Mês passado eu comentei sobre a minha incapacidade de fazer um Top 5 de RPGs. Ali eu cito aquelas correntes que vão e voltam todo mês nas redes sociais em que o pessoal cita seus jogos favoritos. Pode ser de todos os tempos ou de um gênero específico, não importa, de qualquer forma não consigo me decidir. Só tem um único caso que falo naquele texto em que sou capaz de dar uma resposta que é o gênero de survival horror.
Se você me perguntar qual é meu metroidvania, ou então aventura point-and-click ou, sei lá, FPS favorito eu só tenho um dar de ombros a oferecer. Mas quando o assunto é survival horror eu nem preciso pensar muito. O nome vem quase de imediato na minha cabeça: Fatal Frame II – Crimson Butterfly.
A franquia existe desde os anos 2000, iniciando no PlayStation 2, e teve seu último jogo lançado em 2014 para o Nintendo Wii U. Contudo foi só de uns 4 ou 5 anos para cá que eu fui para conhecer Fatal Frame para além do nome. Com isso ela se tornou a minha série de jogos de survival horror favorita, destronando Silent Hill que até então ocupava o cargo com tranquilidade. Ainda falta eu jogar ainda o Maiden of the Dark Water, o último que recebeu recentemente uma port para PC. Dos quatro que eu joguei o segundo é de longe o que eu mais gosto.
Existem vários motivos para Fatal Frame ser a minha franquia #1 de terror, mas dentre eles um bem específico pesou muito a seu favor foi eu ter conhecido os jogos ao mesmo tempo que o terror folclórico se tornou meu subgênero favorito.
Usando esse gancho, hoje decidi vir aqui apresentar a vocês o que é o terror folclórico e porque eu me interessei tanto pelo gênero. Para tal, recentemente vi uma trilogia informal de filmes da década de 70 que é consagrada como a precursora do terror folclórico no cinema. Mas esses ficam pra depois. Primeiro quero falar brevemente sobre a minha história com o gênero.
O TERROR FOLCLÓRICO E EU
É bem possível que esse termo não soe tão estranho assim para quem não é desse “ramo” dos filmes de terror. Isso porque o terror folclórico teve um revival graças a dois filmes da última década que ficaram bem conhecidos. São eles: A Bruxa (The Witch), filme de 2016 de Robert Eggers, e Midsommar, filme de 2019 de Ari Aster. Inclusive, o estúdio independente A24 tem sido fundamental para dar mais destaque ao gênero. Além desses dois, mais recentemente tivemos filmes como Men, de Alex Garland, e Lamb, de Valdimar Jóhannsson que também trouxeram elementos de terror folclórico para o cinema contemporâneo. Porém não foi nem com A Bruxa e nem com Midsommar que eu comecei minha jornada por esse gênero.
Como muitas das coisas que eu gosto hoje, meu primeiro contato veio muitos anos atrás antes de eu conhecer o termo. Se minha memória não me falha, foi entre 2011 e 2012, numa época em que as pessoas estavam super hypadas com Game of Thrones. Naquele tempo eu tinha hábito de entrar nesses sites de torrents de filmes para ver se algo me interessava. Um belo dia eu bati o olho num filme irlandês chamado Despertar dos Mortos (Wake Wood), de David Keating. No elenco estava o Aidan Gillen, o Mindinho de Game of Thrones, e por gostar do ator* eu resolvi dar uma chance ao filme
*E também porque pelo nome eu achei que era um filme de zumbis!
Apesar do ledo engano, eu gostei bastante de Despertar dos Mortos. Na história, o casal Patrick e Louise muda-se para a cidadezinha de Wake Wood após a morte súbita da sua única filha, Alice. Por acidente, o casal descobre um estranho ritual pagão sendo conduzido por um dos moradores, Arthur. Eventualmente ele revela ao casal que é capaz de trazer uma pessoa morta de volta a vida por três dias. Para convencer Patrick e Louise a ficar na cidade e não revelar o segredo, Arthur promete realizar o ritual para que eles consigam passar um último momento com Alice. E como isso é uma história de terror, obviamente algo dá errado.
Esse é um bom drama familiar. Sombrio, porém bom. Recomendo para quem gosta de filmes lentos que focam mais nos conflitos internos dos personagens do que necessariamente nos elementos mais espetaculares de horror. Devo voltar ao filme em algum momento no texto, então gravem a sinopse.
