O problema não é você, sou eu.
Sei que soa como um clichê, mas é a verdade. Já fazem o quê? Sete, oito meses, talvez até mais que estamos nesse vaivém interminável. É sempre a mesma coisa, a gente recomeça uma campanha, eu enjoo e me afasto. Às vezes por dia, às vezes por semanas. Eu não aguento mais manter essa farsa e sei que você também não. Precisamos admitir que não nascemos para ficar juntos, Divinity: Original Sin. Eu te chamaria de Divinity pelos bons e velhos tempos, mas sejamos francos, só tivemos velhos tempos…
Eu lembro da primeira vez que te vi. Foi há um pouco mais de um ano. Admito que eu senti uma curiosidade, de longe você me parecia tão interessante. Ainda que vocês fossem bem diferentes, me fez pensar em Drakensang: The River of Time. Então chegou meu aniversário e meu amigo nos apresentou. Queria que tivesse sido um bom relacionamento, mas desde o começo já não nos demos bem. Eu enrolei pelo resto daquele ano até tentar algo sério com você.
Acho que foi em janeiro desse ano que finalmente tomei coragem de instalar você e enfim nos dar alguma chance. E o que aconteceu? Um mês depois e eu não tinha ido além da luta com os orcs na praia que acontece na sua primeira meia hora de jogo. Por mais que tentasse, eu não conseguia passar mais do que alguns minutos com você. Foi aí que começou as várias tentativas de reiniciar e tentar jogar com uma nova combinação de classes, achando que o problema era isso.
Então vieram os outros jogos. Tantos outros jogos. The Grinch, Dodgeball Academia, Alien Infestation, corri atrás até mesmo de um antigo amor. O pior é que não posso nem dizer que me meti nessas aventuras pelo prazer, pois até Digital Devil Story: Megami Tensei eu acabei jogando mesmo detestando cada minuto. Era óbvio que eu só queria uma desculpa para não ter que passar tempo com você.
Até hoje eu fico tentando entender os motivos de eu simplesmente não conseguir gostar de você. Eu já alguns RPGs ocidentais na minha vida. The Witcher, Titan Quest, Risen, Grim Dawn, Fable, alguns desses que eu nutro carinho até hoje. Mas com você, Divinity: Original Sin… eu mal consegui olhar para para sua tela inicial!
Não posso dizer que foi tudo horrível, tivemos vários momentos. Lembro daquela vez em que ao tentar abrir um baú apareceu um inimigo carregando uma bomba. Então eu atraí ele para longe, onde estava chovendo e a água apagou o pavio e assim ele não conseguiu se explodir. Eu achei que ali as coisas iam engrenar. Você sabe como eu gosto de combate por turno então pensei que o sistema de batalha fosse pouco a pouco nos unir mais. Montar estratégias diferentes ou usar trapaças para conseguir vantagens contra determinados inimigos, aquilo me divertia tanto. Sempre penso naquela vez contra o Braccus Rex em que tive que prender os capangas dele atrás de vasos para não interferirem na luta. Parecia que ia dar certo.
Parecia!
Uns dias depois eu voltei a me distanciar. De novo te abandonei e me envolvi com mais jogos. Batman: Arkham Asylum, Assassin’s Creed, Stardew Valley e outros tantos. Eu terminava um, iniciava outro, enquanto você seguia parado no meio da minha área de trabalho. Algumas vezes eu até tentei te iniciar, apenas para apertar Alt +F4 no minuto seguinte.
Mas eu reforço que o problema não é você, Divinity: Original Sin. Eu reconheço que você tem tantas qualidades.
O seu combate é divertido, tem muita variedade de classes e habilidades, a dinâmica que dá para construir entre os dois protagonistas aumenta o aspecto de role-play. Só que tudo isso, infelizmente, não funcionou para mim.
Pensando em retrospecto, acho que o problema é que você tentou me impressionar demais logo de cara. Em vez de me atrair, isso só me motivou a me afastar. Mal te conhecia e você já queria mostrar as dezenas de mecânicas que você tinha. Criar equipamentos, poções, granadas, pratos, etc; abrir fechaduras, roubar itens, furtividade, três categorias de atributos diferentes para se evoluir, traços de personalidade, pegar e lançar objetos, opções diferentes de diálogo, argumentos entre os protagonistas. Muitas desses coisas que eu nem seria capaz de utilizar com eficiência naquele momento. Eu queria levar as coisas mais devagar.
A mesma coisa aconteceu na história. Antes mesmo trama principal engrenar, você já tinha me entregado tantas linhas narrativas diferentes que eu nem tive tempo de me importar com o que acontecia naquele universo. Por vezes parecia que você estava mais preocupada em mostrar a quantidade de lore que você tem do que me fazer me interessar de fato por ele. Metade das coisas que você me contava eu já esquecia nos próximos minutos porque logo você estaria contanto mais coisas e eu precisaria demais espaço na minha cabeça. Então eu só parei de me importar, se é que em algum momento eu me importei.
Tentamos recomeçar várias vezes, escolher novas classes, testar novas builds, selecionar opções diferentes de diálogos. Mas nada adiantava. Cada nova tentativa só me fazia ter mais certezas que a gente nunca daria certo.
Por isso hoje eu estou pondo um fim nisso. Eu já te desinstalei do meu computador. Isso não precisa ser um adeus, quem sabe um dia no futuro eu consiga dar mais valor a essas qualidades e te entender melhor. Mas é só um talvez. Porque, e acho que a essa ponto você já sabe, meu coração sempre pertenceu aos JRPGs.
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