Em “defesa” do Omelete

Estava eu ontem num rodízio de pizza comemorando a formatura do meu amigo. Enquanto aguardávamos, eu decidi dar uma olhada no meu Twitter e me deparei com a curiosa aparição do site do Omelete nos Assuntos do Momento.

“Ah, isso não pode ser boa coisa!”, eu pensei. E eu estava certo, não foi boa coisa.

O site estava relativamente em alta por conta de um vídeo recente ganhando tração. Nele o Marcelo Forlan, sócio fundador do Omelete, fazia um rápido pronunciamento a cerca de uns eventos envolvendo o site. O Marcelo comenta que, nos últimos dias, os jornalistas e críticos do Omelete vinham sendo alvos de ataques de ódio nas suas redes sociais. Há também um pronunciamento escrito no site para quem quiser conferir.

A princípio não me pegou de surpresa porque eu já estava familiarizado com, digamos, comentários mais fervorosos em relação ao Omelete. Algumas críticas válidas, outras que passam do ponto, mas todos sabem que o site não é tão bem quisto assim nas redes sociais. Ou ao menos tem uma parcela considerável de detratores. Eu mesmo já tive meus episódios de, hmmm, “desgostar” de algumas críticas do site. A última foi com a do filme do Pinóquio, mas se limita apenas a essa discordância saudável de opiniões. Se a crítica foi ruim, eu digo que foi e deixo o crítico em paz. Não vou lá infernizar a vida do cara porque eu não sou doente.

De qualquer forma, para o sócio fundador vir fazer um vídeo é porque algo tinha passado MUITO do ponto. E ao que eu pude averiguar, o catalisador de tanto ódio dessa vez foi um texto da editora adjunta Julia Sabbaga. Ela cometeu o “pecado capital” de dizer que não está gostando de The Last of Us, a série.

Olha, eu acho que cabe uma pequena crítica aqui ao título da matéria. Quando você abre o texto com “O desabafo de uma pessoa sã em um mundo de fãs de The Last of Us”, você não está convidando o público a ter muita boa vontade com o que você vai escrever. De qualquer forma, apesar de um título ruim, nada – e repito – NADA justifica ataques pessoais. Independente se você não concorda com os argumentos da Julia e acha que ela vez uma análise muito ruim da série. Não se bate em pessoas, se “bate” em argumentos e com a devida retidão para não transformar a discussão numa troca gratuita de farpas. Mas estamos nas redes sociais, lugares que não foram feitos para argumentações e debates e sim para capitalizar em cima do ódio.

Eu já comentei o ocorrido numa pequena thread mais cedo no meu perfil pessoal. Porém eu acho válido estender a discussão em um texto mais elaborado em que eu consigo me expressar melhor.

"Protejam o ovo"
Quem entendeu a referência, entendeu

Pois bem, essa não será uma defesa per se do Omelete que, como já disse, tenho minhas discordâncias. Isso é mais uma crítica a um dos seres mais dignos de desprezo que eu já encontrei na face da terra: o fã!

PS: daqui pra baixo eu vou ficar progressivamente mais irritado com essa história.

Existem dois problemas principais nessa última polêmica do Omelete. O primeiro vem mais aqui do Brasil e confesso que é mais um achismo meu do que um fato consolidado. Sempre tive essa impressão que o Brasil não tem a mesma “cultura” da crítica de mídia que se vê em outros países da Europa ou o Estados Unidos.

Claro que a rivalidade entre a crítica e a audiência sempre vai existir. Mas aqui no Brasil eu sinto que ela é muito mais inflamada do que deveria ser. Não é a toa que volta e meia eu me deparo com pessoas não entendendo como diabos o Rotten Tomatoes funciona, o que me motivou a escrever um texto sobre. Só que não se limita ao Rotten Tomatoes, eu vejo que no geral as pessoas ainda não entendem qual é o real papel do crítico, seja de cinema, de séries, de livros, etc. E também fiz outro texto sobre isso!

Criticismo de mídia é uma área muito ampla e reconheço que não tenho muita competência para falar disso. Contudo o blog é meu e eu palpito sobre o que me der na telha! Como eu já falei diversas vezes seja, em textos ou tweets, a crítica não tem como objetivo ser um certificado de qualidade de determinada obra. Ouso dizer que a crítica nem é sobre a obra em si, mas a mentalidade de “review de geladeira” é mais forte no público. Uma crítica diz muito mais sobre o crítico do que seu objeto de análise, porque no fim das contas ela é uma expressão da percepção da pessoa sobre determinado tópico ou obra. Em termos mais simples, uma crítica, positiva ou negativa, nada mais é do que compartilhar sua visão sobre algo.

Claro que isso não isenta a própria crítica e o seu autor de serem criticados. A “crítica da crítica” é algo tão importante quanto a mesma. Só que pra isso você tem que levantar contra-argumentos e desconstruir uma linha de pensamento para apontar onde ela pode estar equivocada. Coisa que não acontece na internet. Sobretudo no Twitter! As redes sociais promovem o debate só na teoria, porque na prática o que elas fomentam são linchamentos.

