Dandy Ace: por que eu continuo jogando roguelikes?

A imagem mostra Dandy Ace, protagonista do roguelike homônimo, um mago todo magnífico que luta com cartas mágicas. No lado direito da imagem há uma edição adicionando Kiko, personagem de Chaves, dizendo "Outra vez roguelike?"

Quem me acompanha nas redes sociais sabe que vez ou outra reafirmo a minha ojeriza por um determinado gênero. Num subreddit, a minha flair personalizada é “Inimigo #1 dos roguelikes” e no blog tem alguns títulos que eu deixo isso transparecer, como Aprendendo a amar Hades mesmo tendo nojo de roguelikes e o mais recente O combate de Wizard of Legend é da hora… pena que é roguelike. Então há de se supor que eu não sou chegado nesse tal de roguelike, né? Porém meus cinco seguidores sabem que eu gosto de falar de um hiperbólico de vez em quando e tenho conhecidos que já me disseram que às vezes não sabem se eu estou zoando ou falando sério.

Eu entendo e tem certas ocasiões que faço isso de caso pensado mesmo. Entretanto não faço sempre porque eu não me considero um sujeito brincalhão. De qualquer forma, acho que a sementinha da dúvida fica plantada ali nas cacholas dessas pessoas. Ou pelo menos vamos fingir que fica para os fins deste texto.

Ao que nos leva a pergunta:

Belmonteiro, você gosta de roguelikes?

Rufem os tambores

O GIF mostra o cachorro Snoopy do desenho de Charlie Brown tocando bateria

NÃO!

Não tem piadinha, não tem hipérbole, nem nada. Estou sendo 100% sincero com vocês. Eu realmente não gosto de roguelikes e não acho que vou mudar de opinião tão cedo. “Opinião” na verdade. Nem eu sei ao certo porque eu não gosto tanto assim do gênero então eu faço um processo de eliminação. Ele não se encaixa naqueles que eu tenho certeza de gostar (RPG, plataforma, aventura, survival horror) e nem aqueles que tenho curiosidade (beat’em up, FPS, puzzle). Não chega nem a estar entre os gêneros dos quais sou neutro (visual novel, estratégia, corrida, esportes), porém também não chega a estar naqueles que eu ativamente detesto (battle royale e competitivos em geral). Então cabe ao roguelike a categoria de “não gosto”.

Talvez o que me impeça de detestar o gênero com todas as minhas forças é eu considerar o conceito curva de aprendizagem fascinante. Porém, também está claro para mim que não curto gameplays em loop e menos ainda geração procedural. Tanto que se eu adorei Hades foi unicamente porque a narrativa me engajou. Talvez eu não teria concluído mais do que uma run se não quisesse ver mais sobre o “Casos de Família do Olimpo”. Só que aí que tá, mesmo eu reafirmando vezes e vezes que não gosto de roguelikes, volta e meia eu me presto a jogar um.

Olha, não vou ficar aqui discutindo se os que joguei são roguelikes ou roguelites. Me faltam palavras para descrever o quanto não eu não ligo para essa distinção. Mas se tratando dos jogos que eu testei, tive reações variadas. Dead Cells é um que certamente não gostei e abandonei pouco tempo depois de terminar a primeira run para nunca mais voltar. Enter the Gungeon e Torneko’s Great Adventure foram dois que eu nem me dispus a jogar até o fim. Hades vocês já sabem a minha opinião. Wizard of Legend eu achei o combate muito legal até que o lado roguelike extinguiu minha vontade de continuar jogando. E agora eu zerei Dandy Ace!

Na imagem o protagonista Dandy Ace atira várias cartas contra um dos seus inimigos, um coelho vermelho segurando uma forquilha, em cima de uma plataforma suspensa gigante

Mas para deixar claro, eu não escolhi exatamente jogar Dandy Ace. Fui uma vítima das circunstâncias! Participo de um clube de jogos (salve, pessoal do grupo) e o título sorteado para fevereiro foi esse jogo. Ele foi lançado pelos brasileiros da Mad Mimic, tendo como principal inspiração Hades. Aliás, foi esse o pitch da pessoa que sugeriu o título e convenceu o pessoal do clube. Você controla o titular Dandy Ace, um mágico muito popular que é aprisionado no Castelo-Que-Sempre-Muda por Lelê, um mágico rancoroso que vende sua alma para se vingar do seu rival. Quem nem sabe que eles são rivais.

Para escapar do Castelo, Ace tem que passar por nove níveis distintos enfrentando um leque variado de inimigos e desviando de armadilhas. Para se defender, o personagem encontra cartas que se comportam como magias que se dividem em três grupos. As cartas azuis dão a habilidade de dash ao Ace com efeitos distintos. As rosas servem como ataque básico pelo seu tempo de cooldown curto. Por fim, as amarelas são magias mais fortes que podem ter efeitos de suporte, ataque ou defesa. Ao todo você pode carregar quatro cartas principais, porém você também pode equipar mais quatro cartas secundárias que melhoram os atributos daquelas com as quais você as conecta.

Se tratando de um roguelike, os mapas aparentemente tem um pouco de geração procedural, contudo não mudam tanto de uma run para outra. Os inimigos se fortalecem conforme você progride no Castelo e entre cada nível Ace pode descansar num pequeno QG e falar com as suas ajudantes. Nelas você pode usar os cristais coletados pelo caminho para liberar novas cartas, bônus permanentes e acessórios. Esses últimos você só pode equipar um por nível e também tem um limite de três por run. Além disso, no QG você escolhe entre fazer refil que serve como uma poção de cura ou então escolher uma carta aleatória. Pelo Castelo você também encontra chaves que abrem alguns portões que levam a diferentes rotas. Porém você sempre terá que enfrentar dois chefões antes de chegar no último nível onde enfrenta o Lelê.

