Não escreva!

Uma vírgula preta sobre um fundo branco. Imagem destacada do postagem Não escreva!

Desde o dia que eu criei o Backlogger – na verdade até antes disso – não passa um dia que eu não escreva algo. Ok, talvez eu exagerei um pouquinho. Ou bastante! Tem dias que eu só existo mesmo. Mas mesmo que eu não escreva, no mínimo eu vou pensar no que irei escrever no dia seguinte. Porque essa é a minha vida e essa também é a minha maldição.

Já são, o que, cinco ou seis anos escrevendo na internet. Começou com um exercício criativo sem compromisso, reviews simples de joguinhos antigos no formato de thread que eu postava no morto-vivo Twitter. Com o tempo esse hobby evoluiu para textos mais elaborados num perfil já abandonado do Medium. Agora são uns dois anos e meio mantendo um blog pessoal com conteúdo frequente. Estou me permitindo ser flexível com significado de frequente, haha! Ainda que eu tenha meus momentos de bloqueio criativo ou semanas que fico atolado de trabalho, eu estou sempre aqui nos bastidores rascunhando algo, fazendo planos para algum texto futuro ou então revisando um artigo de meses ou anos atrás.

Apesar de toda essa aparente dedicação, ainda existem horas que um certo pensamento consegue abrir espaço na minha mente. Eu sempre mando ele de volta para as profundezas do meu subconsciente, mas o bastardo encontra um novo caminho até a superfície. Nesse momento eu olho para a parede e me questiono: será que eu devo parar de escrever pro meu blog?

Porque, vamos ser sinceros, manter o Backlogger traz mais ônus do que bônus para a minha vida. Muitas das expectativas que criei lá no começo não foram alcançadas e até se mostraram um tanto irrealistas. Na atual conjuntura, o blog ainda não abriu porta alguma para mim e, embora eu tenha conquistado uma humilde quantidade de leitores, sigo virtualmente desconhecido na internet. O que é bem compreensível já que escolhi um formato de conteúdo que é consumido por pouquíssimas pessoas. A ideia que esse site poderia se tornar uma renda extra para mim foi por água abaixo. É contrário, na real. O Backlogger é um custo extra porque eu tenho que anualmente renovar o domínio e pagar o serviço de hospedagem que eu contratei.

Além de tudo isso, tem o tempo que o blog consome dos meus dias que eu considero o pior problema. Naquele texto que eu fiz no início do ano sobre o futuro do Backlogger eu digo o seguinte:

(…) já não consigo enxergar um momento na minha vida em que eu não esteja escrevendo ou pensando em escrever. Chega até ser uma maldição (…)

Pode até parecer que eu estou exagerando, mas juro que é a mais pura verdade. Escrever é um tormento no meu dia-a-dia. Talvez não seja tão aparente porque acredito que ninguém imagina que um artigo de internet dê tanto trabalho assim. Pelo menos não aqueles que têm cerca de 30 minutos ou mais de leitura e eu tenho um exemplo desses por aqui. Tenho até mais de um. De fato, alguns textos saem tão fácil quanto entram. Os BOs da Semana (quando eu escrevia BOs da Semana) costumam sair no mesmo dia que eu começo ou no seguinte por serem textos mais curtos. Quanto maior eles ficam, mais complexas – e às vezes mais emboladas – ficam as minhas linhas discursivas, dificultando o processo de escrita.

Apesar disso, ainda não é uma ciência exata. Sabem esse texto de Mana Spark que soltei no início de abril? Se eu me lembro bem, eu demorei quase um mês todo para terminá-lo. Sempre que eu avançava um pouco no texto, eu agarrava num parágrafo ou até mesmo numa linha, não sabendo dar continuidade ao meu raciocínio. É algo que ocorre com certa frequência por aqui. Em casos mais extremos eu acabo tendo que recomeçar um texto do zero, como foi o caso da minha crítica sobre o filme O Mal Que Nos Habita. Se eu não estiver minimamente satisfeito com qualquer coisa que eu escreva, eu não posto. Mesmo que o blog fique semanas sem conteúdo.