E aí chegamos ao segundo problema que eu observo e esse eu vou dedicar mais a dita “cultura nerd/geek” que é o nicho no qual estou mais inserido. E talvez seja um problema universal pela nossa relação com alguns determinados tipos de mídia. Desde os tempos de Star Wars, lá no início dos anos 80, para os dias de hoje em que temos uma fanbase pipocando a cada nova obra que produzem. Seja um filme, uma série ou um jogo, às pessoas sempre tiveram uma relação muito forte com essa forma de entretenimento. E isso deu luz ao problema em que essas obras deixaram de ser apenas algo que essas pessoas consumiam, mas como também se tornou uma parte fundamental delas.

As pessoas não são apenas fãs dessas franquias. Elas se tornaram uma espécie de filosofia de vida que define a própria existência do fã. Sendo assim, eles não interpretam uma crítica a obra somente como uma análise da mídia. Ela é vista como uma afronta pessoal! Há um fervor religioso que eu considero um pouco assustador no entretenimento hoje. O jogo, a série, o filme, não é mais um jogo, uma série, um filme. Eles formam uma religião e nós sabemos bem o que acontece quando você questiona a fé de alguém.

E olha, eu entendo ficar agitado porque falaram mal de algo que você gosta. Não sou hipócrita a ponto de negar que quando alguém critica, mesmo que com razão, um filme de terror ou algum jogo que eu gosto muito eu não sinto uma pontadinha de raiva. E claro que às vezes nessa situação a gente acaba xingando. Só que não é apenas isso que a gente vê na internet.

Vamos um ódio desproporcional que culmina em ameaças, quando não agressões reais. Preciso lembrar aqui de todo o assédio que a jornalista Bruna Penilhas sofreu nas mãos de um dos grupos mais detestáveis que criados dentro da comunidade gamer – que eu nem preciso citar o nome para vocês saberem exatamente de quem eu tô falando – só por causa da sua review de Cuphead? Que ela deu 9 de 10, aliás! Ou então quando atacaram a Isadora Basile por meses ao quando ela assumiu como apresentadora do XBox Brasil? E só pra dizer mais um caso patético, toda a perseguição que a escritora Lindsay Ellis, que também era uma das youtubers mais renomadas fazendo vídeos-ensaio sobre cinema no seu canal, sofreu por conta de um mísero tweet falando de Raya e o Último Dragão?

Eu já passei tempo o suficiente no Twitter para ver a naturalidade com que pessoas desejam a morte de outras pelos motivos mais banais possíveis. Não são casos isolados, é recorrente! Cultura nerd, geek, pop, etc; o nome que você quiser dar a esse entretenimento virou desculpa para as pessoas atacarem as outras e despejar todo o ódio em cima delas.

É por isso eu eu digo que a figura do fã precisa não só ser criticada, mas como ridicularizada também. Fã é uma pessoa emocionalmente desequilibrada que supervaloriza demais a sua própria opinião nas coisas. Acham que toda essa dedicação serve como um certificado de que ele entende tudo da mídia e você não tem o direito de criticá-la já que você não a entende do jeito que ele entende. E quando chega ao extremo de rolarem ameaças, aí que o fã merece cada grama de escarnecimento que possamos oferecer.

Existem críticas muito válidas que podem ser feitas ao fato do Omelete ser por muitos anos permissivo com esse tipo de ataque. Inclusive esse questionamento já até foi posto na mesa ontem mesmo sobre o tempo que o site levou para se manifestar sendo que houve diversos casos de ataques a jornalistas da equipe no passado e não fizeram nenhum pronunciamento. Cabe também a crítica ao próprio texto da Julia que me pareceu ter sido escrito muito na má vontade para polemizar e não oferecer legitimamente um ponto de vista diferente sobre a série.

A única coisa que não se aplica aqui é esse papinho que eu cheguei a ver que eles fizeram por merecer por não darem o devido respeito a série. FODA-SE THE LAST OF US! E acima de tudo, FODAM-SE OS FÃS DE THE LAST OF US!!! Porra de série nenhuma merece qualquer respeito só por conta da sua qualidade. Independente de ser um consenso de crítica, as pessoas tem direito de não gostar da adaptação do seu joguinho querido. E o único direito que o fã tem é o de ficar calado e aprender que o mundo não gira em torno das merdas que ele gosta!

Por ficar calado eu não digo que você tem que acatar os argumentos de outra pessoa só porque “todo mundo tem direito a uma opinião”. Se você tem bons argumentos ao seu favor, use-os! Só que se tudo que você tem pra falar é uma ameaça de morte a alguém que não curte a série que você curte, aí você tem que fechar a boquinha mesmo, sair da internet e ir no mercado ver se estão vendendo personalidade porque claramente você está precisando de uma nova!


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