Que eu não sou um grande fã do The Game Awards não é nenhuma novidade. Já deixei isso claro em não um, nem dois, mas sim TRÊS artigos diferentes. O tema poderia até virar um quadro sazonal aqui no blog porque cá estamos com o quarto texto falando dessa premiação que tanto odeio e cinicamente continuo escrevendo sobre. A bola da vez é a indicação de Shadow of the Erdtree, DLC daquele joguinho lá da FromSoftware, para a categoria de Game of the Year, o famoso GOTY.
O anúncio – que francamente já era esperado – gerou uma pequena discussão sobre se DLCs deveriam ou não poder concorrer ao título de Melhor Jogo do Ano. Ao que nos leva a uma pergunta simples: isso importa?
Apesar de todo o desdém com o qual eu trato o GOTY, e por extensão o Game Awards, quando eu digo que a indicação de Shadow of the Erdtree não importa eu não falo no sentido de que o prêmio é irrelevante. Até porque de fato ele é irrelevante e não preciso destacar o óbvio. Também não digo isso no sentido que os critérios da categoria permitem essa escolha, logo não haveria o que discutir. A validade ou não da participação de Shadow of the Erdtree me interessa tanto quanto o prêmio em si. Eu digo isso no sentido de, gente, vocês esperavam o quê?! Toda essa história é apenas mais uma dentre as recorrentes “barrigadas” anuais desse evento games. Uso aspas porque elas acontecem com tanta frequência que eu já começo a acreditar que elas devem ser intencionais.
Ainda me lembro do sorriso condescendente que eu soltei na vez que o Josef Fares soltou o seu pueril “Fuck the Oscars!” no The Game Awards de 2017. Fiquei imaginando se ele realmente achava que estava numa celebração que tinha algum real comprometimento com a sua mídia e não um show de anúncios com uns prêmios no meio. Enfim, por mais de uma vez o evento já mostrou que faz algumas indicações, se me permitem a eloquência, à moda caralha. Ok, talvez não totalmente!
Existem indicações legítimas, ao mesmo tempo que existem indicações que parecem calculadas para gerar mais hype para a categoria. Ano passado tivemos um bom exemplo com Cyberpunk 2077 concorrendo ao prêmio de Melhor Jogo Contínuo. Realmente o jogo ainda recebia conteúdo desde o seu lançamento em 2020, porém o que o evento parecia ignorar – eu não tenho dúvidas que nesse caso foi intencional – que isso aconteceu porque os desenvolvedores ficaram anos consertando problemas do jogo base. Contudo esse é um caso de “dúvida razoável”, dá sempre para puxar a cartinha de “teve a DLC em 2023”. Assim a indicação consegue um verniz de legitimidade para a escolha e a sua subsequente (e previsível) vitória.
Então vamos falar sobre outros episódios menos comentados. Em 2022, Sifu concorreu ACERTADAMENTE na categoria de Melhor Jogo de Ação, afinal beat’em up é um subgênero de ação. Mas não tão acertado assim foi colocá-lo também na categoria de Melhor Jogo de LUTA. Eu até consigo visualizar Geoff Keighley dando de ombros com uma expressão sarcástica no rosto dizendo “Ah, mas tem lutinha no jogo, né?”. Algo que aconteceu esse ano também já que o remake de Silent Hill 2 está concorrendo a Melhor Jogo de AÇÃO-AVENTURA. Estou longe de ser um purista de gênero, mas da última vez que eu conferi survival horror era subgênero de terror. Mas quem sou eu na fila do pão, né?
Eu não acho que o The Game Awards precisa dar mais prêmios do que já dá, mas se for para indicar esses jogos acho que o mais justo seria fazê-lo nas suas respectivas categorias.
E por que isso não vai acontecer? Porque não é viável ($$$). Para você ter uma categoria específica de beat’em ups e terror, boa parte das indicações seriam de jogos de estúdios menores ou indie. Afinal, esses são gêneros com uma participação menor no mercado AAA. Beat’em ups, na real, nem mesmo tem uma participação. Pode até trazer mais de legitimidade, validade, integridade, o que você quiser chamar, ao evento. Porém não traz o que importa de VERDADE:
Falando em indie, tá aí outra pedra no sapato do The Game Awards. Existem três categorias diferentes e mesmo assim a impressão é que só certos jogos são indicados, seguindo uma estética específica, tendo o apoio de alguma publisher por trás ou então quando são absurdamente populares. Então eles só marcam presença para o evento fingir que tem algum compromisso em representar a mídia na sua pluralidade. É o motivo de Belatro estar lá entre os concorrentes do GOTY, ainda que as chances de vencer são próximas de nulas. Ou vocês acham que o The Game Awards vai arriscar desagradar os estúdios cujos anúncios sustentam a premiação só para ter um pouco de integridade? Pelo menos é divertido ver o gamer médio confuso do porquê um jogo de cartinha está concorrendo a Melhor Jogo do Ano, o que só mostra pra mim a falta de repertório que domina essa comunidade.
Enfim, por isso que eu acho uma perda de tempo discutir se Shadow of the Erdtree deveria ou não estar no GOTY. Numa premiação onde o jogo de uma subsidiária de um dos maiores estúdios coreanos pode concorrer como Melhor Jogo INDIE, para mim é 100% coerente que uma DLC concorra a Melhor Jogo do Ano. Digo mais, espero que Shadow of the Erdtree ganhe. É isso que o Game Awards é, é isso que a sua audiência gosta e é isso que o gamer merece.
Tantos anos eu sigo ouvindo como o evento é uma piada, sempre com o mesmo sorriso condescendente que eu dei para o Josef Fares. Desculpa, mas não! A piada é VOCÊ! Você aí que ainda discute a premiação como se ela fosse algo além do evento comercial que tecnicamente não se propõe a ser, porém que todo ano dá mais evidências de que é. Pelo amor de Deus, sabe? Estamos falando de um evento games que tem como categoria Melhor Jogo ANTECIPADO. Eu encerro o meu caso, meritíssimo!
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