Daquele tempo para cá eu tive mais contatos com obras relacionadas ao terror folclórico, tanto no cinema quanto nos jogos. Confesso que não foram tantas assim, contudo do pouco que eu vi eu gostei bastante. A cada “novo” filme meu fascínio pelo gênero cresce. Por isso que recentemente eu me dispus a assistir três filmes britânicos produzidos no final dos anos 60 e início dos 70 que são essenciais para entender o terror folclórico. Da esquerda pra direita:
Esses três filmes compõe o que hoje é conhecido como a “Unholy Trinity” – que acredito que a melhor tradução seria “Trindade Profana” – sendo, como o autor Adam Scovell descreveu, “um caminho para iniciantes pelas paisagens assombradas do ‘terror folclórico'”. Dessa lista, O Homem de Palha é provavelmente o mais conhecido. Até porque ele foi o único dos três a receber um remake *sigh* americano em 2003, O Sacrifício, que não falaremos aqui por motivos óbvios.
Comecei minha jornada com O Homem de Palha original e depois assisti os outros dois filmes retroativamente. Tal como a decisão de assistir Despertar dos Mortos anos atrás, essa foi uma ótima escolha. Se você quer entender a gênese do terror folclórico não existe um ponto de partida melhor que esses filmes pois cada um adiciona ou fortalece as convenções do gênero.
Num desvio rápido, gostaria de comentar também que ultimamente eu tenho tentado conhecer um pouco mais do cinema asiático. Isso porque tem todo um histórico próprio com o terror folclórico, sobretudo no sudeste com países como Malásia, Tailândia e Indonésia. Há algumas semanas eu assisti A Médium (Rang Song / The Medium), de Banjong Pisanthanakun. Provavelmente ninguém vai lembrar o nome desse diretor, mas com certeza muitos conhecem um filme dele que teve uma certa popularidade aqui no Brasil: Espíritos – A Morte Está Ao Seu Lado (Shutter). Outros títulos de terror folclórico asiático que eu eu já assisti e recomendo para quem tiver interesse são Noroi, de Kōji Shiraishi, e o sul-coreano O Lamento (Gokseong / The Wailing), de Na Hong-jin.
Pois bem, depois de falar da minha experiência e repetir tantas vezes os termos, acredito que alguns de vocês estejam se perguntando:
AFINAL O QUE É TERROR FOLCLÓRICO?
Quando eu tive o contato com o termo foi em inglês, “folk horror”. Buscando uma tradução, eu vi que muitas vez ele é chamado em português de “terror rural”. Já usei essa tradução algumas vezes, porém eu passei a não gostar muito dela por achar que não transmite a real essência do gênero. Com isso eu adotei essa outra nomenclatura de “terror folclórico” que está até mais alinhada com o termo original. Como o nome indica, folk deriva de folklore, termo que data do século XVIII com a junção das palavras folk -> povo e lore -> conhecimento ou saber. Sendo assim, podemos definir o folclore em algo como “o conhecimento/saber tradicional de um povo”.
A gente costuma associar, pelo menos aqui no Brasil, o folclore a lendas como as do Saci Pererê, Curupira, Cuca, Boitatá, Mula Sem Cabeça, Mapinguari, entre outros. E há filmes que retratam exatamente isso. A Maldição da Floresta (The Hallow) de Corin Hardy, por exemplo, baseia sua história em criaturas do folclore irlandês. Mas é importante destacar que folclore não se limita apenas a essas lendas. Ele é todo o conjunto de tradições e da cultura popular de uma determinada região que se manifesta através de costumes, festas, danças, culinária, contos, rituais, etc, formando uma identidade singular para essas comunidades.
Por consequência, o terror folclórico também não é apenas sobre criaturas fantásticas. Ele também se centra nessas tradições e costumes de comunidades isoladas que possuem uma cultura muito diferente dos centros urbanos. E por isso que nessas histórias, como veremos nos próximos tópicos, a figura do forasteiro. Esse personagem tipicamente vem de uma cidade grande e é muito utilizado como o veículo para o horror que decorrerá na história
Mas engana-se quem acha que o terror folclórico é uma espécie de vilanização do oculto. Claro que é uma visão sombria, mas isso porque o gênero explora os medos originários do contato com essas culturas através de temas como religiões populares & paganismo, superstição, culto a natureza, entre outros. Não é uma tentativa de gerar pânico por essa forma de ocultismo e sim outro aspecto sombrio da experiência humana.
