GOTY, tinta amarela e modo fácil: a “profana trindade” gamer

A não ser que você tenha a sensatez de ficar longe das redes sociais, provavelmente já deve estar ciente que GTA VI foi adiado novamente. Então ontem eu me uní às massas, fiz meu comentário com deboche bobinho e estava pronto para dar a noite por encerrada. Mas aí eu resolvi entrar no Reddit! Lá me deparo com alguém comentando que agora o prêmio de Game of the Year de 2026 está em aberto…

*sigh*

Na mesma hora eu tive vontade de escrever um texto com o título “GTA VI, GOTY e ejaculação precoce” para falar de como o discurso gamer depende tanto do Game Awards. Contudo eu percebi que já havia escrito esse texto ano passado! Pior que não para por aí. Depois eu vi que, em 2023, eu também fiz outro artigo indo nesse mesmo espírito. Já virou praticamente uma tradição aqui no blog em que todo ano eu escrevo algo reclamando de alguma discussão besta consequente do GOTY. É um ciclo e foi aí que acendeu aquela luzinha na minha cabeça.

Meme ironizando as três intermináveis discussões gamers: games são arte, modo easy em jogos e dissonância ludonarrativa

Volta e meia alguém fala sobre as discussões cíclicas que assombram a comunidade gamer. Tem até esse meme que destaca as três principais: se jogos são arte, dissonância ludonarrativa e modo fácil. Hoje em dia eu discordo um pouco dessa fala porque na verdade só uma dessas três discussões que vai e volta com frequência.

Posso contar nos dedos da mão, no singular, as vezes que vi as pessoas discutirem de fato sobre dissonância ludonarrativa. Ela está mais para um conceito que já caiu em desuso, pelo menos no lado do público. Enquanto isso, a discussão se jogos são ou não arte acontece mais por fatores externos. É só quando alguém de fora da comunidade gamer fala que eles não são que o pessoal se junta para brigar. Até porque normalmente o gamer NÃO trata jogos como arte.

Com isso nos sobre apenas um único tópico, mas daqui a pouco eu falo dele. Com esse lance de discussões cíclicas na minha cabeça, eu resolvi para o meu divertimento próprio pensar em qual poderia ser a nova “profana trindade” da comunidade gamer. Depois de matutar bastante (por volta de 5 minutos), cheguei a conclusão que as mais apropriadas seriam: GOTY, tinta amarela e modo fácil.

Acho que é melhor começar pelo modo fácil já que ela é a única que sobreviveu da trindade anterior. Muito desse tópico se dá por conta dos jogos da From Software que cultivaram uma das fanbases mais insuportáveis da internet que parece ter como único traço de personalidade o fato de ter zerado Dark Souls. Mas, se quisermos, dá para estender a discussão pra outros soulslikes. De bate pronto me recordo que Lies of P gerou esse debate quando noticiaram que ele receberia um novo modo de dificuldade. A briga se mantém até hoje porque ambos os lados são altamente antagônicos, então é impossível de se chegar a um acordo.

A minha opinião eu já registrei aqui então não vejo motivos para discorrer muito sobre ela. Não sou exatamente um insentão nessa discussão. Reconheço que tais jogos tem um desafio um pouco maior do que a média que faz parte do seu game design, porém não me oponho a inclusão de um modo fácil. A única coisa que me faz ficar um pézinho mais próximo dos criminosos fãs de Dark Souls é que existe muito exagero em relação a real dificuldade de tais jogos. Eu tenho a minha teoria que boa parte de quem acha eles muito difíceis é porque tratam soulslike como se fosse hack ‘n slash. Mas é só uma teoria, uma… ok, me recuso a roubar esse bordão!

Pulando agora para pauta do GOTY, ela não é exatamente UMA discussão. Tá mais para um conjunto de bobeiras que se repetem anualmente quando o evento se aproxima. O que diferencia é que as piores estão relacionadas ao prêmio de Melhor Jogo do Ano. Tem toda a briguinha de torcida em que o amiguinho quer que o joguinho dele seja vencedor que eu acho normal já que sou filho de um flamenguista doente. Só acho um tanto ridículo até hoje tem gente discutindo porque God of War levou o prêmio em vez de Red Dead Redemption 2 em 2018 como se isso impactasse o jogo de alguma forma.

O que me chama mais atenção é como o gamer gosta de pautar quais jogos merecem ou não concorrer a categoria. Já teve discussão por causa de remake, por causa de DLC e por causa de jogo de cartinha. Aí que dá para ver como o gamer adora perder tempo com os detalhes mais insignificantes que na prática ele quer que o Game of the Year seja apenas o AAA of the Year. Vamos aguardar para ver qual vai ser a bobeira que gerará briga esse ano.

Meme de Chaves em que ele fala para o Seu Madruga, que está pintando a porta com tinta amarela, que isso vai tirar a imersão da audiência.
Só queria deixar registrado que eu sou o autor dessa imagem

Por fim chegamos à infame tinta amarela que é a minha favorita dessa trindade. Gosto de chamar esse tópico de “bebê reborn da comunidade gamer”. Ele parte de uma impressão generalizada que os estúdios tem tornado seus jogos cada vez mais fáceis numa tentativa de alcançar um público maior. Para alguns isso é só uma forma auxiliar a ingressão de novos jogadores a uma linguagem que não estão familiarizados, para outros é tratá-los como idiotas.

Nesse contexto, a tinta amarela se tornou o alvo mais recorrente de críticas como nas suas ocorrências em Resident Evil 4 Remake, Assassin’s Creed Shadows, Final Fantasy VII Remake e Stellar Blade. Pessoalmente eu acho uma tchonguice tremenda, não a tinta amarela e sim quem fica… pintando um quadro muito mais catastrófico do que de fato é. Jogos sempre tiveram recursos que sinalizavam objetos e quais caminhos seguir, dos mais sutis até os mais berrantes. A tinta amarela não tira a “imersão” de ninguém, que é só um termo vazio de significado que o gamer sai usando por aí igual “sem alma”. De qualquer forma a discussão está posta na mesa e é capaz de se tornar tão antagônica quanto a do modo fácil, mas dessa vez eu tenho meu lado bem definido.

Para concluir, a “profana trindade” é para ser vista pelo seu lado mais simbólico. Não é que o gamer só sabe falar sempre desses mesmos tópicos, é apenas para ilustrar o caráter cíclico das pautas do dia. Também serve para evidenciar como muitas dessas discussões não tem fim, tanto no sentido de propósito quanto no seu sentido de conclusão. Amanhã alguém vai mencionar tinta amarela, depois vai ter notícia que algum jogo terá modo fácil e aí quando piscarmos já vai estar no mês do GOTY. Aí passa mais um tempo e tudo isso volta nas mais diversas ordens e acompanhadas de outras maluquices. Olha só a hora, acho que já é tempo de discutir se conta zerar jogos pelo YouTube*.

*não conta!


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