Starfield, One Piece e a busca incessante por validação externa

Starfield com o score do Metacritc ao lado
Não dá para ter um lançamento tranquilo nessa droga de comunidade!

Nessa última houve dois lançamentos muito aguardados: Starfield, o mais novo grande título da Bethesda, e a série live action de One Piece. O que eu espero da série vocês já estão cientes, contudo não cheguei a me manifestar, pelo menos eu acho que não, sobre Starfield. Vou corrigir isso resumindo todas as minhas expectativas num único emoji:

¯\_(ツ)_/¯

Starfield nunca chegou a estar nem na iminência de entrar no meu radar de coisas que me interessam. Não estou tentando ser cínico, não dessa vez. Acontece que o gênero de ficção científica não é minha praia. Meu lance é fantasia, sobretudo a medieval. Também nunca fui particularmente interessado nos jogos da Bethesda. Tentei jogar algum Fallout uma vez porque eu acho a estética retrofuturista legal, porém não avancei muito e abandonei depois de algumas horas. Skyrim, que está mais alinhado a minha zona de interesse, foi outro que tentei jogar, mas não capturou minha atenção e larguei também. Por isso eu não poderia ligar menos para a existência de Starfield.

Deixa eu esclarecer algo porque sei como a mente do fã terminalmente online funciona e eu tenho a mania de usar palavras duras. Não estou inferindo nada sobre a qualidade dessas obras, simplesmente não tenho interesse nelas. De qualquer forma, como todo criminoso usuário de Twitter, eu acompanhei o lançamento de Starfield nas redes sociais. Não pelo jogo e sim porque existe um fenômeno entre agregadores de reviews e a audiência que eu gosto de observar. Quem lê as coisas que eu escrevo já deve imaginar onde eu vou chegar.

Começaremos com One Piece. No dia 31, no exato instante que as primeiras resenhas saíram, eu vi no Twitter centenas de perfis, desde indivíduos e páginas de fãs até aqueles veículos que fazem uma cobertura genérica sobre cultura pop, replicando a mesma mensagem. “One Piece estreia com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes”, gritavam todos eles. Analogamente, os perfis equivalentes da comunidade gamer fizeram o mesmo sobre a “nota” com qual Starfield estreou no Metacritic. E, bom, eu acho tudo isso muito ridículo! E um pouco desanimador também.

Um amigo meu lá do Twitter comentou recentemente que ele tem se afastado de discussões sobre a cultura pop pelo vício das pessoas no uso de hipérboles. São palavras exageradas que pouco significado carregam sobre a obra. Isso serve para os dois lados, dos que amam indiscriminadamente algo e daqueles que tem nele um ódio quase que passional. Eu também me sinto como meu amigo. Porém o que me desanima é essa obsessão por métricas/indicadores no discurso online sobre qualquer coisa.

Tudo bem se isso fosse apenas fruto de uma curiosidade inocente, sabe? Ver quanto um filme arrecadou de bilheteria ou ver se as críticas estão majoritariamente positivas ou negativas para um jogo. Essa tipo de informação pode ser útil para começar um diálogo. Só que não é isso que acontece, diria até que é o oposto. As pessoas utilizam esses indicadores para evitar ou negar o diálogo. As “notas” do Rotten Tomatoes e do Metacritic viram atestados da qualidade ou então a falta dela.

Qualquer veículo de comunicação já percebeu como esses sites vem sendo utilizados pelo público. Não é a toa que existem essas postagens sobre como um filme, série ou jogo estreou em algum desses agregadores de reviews. Geralmente é nesse curto espaço de tempo que as “notas” esse artigo meu explica porque eu estou usando tantas aspas para falar de nota – terão os valores históricos mais altos ou mais baixos. Eles são os mais interessantes para aproveitar o hype do lançamento e gerar engajamento instantâneo.

Vejamos o caso de One Piece novamente. No instante que liberaram as reviews realmente todas eram positivas, criando então a ilusão que havia um consenso que a série foi universalmente aclamada. Porém, passada algumas horas, a porcentagem foi caindo e hoje configura com 17 pontos percentuais a menos da sua estreia. Claro que ainda é uma porcentagem bem alta, mas concordam que é menos atrativa do que dizer que “One Piece tem 100% de aprovação”?

Aqui a gente entra em algo que abordei falando sobre o filme do Mario: a insegurança da audiência hipócrita. Porque não existe um discurso mais falso repetido por usuários em redes sociais do que o de quanto as “notas” do Rotten Tomatoes e do Metacritic não importam. Pois é só elas refletirem a opinião – opinião esta formada antes do lançamento – que magicamente esses sites se tornam um argumento válido. No final é tudo sobre isso: validação!

Super Mario Bros. O Filme tem uma recepção divisa da crítica
Vocês lembram desse choro, não lembram?

Quem estava olhando para o Rotten Tomatoes e o Metacritic no instante em que as primeiras reviews foram ao ar não se importava de fato em saber o que os críticos acharam. O importante era a “nota”. Só queriam o número para poder replicar nas suas redes sociais e mostrar ao mundo como o seu objeto de hype “é bom mesmo”. E ai de você de discordar deles, pois as notas PROVAM que você está errado!

Também funciona no sentido oposto sendo mais comum dentro da bolha gamer. Porque o público de, sei lá, Dragon Ball não vai torcer contra o live action de One Piece. Com Starfield é diferente porque gamers são um grupo mais tosquinho. Já tem gente que odeia o jogo pelo único motivo de ser um exclusivo de um console que não pertence a empresa para qual aquele indivíduo vendeu sua alma. Por isso muitos aguardavam sair essa “nota” só para poder comparar com o exclusivo de outra empresa. Na cabeça dessa gente notas viram combustível para conspiração sobre a mídia ou então indicativo de quem é mais merecedor do GOTY.

É de uma mesquinharia dolorosa o que virou o discurso online sobre qualquer lançamento. Uma briguinha de egos boba de gente insegura que fez dessas obras uma parte fundamental da sua personalidade. Sendo assim, as pessoas buscam qualquer coisa que possa ser usada como prova que a opinião delas é a correta.

Podem ter certeza que se One Piece estivesse com uns 50% ou menos de resenhas positivas no Rotten Tomatoes essas mesmas pessoas que estão agora em polvorosa com a “nota” diriam que não se deve “confiar nos críticos de Rotten Tomatoes”. Da mesma forma que caixistas teriam dito que a mídia sonysta comprou os críticos para darem notas baixas para Starfield se o quadradinho ali do Metacritic estivesse amarelo e não verde. E para piorar, no futuro quando jogo X ganhar o “prêmio games” da vez, algumas dessas pessoas vão dizer que Y merecia mais porque, olha só, eles tem mais pontinhos no site do que esse outro jogo FLOPADO!!!

Discutir coisas na internet é horrível porque ninguém quer de fato discutir. Todas as opiniões já estavam formadas antes das “notas” saírem. Mas elas ainda são necessárias para a validação constante que o fã busca. Eles irão se ater a qualquer métrica ridícula para ter paz de consciência. Mas essa paz nunca chega de verdade!


Backlogger precisa do seu apoio para crescer. Então, por favor, compartilhe ou deixe um comentário no texto que isso ajuda imensamente o blog. Você também pode me seguir em outras redes como Twitter, Bluesky e Tumblr.

2 comentários em “Starfield, One Piece e a busca incessante por validação externa”

    1. Pelo contrário, quem discute notas tem sua opinião própria formada já. Problema é que essas pessoas querem que o mundo valide essa opinião e assim as notas precisam refletir aquilo que elas consideram como certo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima