Um tempinho atrás (dois meses porque enrolo pra escrever) a IGN soltou uma lista elencando os 25 melhores JRPGs de todos os tempos. Vi alguns gatos pingados comentando no Bluesky naquele período, porém não sei se rolou algum bafafá. Se eu for me basear em experiências passadas, é quase certo que tenha acontecido algo porque isso é natural de qualquer lista. Sempre vai ter aquele carinha que supervaloriza demais seus gostos para ficar chateadaço porque o joguinho dele não foi citado. Ou então vai ter o camaradinha também irritadiço porque esse joguinho aqui merecia estar mais na lista do que aquele joguinho ali. Por fim, também é capaz de um coleguinha se zangar porque um joguinho ali não está tão alto na lista quanto deveria estar.
Nota do Belmonteiro do futuro: se você me acompanha, já deve estar ciente de como eu sou prolixo. Se você é novo por aqui, bom, eu sou prolixo! Então se está aqui apenas para ver quais são os “melhores JRPGs de todos os tempos” do título eu vou deixar o sumário cá embaixo de uma vez para você pular para onde te interessa. Mas recomendo dar uma olhada pelo menos nas considerações iniciais que fiz antes do primeiro jogo.
Não existe uma lista capaz de agradar todas as pessoas, sejam elas normais ou gamers. Felizmente, nenhuma dessas questões importam de fato, é só gente um tanto emocionada ficando brava porque o gosto dela não foi validado. Não tem motivo para reclamar de listas, pois está implícito que todas são subjetivas. Dito isso, agora eu vou reclamar de listas!
Eu não tenho problema com listas per se. Pelo contrário, acredito que são boas formas de conseguir recomendações. Eu já fiz algumas aqui no blog para indicar, como para indicar alguns jogos de OpenBOR e filmes swashbucklers. As rusgas são com listas específicas acompanhadas do complemento “melhores de todos os tempos”. Eu entendo que isso é só uma forma de criar um título chamativo, porém invariavelmente cria a percepção de que esses são os jogos que você deveria conhecer. Isso nos faz cair em outro problema que é uma impressão – que admito ser um tanto generalizada da minha parte – que essas listas sempre citam os nomes mais manjados possíveis.
Peguemos, por exemplo, o gênero hack ‘n slash. Se um site fosse fazer uma lista dos “10 melhores hack ‘n slash de todos os tempos” quer apostar quanto que nos cinco primeiros lugares estariam pelo menos um Devil May Cry, um God of War e um Bayonetta? Só por curiosidade eu resolvi testar e o primeiro resultado que eu obtive foi exatamente esse. Por isso que não é surpresa nenhuma que ao ver a lista de “melhores JRPGs de todos os tempos” da IGN a gente encontra Dragon Quest, Final Fantasy, Persona, Kingdom Hearts, Yakuza (me recuso a falar Like a Dragon) e Pokémon.
Também não é nenhuma surpresa ver um Metaphor: ReFantazio e um Xenoblade Chronicles 3 ali no Top 5 já que foram dos JRPGs de grande sucesso nesses três últimos anos. E se dá para ter menos surpresa ainda, é claro que o primeiro lugar seria o atemporal Chrono Trigger já que esse é “O Auto da Compadecida dos JRPGs” do Ocidente. Um dia eu explico melhor o que eu quero dizer com isso, por enquanto fica aí só para causar mesmo.
Então, significa que eu acho que a lista dos melhores JRPGs da IGN é ruim? Não! Estou contestando o mérito dos jogos selecionados? Também não! Seria bacana que tivesse alguns nomes menos conhecidos? Aí talvez sim, porém listas são subjetivas e excludentes por definição. Fiquei feliz em ver o humilde Golden Sun ali porque é uma curta franquia que considero subestimada. O leve incômodo que eu tenho é como essas listas servem para consolidar ainda mais jogos que já são bem conhecidos e não ajudam a conhecer o “gênero” com mais pluralidade.
Portanto, depois dessa desnecessariamente longa introdução, eu resolvi aqui contribuir com alguns outros JRPGs que por algum motivo eu acho que tem algo de interessante a se testar.
“(MAIS) 25 MELHORES JRPGS DE TODOS OS TEMPOS”

Para, para, para! Sim, mesmo depois de ter falado coisa para cacete eu ainda tenho algumas considerações que gostaria de pontuar antes de começar a falar dos jogos.
- Embora as aspas deixem isso claro, eu ainda acho bom reforçar: “25 melhores JRPGs de todos os tempos” é um título irônico. Eu não acredito nisso e não fiz a lista pensando em qualidade. Claro que há muita coisa ali que eu considero absolute JRPG, mas ao mesmo tempo tem uns que eu não gosto. Pô, tem pelo menos um ali que eu odeio com todas as minhas forças. Meu critério foi apenas eu achar que tem algo interessante nessa indicação;
- O seu jogo favorito provavelmente não estará na lista. Espero que você seja adulto o bastante para lidar com isso. É uma lista pessoal, na qual eu busquei fugir daqueles nomes que já apareceram na lista da IGN e também dando mais ênfase nas gerações mais antigas dos consoles. Mas sinta-se mais do que bem-vindo para sugerir mais JRPGs nos comentários;
- Não é porque eu tenho ressalvas com uso exacerbado de franquias e jogos super populares nessas listas que eu vou sair falando de JRPG obscuro aqui. Tem até uns que talvez muita gente não conheça, mas também tem séries consagradas. Além disso, eu não sou um grande conhecedor dos JRPGs e quem quer conhecer mais a fundo existe o livro A Guide to Japanese Role-Playing Games;
- De novo, é algo óbvio, mas acho que é bom reforçar: JRPG não é um gênero. Apesar de por vezes a gente tratá-lo como tal – igual se faz com shounen – é somente um termo para classificar RPGs feitos no Japão. Então a lista terá desde os RPGs mais tradicionais baseados em turno, como também RPGs de ação e RPGs táticos. Tem alguns que até entram naquela discussão se é ou não RPG, mas eu deixo isso para os chatos de plantão perder tempo discutindo.
- A lista está parcialmente em ordem alfabética. Também acho rankings um conceito bobo para se falar de mídias e considero que seguir ou o alfabeto ou uma ordem cronológica são as únicas formas verdadeiramente honestas de organizar uma lista. Porém teve alguns jogos que eu achei que ficariam melhor dispostos de forma consecutiva.
- JOGUEM GOLDEN SUN, SEUS CANALHAS!
BRAVE FENCER MUSASHI – PLAYSTATION, 1998