Acho que é aqui que vocês começam a entender o que quero dizer ao falar em maldição. Porque existe um segundo problema. Mesmo que eu não consiga escrever um texto, eu não paro de pensar nele. Quando eu caminhava, eu ficava o trajeto da ida e da volta pensando nas coisas que poderia acrescentar, melhorar ou até alterar de qualquer que fosse a crítica, artigo, ensaio que eu estivesse escrevendo no momento. Já aconteceu enquanto eu almoçava, enquanto trabalhava, enquanto estava no cinema assistindo um filme do Godzilla com um amigo meu da faculdade. Não para até eu conseguir finalizar aquele texto. E depois que eu termino, o que acontece? Exatamente, eu passo a pensar no PRÓXIMO!!!

Às vezes eu me pego pensando até em outras ideias que eu não iniciei. Agora mesmo, enquanto eu estou escrevendo esse texto para o dia do meu aniversário (detalhezinho que eu esqueci de mencionar) eu também estou pensando num artigo que quero fazer sobre meu problema com jogos que tem múltiplos finais usando de exemplo Virgo Versus the Zodiac. Também tem um possível ensaio que quero fazer usando uns filmes de found footage que eu assisti um tempo atrás. Tem o segundo capítulo da minha série de Como gamers mentem para você que eu quero dar sequência logo*. Talvez role um texto fazendo um comparativo entre Piquenique na Estrada, Stalker & S.T.A.L.K.E.R: Shadow of Chernobyl no futuro. Eu tenho que voltar a fazer textos sobre os filmes de kaiju que eu assisti. Vish, lembrei também que tem uma crítica do filme de Fatal Frame que tô me devendo há tempos.

*feito!

São muitas ideias e pouco tempo hábil para me dedicar a elas. Então quanto a gente põe tudo no papel e faz as contas certinho parece que eu tenho mais motivos pra parar de escrever do que oposto, certo? Eu dedicar meus dias para outras coisas que fossem mais financeiramente efetivas ou no mínimo menos mentalmente desgastantes. Pois bem… não!

Quem leu o texto que eu citei deve saber que eu não fui muito honesto na forma que representei as minhas próprias palavras. Vou colocar agora o trecho completo:

Apesar de que eu gostaria de receber alguma coisa com meus textos, eu percebi nesses dois anos como o mero ato de escrever é muito importante para mim a ponto que eu já não consigo enxergar um momento na minha vida em que eu não esteja escrevendo ou pensando em escrever. Chega até ser uma maldição, porque eu estou o tempo todo ruminando ideias ou refletindo no que ando trabalhando. Porém também me dá uma alegria imensa toda vez que eu aperto aquele botão de Publicar no canto superior direito do editor de texto do meu site.

O fato de eu não ganhar dinheiro ou reconhecimento pelo Backlogger não faz nenhuma diferença pra mim, porque o mero ato de escrever é gratificante o bastante para mim. Quando eu publico um texto eu não tenho essa preocupação se ele vai ser lido ou não. Claro que eu adoraria que meus textos alcançassem o máximo de leitores possíveis, mas eu não quero que isso seja o que me move aqui. A minha satisfação vem de interações específicas, como um colega de um clube de jogos que eu participo que me disse que acompanha meu blog há anos quando ele esbarrou com meu texto de Katana Zero. Ou então quando o criador de Saint Seiya RPG: Asgard Chapter pintou aqui falando sobre a época que ele fez esse jogo. Recentemente eu descobri que tenho até um leitor da Espanha que me deixou igualmente surpreso e feliz.

Eu gosto de pensar que começo um texto da mesma forma que um ilustrador faz seus desenhos numa folha de caderno. Ou então um músico que apenas pega o violão e começa a tocar a primeira coisa que vem a sua cabeça. Estou aqui para expressar as ideias que surgem na minha cabeça, independente do resultado que gerem. Faço essa comparação porque é um pensamento que acredito que se aplica a qualquer artista nesse mundo. É criar pelo prazer de criar.

Então voltando aquela pergunta que me fiz no começo do texto, por que eu sei que meu eu do futuro ainda vai pensar nela várias vezes. A resposta já estava no título, eu só esqueci da vírgula.

Não, escreva!


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2 comentários em “Não escreva!”

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