"Se Você É Jovem Ainda", música do Chaves
A resolução é baixa, mas a mensagem é boa!

Um tempinho atrás eu fiz um comentário no Twitter de como parece que houve uma troca de cérebros na minha casa. Isso porque minha mãe estava assistindo filme de super-herói e eu estava escutando Bonnie Tyler. Especificamente Total Eclipse of the Heart e Holding Out For A Hero que eu escuto em loop.

E não é meme. De fato minha mãe virou uma fanática pelas histórias de super-heróis, consumindo desde todos – e não estou exagerando quando digo todos – os filmes do MCU e das séries de personagens DC. Aliás, se eu não estou enganado eu menciono isso no meu texto sobre minha última viagem com a minha família no Natal do ano passado. Claro que isso se limita as adaptações, as HQs originais ela ainda não decidiu procurar.

Qualidade das obras a parte, ela adora os personagens e volta e meia me pedia para baixar os episódios e filmes antes de ter acesso a eles pelas plataformas de streaming. Isso começou uns anos atrás, embora ela vai vir aqui agora contestar dizendo que sempre gostou de super-herói porque assistia National Kid e O Vigilante na infância. Contudo no auge da trilogia dos filmes do Batman do Christopher Nolan ou dos filmes do Homem-Aranha do Sam Raimi, por exemplo, ela ainda não acompanhava o gênero de super-heróis. Outra coisa que me surpreendeu mais ainda nesse período foi ver minha mãe, que nunca teve muito interesse assim por ficção científica além de Matrix, se tornar uma grande fã da série Fringe. Que ela até assistiu por completo pela segunda vez umas semanas atrás!

Eu me peguei pensando nisso porque recentemente eu decidi assistir Kamen Rider Black Sun. Esse é um remake da série Kamen Rider Black, de 1987, que foi exibida ano passado para comemorar os 50 anos da franquia. Então, acontece que eu nunca assisti nada relacionado a Kamen Rider antes. Nadica de nada mesmo! Muito menos de tokusatsu. As únicas coisas que eu assisti de verdade foram o Godzilla original e o seu reboot moderno Shin Godzilla. Porém eu sei muitos dos nomes desse gênero como Super Sentai, Spectreman, Jiraiya, Lion Man, Jaspion e, claro que não pode faltar, Ultraman. Nuca assisti nada, mas conheço todos pela sua influência na cultura pop.

Pois bem, eu adorei Kamen Rider Black Sun!

Gostei tanto que eu já baixei a série de 1987 e pretendo assisti-la assim que possível. Além isso, adicionei o mangá original de 1971 para ler esse ano. Ao que tudo indica, há uma grande possibilidade de eu passar a gostar de tokusatsu. Pois se limita a Kamen Rider, também está me dando uma curiosidade de assistir outros clássicos dos já citados como Jaspion e Jiraiya.

Isso vai de encontro também com o final do ano passado em que me tornei um fã da franquia Gundam. Tal como Kamen Rider, eu nunca tinha parado para assistir qualquer coisa dela. Noutra anedota, tempo depois de ver Gundam eu também gostei Mazinger Edition Z – The Impact! sem nunca ter assistido ou lido nada relacionado Mazinger. Por fim, no final do ano passado também eu adquiri um gosto pela leitura de mangás sendo que até então eu só havia lido quatro na minha vida toda.

Mas por que eu estou falando disso tudo? Ora, por causa de uma música do Chaves!

https://www.youtube.com/watch?v=W8_TuIFdG0c&ab_channel=user-xr6ws7lc5f

Se Você é Jovem Ainda é uma das músicas mais conhecidas do seriado, que foi exibida no episódio Uma Aula de Canto. Ultimamente ela tem ocupado um espaço significante na minha mente muito por conta da minha relação atual com entretenimento em geral. E é em específico o refrão que eu não paro de pensar sobre:

Se você é jovem ainda, jovem ainda, jovem ainda
Amanhã velho será, velho será, velho será!
A menos que o coração, que o coração sustente
A juventude que nunca morrerá!

