, como algumas das atuações mais canastras, dessa vez funcionam. Quando a Madame Úrsula dá um maravilhoso ADP, abre um armário e tira de lá uma metralhadora gigante, você sabe que é o diretor e o elenco se divertindo com todas as possibilidades de efeitos práticos. Às vezes acho que Mar Negro muda de tom demais ao longo da sua história, mas o resultado final é um gore delicioso para todo mundo*.
*Exceto a equipe que ficou responsável pela limpeza dos cenários.
AS FÁBULAS NEGRAS (2015)

Tenho pra mim que o Rodrigo Aragão, bem como a equipe que vem trabalhando com ele desde o início, tem na sua antologia de As Fábulas Negras como o trabalho mais especial da sua filmografia. Não é à toa que é aquele que leva o nome do da sua produtora. O que torna esse filme singular é que foi um projeto colaborativo onde o Rodrigo pode dar espaço para outros nomes do terror nacional como os diretores, Petter Baiestorf, Joel Caetano e ninguém menos que José Mojica Marins, nosso eterno Zé do Caixão.
O filme se divide em cinco segmentos dirigidos por cada um dos diretores convidados, sendo dois deles da autoria do próprio Rodrigo. As histórias são inseridas numa narrativa moldura em que vemos um grupo de garotos brincando na mata e contando causos locais para se assustarem. Então, como acontece com toda antologia, a gente tem diferentes níveis de qualidade aqui. Para não alongar o texto, vou tecer somente alguns breves comentários de cada segmento.
A primeira história é O Monstro do Esgoto, do Rodrigo Aragão, que para mim é a mais fraca do filme. O título já é bem autoexplicativo e impressiona muito pouco por ser uma repetição de ideias que o diretor já explorou nas suas obras anteriores. Fora que a crítica política não sai de um discurso manjado sobre corrupção e do inferno burocrático do sistema municipal. Tem uma qualidade trash simpática, mas com pouca substância.
Em Pampa Feroz do Petter Baiestorf já damos uma melhorada com um lobisomem aterrorizando os homens da fazenda de um coronel. É uma clássica história de monstro, só que eu acho que funcionaria melhor num filme próprio. Por ser um segmento curto, não dá tempo de criar mistério sobre a identidade do lobisomem e assim acabamos com um final abrupto e anticlimático.
O Saci, dirigido pelo grande Mojica, é onde As Fábulas Negras consegue se firmar mesmo. O Mojica é bem metódico e traz a sua assinatura clara numa versão bem endiabrada do Saci que vai muito além de pequenas peripécias. Dá pra sentir como ele estava se divertindo nessa produção, até porque ele não se contém em ficar apenas atrás das câmeras e traz também aquela sua atuação tão carismática e cheia de energia que o tornou um ícone do terror.
Sou suspeito para falar de Loira do Banheiro porque o Joel Caetano reúne duas coisas que eu gosto: a conhecida lenda urbana – que na minha escola tínhamos uma variação local de Maria Algodão – e filmes japoneses de espíritos vingativos. O segmento mostra uma escola para garotas assombrado pelo seu passado e é a parte com a melhor atmosfera da antologia.
Fechamos então com A Casa de Iara, outro segmento dirigido pelo Rodrigo Aragão que é bem melhor que seu primeiro. Gostei que é uma história sem diálogos, mostrando uma mulher que faz um pacto para se vingar do marido traidor. A trama é direta ao ponto, com o único defeito é ser o mais curto dos segmentos. Dura não mais do que cinco minutos, o que deixa o desenvolvimento muito corrido.
Sabem o que eu mais gostei nessa antologia? A narrativa moldura com os garotos. Geralmente é a parte que eu menos me interesso nessas antologias, porém aqui explora esse aspecto mais lúdico do horror que por vezes é ignorado por acharem que é um gênero apenas para adultos. Enfim, tem boas histórias em As Fábulas Negras e fico feliz que o Mojica teve mais uma oportunidade de expressar sua arte e sua paixão pelo horror.