Falando assim não parece tão similar assim a Hades, né? A não ser se considerarmos a visão isométrica. E realmente eu acho que compará-los é forçar um pouco a barra, porém não a ponto de negar que houve alguma inspiração ali. Até porque Dandy Ace até tenta trazer alguns novos diálogos conforme você repete uma run, porém de maneira muito limitada. Provavelmente os desenvolvedores queriam encher o jogo de interações entre os personagens, mas as questões orçamentárias – ainda mais que o jogo tem dublagem – não devem ter permitido seguir por essa linha.

Apesar disso é um bom jogo que te permite testar uma infinidade de builds de cartas que deixam o seu combate mais dinâmico e divertido. Talvez não tão divertido quanto o Wizard of Legend – apesar de que tudo isso é bem subjetivo – mas mantém o jogador engajado.

Ao que nos leva a outra pergunta:

Belmonteiro, você curtiu o Dandy Ace?

Rufem os tambores (de novo)

O GIF mostra o cachorro Snoopy do desenho de Charlie Brown tocando bateria

SIM!

Eu mal risquei a superfície dos roguelikes, mas acho que agora eu já joguei o bastante pra entender o que funciona e o que não funciona comigo. Voltando a Hades, para além da sua narrativa, algo que agora eu entendo que a aleatoriedade menor dele foi uma qualidade para mim. As áreas de cada região são predeterminadas, mas a ordem e os inimigos irão mudar. Tal como as bênçãos e outros upgrades que você encontrará pelo caminho. Contudo você sente que a rota até o chefão do lugar não muda tanto assim. Com isso, depois de algumas runs você já está bem familiarizado com o local e consegue se lembrar com mais facilidade de como percorrê-los sem grandes problemas. Tanto que o jogo precisa colocar um sistema de aumento de dificuldade para o jogo se manter desafiador depois que você consegue concluir várias runs.

Dandy Ace nesse sentido é bem parecido. A aleatoriedade se encontra mais nos squads e cartas que você encontra, mas a rota não muda muito. Tanto que você tem vários déjà-vu ao decorrer das suas runs porque você passa a memorizar alguns marcos. Por exemplo, tem um dos mapas do meio que em determinado momento terá um bloco que se divide em quatro portões e um quinto caminho que te leva para a saída. Para onde cada portão vai te levar varia de run para run. Pode ser um baú, uma loja, uma sala que fecha até você derrotar todos os inimigos. Porém o bloco sempre vai aparecer naquele mapa.

Agora comparemos com Wizard of Legend em que a aleatoriedade se encontra em todos os aspectos da run. Inclusive tem até um NPC que você pode oferecer cristais para randomizar a sua build de Arcanas para dar um desafio extra. O layout de todos os mapas variam, os vendedores e outros NPCs de cada andar variam, os chefões ao final de cada fase variam, quais membros do Conselho você irá enfrentar variam. Até quando você chega no Mestre Sura existe uma aleatoriedade na ordem dos seus ataques e nas Arcanas que ele utiliza. Ou seja, cada run de Wizard of Legend de fato parece única. Dá até para memorizar os inimigos e as armadilhas, porém como tem tanta coisa mudando, ainda fica um gostinho de novidade sempre que você reinicia.

Para quem é fã do gênero, isso deve ser uma maravilha. Para outros, deve apenas aumentar a frustração porque você sente que tem que reaprender o jogo toda hora. Mas mais do que isso, o problema que essa aleatoriedade cria – e já vi outras pessoas reclamando justamente desse ponto – é a impressão que a sua vitória depende do jogo gerar uma run que seja mais fácil. Eu falei disso quando joguei Super Chicken Jumper, cujas fases tem geração procedural, onde eu não tinha a satisfação por concluir uma das literais run porque sentia que dei sorte de pegar uma rota “passável”.

Com Dandy Ace eu não tive esse sentimento. Ao final de cada run eu sentia que fiz por merecer aquela vitória e não foi o jogo que me ajudou com cartinhas melhores. Eu derrotei o Lelê – dou risada toda vez que lembro que temos o mesmo apelido – com as minhas habilidades como jogador, não por uma build destruidora que eu dei sorte de montar durante o caminho. Tanto é que, tal como Hades, eu parei de jogá-lo não por enjoar da gameplay e sim porque vi que já estava na hora de ir testar outra coisa.

Dandy Ace não é muito fenomenal, mas certamente é um bom jogo. Com ele agora eu fui capaz de entender melhor porque eu continuo jogando roguelikes. Pode até ser que um dia o gênero suba para minha lista dos neutros e depois para dos que tenho curiosidade. Porque por mais que eu não goste dele em seus aspectos gerais, eu ainda acho interessante experimentar suas propostas de gameplay e ver o que está dando certo comigo. Quando eu pego um RPG ou um survival horror para jogar eu já tenho uma tendência a gostar dele – contanto que não seja Divinity: Original Sin – porém com os roguelikes ainda existe surpresa. São jogos que me obrigam a sair da minha zona de conforto e me oferecem reações bem variadas. Então por isso eu acabo voltando a eles de tempos em tempos.

Ao que nos leva a última pergunta:

Belmonteiro, você continuará jogando roguelikes?

Rufem os tambores (eu gostei desse GIF, ok?)

O GIF mostra o cachorro Snoopy do desenho de Charlie Brown tocando bateria

EU JÁ ESTOU JOGANDO OUTRO ROGUELIKE!


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