Cada história é uma história, portanto nem sempre o mal se encontra exatamente nessas comunidades. Às vezes ele é trazido pelos próprios personagens que então acabam sendo vítimas deles. Em o Caçador de Bruxas, por exemplo, o horror nasce das superstições que nascerem nos povoados por conta da influência da religião católica e não fruto de alguma força ancestral que habita aquela região. Mas estou me adiantando! Isso a gente vai discutir nos próximos tópicos.
Sabendo que esse seria um texto extenso, tal como quando falei de Final Fantasy VII por aqui, eu vou me limitar um pouco no que gostaria de apresentar para vocês. Vou focar em três pontos que considero mais importantes para se compreender como o terror folclórico se manifesta quanto gênero de ficção. E para despontar a discussão, começaremos pela ambientação.
ATENÇÃO
Daqui para baixo haverá spoilers de O Caçador de Bruxas, O Estigma de Satanás, O Homem de Palha, Despertar dos Mortos e, bem levemente, A Médium
O LADO MACABRO DO CAMPO
Nos primeiros quadros de O Caçador de Bruxas vemos as paisagens de um pacato vilarejo inglês do século XVII. As imagens tranquilas logo são contrastadas com os gritos desesperados de uma mulher sendo arrastada por uma multidão em direção a forca. Toda a ilusão de um lugar pacífico e acolhedor é destruída em poucos segundos quando vemos aquela mulher ser morta sem a menor compaixão de ninguém daquele povoado.
Que jeito adorável de começar um tópico, né?
Poucos parágrafos atrás eu falei que o folk horror também é traduzido como terror rural, lembram? Isso se dá porque muita das ambientações dessas histórias ocorrem em lugares como vilarejos, cidades do interior, zonas rurais, comunidades isoladas e por aí vai. Ou seja, tudo aquilo que a gente convenciona a chamar de “o campo”. Os três filmes já citados seguem essa marca. O Caçador de Bruxas se passa em vilarejos de Suffolk, condado do leste da Inglaterra, durante a guerra civil. Já O Estigma de Satanás pula um século a frente, com sua história indo parar em alguma cidade fictícia de uma zona rural inglês. Por fim, a trama de O Homem de Palha se desenrola numa ilha fictícia das Hébridas, um largo arquipélago da costa oeste escocesa, sendo o único dos três que se passa no período contemporâneo à produção do filme.
Só que eu não acho muito bom focar na palavra rural, porque apenas ter como ambientação algum lugar isolado no campo não significa que teremos uma história de terror folclórico. O excelente Pearl, de Ti West, lançado ano passado se passa numa fazenda do interior de Texas, tal como o seu antecessor X. Porém ambos não deixam de ser slashers. Por outro lado, o clássico O Massacre da Serra Eletérica, de Tobe Hooper que foi tão influente na origem do gênero slasher, e também se passa no interior do Texas, por vezes é associado ao terror folclórico. Então o que faz a diferença nesse caso?
O importante para o terror folclórico não é somente o uso de uma ambientação rural. Não é igual um filme de assombração que você pode intercalar com uma casa, um hospital, um prédio abandonado, etc. No terror folclórico, a narrativa usa o campo como um elemento fundamental para definir sua atmosfera e tom. O gênero explora essa dualidade interessante que temos com as cidades do interior. Ao mesmo tempo que tomamos a região como sinônimo de uma vida mais simples e pacata, também existe uma qualidade enigmática e mística no campo para aqueles que vem dos centros urbanos.
Portanto, muito do horror que inunda a atmosfera dessas histórias de terror folclórico tem como fonte os próprios temores que as pessoas carregam desses lugares, bem como os medos que os habitantes desses locais tem com o que vem de fora. E às vezes até mesmo com aquilo que está próximo deles.
O Estigma de Satanás começa com um personagem encontrando um crânio numa plantação de uma criatura que ele nunca viu antes. O medo vem de fora e faz aflorar as inseguranças que aquele povoado tinha de forças ocultas. Já em O Caçador de Bruxas, o filme lida com as superstições locais de pessoas que temiam a existência de bruxas vivendo entre elas. São medos que nascem do campo por aquilo que vem de fora, da mesma forma que aqueles que vem trazendo seus próprios temores.