Como eu disse, a lista está em ordem alfabética. Mas numa feliz coincidência, isso permitiu que o primeiro fosse Brave Fencer Musashi que, em outras instâncias, descrevi como “o jogo da minha vida”. Também costumava chamá-lo de “The Legend of Zelda do PS1” até achar preferir deixar o título para Alundra. Enfim, esse é um jogo que sou totalmente suspeito ao recomendar porque é talvez aquele com o qual mais me diverti no PlayStation. Não é à toa que de tempos em tempos zero Brave Fencer Musashi de novo.
O jogo é uma mistura de tudo que eu mais gosto em vídeo games. Tem um forte espírito de aventura, uma ação não muito complexa, mecânicas de RPG e um tom bem-humorado. Também ajuda que é um jogo com um escopo menor, com a trama girando em torno da região de Allucaneet. Ainda tem muitas áreas para se explorar, porém se concentrar num único faz com que você se afeiçoe com mais facilidade com seus personagens.
No combate, a mecânica mais interessante é a de absorver habilidades de inimigos ao lançar uma das suas espadas nele. Também você aprende alguns golpes com outros NPCs, mas os combos permanecem simples. É aquilo que você espera de um RPG de ação dos anos 90/2000. Brave Fencer Musashi vem me divertindo ao longo de duas décadas e é uma pena que não chegou a vingar numa franquia tal. Alundra também sofreu do mesmo mal. Existe uma sequência para o PlayStation 2 caso tenham curiosidade de procurar, mas o meu queridinho mesmo é esse. Gameplay bacana, não se alonga, chefões criativos e uma aura gostosinha que emana desse jogo.
EXILE – PC ENGINE, 1991

A franquia Exile (XZR) teve seu papel na história dos JRPGs de ação no Japão ali pelo final da década de 80, mas teve um curto tempo de vida. Ao todo, foram quatro jogos cujo o último saiu em 1992 no Japão e em 1993 na América do Norte. O que eu decidi indicar é o remake do segundo jogo da série – XZR II: Kanketsuhen – que saiu para PC Engine em 1991. Tem uma versão de Exile para Mega Drive, mas ela passou por muita censura devido a temas religiosos e uso de drogas. Portanto, acho melhor procurar o de PC Engine, até porque é um console que merece mais atenção.
Em Exile você controla o assassino sírio, Saddler, na sua busca por uma relíquia chamada Holimax. Isso o leva a viajar para diversos países, como França, Índia, Camboja e Japão. Na sua jornada, Saddler encontra muitas figuras históricas e enfrenta criaturas de diferentes mitologias. Esse é o aspecto que mais chama a minha atenção e o motivo dele entrar na lista. Ainda que Exile não se aprofunde muito em cada região, é bacana ver um jogo que abrange tantas culturas.
Apesar da perspectiva vista por cima, típica dos RPGs mais antigos, durante as dungeons Exile vai por uma linha de plataforma de ação com vista lateral. Os gráficos são fantásticos, ainda mais na versão de PC Engine, e a jogabilidade faz o seu serviço dentro da proposta. Não é das melhores, mas não é tão ruim quanto a de um outro jogo que irei citar mais lá para o final. De novo, para mim o que vale a pena em Exile é a jornada histórica e cultural – mesmo que superficial – que o jogo faz.
FINAL FANTASY ADVENTURE – GAME BOY, 1991

Gigante não é uma palavra boa suficiente para descrever Final Fantasy como franquia. Não é apenas na linha principal que tem muitos jogos, Final Fantasy tem dezenas e mais dezenas de spin-offs. Dentre todos eles eu escolhi um em particular: Final Fantasy Adventure, lançado originalmente como Seiken Densetsu: Final Fantasy Gaiden. Quis destacar o nome porque esse Seiken Densetsu se transformou na sua própria franquia que no Ocidente recebeu o nome Mana. Ela produziu alguns dos grandes clássicos de JRPGs de ação da década de 90: Secret of Mana, Trials of Mana (que eu ainda penso como Seiken Densetsu III) e Legend of Mana.
Final Fantasy Adventure é diretamente influenciado pelo The Legend of Zelda, do Nintendinho, e incorporou elementos de RPG como progressão de personagem na sua gameplay. Não existe nada de muito complexo em termos de jogabilidade, até porque estamos falando de um jogo sujeito a todas as limitações do Game Boy, mas eu acho que ele consegue surpreender no lado narrativo ao construir uma história envolvente. E honestamente? Por mais simplesinho que seja, eu ainda acho um puta joguinho do portátil.
Obviamente hoje Final Fantasy Adventure será visto como um RPG de ação arcaico e talvez jogadores tenham chances maiores de apreciar o seu remake de 2016, Adventures of Mana. Tem até outro remake mais antigo de 2003 para o Game Boy Advance, o Sword of Mana. Embora seja um dos jogos mais lindos do portátil, a jogabilidade é ridícula de tão fácil e não tem desculpa de limitação tecnológica para ser tão decepcionante. Então peço para darem uma chance ao original, por mais “datado” que ele pareça. É um pedacinho importante da história de duas das grandes franquias dos JRPGs.
HEART AND SOUL – PC, 2005

Caso vocês não estejam acostumados com as minhas listas, saiba que em algum momento eu dou um jeito de trapacear. Essa não poderia ser diferente, pois era óbvio que eu daria um jeito de enfiar RPG Maker na jogada. Entretanto, por questões de barreira linguística, eu não conheço nenhum título japonês que não fosse de terror. Aliás, aproveito para pedir que caso você conheça algum e que tenha uma versão em inglês, recomende aí nos comentários. Então eu resolvi recomendar um jogo brasileiro mesmo, Heart and Soul, me valendo da justificativa dele ter influência de alguns dos melhores JRPGs da sua época.
Eu tenho história com esse jogo, então novamente sou suspeito de falar dele. Conheci Heart and Soul quando entrei na antiga RPG Menace que o seu maker, o Kamui, também frequentava. Foi um dos primeiros RPGs completos que eu tive o prazer de jogar nas minhas primeiras andanças pelas comunidades brasileiras e por isso nutro um carinho por ele. O jogo tem uns temas que naquele período não eram tão comuns nos projetos de RPG Maker, mas fora isso é um RPG bem arroz com feijão aos moldes de um Final Fantasy.
A minha recomendação não é nem exatamente pelo jogo, mas sim porque eu acho que mais gente deveria conhecer a história do RPG Maker. É um lado injustamente pouco conhecido da cultura de desenvolvimento de jogos independentes no país e eu gosto de ajudar a preservar essa memória. Aqui tem um link para download dele e mais alguns outros projetos de outras pessoas. Tem tanto jogos brasileiros quanto jogos gringos. E falando nisso…
TRILOGIA LEGION SAGA – PC, 2000-2002