A MATA NEGRA (2017)

Fica mais curioso olhar para As Fábulas Negras depois de assistir A Mata Negra, pois você percebe que os dois segmentos dirigidos pelo Rodrigo Aragão marcam um processo de transição. Lá em A Noite dos Chupacabras notamos que ele queria explorar elementos de ocultismo nos seus filmes, algo que ganha mais força em Mar Negro e se consolida de fato com A Mata Negra. Outra coisa que também fica evidente neste filme é como o nome do Rodrigo Aragão já era capaz de atrair mais atenção. Assim, ele foi capaz de reunir mais recursos para financiar os seus projetos, tanto que nesse filme temos até a participação de um ator global, Jackson Antunes.
Na história temos Clara, uma jovem que acaba entrando em contato com o Albino e o Livro de Cipriano dos filmes anteriores. A princípio a jovem acha que ele trará a solução para os seus problemas, mas logo ela percebe que existe um preço muito alto a se pagar pelo seu poder. O filme se torna uma espiral infernal em que a protagonista condena a si mesma e todos à sua volta pelo uso do Livro de Cipriano.
Com exceção de Mangue Negro, até então a gente não tinha muito incentivo para ficar investido nos personagens principais do filme do Rodrigo Aragão. 90% deles acaba morrendo ao longo dos filmes, então você acaba se treinando a não criar laços com ele. Em A Mata Negra é diferente, você está o tempo todo com Clara. Ainda que as escolhas que a personagem toma são sempre as piores possíveis, a gente entende que isso vem de um lugar de ingenuidade. E o filme não mede esforços para mostrar o peso das consequências das suas ações, pois o caos vai crescendo cada vez mais.
A Mata Negra não chega a romper o limite como Mar Negro e virar um filme splatter, aqui o diretor se contém mais. Tem muitos elementos grotescos, muita morte, mas não vira um banho de sangue insano. Bom, não totalmente. O último minuto é o que me perde um pouco porque acaba ficando fora do tom do restante do filme. É quase como se a gente dormisse e de repente acordasse em outro título do Rodrigo Aragão. Fora isso, são ótimas sequências que mais uma vez mostram o seu talento para criar uma estética de horror tão marcante.
O CEMITÉRIO DAS ALMAS PERDIDAS (2020)

Depois de uma década construindo sua carreira como um dos principais nomes do terror nacional, Rodrigo Aragão finalmente teve a oportunidade de dirigir um projeto de grandes proporções com o O Cemitério das Almas Perdidas. É sua maior e mais ambiciosa produção, onde ele pode investir muito mais em cenários, equipamentos, maquiagem e efeitos para executar todas as suas ideias com um talento ímpar. É até um pouco triste que o grande Mojica, para quem o filme é dedicado, não teve a oportunidade de vê-lo antes da sua morte no início daquele ano. Dá para notar várias homenagens a ele ao longo das sequências por toda inspiração que ele teve para o diretor.
Em O Cemitério das Almas Perdidas, Rodrigo explora as origens do Livro de Cipriano, com uma história que viaja ao longo das eras discutindo o terror do colonialismo no passado e o terror do fanatismo religioso no presente. Ele evita o discurso fácil de dizer que “as coisas continuam as mesmas” e mostra mais como os ecos do mundo antigo ainda podem ser ouvidos hoje, enquanto novos horrores surgem ou se adaptam a configuração do mundo moderno.
É de longe o seu filme com a atmosfera mais forte, combinando o horror folclórico que marca tanto sua obra com um terror gótico que de algum jeito consegue funcionar num cenário brasileiro. Isso mostra como mesmo caminhando para o mainstream, o Rodrigo Aragão não se deixa levar pelo convencional e continua misturando conceitos e temas sem se preocupar em seguir fórmulas conhecidas. Os vilões, por exemplo, são uma amálgama de diferentes monstros clássicos que nos mostra que a criatividade não precisa de molde.