Está faltando um filme, não é? Em O Homem de Palha também temos essa noção do campo, no caso aqui uma ilha, com um lugar estranho, enigmático e assustador. Tudo isso está ligado fortemente ao protagonista da história e por isso acho que esse é um exemplo que funciona melhor para o nosso próximo tópico.
FORASTEIRO = PROBLEMA (QUASE SEMPRE)
Quando O Homem de Palha começa, vemos um homem que ainda não sabemos quem é lendo uma passagem bíblica numa igreja católica. Mais a frente descobrimos que ele é o nosso protagonista, um oficial de polícia de nome Neil Howie, que é enviado até a ilha de Summerisle para investigar o desaparecimento de uma garotinha. Chegando no local, o policial é recepcionado com uma certa hostilidade da população local que não se mostra muito colaborativa com a investigação. Conforme Neil descobre mais sobre o lugar, desde o dono da ilha, o Lorde Summerisle, e os costumes incomuns dos habitantes que decidiram abandonar o cristianismo e seguir uma antiga religião celta, maior fica seu desconforto e desconfiança com a ilha.
Desconforto e desconfiança são as palavras-chave aqui.
Desde os primeiros minutos na ilha, nós, a audiência, sentimos uma imensa ansiedade de estar naquele local. Isso porque nossa perspectiva é a do protagonista e portanto existe sempre uma sensação de estar sendo observado e, acima de tudo, de não ser bem-vindo naquele local. Isso vai na mão-dupla. Ao mesmo tempo que os habitantes da ilha de Summerisle não parecem estar muito felizes com a chegada de Neil, o próprio policial não se mostra muito complacente com o povoado. A todo momento Neil não apenas mostra um desgosto costumes da ilha e da sua religião, principalmente o quão abertos são com a sexualidade, como também ele os critica e condena suas crenças abertamente.
Tudo isso tem uma motivação bem intrínseca ao gênero de terror folclórico pois muitas das narrativas exploram esse choque entre culturas diferentes. Grande parte dos conflitos ocorrem porque os protagonistas são forasteiros que não apenas não compreendem ou não respeitam os costumes locais.
Vamos voltar ao Despertar dos Mortos. A relação entre Patrick e Louise com o povo do vilarejo a princípio não levanta qualquer hostilidade. O problema nasce a partir do momento que o casal resolve explorar a cultura local, que no caso é o ritual para reviver um ente falecido temporariamente. Isso porque Arthur explica para eles que existem algumas regras. São três: a pessoa só pode ser revivida por três dias, ela não pode sair do vilarejo e, o mais importante, ela não pode ter morrido a mais de um ano. Todos os habitantes sabem disso e ninguém tenta quebrar as regras. Porém Patrick e Louise o fazem quando resolvem não contar que a sua filha já tinha morrido, se não me falha a memória, há um ano e três meses.
O Caçador de Bruxa é o outro filme que ilustra muito bem a ameaça que os forasteiros são para os habitantes locais. Na história quem representa isso é o o antagonista, Matthew Hopkins. Esse homem existiu de verdade durante o séc. XVII e o filme reconta de maneira fictícia a sua atuação no período da caça às bruxas. Junto com seu assistente, John Stearne, eles exploravam as superstições locais sobre bruxas para obter favores sexuais e monetários do povo. Sem contar que o filme ressalta o sadismo desses personagens, pouco se importando com as vidas dos camponeses que eles destroem inconsideradamente em seu caminho.
Nos três exemplos citados, vemos que o choque desses dois mundos, o campo e aqueles que vem de fora, é a força motriz das narrativas. Mas essa relação nem sempre precisa levantar um conflito. Em A Médium, para citar mais um exemplo, os forasteiros são a equipe do documentário que está mostrando a vida da shamã Nim. O conflito do filme, que é quando a sua sobrinha se torna vítima de uma possessão por espíritos malignos, não é causada por eles. Isso parte das próprias crenças do local, a equipe só serve como testemunhas de tais eventos.
Os forasteiros nem sempre representarão um problema. Eles podem ser agentes neutros na narrativa, os vilões, as vítimas, etc. Mas a presença deles no geral é muito importante para fazer a atmosfera do filme funcionar.