Só vai ter mais essa trapaça. Prometo!
Seria criminoso eu falar em jogos de RPG Maker que tiveram uma clara inspiração em alguns dos melhores JRPGs feitos sem citar a trilogia Legion Saga. Ainda mais quando esse é um caso raro dentro dessa comunidade. A maior parte dos projetos de RPG Maker não chega a ter nem uma versão beta, quiçá uma sequência. Portanto, ter uma trilogia completinha é algo a ser aplaudido.
Desenvolvidos pelo Kamau, apelido do agora desenvolvedor britânico independente Matt Glanville, no início dos anos 2000, os jogos de Legion Saga se tornaram uma referência os makers da época. Até mesmo no Brasil porque um pessoal chegou a traduzir a trilogia. Enquanto muitos ainda lutavam para entender como mexer no RPG Maker, o Matt já demonstrava muito talento. Acredito que boa parte disso vinha de ser um grande fã de Suikoden. Em Legion Saga ele tentou reproduzir desde os temas até as mecânicas da franquia: recrutamento de personagens, orbes, construção do quartel-general, duelos, etc.
O mais legal da trilogia é ver como o Matt vai se aprimorando a cada jogo, sendo um melhor que o outro. O último Legion Saga eu tenho umas ressalvas porque nota-se a pressa em terminar a série logo, mas são três jogos muito consistentes. A história começa mais “pé no chão”, com alguns elementos fantásticos porém com foco na narrativa de guerra. Pouco a pouco o jogo abraça mais a fantasia, porém sem perder a essência original sobre conflitos entre diversas nações e o efeito deles nos personagens. Quem tiver interesse em conhecer o RPG Maker, Legion Saga é um dos melhores começos. E você encontra a trilogia completa aqui.
PS: Desde 2016, um usuário chamado Arcmagik vem trabalhando no Legion Saga DX, um remake do primeiro jogo da trilogia. O projeto caminha a passos curtos, a última atualização rolou ano passado. Outro usuário chamado PM está trabalhando num remaster de Legion Saga. Ele já concluiu o primeiro jogo, mantendo a jogabilidade original e apenas dando uma melhorada nos visuais e em alguns sistemas, além de um pouco de conteúdo extra. O de Legion Saga II saiu em junho e ainda não tem data para Legion Saga III. Devo fazer um texto sobre quando os três jogos forem remasterizados.
LAPLACE’S DEMON – SUPER NINTENDO, 1995

Laplace’s Demon (Laplace no Ma), é mais um nome daquela enorme lista de JRPGs que não foram lançados fora do Japão. Inicialmente ele saiu para computadores antigos, mas chegou aos consoles com uma port para PC Engine e anos depois para Super Nintendo. Foi essa última versão que tive a chance de jogar graças ao patch de tradução do fantástico coletivo Aeon Genesis. Não faço ideia se existe tradução para as outras plataformas, mas a do Super Nintendo já vale bastante a pena.
A ambientação de Laplace’s Demon saiu do convencional dos JRPGs de fantasia medieval e apostou no terror lovecraftiano. Isso talvez seja porque o jogo não tinha como referência Dragon Quest que surgiu também ali nos anos 80 e se baseava na ideia dos CRPGs de transmitir a experiência de RPG de mesa para o formato eletrônico. Assim na trama você controla um grupo de quatro personagens explorando uma mansão mal-assombrada em que cada classe tem sua função específica. Um rápido exemplo, Jornalista é a única classe que pode carregar a câmera para tirar foto das assombrações que depois você pode vender para conseguir dinheiro.
É bom avisar que o início de Laplace’s Demon é muito devagar. Você terá que voltar várias vezes à cidade até que sua equipe consiga avançar na mansão. Portanto, já cheguem esperando muito grinding. É um jogo que me cativou pela sua ambientação e é uma pena que as barreiras linguísticas dificultaram tanto para termos contato com ele. Por isso é sempre bom valorizar o trabalho dos grupos que se esforçam para tornar esses jogos acessíveis. Porque se formos depender das empresas…
LEGEND OF LEGAIA – PLAYSTATION, 1998

O PlayStation teve muitos dos melhores JRPGs 3D daquele período como Final Fantasy VII, Chrono Cross, The Legend of Dragoon, etc. Porém o meu favorito é um que ficou na sombra dos seus pares, o meu querido Legend of Legaia. Acho que ficou óbvio que esse é mais um daqueles casos onde sou muito enviesado, pois esse jogo é um dos principais motivos de eu tomar gosto pelo gênero de RPG. Isso numa época que eu entendia patavinas de inglês.

Boa parte desse apreço veio pelo seu sistema de batalha, algo que eu adoro até hoje. Dá pra dizer que o jogo tomou uma inspiração Final Fantasy VI com o personagem do Sabin. Em vez de um botão de ataque comum, você seleciona golpes em quatro direções para formar um combo. Dependendo da sequência o personagem solta um golpe especial, as Arts. Isso dá a Legend of Legaia uma pegada de animê battle shonen pela ênfase dramática que se dá durante as animações de ataque.
Legend of Legaia é um RPG bem acessível para qualquer um e eu considero um dos melhores JRPGs do PlayStation. Gosto da história, gosto dos protagonistas, gosto do sistema de batalha. Nunca enjoo de ver os golpes e repetir o nome dos poderzinhos junto com os personagens. Existe uma sequência que saiu para PlayStation 2 chamada Legaia 2: Duel Saga que eu nunca joguei e por nunca ter visto alguém comentando sobre ela ficou preocupado em testá-la já que gosto demais do primeiro. Mas para quem quiser arriscar, me fale (sem spoilers, por favor) o que achou.
LEGEND OF THE RIVER KING 2 – GAME BOY COLOR, 1999