Lógico que a música não é sobre ser jovem para sempre. Do ponto de vista biológico, sabemos que é impossível. O corpo envelhece e não há nada que podemos fazer para evitar esse destino a qual estamos todos se encaminhando. Porém o que Bolaños argumenta nessa música, de maneira simples e direta, é como a juventude e a velhice também podem ser interpretadas como um estado de espírito. Isso fica claro na estrofe seguinte:

Existem jovens de oitenta e tantos anos
E também velhos de apenas vinte e seis
Porque velhice não significa nada
E a juventude volta sempre outra vez!

De novo, “a juventude volta sempre outra vez” não é para ser interpretada da forma literal. Você nunca vai recuperar o mesmo vigor dos seus 20 anos. Tão pouco a música fala sobre ter a mente jovem, afinal todos tem que amadurecer em algum momento. O que o Bolaños comenta aqui é como você pode manter, ou então recuperar, o seu “espírito da junventude”. Ok, mas precisamos então definir o que diabos seria esse espírito e a própria música nos ajuda nessa tarefa de novo. Encontramos essa resposta nos versos que eu considero mais essencial de Se Você É Jovem Ainda:

E velho é quem perde a pureza
E também é quem deixa de aprender!

Se me permitem uma última referência, tempo atrás eu assisti as duas primeiras temporadas da longeva franquia Além da Imaginação. Ela teve sua primeira série produzida na década de 60 e, em algum momento, ela retorna noutra versão. Dentre seus episódios, um que me chamou atenção foi um chamado Static, da segunda temporada. Está longe de ser um dos episódios mais memoráveis da série, mas ele me marcou por conta do seu protagonista.

Ed Lindsay, personagem de um dos episódios da primeira versão de Além da Imaginação
Static, episódio de Além da Imaginação exibido na década de 60

Na história, Ed Lindsay é um senhor ali pelos seus 50 e tantos anos que se mostra desinteressado por tudo que passa na TV da pensão em que vive. Na verdade não é só um desinteresse, Ed tem um desprezo evidente por tudo que é novo. Ele repete constantemente como as coisas eram melhores no passado. Mais a frente no episódio, Ed descobre um rádio que, para sua surpresa, começa a tocar não apenas músicas como também programas de rádio da sua juventude. Ele então fica obcecado com o rádio que misteriosamente ele é o único que consegue escutar, já que as demais pessoas só ouvem estática.

O episódio surtiu muito efeito comigo porque o Ed me faz lembrar de um falecido tio meu que era vivo na época que eu assisti o episódio. Assim como o personagem de Além da Imaginação, esse meu tio vivia repetindo como tudo hoje em dia era uma bosta: TV, cinema, música, etc. Nada do presente era tão bom quanto as coisas do passado. Do passado dele, claro. Aliás foi por conta desse tio que eu assisti Os Canhões de Navarone que acabou se tornando um dos meus filmes clássicos de guerra favoritos e só menciono essa anedota porque eu quero manter a memória dele viva. Eu adorava meu tio, sinto muita saudades dele, mas admito que eu morro de medo de um dia ficar desse jeito e não conseguir apreciar coisas novas.

Felizmente, me parece que eu vou tender pro lado da minha mãe que serve de exemplo em vários fatores. Mesmo não sendo o público-alvo ela adora esses filmes e séries e ainda descobre novos gostos que fogem do padrão de consumo dela. E eu vejo que também tenho feito isso, inclusive há décadas já. 15 anos atrás eu não poderia imaginar que passaria a curtir documentários tanto no formato série quanto filme e hoje é um dos gêneros que eu mais consumo junto do terror. Que, olha só, também foi outro gênero que eu passei a consumir mais tarde na vida igual eu faço agora com mangás. No momento que eu escrevo esse texto tem uma aba aberta aqui com uma scan de Sailor Moon.

