The Phantom: O Espírito Que Dá Porrada

A imagem é uma cutscene do jogo The Phantom, mostrando o titular Fantasma segurando um mafioso pelo pescoço e ameaçando dar um soco nele. Ao fundo a sua esposa, Diana Palmer, corre na direção deles. A imagem também foi editada mostrando o personagem Massaranduba do Casseta & Planeta no lado direito da tela

De uns anos para cá eu tomei um interesse pelo gênero de beat’em up que eu tive um modesto contato na infância. Eu vou e volto no tempo, alternando entre clássicos e jogos mais modernos, mas não o bastante para me considerar um bom entendedor da arte da “briga de rua”. Esse é um título que eu deixo pro meu amigo Savino, dono do canal The Flying Kick, que é minha janela para o universo dos beat’em ups. Foi pelos vídeos do Savino que eu acabei tendo contato com vários dos jogos mais recentes que eu tive o prazer de jogar, como Brok: The InvestiGator, Mayhem Brawler e Dawn of the Monsters. Mais uma vez, foi por causa dele que eu conheci e pude jogar The Phantom.

Desenvolvido pelo estúdio australiano Art of Play, The Phantom traz o titular Fantasma de volta aos vídeo games três décadas depois de um jogo de plataforma já muito esquecido. E quem é o Fantasma? Peça para o seu pai largar os quadrinhos do Tex e te explicar!

Ok, para ser transparente com vocês, eu sei tanto sobre o personagem quanto qualquer pessoa que você perguntar na rua. À parte do filme homônimo de 1996, estrelado por Billy Zane, o Fantasma é um herói que pertence a categoria dos “sei que existe”. Contudo isso é um atestado sobre a minha própria ignorância e não sobre a popularidade do personagem. Como eu pude pesquisar, além de ter uma grande importância na construção do imaginário dos super-heróis que temos hoje, os quadrinhos do Fantasma até hoje são um dos mais vendidos da história junto com grandes personagens DC Comics e Marvel.

Originalmente, o Fantasma foi uma criação de Lee Falk, que o publicou pela primeira vez no formato de tirinhas de jornais em 1936 e continuou escrevendo até sua morte em 1999. As tirinhas do Fantasma nascem no espírito das histórias de aventura da década de 30 e acabaram por se tornar um ponto de transição entre dois mundos: o dos personagens das revistas pulp como Doc Savage e o Sombra e o dos super-heróis tradicionais que iriam ascender no final daquela mesma década como Superman e Batman.

No que exatamente Fantasma antecedeu ou não das características comuns desse futuro gênero eu não faço ideia, mas algo que me ressoou comigo foi o conceito de legado que já veio integrado a gênese do personagem. O Fantasma pertence a uma linhagem de justiceiros que juraram lutar contra o mal. Assim, o manto do Fantasma é passado de geração para geração, criando um mito de imortalidade para o herói e fundamentando a sua mística.

Esse é um resumo muitíssimo breve da história do Fantasma que se alinha ao que o próprio jogo faz na sua intro. Não se perde muito tempo na sua origem e nem mesmo nas suas aventuras passadas. The Phantom apenas joga informações rápidas para situar o jogador no que o personagem representa, característica que pode ser vista tanto como uma qualidade quanto um defeito. O jogo não parece tão interessado no lore do personagem, pelo menos não tanto quanto o interesse em usar a imagem do Fantasma. Então se você não entende nada da história do Fantasma você não vai se sentir perdido. Por outro lado, se você for um fã de carteirinha pode acabar achando o jogo superficial. Não que um beat’em up precisasse entregar muita coisa, é apenas que mais detalhes do Fantasma seriam muito bem-vindos.

Indo na mesma linha de outros títulos do gênero, The Phantom entrega uma premissa básica que contextualiza a gameplay. Dogai Sigh, um dos líderes da Irmandade Singh contra qual os Fantasmas vem lutando durante toda sua existência, sequestra o filho do atual Fantasma. Junto com sua esposa, Diana Palmer, os dois passam a seguir Dogai e seus capangas ao redor do mundo tentando resgatar o garoto.

É pouca coisa, mas que já nos dá uma ideia de como será a jogabilidade. O jogo se divide em fases espalhadas por cinco – a fictícia Bengalla, Índia, Alemanha, Austrália e por fim Estados Unidos – e te deixa escolher entre o Fantasma e Diana. Cada cenário tem entre uma ou duas fases, com a mesma dinâmica dos beat’em ups clássicos de andar em linha reta derrotando hordas de capangas. Além disso, praticamente todos os cenários terminam numa sequência de perseguição na qual você precisa desviar de obstáculos e destruir os objetos que os inimigos lançam em você. Sequências essas que mais parecem um exercício de paciência do que habilidade, mas eu já chego lá!

A minha experiência foi um pouco similar a com Maiden Cops no sentido que para todo elogio eu também consigo tecer uma crítica. Longe de ser um jogo ruim ou frustrante, o maior problema aqui foi o demônio da expectativa já que The Phantom não se propõe a ser algo remotamente diferente de qualquer outro beat’em up antigo. Talvez até seja uma escolha intencional. Imagino que boa parte do público que se interessaria por um jogo do Fantasma é também o público mais velho que teve contato com os beat’em ups lá pelos anos 80 e início dos 90. Portanto não sei dizer o quanto uma gameplay moderna seria tão benéfica assim.