Um detalhe sobre a minha personalidade que já citei algumas vezes é que eu adoro mini game de pescaria. Não sei o motivo, só sei que é assim. Mas vejam bem, MINI GAMES e não jogos de pescaria. As únicas exceções à regra – porque eu não considero Dave the Diver exatamente jogo de pescaria – são Legend of the River King (Kawa no Nushi Tsuri) e sua sequência, ambas lançadas para o Game Boy Color. Como podem imaginar, essa é outra franquia que saiu pouquíssimo do Japão e os jogos do Game Boy Color são duas das quatro exceções.
O que me fez interessar por esses jogos é que eles na verdade são jogos de RPG construídos sobre a temática de pescaria. Portanto você tem uma narrativa que contextualiza a jogabilidade dentro de uma história em vez de ser apenas as mecânicas puras de pesca. Seu personagem passa de nível enfrentando alguns animais da região e precisa juntar dinheiro para conseguir equipamentos melhores que permitem alcançar novas regiões e capturar peixes melhores.
Apesar de eu destacar o segundo, porque ele é um pouquinho melhor, tentem conferir ambos. A simplicidade de Legend of the River King é o charme desses jogos e é uma pena que a série não seja tão conhecida. Eu morro de vontade de jogar o de Game Boy Advance, porém ainda não tem tradução. Um dos poucos casos que encontrei foi para o primeiro jogo Kawa no Nushi Tsuri. Assim eu recomendo os jogos também por uma vã esperança que um dia existam traduções para o restante da franquia. Sonhar é de graça!
LUFIA & THE FORTRESS OF DOOM – SUPER NINTENDO, 1993

Lufia & The Fortess of Doom foi a mais recente adição a essa lista, eu o zerei há menos de uma semana. Graças a Deus esse jogo é bom porque eu não tinha tempo de procurar outro candidato. Como é comum de acontecer, eu já conhecia o nome da franquia, só que nunca me dispus a jogar. Como precisava de mais um JRPG para encaixar na lista, todos os planetas enfim se alinharam.
Lufia & The Fortress of Doom vem um ano após o lançamento de Dragon Quest V e faz bastante sentido. Não há dúvidas que ele se propõe a passar a mesma sensação dos jogos de Dragon Quest. Por ser um JRPG bem tradicional, é fácil se familiarizar com a jogabilidade e se encantar pelo com suas cores vibrantes e designs carismáticos. Ao mesmo tempo, tem alguns aspectos que tenho certeza que irão causar pequenas (e até grandes) frustrações, tal como a velocidade dos personagens nas dungeons e uma característica de JRPGs antigos que se o monstro morrer ou fugir antes do seu personagem atacar, o golpe erra em vez de ir para o inimigo mais próximo. Entendo o porquê dessa escolha, mas também entendo quem considera um defeito.
O que eu mais gostaria de destacar é o relacionamento do Herói com a titular Lufia. É a melhor parte da história e merece todos os elogios possíveis. O jogo consegue fazer você se investir emocionalmente nesses personagens por conta da sua relação que tem seus momentos de comédia, mas também um romance bem cativante. Emociona, não a ponto de chorar, mas você fica felizinho de ver esses dois juntos.
PARASITE EVE – PLAYSTATION, 1998

Parasite Eve é um nome que me traz muita alegria e muita tristeza. Alegria porque se tornou um dos meus JRPGs favoritos e eu diria que é outro dos melhores JRPGs do PlayStation. Ao mesmo tempo me traz tristeza porque comparações infundadas com Resident Evil eventualmente arruinariam a franquia. Eu até tento ser compreensivo, pois com um pouco de boa vontade dá para interpretá-lo como estando no limiar entre gêneros. Ao mesmo tempo que ele aparenta ser um RPG de ação, ele também é um pouquinho de RPG baseado em turno não aparente.
Como ele é contemporâneo de Final Fantasy VII, Parasite Eve é mais outro representante da guinada cinematográfica que os JRPGs da Square. Eu diria até que ele é mais eficiente nesse aspecto, porém é provável que seja só uma impressão subjetiva minha. Desde os créditos de abertura até os vários ângulos escolhidos em determinadas sequências, agregam bastante a narrativa do jogo na forma de comunicar as emoções da protagonista Aya Brea e da cena como um todo. Falando na Aya, sua dinâmica com a Eve é uma das minhas relações entre heroína e vilã favoritas.
Eu até gosto de Parasite Eve 2 e, tal como com Dino Crisis, finjo que o terceiro jogo não existe. Para mim, a franquia foi sacrificando a identidade da sua experiência original para tentar agradar a fanbase de survival horrors da época. Tanto é que o roteiro do segundo jogo é de autoria do roteirista de Resident Evil. Assim perdemos o que poderia facilmente ser uma das melhores séries de JRPGs que fugissem a ambientação de fantasia medieval que estamos tão acostumados. De qualquer forma, pelo menos sempre teremos o primeiro Parasite Eve!
PHANTASY STAR IV: THE END OF THE MILLENNIUM – MEGA DRIVE, 1993

Adivinhem? Sim, OUTRO JRPG que sou eu completamente suspeito para falar. Mais até do que Brave Fencer Musashi, ou Legend of Legaia e até mesmo mais que [jogo que ainda não apareceu na lista]. Eu sou incapaz de fazer um ranking dos meus jogos favoritos, mas de uma coisa eu tenho certeza. Se eu o fizesse, o único jogo que teria seu lugar garantido seria Phantasy Star IV: The End of the Millennium. Entretanto aqui vai uma vírgula importante, se tratando de Phantasy Star eu costumo dizer que respeito o primeiro, tolero o segundo, finjo que o terceiro não existe e gosto de verdade do quarto.
Eu entendo que Phantasy Star é um capítulo importante na gênese dos JRPGs, principalmente pela incorporação de elementos sci-fi. Mas eu nunca consegui ter a mesma conexão que tive com Phantasy Star IV com o restante da franquia. Nem mesmo com o MMORPG que é por onde a maioria deve reconhecer o nome hoje em dia. Provavelmente é tudo por motivos pessoais, porém eu acho que o motivo é a minha impressão de que The End of the Millennium é muitíssimo superior aos outros jogos em todos os aspectos.
Narrativamente não tem nem o que discutir. A trama e os personagens são muito melhores desenvolvidos e o jogo ainda faz um lance bem criativo de usar quadros num estilo meio mangá para criar cutscenes. Os gráficos é onde dá para dizer que não existe um salto tão grande assim se comparado ao Phantasy Star II, mas meu viés também diz que o IV é muito mais bonito. Jogabilidade então, foi o ápice da série e finalmente fizeram um combate que não parecia injusto e nem tão fácil. Enfim, esse é um dos melhores JRPGs da década de 90 e eu diria que é de fato um dos “melhores JRPGs de todos os tempos”. Me reservo o direito de ignorar qualquer opinião contrária.
QUEST 64 – NINTENDO 64, 1998