Mas acho que o que mais solidifica O Cemitério das Almas Perdidas como a grande produção que é não é o orçamento. Nesses anos, Rodrigo Aragão conseguiu cultivar ao seu redor uma equipe de talentosos artistas nos diversos setores do cinema que cresceram junto com ele. Atores, profissionais de efeitos especiais, equipe de som, de iluminação, roteiristas, etc. É esse entrosamento que permite o diretor continuar ampliando os limites do terror nacional tão subestimado quanto o nosso próprio cinema, infelizmente.
PRÉDIO VAZIO (2025)

Depois de um filme com proporções quase épicas como O Cemitério das Almas Perdidas, era de se esperar que Rodrigo Aragão fosse buscar outro projeto ousado. Porém curiosamente ele decide ir na direção oposta com um filme de escopo bem menor que por vezes parece um projeto de faculdade de cinema. Eu acredito que isso é intencional, pois o intuito do diretor aqui é quase que didático. Prédio Vazio é uma aula de como para fazer terror você não precisa de um orçamento milionário como de O Cemitério das Almas Perdidas. Tudo que você precisa é uma combinação de esforço criativo, técnica e paixão pela arte.
Aqui temos uma mudança de ares. Rodrigo nos tira do habitual ambiente rural de seus filmes anteriores e nos coloca no centro urbano da Guarapari que ele cresceu e se estabeleceu como diretor. A cidade é destacada nos cenários, nos diálogos, na trilha sonora e principalmente no comentário sobre como as praias se tornaram um ambiente de especulação imobiliária, com prédios vazios pela maior parte do tempo quando o turismo não está em alta. Aqui se desenvolve a trama de jovem Luna buscando sua mãe que desapareceu num desses prédios.
A força de Prédio Vazio vem da sua produção. O Rodrigo usa uma iluminação artificial muito estilizada que dá esse teor de filme amador de faculdade que eu mencionei no começo. Só que é um “amadorismo” feito por um diretor com uma experiência acumulada por uma década e meia, então é tudo muito bem feito. O elenco é bem dirigido, os cenários são bem construídos, os efeitos… bom, a esse ponto vocês já sabem o que esperar nesse departamento. O Rodrigo Aragão aqui já tem aquela condução metódica da sua arte, a mesma que o Mojica mostrou quando trabalharam juntos em As Fábulas Negras.
Eu diria que Prédio Vazio não é nem para nós, os fãs de terror. Esse é um filme para as futuras gerações de cineastas e artistas que querem trilhar o mesmo caminho que o Rodrigo Aragão embarcou lá em 2008. Ele mostra como você consegue fazer muito com um orçamento relativamente modesto, comparado com o investimento que ele consegue mover agora, se você for suficientemente talentoso e, mais do que isso, ter plena confiança no seu talento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olha, eu sei que é irrealista pensar que as pessoas vão fazer a mesma jornada que eu fiz com a obra do Rodrigo Aragão. Já é difícil convencer as pessoas a assistir um mísero filme brasileiro, imagina sete?! Ainda mais quando alguns deles são de baixo orçamento que sei que irá ativar a síndrome de vira-lata do espectador médio. Mas se eu conseguir que alguém assista pelo menos um desses filmes, podendo ser até os mais acessíveis como A Mata Negra e O Cemitério das Almas Perdidas, eu dou meu trabalho aqui como concluído.
No final, o texto pareceu discutir muito mais o próprio Rodrigo Aragão do que seus filmes. Espero ter conseguido destacar qualidades o suficiente para despertar alguma curiosidade nessa filmografia. Eu recomendo muito que façam um esforço para tentar ver tudo. Pode ser complicado encontrar na internet, mas dá para achá-los. O cinema brasileiro é muito bom, tem artistas fantásticos e a gente precisa tentar o que for possível para destruir a imagem errônea que muitos têm dele. E outros contribuem para manter essa ignorância viva.
Fica aqui meu agradecimento habitual pela sua leitura, já que esse foi um texto mais longo do que a média do blog. Também fica meu agradecimento ao Rodrigo Aragão pela contribuição para o cinema nacional, sobretudo nesse campo ainda um pouco desvalorizado do terror.
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