O PODER SOMBRIO DA CRENÇA
Em O Estigma de Satanás, tão logo quando o misterioso crânio é descoberto nós já vemos os efeitos que ele produz na população. Pessoas são levadas a loucura e eventos sobrenaturais passam a ocorrer com frequência. Contudo o mais importante é ascensão de uma jovem Angel como líder de um credo que está sob a influência da criatura. O grupo passa então amedrontar o vilarejo, sequestrando e sacrificando outros jovens em nome do seu novo mestre enquanto o grupo cresce cada vez mais.
O que vale notar entre esse filme e os outros dois da Trilogia Profana é que O Estigma de Satanás é o único que inclui elementos sobrenaturais na sua história. Porém os três filmes tem um elemento comum entre si pois todos abordam crenças e como elas afetam as ações dos personagens. Em especial, como a crença é utilizada para justificar muito dos atos mais atrozes imaginados.
Em O Homem de Palha os habitantes da ilha de Summerisle a princípio se mostram como um povoado bem tranquilo. Podemos até questionar algumas das suas crendices, como a de por sapos na boca para cuidar de dores na garganta, mas não parece ter algo muito prejudicial nos seus costumes. É somente no final quando vemos que tanto eles quanto o Lorde Summerisle estão dispostos a sacrificar uma pessoa inocente acreditando que isso vai garantir que eles tenham uma boa colheita que percebemos o lado mais sombrio da crença.
E isso não se resume apenas as religiões populares, pagãs ou ao ocultismo. O terror folclórico nos mostra esse aspecto perigoso até mesmo naquelas religiões contemporâneas que se dizem pacíficas. Como eu já citei anteriormente, em O Caçador de Bruxas vemos isso acontecer com as comunidades católicas. Apesar de todo esse discurso sobre amar ao próximo do cristianismo, nós vemos uma população que não tem qualquer remorso em assassinar seus amigos e vizinhos pelo medo de serem bruxas.
Eu não vou lembrar agora onde eu li, então vou torcer pra que isso esteja num dos artigos que eu linkei, mas por vezes o foco do terror folclórico vem das crenças das pessoas e as terríveis ações que elas tomam por conta do que acreditam. O mais assustador é saber o quanto isso não é apenas fruto da ficção e não está tão afastado assim da nossa realidade. Não tem nem dez anos que, aqui no Brasil, Fabiane Maria de Jesus foi morta por uma multidão após circular um boato na internet que ela sequestrava crianças para praticar magia negra.
Até mesmo em O Estigma de Satanás, onde os fenômenos sobrenaturais de fato estão ocorrendo, você nota a influência das crenças daquele povoado na intensificação do terror. Conforme os eventos vão dando mais força aos medos mais antigos, a comunidade vai se tornando cada vez mais paranoica e agressiva. Tem até mesmo uma referência ao Caçador de Bruxas quando um grupo de aldeões joga uma menina no rio para provar que ela era uma bruxa caso não se afogasse.
O que tem mais sombrio no terror folclórico não é que essas forças malignas possam existir. O que assusta é que o mero fato de haver a crença na sua existência já deixa as pessoas dispostas a cometer qualquer atrocidade em nome do que acreditam e temem.
PARA CONCLUIR: NÃO LEVEM ESSE TEXTO COMO REGRA
Algo que eu talvez devesse ter deixado claro lá na introdução em vez das considerações finais é que esse texto de forma alguma é definitivo. Eu sou arrogante, mas não a ponto de achar que detenho a palavra sobre o que é e o que não é terror folclórico. Até mesmo porque eu passei a conhecer o gênero conscientemente não tem mais do que alguns anos. Por isso, não levem as coisa que eu escrevi como regra.
Todos os tópicos são reflexões minhas que eu tirei depois de assistir e ler algumas coisas sobre terror folclórico. Minha leitura pode ser falha em vários pontos e por isso é importante que vocês não parem por aqui desbravem o gênero por si mesmos. Só quis aqui dar um pontapé inicial de onde vocês podem partir.
Por mais que existam exemplos desse gênero datando de meio século atrás, ainda é um gênero pouco conhecido fora da sua bolha e espero que isso um dia mude. Não necessariamente para ele se tornar a nova cara do terror, mas o bastante para garantir que novas obras continuem sendo produzidas. No mais, espero que tenha conseguido transmitir com clareza o que acho de tão fascinante no terror folclórico e motivado alguns de vocês a conhecerem esses filmes.
E agradeço a paciência caso você tenha lido até aqui!
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