O Super Nintendo foi lar para muitos clássicos dos JRPGs, tanto que dá e sobra para fazer uma lista com 25 jogos só dele. Já o seu sucessor, o Nintendo 64, não gozou da mesma façanha. Se pedir para alguém falar algum RPG do console, as chances são que essa pessoa só vai conseguir responder Paper Mario. Com muita sorte ela também pode citar Aidyn Chronicles: The First Mage. Além deles, só teve mais um jogo de RPG lançado fora do Japão: Quest 64.
Já descrevi Quest 64 por aqui como um jogo que perdeu a sua “função social” pelo motivo de ser um título com o qual o tempo foi bem ingrato. Apesar dele ter uma pequena e fiel fanbase na internet que descobri anos atrás, é um jogo que virtualmente ninguém mais pensa a respeito. Ele não está atrelado a nenhuma franquia conhecida, sua sequência foi cancelada e ele nem é um JRPG muito fenomenal. Mas eu tenho a impressão que se eu o tivesse conhecido na infância teria um enorme carinho por ele, pois considero que Quest 64 seria uma porta de entrada muito boa tanto para RPGs de ação quanto RPGs em geral.
Apesar de não ter nada de marcante na sua história, havia umas escolhas legais no sistema de batalha. Quest 64 tem um sistema de evolução de magia curioso para época que abre um leque de diferentes habilidades que você pode investir. Além disso, o jogo carrega um forte sentimento de aventura e deslumbramento lúdico. Se você conseguir jogá-lo pelas lentes de uma criança, ele é muito eficiente. Tem carisma e acredito que entusiastas de jogos retrô talvez tenham mais chances de curti-lo.
RADIANT HISTORIA – NINTENDO DS, 2010

Confesso que eu explorei praticamente nada da biblioteca do Nintendo DS. Meu repertório se limita aos três jogos de Castlevania do portátil e um remake de Dragon Quest V que eu não zerei porque preferi jogar o original do Super Nintendo. Mas de alguma forma o universo conspirou para que eu jogasse Radiant Historia que, com base no meu total desconhecimento do portátil, afirmo ser um dos melhores JRPGs do Nintendo DS. Eu tenho um fraco por histórias que envolvam a temática de viagem no tempo – por que será, né? – então é fácil identificar porque gostei tanto desse jogo.
Nesse aspecto, eu gosto de falar que Radiant Historia é um jogo duplamente linear porque a trama se divide em duas cronologias nas quais você vai se alternando para conseguir avançar a trama. Isso é um elemento que influencia as side quests também, porque todas envolvem você ter que ir para outra linha do tempo para conseguir um item ou voltar para um bloco passado. Apesar de todas essas voltas, o jogo ainda é uma linha reta. Não existe um grande mundo a explorar e o direcionamento da trama é muito direto. Dá para interpretar como qualidade porque torna o ritmo de jogo mais rápido, ao mesmo tempo um defeito porque gostaria que tivesse dungeons maiores ou em mais quantidade para desbravarmos.
Outro charme de Radiant Historia vem do seu sistema de batalha, ainda que não tenha chefões muito marcantes. Os inimigos ficam posicionados numa grade e cada personagem tem golpes com diferentes áreas de ataque e que também podem mover os alvos. Assim a graça vem de construir combos que consigam pegar o máximo de inimigos possíveis e você sempre está estimulado a testar diferentes estratégias, diminuindo um pouco do fator de repetição nas lutas que é tão natural desse tipo de jogo.
RECORD OF LODOSS WAR: DEEDLIT IN WONDER LABYRINTH – PC, 2021

Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth foi o mais próximo que consegui de colocar um JRPG recente na lista. Eu não vou entrar nos méritos se ele é um RPG de ação 2D ou um jogo de plataforma com elementos de RPG porque isso não faz a menor diferença. E já tá tarde pra eu buscar outro jogo para compor a lista. Pois bem, como nome indica, o jogo é baseado em Record of Lodoss War, uma franquia multimídia de fantasia que ajudou muito a popularizar o RPG lá no Japão nos anos 80.
Deedlit in Wonder Labyrinth é uma história original que se passa muitos anos depois dos eventos dos primeiros livros que fundaram o imaginário de Record of Lodoss War. Como jogo, ele carrega uma inspiração bem óbvia em Castlevania: Symphony of the Night já que até a própria movimentação da protagonista Deedlit remete as animações do Alucard. Além disso, tem alguns elementos típicos de metroidvania, onde você precisa conseguir novas habilidades para explorar outras áreas. Contudo, nesse aspecto ele acaba sendo bem linear e com uma progressão muito rápida. Se você não tiver interesse em explorar cada centímetro do mapa, dá para zerar em poucas horas.
Agora o verdadeiro motivo de eu recomendar Deedlit in Wonder Labyrinth é a arte. Me faltam palavras para descrever como esse jogo é lindíssimo. Vai desde os seus cenários até o design de monstros e suas animações. Para pessoas como eu que adoram ver pixel-art recebendo mais atenção nos vídeo games, esse jogo é um deleite para os olhos. Ah, antes que eu me esqueça, não precisa conhecer a história original, porém ajuda para se entender o contexto de alguns diálogos. Porém eu não recomendo muito os livros porque a escrita é mais ou menos e, pessoalmente, eu odeio o Parn como protagonista.
SHINING FORCE II – MEGA DRIVE, 1993

