Rotten Tomatoes, um dos agregadores de reviews mais conhecidos da internet
Abriram as portas para os conspiracionistas

Se você é daqueles que odeia os agregadores de reviews, parabéns! Hoje é o seu dia. Saiu uma matéria na Vulture intitulada “The Decomposition of Rotten Tomatoes” que traz a tona uma série de problemas que a plataforma possui. Para quem está com preguiça de ler o artigo todo ou não fez o cursinho da Open English, vou tentar resumir em poucas linhas:

A matéria fala de uma empresa de relações públicas chamada Bunker 15 que atua com estúdios de cinema. Há alguns anos ela vinha manipulando o índice de alguns filmes no Rotten Tomatoes para que eles aparentassem ter uma recepção melhor da crítica. A Bunker 15 ofereceria dinheiro para profissionais menores e menos conhecidos, cujas reviews apareciam no site, para que eles ou fizessem críticas mais positivas ou então evitassem publicar as negativas. Com isso a empresa conseguia elevar a porcentagem do Tomatômetro – que muita gente chama erroneamente de “nota do Rotten Tomatoes” – alguns pontos e mudar um Rotten para Fresh.

Só que artigo vai mais fundo ainda do que apenas expor essa manipulação. O jornalista também explora as falhas no atual sistema do Rotten Tomatoes e como isso tem sido prejudicial para o cinema. Eu abordei um desses pontos no meu texto “Por um mundo em que as pessoas entendam o Rotten Tomatoes”, contudo evidentemente que a matéria da Vulture explica isso muito melhor.

Existem diferentes agregadores de reviews internet a fora, mas o problema particular do Rotten Tomatoes é que ele segue uma lógica binária. Ou o filme é “fresh” ou é “rotten” e assim toda crítica acaba tendo o mesmo peso do que as demais da sua categoria. Para deixar mais claro – já que a audiência é fixada por notas – o Tomatômetro não distingue um 6 de um 8 ou de um 10. Todas os três são “notas positivas”. Ainda pior que isso é que os argumentos que o crítico usa para defender ou atacar o filme não são levados em conta, removendo qualquer nuance que é tão integral para essas análises.

Nesse cenário, empresas como a Bunker 15 podem facilmente manipular o sistema e a percepção da audiência. Convencer críticos a subirem de um 5.5 para um 6, ou então colocar a crítica negativa numa plataforma que a curadoria do Rotten Tomatoes não visualiza, é tremendamente vantajoso para o filme. Como o texto da crítica não faz diferença, o índice vai subir e assim a audiência vai achar que a recepção é muito mais positiva do que de fato ela é.

Contudo eu não acho que essa história vai afetar apenas a opinião pública sobre o Rotten Tomatoes. Isso respingará em outros agregadores de reviews, pois sempre existiu essas tensões entre a audiência e a crítica. Isso vai além do cinema. Mais cedo estava olhando uns tweets sobre o caso e esbarrei num rapaz dizendo “se isso acontece para filmes, imagina para jogos”. Nesse momento eu percebi que esse caso da Bunker 15 vai servir como combustível para mais teorias da conspiração que as pessoas criam a respeito dessas plataformas.

Dado o flame war histórico que acompanha a comunidade gamer desde os tempos mais remotos, agregadores de reviews como o Metacritic alimentam os sentimentos mais coitadistas e conspiracionistas da audiência. Então se antes já se promovia essa ideia dos críticos comprados, agora que ela vai se fortalecer mais ainda. Sinto que o discurso sobre essas plataformas e a crítica em geral tende a ficar pior. Muito pior!

Sim, a matéria da Vulture comprova muita das preocupações que detratores sérios do Rotten Tomatoes e outros agregadores de reviews tinham sobre esses sites. Mas aqui o problema está no método dessas plataformas, não nas reviews em si. E sendo honesto com vocês, o público também tem grande culpa nessa situação.

Num dado momento do artigo citam uma frase do cineasta Paul Schrader em que ele diz que a audiência está mais burra. Eu concordo em partes. Não diria mais burra e sim mais preguiçosa. Porque se você quiser todas as críticas que esses agregadores de reviews selecionam estão linkadas nos sites. É só você clicar em uma e ler. Porém quem se dá o trabalho de checar os argumentos hoje em dia? Como eu falei no meu recente texto sobre Starfield e One Piece, o que as pessoas querem de verdade é validar a opinião que elas já formaram sobre o jogo, ou a série, ou o filme.

Por isso que eu sempre olho com muita condescendência qualquer comentário dizendo que não é para confiar no Rotten Tomatoes ou no Metacritic. E realmente não deveria. Não porque a metodologia deles é falha, e como vimos dá para ser manipulada até certo ponto, mas sim porque um jogo ou um filme qualquer receber uma nota qualquer de um crítico qualquer não significa que você vai gostar mais ou menos dessa coisa. Você deveria conferir as coisas por si só ou então ir ler as opiniões e de pessoas especializadas que você acompanha e respeita até mesmo quando discorda.

Mas isso é apenas eu mais uma vez gritando com as paredes. Pessoal vai reclamar agora, criar mais umas conspirações e semana que vem vão voltar a usar o Rotten Tomatoes ou quaisquer outros agregadores de reviews. Até porque quando convém as “notas” passam a importar de novo!


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