Começando então com um elogio, The Phantom é inegavelmente um jogo bonito. A direção artística traz a sensação de estar vendo uma graphic novel interativa. O sentimento é reforçado nas cutscenes que passam na transição de uma fase para outra. Praticamente são uma página de gibizinho, com seu típico enquadramento, balões de fala e até onomatopeias. Só gostaria que o jogo explorasse mais essa linguagem in-game. Não precisava fazer algo como o maravilhoso Comix Zone, que é literalmente um beat’em up dentro de um quadrinho, mas o bastante para evocar mais da mídia na qual o personagem é de fato conhecido.

Para não dizer que o jogo não faz nada com isso, tem o golpe especial. Cada ataque do Fantasma enche uma barra que, quando completa, permite ele desferir um poderoso soco nos seus oponentes que deixa a famosa marca do Anel da Caveira nos seus rostos. Sempre que você acerta esse golpe, aparecem dois quadros no canto da tela mostrando o inimigo recebendo o símbolo do Fantasma. É um pequeno detalhe que nesse contexto eu gostaria que fosse uma regra e não exceção da gameplay.

Com isso eu aproveito para fazer a ponte para jogabilidade que é onde eu passo a ter reais problemas com o jogo. Antecipando uma previsível reclamação gamer, The Phantom é bem curto. Isso não é um problema per se e mais uma consequência do cenário atual dos vídeo games. Eu não considero isso um defeito, até prefiro jogos mais curtos, o que pesa mais para mim é o jogo não sair do básico do que tange de level design de um beat’em up tradicional. O máximo de “criatividade” que The Phantom consegue fazer é que em algumas das fases quando você chega no final um NPC fala para você voltar até o início. Não dá para dizer que é algo muito diferente e fica pior com a quantidade de vezes que o jogo repete essa estrutura.

Durante esse trajeto você precisa derrotar dúzias de capangas e ao menos o jogo apresenta um rol variado. Tem até inimigos específicos para cada país, como os guardas com escudo na Índia, os pugilistas na Austrália ou os mafiosos nos Estados Unidos. Para dar um jeito neles você tem um extenso arsenal de ataques e este é outro acerto de The Phantom. Além dos tradicionais socos, chutes e agarrões, você tem três ataques carregados diferentes, dois dash attack, ataques traseiros, voadora, rasteira, etc. Você também pode até assobiar e chamar Capeto, o lobo do Fantasma, para te dar um auxílio. Isso permite fazer um ótimo crowd control dos oponentes que deixa o combate muito satisfatório.

Mas aí tem as armas de fogo…

Outro recurso que o combate do jogo disponibiliza são as pistolas automáticas do Fantasma que, além de causar dano aos inimigos, podem acionar algumas armadilhas. O problema é que se comparadas aos ataques normais as armas não são lá muito efetivas. O dano que elas causam não é muito grande, arriscaria dizer que é até o mesmo dos socos e chutes, e a munição é limitada. Logo, até mesmo quando a tela está repleta de inimigos, você pode recorrer aos seus ataques normais que não haverá qualquer diferença.

As pistolas até apresentam mais utilidade nas sequências de perseguição, mas isso porque são o único ataque disponível nesses momentos. E honestamente essas são as partes mais monótonas do jogo já que não exigem de reflexos rápidos para desviar dos obstáculos. Menos ainda acertar os objetos que os inimigos lançam contra você, basta spammar o botão de ataque sem se preocupar com a munição porque o jogo faz aparecer uma recarga sempre que ela está baixa. Para uma sequência que deveria ser recheada de ação, deixa muito a desejar.

Falando em deixar a desejar, os chefões são outro ponto baixo do jogo. Até porque são praticamente inexistentes. Fora das fases de perseguição, só enfrentamos dois deles na reta final de The Phantom. Tecnicamente são três, porém eu não conto aquele que aparece na primeira fase porque logo em seguida ele se torna um inimigo comum. Não irei spoilar o último chefão, apesar que não é difícil imaginar que será o Dogai, mas vou falar do primeiro porque ele mostra como o jogo não tem nada de muito diferente a oferecer.

Ao final do cenário da Austrália você enfrenta um boxeador no ringue de boxe. A única coisa que separa ele de um inimigo normal é a quantidade de HP, porque você não precisa adotar qualquer estratégia diferente nessa luta. O boxeador até consegue defender algum dos seus ataques e é só isso. Em determinado momento ele vai para o canto do ringue e alguns inimigos sobem para a arena. Você precisa derrotar todos o mais rápido possível porque o chefão vai recuperando o HP durante esse estado. Entretanto, isso não deixa a luta mais tensa e apenas alonga-a por um minuto ou dois a mais.

Para concluir, eu reforço que The Phantom não é um jogo ruim, ele é apenas ok. Apesar de um bugzinho aqui e ali, ele ainda entrega uma jogabilidade sólida. Está muito longe de um Batman Returns, que para mim ainda segue como o melhor beat’em up de super-herói, porém não chega a ser uma experiência frustrante como a que tive com Maiden Cops. Também aprecio a tentativa da Art of Play em trazer um personagem que nos dias de hoje não recebe o mesmo reconhecimento do seu passado. Espero que o jogo tenha sucesso o bastante para garantir uma sequência que traga mais personagens, mais histórias, mais Fantasma. Aguardarei novidades no canal do Savino!

PS: minutos antes de publicar o texto eu vi que os desenvolvedores anunciaram uma atualização que vai dar uns retoques no combate e também nos chefões, além de corrigir alguns bugs. Então provavelmente essa será outra crítica minha que ficará datada. A maldição de Maiden Corps não me larga…


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