Eu falei que a lista teria de tudo, incluindo RPGs táticos, mas nesse caso eu só tenho uma única recomendação. Esse subgênero nunca foi a minha praia, estratégia em geral é um estilo de jogabilidade que eu não curto, e por isso que eu jamais tocarei num Fire Emblem. Contudo, sempre existem exceções e por algum motivo eu gosto muito Shining Force, tanto o primeiro quanto o segundo. Não existem tantas diferenças assim entre os dois, mas decidi recomendar o Shining Force II pelo mesmo motivo de Legend of the River King. Tanto história quanto jogabilidade são melhores e essa não vai ser a última vez que falo isso na lista.
Não sei definir o que exatamente me fez curtir de Shining Force II em detrimento dos outros RPGs táticos, só me resta teorizar que é o “charme”. Eu gosto dessa estética da fantasia dos anos 90, seja nos animês ou nos jogos. O Record of Lodoss War, por exemplo, eu fiquei maravilhado com as OVAs que são exatamente de 1990. A franquia Shining, para mim, soube capturar essa estética nos seus jogos e me ganhou com facilidade.
Até o menu inicial em que temos um personagem que cria a ideia que essa é uma história sendo contada para gente evoca elementos narrativos que eu descobri que gosto muito. Para finalizar, acho também a estrutura de Shining Force II bem melhor que a do seu antecessor e dando mais liberdades para o jogador explorar seu pequeno universo em vez de pular de capítulo em capítulo. Além disso, acho que as personalidades dos personagens do núcleo principal florescem muito mais na sequência do que no Shining Force I. Não são apenas soldadinhos diferentes para você colocar na sua equipe, são pessoas nas quais você consegue se investir emocionalmente.
SHINING THE HOLY ARK – SEGA SATURN, 1996

Queria evitar de recomendar dois jogos da mesma franquia, mas já que nesse caso são jogabilidades distintas, dá para torcer as regras um pouco. Achou que não teria outra trapaça? Shining não começou com Shining Force. O início da franquia se deu com Shining in the Darkness, um RPG baseado em turnos numa estrutura de dungeon crawler. Curiosamente é outro estilo de jogabilidade que eu não curto muito e mais uma vez um jogo de Shining está entre as exceções. Mas quem eu gostaria de recomendar Shining the Holy Ark para Sega Saturn, o segundo e último dungeon crawler da franquia.
Embora eu ache que os modelos 3D sejam um downgrade (aqueles olhos de botão ainda me assustam) comparado a direção artística de Shining in the Darkness uma coisa é inegável: a jogabilidade de Shining the Holy Ark dá um banho no seu antecessor. As dungeons se tornam ambientes muito mais vivos agora que os monstros não simplesmente aparecem na tela. Ainda são encontros aleatórios, porém eles surgem correndo do fundo do corredor, saindo de trás de uma encruzilhada, caindo do teto, etc. Além disso, o sistema das pixies permite que o jogador tenha uma pequena vantagem de causar um dano inicial se adivinhar a direção que os inimigos vem.
É uma pena que o jogo acabou sendo vítima do seu console, já que o Sega Saturn não chegou a vingar no Ocidente como deveria. De tal forma, pouquíssimas pessoas desse lado do meridiano tiveram a oportunidade de conhecê-lo na época. Felizmente a emulação está aí para salvar o dia mais uma vez, dando uma segunda chance para alguns dos melhores JRPGs feitos conquistarem novos públicos.
SUMMON NIGHT: SWORDCRAFT STORY 2 – GAME BOY ADVANCE, 2004

Acho que todos aqui conhecem a franquia Tales que tem no seu catálogo alguns dos melhores JRPGs de ação. Eu não joguei muitos jogos dela, na verdade apenas dois: Tales of Phantasia & Tales of the Abyss. Entre os dois, eu tenho uma tendência pelo primeiro porque adoro seu sistema de combate com vista lateral. É por esse motivo que eu também vim a gostar Summon Night: Swordcraft Story e sua sequência. Vale fazer um asterisco aqui para explicar que Summon Night é uma franquia de RPG táticos com elementos de visual novel, enquanto o Swordcraft Story é uma série spin-off que, para minha felicidade, decidiu ir por uma linha de RPG de ação
Mais uma vez eu decidi recomendar especificamente o segundo por considerá-lo melhor que o primeiro. A jogabilidade é igual, porém o Swordcraft Story 2 utiliza melhor a mecânica de forjar armas para interagir com o mapa. De qualquer forma, como as histórias são independentes, você pode jogar qualquer um deles na ordem que quiser. Vale dizer também que tem muito grinding envolvido, não apenas para você conseguir os materiais necessários para forjar as armas como também para melhorar seu nível de proficiência com cada uma delas.
O que vende o jogo pra mim é o sistema de batalha, bem parecido com Tales of Phantasia, que permite o jogador utilizar diversas armas de acordo com a sua preferência. O primeiro jogo também tem um charme de arco de torneio de battle shonen que eu sempre gosto, mas é no segundo que eu realmente me senti investido na história. Houve um Swordcraft Story 3 também para Game Boy Advance que só lançaram no Japão e infelizmente ainda não tem patch de tradução. Mas os outros dois valem bastante a pena.
SWEET HOME – NINTENDINHO, 1989

O nome de Sweet Home ainda recebe algum reconhecimento porque ele foi o precursor de uma franquiazinha de jogos de terror que talvez vocês conheçam, aquele tal de Resident Evil. Junto com Alone in the Dark, Sweet Home é considerado o avô do gênero de survival horror e por isso ele é considerado anacronicamente como tal. Eu discordo dessa categoria porque pra mim é evidente que Sweet Home é um RPG que enfatiza puzzles e daria até para argumentar que ele tem uma qualidade de metroidvania (que também seria um anacronismo). Mas isso pouco importa porque o único título real que o jogo merece é de ser um dos melhores JRPGs do Nintendinho.
Sweet Home, para mim, dá um show de jogabilidade até hoje. Você controla um grupo de cinco personagens investigando uma mansão assombrada de um falecido pintor. A mansão é repleta de criaturas que você enfrenta aos moldes de um Dragon Quest mais arcaico porque os personagens não tem poderes. Porém cada personagem tem um item especial que te ajuda a passar de alguns obstáculos para encontrar os vários itens espalhados pela mansão que te dão acesso a novas áreas. Além disso, você pode formar equipes de um até três e alternar entre elas a todo momento.
De verdade, é uma experiência que eu recomendo a todo mundo que é fã de RPG e de terror deveria passar pelo menos uma vez na vida. Sweet Home é um belo exemplo de como a criatividade e um bom game design consegue superar qualquer limitação tecnológica que é uma muleta usada hoje no discurso gamer para subestimar jogos antigos. É até uma pena que o motivo dele ser lembrado é pela alcunha de pai do Resident Evil porque, embora eu reconheça esse mérito, ignora como ele é um jogo fantástico e não apenas para sua época.
SWORD OF VERMILION – MEGA DRIVE, 1989