Eu tô focando muito nessa parte do entretenimento porque é o tema central do meu blog. Mas óbvio que a questão é mais ampla. Como o é dito nos versos da música do Chaves, a velhice nos pega quando a gente “deixa de aprender”. E aqui não acho que o Bolaños estivesse falando só de educação formal. Interpreto no sentido “etbilulesco” de adquirir conhecimento, independente de qual seja. Pode ser fazendo uma graduação ou um curso, aprendendo uma forma de artesanato, estudando alguma disciplina ou tópico por conta própria, treinando alguma arte marcial, aprendendo uma nova língua, conhecendo uma nova cultura, etc. E lógico que vale também descobrir uma nova série, um filme ou até todo um gênero da ficção que você passa a gostar muito. Quem sabe até um novo tipo de mídia!

Para mim, é emblemático essa letra vir numa série onde você tem adultos interpretando crianças. Hoje eu vejo que uma das coisas que o Bolaños falava indiretamente em Chaves é sobre a importância da gente manter um pouco desse espírito infantil, a tal “pureza” das crianças, mesmo depois de ficarmos mais velhos. Crianças são naturalmente curiosas, sempre fazendo perguntas sobre o mundo. Elas tem uma sede por conhecimento insaciável que é alimentada pela sua imaginação mais inocente. Portanto elas estão sempre pré-dispostas, em sua maioria, a aprender algo novo e seus gostos estão sempre mudando. É só quando a gente vira adulto que parecemos nos limitar, temendo sair da zona de conforto, e se apegando ao passado e coisas específicas com unhas e dentes.

E me assusta hoje reparar que todo apego não se manifesta somente nos velhos de oitenta e tanto anos, mas também nos jovens de apenas vinte e seis. O que eu já vi de uma galera bem mais nova que eu na internet com um comportamento idosamente rabugento e parece não conseguir lidar com coisas novas. É algo que julgo preocupante porque, se isso tende a piorar com a idade, imagina o que serão dessas pessoas nos seus 50? Ainda mais num mundo que muda com tanta velocidade como o nosso? Não falo apenas tecnologicamente, social e culturalmente as coisas tem evoluído muito rápido. O mundo que eu vivi na adolescência já era bem diferente do que vivi na infância. E agora na vida adulta essa diferença é ainda maior. Exponencialmente maior!

Daí que eu tiro um imenso valor dessa música do Chaves. Precisamos estar dispostos a continuar aprendendo para não cair nessa relação tóxica de supervalorizar o passado. Ele tem sua importância, mas não podemos ficar só apegados a eles. Temos que nos manter jovens em espírito e ter fome de experimentar coisas novas para manter nossa vida ativa. E entendam que essas coisas nem precisam ser necessariamente novas. Acho que “diferente” é um adjetivo melhor. Tem tanto livro, filme, série ou jogo antigo que eu conheci nos últimos anos que tem se tornado um dos meus favoritos. Tal como tem coisas de poucos meses atrás quem também dividem esse espaço. A época que elas foram produzidas não fazem diferença, mas sim que elas são novas para mim que as desconhecia antes.

Aprendam com esse bando de adultos fantasiados de crianças. É necessário estar aberto a essas experiências antes que você vire uma pessoa ranzinza que só sabe apreciar um tipo de música, um gênero de filme e estabelecer sua personalidade ao redor de uma única série ou jogo. Todo mundo sabe como é insuportável conviver com esse tipo de pessoa e, caso você não saiba, tenho uma péssima notícia para te dar…


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2 thoughts on “Minha mãe, Kamen Rider e uma música do Chaves”
  1. Gostei… Escreve muito bem este rspaz…. adorei tudo principalmente quando fui citada… Gosto muito de Super Heróis… Meus preferido é o Flash e o Pantera Negra.

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