Existe uma filosofia que eu aprecio no game design que é o “bora fazer e foda-se kkkkkk”. Ela ilustra o espírito de testar ideias sem se preocupar em agradar um público já consolidado com uma gameplay testada e aprovada pelo mercado. Alguns indie que podem tomar mais riscos criativos ainda mantém vivo esse espírito, contudo já teve uma época que até os grandes estúdios que formaram o que hoje chamamos mainstream da indústria podiam se dar o luxo dessas experimentações. Sword of Vermilion da Sega é um desses exemplos mais antigos.
Vejam bem, eu não considero Sword of Vermilion um bom JRPG. Na verdade eu passei um tanto de raiva com ele. Mas o que eu acho fenomenal é que ele é uma mistureba de diferentes estilos na sua jogabilidade. Você explora as cidades com aquela vista por cima tradicional, porém as dungeons são exploradas em primeira pessoa aos moldes dos dungeon crawlers. O combate é em tempo real como um RPG de ação e quando chega nos chefões a perspectiva muda novamente para uma vista lateral como ao do já mencionado Summon Night: Swordcraft Story 2.
Salvo dizer que Sword of Vermilion é bem arcaico nas suas mecânicas e o combate é sofrível, tanto nos inimigos comuns quanto nos chefões. Porém eu ainda acho uma experiência no mínimo curiosa. Poucas pessoas vão ter paciência para ir até o fim, eu sei, então por isso só recomendo para quem tem essa vontade de conhecer a história dos jogos e não para quem está procurando gameplays com satisfação garantida.
TENGAI MAKYŌ ZERO – SUPER NINTENDO, 1995

Como pontuei ao longo dessa lista, existe todo um oceano de JRPGs que não tivemos a chance de jogar porque não foram lançados fora do Japão. Uma dessas é a franquia Tengai Makyō, ou Far East of Eden, que é virtualmente desconhecida no resto do mundo. Seus três primeiros jogos foram lançados no PC Engine, o que explica porque não houve um grande interesse em lançá-los no Ocidente além de um único jogo de luta. Mesmo que agora exista a possibilidade de traduzir esses jogos através de patches de tradução, ainda é um trabalho que exige muito esforço e comprometimento da comunidade. Isso fica bem ilustrado com Tengai Makyō Zero, o quarto jogo da franquia, que levou muitos anos para concluírem sua tradução.
Tengai Makyō Zero foi um dos poucos jogos do Super Nintendo a utilizar um chip especial de compressão de dados porque ele é um dos jogos mais “pesados” do console. Ele possuí uma extensa variedade de sprites de monstros, animações de ataque, músicas e muitas, muitas mesmo, linhas de diálogos. Por esse último fator que levou-se tantos anos até conseguirem lançar um patch 100% traduzido. É quase como se o universo tivesse conspirado para dificultar ao máximo as pessoas conhecerem esse jogo, mas felizmente a barreira foi superada.
Vou ter que repetir o mesmo elogio que fiz para Deedlit in Wonder Labyrinth: meu Deus, que jogo lindo! Facilmente uma das melhores, se não a melhor, direções artísticas que tivemos para o Super Nintendo. O jogo conta um incrível espírito de battle shounen, cada área tem inimigos únicos que não usam a solução manjada de apenas mudar a paleta de cores e tem até eventos que acontecem de acordo com o calendário. Tengai Makyō Zero é um JRPG muito carismático que merecia um pouco mais de carinho e faço questão de recomendar sempre que possível.
THE GRANSTREAM SAGA – PLAYSTATION, 1997

Durante a primeira metade da década de 90, a supostamente extinta Quintet tinha um relação próxima a antiga Enix que levou ao lançamento de uma trilogia informal formada pelos jogos Soul Blazer, Illusion of Gaia e Terranigma. Os três jogos se conectam por temas apocalípticos de destruição e restauração do mundo, porém deles o único que ficou sacramentado como um clássico do Super Nintendo é o Terranigma. É um JRPG excelente, um dos melhores RPGs de ação do console e foi uma das minhas escolhas para a lista. Mas como ele já tem bastante reconhecimento, resolvi ceder espaço para outro jogo da Quintet: The Granstream Saga.
Esse jogo foi uma tentativa de fazer um sucessor espiritual para Terranigma. Chuto que a maioria vai pensar “Quem?” ao ler o título, então dá para imaginar o quanto isso deu certo. Infelizmente, mesmo sendo um dos primeiros RPGs totalmente poligonais e sem uso de gráficos pré-renderizados, The Granstream Saga não gerou nenhum grande burburinho e logo foi esquecido. Uma pena porque eu diria que ele é tão bom quanto Terranigma e, mesmo não apresentando nenhuma novidade temática, tem uma ótima apresentação visual.
Apesar de que os modelos de bonecos sem olhos e bocas ficam um pouco desconfortantes, as cutscenes contam com uma animação fenomenal da Production I.G que até hoje me fazem desejar que existisse uma OVA de The Granstream Saga circulando por aí. O combate também é um ponto alto do jogo, mantendo a linha de RPG de ação, porém sem as mecânicas de passar de nível.
THE 7TH SAGA – SUPER NINTENDO, 1993

Falar de The 7th Saga é um pouco complicado. Espera, essa não é a palavra certa. RECOMENDAR The 7th Saga é um pouco complicado. Porque o mesmo motivo que esse jogo tem algum reconhecimento é o mesmo motivo de eu não gostar dele e, infelizmente, também é o mesmo motivo para recomendá-lo. Enfim, se você já ouviu falar de The 7th Saga, deve saber da reputação dele ser um JRPG difícil. Injustamente difícil, eu diria. Tudo porque americano resolveu fazer graça.
Como eu tenho poucos parágrafos para falar dos jogos, recomendo dar uma olhada num texto antigo que fiz explicando os motivos de The 7th Saga ser difícil. Em suma, a versão americana mexeu em algumas variáveis que acabou deixando o jogo muito mais punitivo do que ele deveria ser. Existem patches na internet que corrigem isso, contudo ao mesmo tempo que deixam a gameplay menos frustrante, eles deixam o jogo menos interessante.
Existem umas escolhas interessantes na jogabilidade de The 7th Saga como a ideia dos rivais e também nas estratégias de combate. Porém, fora disso não tem muita coisa que torna a experiência de The 7th Saga tão memorável. A história faz seu serviço e os gráficos são ok, nada que vá encher os olhos. Sem o fator da dificuldade, não há muito para se investir nesse jogo. Então se você quer se testar, dê uma chance. Mas teje avisado!
TREASURE OF THE RUDRAS – SUPER NINTENDO, 1996

Treasure of the Rudras chegou até mim de uma maneira inusitada. Eu cliquei num vídeo aleatório que recomendava alguns JRPGS menos conhecidos e ele estava ali no meio. Quando eu vi Treasure of the Rudras deu um estalo na minha cabeça porque eu reconheci seus gráficos. Os sprites desse jogo são os mesmos que o Kamui usou em Heart and Soul que eu falei lá no começo da lista. Por curiosidade eu resolvi testá-lo e agora ele é um dos melhores JRPGs que eu já joguei pela forma que ele lida com as três campanhas principais da história.
São três grupos de heróis cujas histórias se cruzam em alguns momentos do jogo e você pode alternar entre elas a qualquer momento. Embora o mais recomendado é que você termine uma campanha por vez para evitar não ficar travado em alguma parte. Cada campanha tem uma temática diferente, pois os objetivos de cada herói não são exatamente os mesmos. Então é como se tivesse três jogos em um. Na verdade, quatro. Depois de terminar cada campanha o jogo habilita uma quarta que leva ao true ending de Treasure of the Rudras.
Para mim esse é o principal motivo para jogá-lo, mas acho que dá pra destacar um aspecto curioso da jogabilidade. O combate é essencialmente o ATB de Final Fantasy com um diferencial. Em vez de aprender magias do jeito tradicional, você precisa combinar sílabas para criar os feitiços. Claro que nem tudo que você montar vai ser uma magia efetiva, porém é divertido ficar tentando criar magias e vendo os diferentes efeitos que a combinação dessas sílabas pode criar.
PS: Eu sei que a maioria das pessoas não têm paciência para terminar uma campanha de RPG, quiçá três. Por isso eu peço que façam um esforço para fechar a história de todos os personagens. Nem demora muito porque o ritmo do jogo é até bem rápido.
VAGRANT STORY – PLAYSTATION, 2000

Há muitos jogos que eu acho uma injustiça de não receberem o devido reconhecimento. Vagrant Story não é um deles. Primeiro porque ele é um dos jogos mais aclamados do PlayStation. Seus gráficos são muito elogiados e realmente não tem o que questionar, o jogo usou ao máximo as capacidades gráficas do console e também da criatividade dos seus designers. A história, apesar de ter sido cortada por questões de limite de armazenamento e tempo de produção, é considerada como uma das melhores dentre os JRPGs da sua época. Então Vagrant Story não é nenhum underdog que precisa de mais reconhecimento.
Então por que ele está aqui? Bom, porque eu sei que muita gente vai pular fora dele antes da primeira hora de gameplay. A jogabilidade de Vagrant Story não é das mais fáceis de se pegar. Ele quebra alguns padrões dos jogos da Square e dos JRPGs em geral, então ele já causa um estranhamento inicial. O sistema de batalha lembra um pouco o de Parasite Eve, só que é bem mais complexo. Você tem precisa levar em consideração: a afinidade de classe e elemental da sua arma; e do monstro que está enfrentando também, o tipo de lâmina que você deve utilizar contra o inimigo, o local do corpo dele que você irá atacar e também precisa analisar até onde vale a pena utilizar as Chain Abilities, que se por um lado te permitem criar combos longos se você tiver bons reflexos, também aumento o seu nível de Risco.
É impossível explicar esse jogo em três parágrafos e eu falo um pouco mais disso num texto sobre curva de aprendizagem. Eu só queria mostrar como não é fácil gostar de Vagrant Story numa primeira tentativa, então ele não é nada recomendado para novatos e acho que até um pessoal mais experiente pode se desanimar. Porém tenham confiança no jogo, vale a pena. Depois que você pega as manhas do combate você entende porque é Vagrant Story é um dos melhores JRPGs do PlayStation.
YS: THE OATH IN FELGHANA – PC, 2005

A lista começou com um dos meus jogos favoritos e fico feliz que tudo se alinhou para que ela terminasse com um título da minha amada franquia Ys. Embora Ys: The Oath in Felghana não seja o meu favorito, é ele que eu recomendo para qualquer um que esteja interessado em conhecê-la. Para mim é até incrível como um dos melhores títulos de Ys é o remake de um dos piores, Ys III: Wanderers from Ys. Por favor, fiquem longe dessa desgraça!
Eu não sei se descreveria The Oath in Felghana como um RPG de ação frenético, mas é um jogo de ritmo rápido. Você despacha inimigos com relativa facilidade, com combos simples e itens que dão boost automático para você nem ter que abrir o menu para utilizá-los. As lutas contra chefes são um destaque à parte, com dificuldade na medida certa para manter a sensação de desafio sem ser muito frustrante. O último chefão então, esse é um dos melhores que já tive o prazer de enfrentar entre todos os RPGS da minha vida.
O jogo mantém o escopo pequeno, fazendo a trama girar em torno de uma única cidade e te deixando mais íntimo daquele povoado. A gameplay não se estende com muitas side quests para manter o ritmo de progressão similar ao ritmo de combate. Diria que em um final de semana, reservando algumas horinhas, você consegue fechar Ys: The Oath in Felghana sem muitos problemas. É um RPG de ação redondinho, excelente e que ajudou a trazer a franquia de volta e apresentá-la para uma nova geração de jogadores como este que vos fala. Não sou tão novo assim, mas vocês entenderam o que eu quis dizer.
COMENTÁRIOS FINAIS
Ufa, até eu cansei!
Bom, agradeço a todo mundo que leu o texto até aqui. A minha intenção nunca foi de citar alguns “os melhores JRPGs de todos os tempos” – novamente eu reforço que não acho que isso existe – e só quis trazer alguns nomes que eu não vejo marcar presença em listas desse tipo. Também foi uma oportunidade de recomendar alguns jogos que eu adoro. Então eu espero que uma ou mais desses jogos gerem interesse em uma ou mais pessoas.
Tem muito RPG antigo aqui que sofre com a ingratidão do tempo mesmo sendo muito bons e historicamente os JRPGs foram subestimados no Ocidente. De alguma forma eu espero ter contribuído para expandir o repertório das pessoas ou pelo menos trazer um jogo que venha a se tornar o favorito delas. Essa foi uma lista bem pessoal e caso o seu JRPG querido não apareceu aqui o problema é s…inta-se à vontade para citá-lo nos comentários. Tô sempre procurando algo novo (e algo velho também pode ser novo) para jogar e quem sabe isso também ajude alguém que um dia esteja passando aqui por esse blog.
Volto daqui uns 6-8 meses quando eu tiver ideia para outra lista!
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